Mortal RetroArkade: O sangue poligonal e uma nova era em Mortal Kombat 4
E para terminar nosso mês Mortal, é hora de conferir o jogo que foi a transição dos “atores” para os polígonos, além de significar uma nova era entre os kombates: é hora de Mortal Kombat 4!
O leitor da RetroArkade fã de Mortal Kombat e/ou dos jogos de luta tiveram motivos neste mês pra relembrar bons momentos nos fliperamas, locadoras e casas de amigos. Nos quatro domingos os quais comemoramos os Kombates Mortais em referência ao lançamento de Mortal Kombat X, pudemos relembrar as polêmicas e o choque cultural do primeiro jogo, o estabelecimento de um sucesso no segundo game e a ampliação de vários conceitos no terceiro episódio.
Para encerrar este mês especial — ampliado pela estreia da Pra Sempre PS2, coluna específica de Playstation 2 que também citou os jogos obscuros da franquia — é hora de relembrar um jogo que não é lá um preferido da série, mas trouxe mudanças importantes para a história do universo do jogo, além de levar a franquia ao “futuro”, com os gráficos poligonais. Pouco jogado nos fliperamas, mas muito nos videogames, o quarto jogo da série lançado em 1997 pela Midway (e desta vez, portada aos consoles pela Eurocom) entendeu bem o recado de que ideias, sejam elas boas ou ruins, precisam ser colocadas em prática, em nome da evolução.
A ascenção e ameaça de Shinnok
Baseado na história de Lúcifer, o anjo caído dos cristãos, Shinnok vivia preso em Netherrealm. Observando tudo e contando com as informações trazidas por Noob Saibot, ele aguardou pacientemente a queda de Shao Kahn, que falhou em conquistar Earthrealm, seja com torneios ou com a invasão em MK3. Assim, com a ajuda do feiticeiro Quan Chi, ele foge do inferno e busca conquistar não apenas a Terra, como Outworld também.
Raiden logo descobre os planos de Shinnok e rapidamente convoca os guerreiros da Terra para um novo Mortal Kombat. Shinnok, por sua vez, recruta os guerreiros derrotados de Outworld prometendo alianças.
Com isso, Raiden traz de volta Johnny Cage, morto durante MK 3 e que quer ajudar seus amigos, demonstrando uma humildade inesperada; Jax e Sonya também aparecem (e obrigando Jarek, membro do Dragão Negro de Kano a lutar pelo lado terreno), assim como Sub-Zero que decidiu se unir a causa da Terra, já que rompeu de vez com a Lin Kuei; Liu Kang também retorna, após não conseguir salvar Kitana de Quan Chi (ela estava presa, escapou sozinha e aparece em Gold). Kung Lao também aparece (mas só em Gold também). Entre novos parceiros na defesa da Terra, temos outro membro da Lótus Branca, Kai, e Fujin, o deus Vento que se alia a Raiden para vingar todos os outros deuses que foram mortos por Shinnok.
No time de Outworld/Netherrealm, Shinnok e seu braço direito Quan Chi convencem Reptile a se aliar, assim como Noob Saibot que agora mostra quem ele realmente é. Scorpion foi trazido de volta à vida, porém ao invés de servir Shinnok, cego pelo ódio ele ainda quer matar Sub-Zero (mesmo que já o tenha feito no primeiro Mortal Kombat). Goro também volta à vida, após um pacto para servir Shinnok e se vingar de Johnny Cage (que acabou de voltar à vida também, que coisa!). Reiko é um dos generais de Netherrealm e Tanya é filha do Embaixador de Edenia, que é forçada a apoiar as forças obscuras.
Um pouco da história foi apresentada em Mortal Kombat Mythologies, que embora tenha seus eventos antes do primeiro Mortal Kombat, explica muita coisa para o quarto jogo: no jogo temos mais sobre o combate que custou a vida de Scorpion, Quan Chi já se movimentando para os interesses de Shinnok e várias pontas soltas do enredo, que foram amarradas aqui.
E caso queira conferir um pouco da história de todos os games da série, a dica é conferir o MK 9, que embora conte com alterações por causa de seu enredo “mude o presente para salvar o futuro”, explica muito sobre os três primeiros jogos e sobre alguns fatos que levam ao quarto jogo.
Gráficos (e sangue) em 3D, e agora dá pra usar armas!
Como um jogo precisa trazer ideias novas para chamar atenção, Mortal Kombat 4 trouxe as suas. Não foram ideias que causaram alvoroço como nos primeiros jogos, mas mostraram evolução. E para entender um pouco mais, também precisamos entender que o jogo ficou bem mais sombrio, afinal estamos falando de uma investida do “inferno” do jogo.
Pra começar, todos os cenários são bem obscuros e a fanfarronice dos outros jogos deram lugar a mais brutalidade, incluindo o uso de armas (ou dos objetos no cenário, como pedras), que poderiam ser sacadas durante a luta e ampliar as possibilidades de combate, podendo até perder ela caso atingido. Era desengonçado mas valeu a tentativa.
Os atores, desta vez se limitaram a emprestar apenas a voz. É que pela primeira vez os personagens estavam em 3D, seguindo o senso comum da época: como os jogos poligonais eram algo normal, o impacto com atores em jogos assim não seria mais a mesma coisa. Por outro lado, os fatalities e a brutalidade do jogo ganharam proporção nunca antes vista, afinal é mais fácil explodir um boneco de polígonos.
Outra novidade foram os finais, que ao invés de uma imagem com texto, seguiram outra tendência da época: finais em computação gráfica, cada personagem com a sua. Com aquele lance de “como seria se”, agora ficava mais fácil entender as coisas, mesmo para quem não dominava o inglês e queria saber, por exemplo, o que aconteceria caso Scorpion fosse o vencedor do torneio.
E coisas do terceiro jogo também voltaram, como a facilidade de criar combos e até os Stage Fatalities, que apesar de piorados, estavam presentes.
Todos jogamos, mas no videogame
E sim, série democrática como é, Mortal Kombat 4 também saiu para vários sistemas. Poucos, se comparar aos outros títulos, mas aí a culpa não é da Midway e sim dos próprios sistemas, que foram fracassando com o passar do tempo e dando apenas a Playstation, Nintendo 64 e PC o privilégio de travarem o quarto torneio mortal.
Por ser uma era onde o gamer jogava mais em casa do que na rua, Mortal 4 garantiu diversão para quem se atreveu a desafiar Shinnok em casa. A IGN deu nota de 8.8/10 para o jogo em 1998, elogiando gráficos e criticando o já “cansativo” estilo dos jogos de luta. O Gamespot foi de 8/10, enquanto a PC Gamer deu nota de 66%.
Aqui no Brasil, as clássicas revistas não estavam muito interessadas em discutir estas questões mais técnicas (e não, isso não é crítica, é algo comum nesta época) e enchiam suas páginas com o que a galera mais queria: golpes, dicas e os fatalities, reclamação geral por estarem mais difíceis.
O Game Boy, agora Color, também teve a sua versão limitada pelos 8-bit mas com Fatalities em pequenos vídeos em CG. Um Reptile ROXO se unia a 9 lutadores mais a possibilidade de acabar com Shinnok com Fatality (coisa impossível nos consoles).
E o recém-lançado Dreamcast, com todo poderio dos 128-bit recebeu a sua versão Gold. Além de visual melhorado e melhorias, trouxe personagens novos: Kitana, que só podia ser escolhida no N64 por Game Shark (talvez por ela estar nos planos e ser removida por limitações técnicas), Mileena, que voltou dos mortos e quer vingança, Kung Lao, Baraka e Cyrax em sua missão eterna de matar Sub-Zero.
Agora dá pra jogar com Goro
Um Mortal Kombat sem segredos não é Mortal Kombat. E para começar com os segredos, Dan Forden, o nosso “Toasty” aparece aqui de maneira escondida. Por se tratar de um jogo mais sério, as fanfarronices foram quase todas retiradas, porém no Fatality Breath of Death, se você segurar o start, ouvirá uma vez mais o eterno grito de MK.
Outros segredos envolvem personagens. Além de lutar com Meat, que se trata de um lutador que está só “na carne” e que foi ganhando mais detalhes de sua vida com os próximos jogos, e o eterno secreto Noob Saibot, também era possível jogar com Goro. Tudo bem que MK original de Game Boy permitia isto, mas estamos falando de algo mais próximo a versão de arcade agora. Pra controlar o monstro de quatro braços, termine o jogo com Shinnok e na tela de seleção, selecione “Hidden”, agora aperte: Cima, Cima, Cima, Trás para iluminar Shinnok, e segure Bloqueio + Correr até a luta começar para controlar Goro.
Além disso, os Kombat Kodes voltaram (e ficaram), dando para acessar através dele um menu secreto, com direito a Fatalities mais fáceis. E pela primeira vez, os lutadores ganharam roupas alternativas, talvez se inspirando no enorme guarda-roupa de Tekken.
Mortal Kombat kontinua…
Mortal Kombat 4 sofreu de alguns problemas que os outros três jogos não tiveram problema: a decadência dos arcades, com menos máquinas disponíveis e menos “frisson” nas casas de arcade; e o fator de que os polígonos envelhecem de maneira pior que os sprites: enquanto os outros jogos ainda são lembrados pela sua qualidade visual, MK 4 é lembrado por alguns pelos gráficos quadrados e desengonçados.
Porém foi o jogo que trouxe uma nova era para os kombates, mas sem inventar moda, pois tais eventos estavam previstos pelos desenvolvedores e ajudaram a trazer mais riqueza para o ambiente de Mortal Kombat.
No final, é sim um legítimo Mortal Kombat e deve ser considerado como parte importante da série, ainda mais se a gente lembrar da fase tenebrosa dos eventos da era 128-bit. E para terminar o mês especial em grande estilo, fica o convite: jogue Mortal Kombat. Do primeiro ao décimo, a certeza é de diversão na certa, principalmente se for com uma roda de amigos.