Mortal RetroArkade: Toasty, mais segredos e mais sangue em Mortal Kombat 2
Continuando nosso mês especial, agora é hora de relembrar o segundo Mortal Kombat, que elevou todos os seus elementos à décima potência e consolidou de uma vez por todas o seu nome entre os grandes do videogame.
Semana passada falamos sobre o primeiro Mortal Kombat, em homenagem ao próximo jogo da série que chegará ao mundo neste mês de abril. Comentamos sobre suas polêmicas, avanços gráficos e muito mais. Porém era possível mais. Era possível trazer mais violência, mais lendas urbanas e mais segredos, confirmando a máxima de que sempre “o 2” é o melhor de toda franquia.
Se comentei que vi o primeiro jogo num fliperama, Mortal Kombat II me foi “apresentado” em um Super Nintendo. Em férias na casa de um primo que tinha o jogo, noites e mais noites foram viradas buscando além de terminar o jogo, fazer as dicas pra desbloquear os muitos segredos que as revistas não cansavam de publicar.
Mas MK II saiu primeiro para os fliperamas, e foi um enorme sucesso, mesmo em uma época onde Super Street Fighter II também causava o maior alvoroço. Porém, ao contrário de seu rival, não havia uma aura de “atualização” e sim de um produto completamente novo. Os cenários estavam mais completos, os lutadores mais reais e os combates mais sangrentos. A proposta do primeiro jogo foi mantida, elementos ampliados e já que a violência já tinha sido devidamente polemizada, no segundo torneio a zoeira também foi elemento fundamental para o sucesso do novo “papa-fichas”.
Shao Kahn desce do trono e vai pro pau
Como Shang Tsung perdeu o primeiro torneio para Liu Kang e perdeu a chance de domínio da Terra, Shao Kahn, o imperador de Outworld, deveria ter aniquilado com o feiticeiro. Mas como Tsung deve ter feito algum curso nas Casas Bahia durante sua vinda ao nosso mundo, usou de persuação para apresentar um plano infalível (igual aqueles do Cebolinha, se você me entende): trazer o torneio para Outworld. Assim o próprio Khan poderia participar e as regras do primeiro torneio mantidas pelos deuses Anciãos seriam anuladas.
Com isso, Shang Tsung ganhou sua segunda chance e teve sua juventude restaurada. E assim, o feiticeiro levou a mensagem até Raiden, com o convite para o novo torneio mortal. Com a desculpa de que caso um guerreiro da Terra fosse o vencedor, Outworld desistiria da invasão de uma vez por todas. Mas claro que era apenas desculpas, já que Shao Kahn planejava invadir a Terra de qualquer jeito e fez o torneio apenas para distração os guerreiros. Sim, meu amigo: você que jogou Mortal Kombat II foi “enganado” por todos estes anos.
Liu Kang (com o seu épico Bicycle Kick) aceitou prontamente o convite, ganhando a imortalidade de Raiden e pronto para vingar seus irmãos mortos como represália à sua vitória no primeiro torneio. Kung Lao, amigo de Liu Kang e último descendente do Grande Kung Lao também decide participar, assim como Johnny Cage que continua sua “escalada para o sucesso” usando o torneio para se promover. Sonya sumiu, por isso Jax, seu superior, entra no torneio para resgatá-la; e Raiden também vai até Outworld para tentar colocar um ponto final nisso tudo. Além disso, Sonya e Kano aparecem presos junto ao trono de Shao Kahn.
Pelo “time de Outworld”, temos, além de Tsung e Khan, Baraka, líder dos Tarkatans e pau mandado do imperador, pois entra no torneio apenas para cumprir ordens; as assassinas pessoais de Khan Kitana (peça chave da história e filha adotiva do imperador, logo é uma princesa) e Mileena; Reptile, o personagem secreto de MK I e guarda pessoal de Shang Tsung; Scorpion e Sub-Zero também voltam para reviver suas eternas diferenças, porém algo mais parece estar por trás do ódio dos dois; Kintaro, sucessor de Goro e penúltimo desafio antes de Khan, além de três personagens secretos, mas que tem seus lugares no enredo: a assassina Jade, Smoke, membro do Lin Kuei, o mesmo clã de Sub-Zero e Noob Saibot que é o ninguém menos que o Sub-Zero do primeiro torneio morto por Scorpion e está em Outworld apenas espiando algumas coisas.
Mais fatalities e… friendships!
Como jogo, Mortal Kombat II não trouxe muitas novidades no que diz respeito a sua jogabilidade. Mas as que acompanharam o game foram muito bem vindas. A começar pelos fatalities, que além de aumentar, ganharam mais interação com o cenário. Agora, além da ponte, que ganhou uma animação própria e mais dramática para ilustrar a queda e a morte do derrotado, também temos a Kombat Tomb, onde espinhos no teto esperam o corpo do perdedor, além da famosa The Dead Pool, que tem esse nome por ser uma piscina de ácido onde lutadores são enviados para derreter.
E como resposta a todas as críticas conservadoras sobre a violência do primeiro jogo, em Mortal Kombat II tivemos duas novidades em finalização: os Babalities, onde ao invés da morte, o oponente ganhava “a vida” de volta ao ser tornar de novo em um bebê e o Friendship, aonde o vencedor apenas tirava um sarro do oponente vencido: um autógrafo do Johnny Cage ou um coelho que sai do chapéu de Kung Lao estão entre as “diversões”.
Toasty: Nasce uma Lenda
Outra “novidade” de MK II foi um tal de “UHTERERÊ!”, que na verdade é o eterno “Toasty“. Aparecendo quando algo interessante acontece nos combates, Dan Forden, responsável pelo áudio da série aparece gritando seu famoso grito. Na verdade, tudo é uma brincadeira interna que acabou parando no jogo.
Ed Boon conta que enquanto jogava futebol americano no fliperama com Forden, o “cara do som” do Mortal Kombat tendou dizer “you are toasty” (“você está frito” em inglês), porém a frase saiu desse jeito desafinado e engraçado que você conhece. Como foi algo que todos riram muito, acabaram colocando a voz e a cara de Dan no jogo, se tornando então uma das marcas registradas não só do jogo, mas como de toda a franquia.
A Zoeira não tem limites. Os segredos também não.
Já falamos um pouco do estilo pesado e ao mesmo tempo bem-humorado de Mortal Kombat II. O título fez história ao colocar em um mesmo patamar a violência (que era maior até que sua primeira versão) e todos os clichês de filmes B, daqueles bem toscos, com doses de zoeira bem colocadas.
Além do Toasty e dos Friendships, no Super Nintendo, se você ligar o videogame e segurar L e R até o logo da Acclaim (que era quem ajudava nas conversões) aparecer, Shao Kahn e Kintaro apareciam, com direito ao grandalhão pulando e quebrando o logo da empresa. Quem diria que a Acclaim iria quebrar de verdade depois, hein?
E falando em segredos, Mortal Kombat II tinham muitos. Quer encarar a Jade? Na luta antes da ?, você tem que vencer um dos dois rounds usando apenas o chute baixo, sem defesa. Fazendo corretamente, você vai parar no Goro’s Lair e encarar a assassina, mais rápida que suas “clones” e que tira onda da “rival”: Chun Who? (Chun Quem?, provocando a chinesa). Para encarar Smoke, você precisa apertar baixo + start na hora que aparecer o Toasty durante uma luta na fase Portal. E para lutar contra Noob Saibot, ganhe 50 lutas seguidas no versus.
Os fatalities, de cenário, tirando a ponte, são iguais para todos; Dead Pool: segure baixo e aperte defesa e escute “oh wow”; Kombat Tomb: segure baixo + defesa + start para forçar o oponente a “se pendurar” nas estacas.
E entre outros segredos, dá pra jogar Pong. Basta chegar ao número de 250 lutas no versus que você será “transportado para outra dimensão”, podendo jogar o clássico jogo.
Mortal Konsoles
E como era comum na época, os consoles receberam suas versões conforme a empolgação da Game Pro (traduzida pela Super Game Power) deixou bem evidente em sua matéria especial de agosto de 1994. A revista falou com John Tobias na época, que não participou da conversão, mas deu os retoques finais nas conversões. Tobias prometeu conversões similares ao arcade e riqueza de detalhes, mesmo com limitações técnicas comuns da época.
Super Nintendo e Mega Drive, os amigos e rivais da época, arrebataram vários cartuchos para seus sistemas e mesmo com as tais limitações, fizeram bonito, fazendo verdades as palavras de Tobias. A mesma Super Game Power comparou os consoles com o arcade e no quesito visual os dois sistemas mandaram bem. O jogo ficou mais rápido e o melhor: com sangue e toda a violência do original.
Versões para Master System/Game Gear e Game Boy existiram para ampliar o leque de vendas, mas claramente não chegavam nem perto do que é um MK II. Porém, eram títulos interessantes e únicos, já que a Capcom não lançava Street Fighter com o mesmo interesse para os sistemas 8-bit.
Os novatos Saturn/32X e Playstation também receberam conversões. Porém como os sistemas eram novos, muito pouco pode ser explorado. Enquanto o som era cristalino e idêntico aos arcades e os personagens eram grandes, os loadings eram demorados (e entre os rounds), além do controle péssimo. Mas como MK 2 chegou em uma época muito próspera de sistemas e consoles, não podemos negar que foi um jogo democrático, oferecendo o título a vários públicos consumidores.
O torneio sem fim
Como história, MK II não teve um “final”, afinal como dissemos, tudo não passava de fachada para uma invasão na Terra comandada por Kahn. Porém o conceito de “sem fim” acabou virando uma espécie de profecia, já que a franquia continuou por muitos e muitos anos, fazendo com que sua décima edição seja motivo de tanta expectativa.
Semana que vem estaremos falando do terceiro Mortal Kombat. E prepare-se, pois nosso mundo será invadido pelas forças de Outworld… quem irá nos defender?