Mortal RetroArkade: Defendendo a Terra de Outworld em Mortal Kombat 3
É hora de continuar nosso mês Mortal relembrando como Shao Kahn invadiu a Terra e obrigou nossos bravos guerreiros a travar combates mais sangrentos e com muitas novidades. É hora de Mortal Kombat 3!
Como você sabe, a RetroArkade de abril é especial. Comemorando a chegada do décimo capítulo da franquia, já falamos do primeiro torneio, suas polêmicas e todo o choque que causou com sua tecnologia e da consolidação do nome Mortal Kombat no segundo jogo. Com a série já sendo preferida pelos jogadores, em 1995 a Williams e a Midway colocaram nos fliperamas de todo o mundo o terceiro jogo da série.
Pelo visto, a palavra de ordem era ampliar tudo o que fosse possível para fazer de Mortal Kombat algo grande, mesmo com as poucas coisas a se fazer em um jogo de luta. Pois o número de lutadores, as escolhas, as coisas a se fazer no jogo e muito mais aumentaram consideravelmente. Era um festival de opções para jogadores sedentos por sangue e que já haviam passado os últimos dois anos se espancando em MK II.
Choose Your Destiny
Mortal Kombat 3 é um jogo bem mais sombrio que os outros dois e conta com uma grande diferença em seu visual: saem os cenários orientais e místicos dos dois primeiros jogos e entram cenários urbanos como estação de metrô ou no meio da rua mesmo. Criticada pelos fãs mais puristas na época, tudo isso tem uma razão: Shao Kahn finalmente havia invadido a Terra.
Enquanto você jogava MK II, os desenvolvedores da Williams/Midway e Shao Kahn estavam escondidos preparando a última chance de invadir a Terra: trazendo a rainha Sindel de volta à vida. Sindel, mãe de Kitana e rainha de Edenia, foi tomada por Khan quando este invadiu seu reino. Não conseguindo conviver com a situação ela acabou cometendo suicídio, pois assim criaria uma barreira impedindo o imperador de conquistar a Terra.
Com a ajuda de Quan Chi (apresentado primeiro em MK Mythologies: Sub-Zero e depois em MK IV), Sindel foi ressuscitada e teve sua mente escravizada, atendendo os desejos de Kahn. Raiden sabendo disso, mas sem poder fazer nada mais drástico pois havia sido “promovido” a deus Ancião, pôde apenas proteger algumas poucas pessoas enquanto assistia as tropas de Outworld exterminando sem dó milhares de pessoas.
Com isso, os guerreiros que lutaram nos torneios de outrora perceberam que já não haviam mais regras e que o Mortal Kombat havia se tornado o meio extremo de defender a Terra, em qualquer lugar, seja em nosso mundo ou em Outworld, sendo ajudados por outros guerreiros que se uniram pelo mesmo fator: sobrevivência. E para colocar mais pimenta no tempero, agora os combates literalmente viraram um “cada um por si”, onde intenções pessoais ás vezes falariam mais alto do que derrotar Kahn.
Liu Kang, que havia derrotado Kahn no “torneio” não pensa duas vezes, enquanto recebe o apoio de Jax, Kung Lao, Stryker (um agente do FBI), Nightwolf (xamã que junto com os espíritos que o guiam, oferece ajuda) e Kabal (um ex-criminoso que após ter seu corpo queimado por Kintaro e ter recebido implantes cibernéticos decide participar da resistência). Sonya, agora liberta, busca acabar com Kano de uma vez por todas.
Enquanto isso, temos a Lin Kuei transformando seus ninjas em ciborgues: Sektor topou a transformação, enquanto Cyrax e Sub-Zero (agora sem a máscara para mostrar sua cicatriz e sua identidade real — o irmão do primeiro guerreiro gelado) se recusaram. O ninja amarelo foi capturado e junto com seu parceiro, tem a missão de encontrar Sub-Zero e levá-lo “ao seu destino”. Smoke também faz parte da bagunça, porém por estar danificado, fica mais “na sua”. E Noob Saibot também está de volta, com sua escuridão e lealdade a si próprio.
Também fomos apresentados à guerreira Sheeva, de mesma raça do Goro e guarda-costas pessoal de Sindel, além de um Shang Tsung que mal sabia das intenções do imperador com ele: levá-lo até a invasão para matá-lo e dar seus poderes para Sindel. E antes de encarar Kahn novamente, Motaro, inimigo mortal da raça de Sheeva te aguarda pra lhe dar muitos coices e tirar sua paciência.
Muita coisa pra um jogo de luta
Para um jogo de grandes proporções, uma jogabilidade à altura: foi aqui que conhecemos alguns dos fatalities mais brutais da série, como o Sub-Zero arrancando os olhos dos oponentes. Também foi em MK 3 que conhecemos os Animalities, aonde os combatentes se transformam em um animal que devoram o derrotado. Para tal, era preciso fazer o Mercy: apenas no terceiro round, ao vencer o oponente, ao invés de finalizá-lo, podia ser feito a sequência que devolvia um pouco de energia ao oponente. Ao derrotá-lo novamente, o Animality estava abilitado.
Outra novidade foram os Kombat Kodes, códigos que podiam ser inseridos antes do Versus e alterar o jogo: cada botão representava um quadrado e podia ser apertado várias vezes, mudando seu ícone. Acertando as várias sequências de ícones corretas, muita coisa diferente podia ser habilitada. Dividiu espaço com as dicas e golpes dos jogos nas revistas da época.
No jogo em si, também tivemos novidades. Os cenários ficaram mais interativos, pois além dos fatalities utilizando elementos da tela (The Subway, The Bell Tower e The Pit 3), alguns cenários podiam mudar de lugar, de acordo com o momento da luta. Também tivemos o botão pra correr inserido, além dos Chain Combos, entrando na onda de Street Fighter e Killer Instinct, que usavam bem este recurso de sequências de golpes.
E um modo de dificuldade foi inserido no Choose Your Destiny: torres de tamanhos diferentes desafiam o jogador, trazendo desafios menores até algo extremo para os “feras”.
As expansões
Se alguém falou que expansão é coisa de geração PS3/Xbox 360, esse alguém está enganado. Street Fighter sempre “expandiu” o seu Street Fighter 2 (e depois o 3 e o 4…) e com Mortal Kombat 3 não foi diferente. Os dois primeiros jogos contavam com constantes revisões, porém o terceiro da série trouxe outros dois jogos, somando dois títulos: Ultimate Mortal Kombat 3 e Mortal Kombat Trilogy.
Ultimate Mortal Kombat 3 significou a adição de muita coisa ao já grande MK 3: Scorpion, que voltou de Netherrealm e se uniu a Kahn; Mileena também voltou, para matar Kitana, assim como Jade; Smoke agora é selecionável “de fábrica”; Reptile também aparece para ajudar Outworld; Rain é mistério puro; Ermac, o erro do primeiro jogo, finalmente entra para o kombate, assim como o Classic Sub-Zero. Porém estes dois últimos não tem nada a ver com o jogo, estando lá apenas para preencher espaços.
No gameplay, mais novidades: além de correções e alterações leves na jogabilidade, os tesouros de Kahn aparecem ao finalizar o jogo; Uma nova dificuldade foi inserida na torre, a Master; um torneio com oito participantes também estreou; e mais cenários chegaram, como o lar de Scorpion com Fatality próprio, o deserto de Jade, a caverna de Kahn e muito mais. E os Brutalities chegaram nos consoles, com suas sequências de golpes fatais que terminam com uma explosão de ossos na tela.
E Mortal Kombat Trilogy serviu como um The King of Fighters ’98: Dream Match. Como o nome sugere, o melhor dos três primeiros jogos estão presentes, incluindo personagens que não estariam na história comum do jogo (na verdade, TODOS os personagens dos três jogos): Baraka, Johnny Cage, Raiden, Kintaro, Goro, e as versões clássicas dos personagens Jax, Kung Lao, Kano, e Raiden. E Khamaleon também aparece com mais profundidade aqui.
Uma barra de especial “emprestada” de seus rivais foi adicionada e ao invés de desferir especiais, o lutador fica mais agressivo por algum tempo.
E os segredos?
Muita coisa escondida também apareceu no terceiro kombate. A começar no cemitério, que além dos nomes de vários desenvolvedores do jogo estarem nas tumbas, o nome de Cage também está lá, sugerindo que ele estava morto durante os eventos do jogo. Rain é encarado também no cenário, fazendo referência ao cantor Prince: Purple Rain é a música, a cor roxa do ninja é homenagem a cor costumeira do cantor e o cemitério faz referência ao fim de carreira dele.
O cinema também influenciou o jogo, com os ninjas cibernéticos inspirados claramente no Predador. Assim como Sektor, que tem golpes “emprestados” de Boba Fett de Star Wars. E sabendo que o jogo teria o tema “sobrevivência da raça humana”, justificando personagens aleatórios como os poucos sobreviventes que entram para a briga, a Midway propôs um concurso onde os fãs criassem os novos kombatentes, aparecendo assim Kurtis Stryker, Kabal e Nightwolf.
Outra curiosidade foi feita em relação ao Johnny Cage: supostamente morto durante o terceiro jogo, ele “apareceu” em BloodStorm. Claro que estamos falando de Daniel Pesina, o ator que serviu de moldes para os movimentos de Cage e os ninjas, que foi demitido da Midway, já que o personagem era dela e não do ator. Outro ator teve que fazer tudo de novo para que o personagem fosse inserido em Trilogy.
Todos puderam jogar
E assim como os outros jogos, todos puderam ter a oportunidade de jogar MK 3. Ajusta uma coisa aqui, tira uma ali, corta animação e coloca algo pra compensar e donos de Super Nintendo, Sega Mega Drive, Game Boy, Sega Game Gear, Sega Master System, PlayStation, PC, R-Zone, Nintendo 64 e o game.com puderam sentir o que é participar do kombate mortal.
Como sempre, as mais populares foram a de Super Nintendo e Mega Drive, que mesmo contando com PSOne e Saturn já estabelecidos e recebendo jogos como Resident Evil e Tomb Raider naquela época, ainda eram muito populares e contavam com disputas enormes, seja na locadora, seja nos sábados juntando os amigos em casa. As versões 8-bit representam a intenção de portar o jogo para estes sistemas e até apostas (que não deram certo) receberam sua versão.
E anos depois, o Nintendo DS e o iPhone também receberam suas adaptações. A do iPhone contou inclusive com personagens em 3D, apesar de ter perdido personagens.
E que venha o quarto torneio
Mortal Kombat 3 trouxe o extremo da franquia: ela representa a intenção dos desenvolvedores de passar dos limites dos sistemas os quais o jogo saiu e de apresentar a raça humana tendo que defender sua existência. Para alguns, acertos que fizeram a diferença e para outros, um amontoado de coisas sem sentido que só “estragaram” a franquia. Mas todos puderam pelo menos por um momento, curtir alguma novidade, algumas que continuam até hoje em jogos da série.
Semana que vem teremos a nossa última RetroArkade especial. Iremos falar de MK 4. Considerados por muitos como o “começo do fim”, esta versão é muito importante no que diz respeito a história da série. Não perca.