Mortal RetroArkade: O sangue poligonal e uma nova era em Mortal Kombat 4

26 de abril de 2015

Mortal RetroArkade: O sangue poligonal e uma nova era em Mortal Kombat 4

E para terminar nosso mês Mortal, é hora de conferir o jogo que foi a transição dos “atores” para os polígonos, além de significar uma nova era entre os kombates: é hora de Mortal Kombat 4!

O leitor da RetroArkade fã de Mortal Kombat e/ou dos jogos de luta tiveram motivos neste mês pra relembrar bons momentos nos fliperamas, locadoras e casas de amigos. Nos quatro domingos os quais comemoramos os Kombates Mortais em referência ao lançamento de Mortal Kombat X, pudemos relembrar as polêmicas e o choque cultural do primeiro jogo, o estabelecimento de um sucesso no segundo game e a ampliação de vários conceitos no terceiro episódio.

Para encerrar este mês especial — ampliado pela estreia da Pra Sempre PS2, coluna específica de Playstation 2 que também citou os jogos obscuros da franquia —  é hora de relembrar um jogo que não é lá um preferido da série, mas trouxe mudanças importantes para a história do universo do jogo, além de levar a franquia ao “futuro”, com os gráficos poligonais. Pouco jogado nos fliperamas, mas muito nos videogames, o quarto jogo da série lançado em 1997 pela Midway (e desta vez, portada aos consoles pela Eurocom) entendeu bem o recado de que ideias, sejam elas boas ou ruins, precisam ser colocadas em prática, em nome da evolução.

A ascenção e ameaça de Shinnok

Mortal RetroArkade: O sangue poligonal e uma nova era em Mortal Kombat 4

Baseado na história de Lúcifer, o anjo caído dos cristãos, Shinnok vivia preso em Netherrealm. Observando tudo e contando com as informações trazidas por Noob Saibot, ele aguardou pacientemente a queda de Shao Kahn, que falhou em conquistar Earthrealm, seja com torneios ou com a invasão em MK3. Assim, com a ajuda do feiticeiro Quan Chi, ele foge do inferno e busca conquistar não apenas a Terra, como Outworld também.

Raiden logo descobre os planos de Shinnok e rapidamente convoca os guerreiros da Terra para um novo Mortal Kombat. Shinnok, por sua vez, recruta os guerreiros derrotados de Outworld prometendo alianças.

Mortal RetroArkade: O sangue poligonal e uma nova era em Mortal Kombat 4

Com isso, Raiden traz de volta Johnny Cage, morto durante MK 3 e que quer ajudar seus amigos, demonstrando uma humildade inesperada; Jax e Sonya também aparecem (e obrigando Jarek, membro do Dragão Negro de Kano a lutar pelo lado terreno), assim como Sub-Zero que decidiu se unir a causa da Terra, já que rompeu de vez com a Lin Kuei; Liu Kang também retorna, após não conseguir salvar Kitana de Quan Chi (ela estava presa, escapou sozinha e aparece em Gold). Kung Lao também aparece (mas só em Gold também). Entre novos parceiros na defesa da Terra, temos outro membro da Lótus Branca, Kai, e Fujin, o deus Vento que se alia a Raiden para vingar todos os outros deuses que foram mortos por Shinnok.

No time de Outworld/Netherrealm, Shinnok e seu braço direito Quan Chi convencem Reptile a se aliar, assim como Noob Saibot que agora mostra quem ele realmente é. Scorpion foi trazido de volta à vida, porém ao invés de servir Shinnok, cego pelo ódio ele ainda quer matar Sub-Zero (mesmo que já o tenha feito no primeiro Mortal Kombat). Goro também volta à vida, após um pacto para servir Shinnok e se vingar de Johnny Cage (que acabou de voltar à vida também, que coisa!). Reiko é um dos generais de Netherrealm e Tanya é filha do Embaixador de Edenia, que é forçada a apoiar as forças obscuras.

Mortal RetroArkade: O sangue poligonal e uma nova era em Mortal Kombat 4

Um pouco da história foi apresentada em Mortal Kombat Mythologies, que embora tenha seus eventos antes do primeiro Mortal Kombat, explica muita coisa para o quarto jogo: no jogo temos mais sobre o combate que custou a vida de Scorpion, Quan Chi já se movimentando para os interesses de Shinnok e várias pontas soltas do enredo, que foram amarradas aqui.

E caso queira conferir um pouco da história de todos os games da série, a dica é conferir o MK 9, que embora conte com alterações por causa de seu enredo “mude o presente para salvar o futuro”, explica muito sobre os três primeiros jogos e sobre alguns fatos que levam ao quarto jogo.

Gráficos (e sangue) em 3D, e agora dá pra usar armas!

Mortal RetroArkade: O sangue poligonal e uma nova era em Mortal Kombat 4

Como um jogo precisa trazer ideias novas para chamar atenção, Mortal Kombat 4 trouxe as suas. Não foram ideias que causaram alvoroço como nos primeiros jogos, mas mostraram evolução. E para entender um pouco mais, também precisamos entender que o jogo ficou bem mais sombrio, afinal estamos falando de uma investida do “inferno” do jogo.

Pra começar, todos os cenários são bem obscuros e a fanfarronice dos outros jogos deram lugar a mais brutalidade, incluindo o uso de armas (ou dos objetos no cenário, como pedras), que poderiam ser sacadas durante a luta e ampliar as possibilidades de combate, podendo até perder ela caso atingido. Era desengonçado mas valeu a tentativa.

Os atores, desta vez se limitaram a emprestar apenas a voz. É que pela primeira vez os personagens estavam em 3D, seguindo o senso comum da época: como os jogos poligonais eram algo normal, o impacto com atores em jogos assim não seria mais a mesma coisa. Por outro lado, os fatalities e a brutalidade do jogo ganharam proporção nunca antes vista, afinal é mais fácil explodir um boneco de polígonos.

Outra novidade foram os finais, que ao invés de uma imagem com texto, seguiram outra tendência da época: finais em computação gráfica, cada personagem com a sua. Com aquele lance de “como seria se”, agora ficava mais fácil entender as coisas, mesmo para quem não dominava o inglês e queria saber, por exemplo, o que aconteceria caso Scorpion fosse o vencedor do torneio.

E coisas do terceiro jogo também voltaram, como a facilidade de criar combos e até os Stage Fatalities, que apesar de piorados, estavam presentes.

Todos jogamos, mas no videogame

Mortal RetroArkade: O sangue poligonal e uma nova era em Mortal Kombat 4

E sim, série democrática como é, Mortal Kombat 4 também saiu para vários sistemas. Poucos, se comparar aos outros títulos, mas aí a culpa não é da Midway e sim dos próprios sistemas, que foram fracassando com o passar do tempo e dando apenas a Playstation, Nintendo 64 e PC o privilégio de travarem o quarto torneio mortal.

Por ser uma era onde o gamer jogava mais em casa do que na rua, Mortal 4 garantiu diversão para quem se atreveu a desafiar Shinnok em casa. A IGN deu nota de 8.8/10 para o jogo em 1998, elogiando gráficos e criticando o já “cansativo” estilo dos jogos de luta. O Gamespot foi de 8/10, enquanto a PC Gamer deu nota de 66%.

Aqui no Brasil, as clássicas revistas não estavam muito interessadas em discutir estas questões mais técnicas (e não, isso não é crítica, é algo comum nesta época) e enchiam suas páginas com o que a galera mais queria: golpes, dicas e os fatalities, reclamação geral por estarem mais difíceis.

Mortal RetroArkade: O sangue poligonal e uma nova era em Mortal Kombat 4

O Game Boy, agora Color, também teve a sua versão limitada pelos 8-bit mas com Fatalities em pequenos vídeos em CG. Um Reptile ROXO se unia a 9 lutadores mais a possibilidade de acabar com Shinnok com Fatality (coisa impossível nos consoles).

E o recém-lançado Dreamcast, com todo poderio dos 128-bit recebeu a sua versão Gold. Além de visual melhorado e melhorias, trouxe personagens novos: Kitana, que só podia ser escolhida no N64 por Game Shark (talvez por ela estar nos planos e ser removida por limitações técnicas), Mileena, que voltou dos mortos e quer vingança, Kung Lao, Baraka e Cyrax em sua missão eterna de matar Sub-Zero.

Agora dá pra jogar com Goro

Mortal RetroArkade: O sangue poligonal e uma nova era em Mortal Kombat 4

Um Mortal Kombat sem segredos não é Mortal Kombat. E para começar com os segredos, Dan Forden, o nosso “Toasty” aparece aqui de maneira escondida. Por se tratar de um jogo mais sério, as fanfarronices foram quase todas retiradas, porém no Fatality Breath of Death, se você segurar o start, ouvirá uma vez mais o eterno grito de MK.

Outros segredos envolvem personagens. Além de lutar com Meat, que se trata de um lutador que está só “na carne” e que foi ganhando mais detalhes de sua vida com os próximos jogos, e o eterno secreto Noob Saibot, também era possível jogar com Goro. Tudo bem que MK original de Game Boy permitia isto, mas estamos falando de algo mais próximo a versão de arcade agora. Pra controlar o monstro de quatro braços, termine o jogo com Shinnok e na tela de seleção, selecione “Hidden”, agora aperte: Cima, Cima, Cima, Trás para iluminar Shinnok, e segure Bloqueio + Correr até a luta começar para controlar Goro.

Além disso, os Kombat Kodes voltaram (e ficaram), dando para acessar através dele um menu secreto, com direito a Fatalities mais fáceis. E pela primeira vez, os lutadores ganharam roupas alternativas, talvez se inspirando no enorme guarda-roupa de Tekken.

Mortal Kombat kontinua…

Mortal RetroArkade: O sangue poligonal e uma nova era em Mortal Kombat 4

Mortal Kombat 4 sofreu de alguns problemas que os outros três jogos não tiveram problema: a decadência dos arcades, com menos máquinas disponíveis e menos “frisson” nas casas de arcade; e o fator de que os polígonos envelhecem de maneira pior que os sprites: enquanto os outros jogos ainda são lembrados pela sua qualidade visual, MK 4 é lembrado por alguns pelos gráficos quadrados e desengonçados.

Porém foi o jogo que trouxe uma nova era para os kombates, mas sem inventar moda, pois tais eventos estavam previstos pelos desenvolvedores e ajudaram a trazer mais riqueza para o ambiente de Mortal Kombat.

No final, é sim um legítimo Mortal Kombat e deve ser considerado como parte importante da série, ainda mais se a gente lembrar da fase tenebrosa dos eventos da era 128-bit. E para terminar o mês especial em grande estilo, fica o convite: jogue Mortal Kombat. Do primeiro ao décimo, a certeza é de diversão na certa, principalmente se for com uma roda de amigos.

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui! Siga-me em instagram.com/juniorcandido ou x.com/junior_candido

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