Nickelback traz show “leve” e cheio de baladas para o Brasil
Eu gosto de Nickelback. Pode rir, eu espero. Conheci os caras enquanto ainda estava no colegial, ali pelo meus 16, 17 anos, e simpatizei com o som. Nunca mais parei de ouvir.
Confesso que nunca entendi qual o motivo de haver tanto “hate” direcionado a eles. A galera zoa baladas como Photograph e Far Away, mas não conhece boa parte das melhores músicas do quarteto canadense.
E falo isso com conhecimento de causa, pois conheço toda a discografia dos caras, e sempre acompanho de perto as novidades. Quando falei para uns colegas que iria viajar até SP para cobrir o show do Nickelback, logo vieram as piadas e os memes que algumas músicas geraram. Não ligo, pois sei que esse Nickelback comercial e baladeiro não é bem o que eu gosto. Nada contra, na real, mas o que realmente me fez gostar da banda foram as músicas pesadas e as ótimas letras que o Chad escreve.
Músicas como Side of a Bullet, cuja letra é uma homenagem ao finado guitarrista do Pantera, Dimebag Darrell, que foi assassinado por um “fã” durante um show, enquanto estava em cima do palco, fazendo o que sabia fazer de melhor. A música conta inclusive com um solo inédito do Dimebag, resgatado de materiais nunca lançados de sua banda, Damage Plan.
Aumente o som e aprecie:
Isso não tira o mérito das baladas, que são lindas, mas são… baladas. O Nickelback que eu realmente gosto de ouvir é o mais pesado, com canções que ocasionalmente trazem letras duras (como Never Again, que fala da violência doméstica que Chad e seus irmãos acompanhavam quando crianças, ao ver o pai bêbado agredir a mãe), ou até sacanas, tipo Animals, que conta uma historinha pra lá de divertida de um casal que está tentando dar uns amassos no carro, mas nada dá muito certo.
Aqui vai uma versão “ao vivo” de Animals. Ouça e depois procure a letra traduzida, é muito engraçada:
Não estou me justificando por gostar de Nickelback, mas quero deixar claro que existe outro lado da banda, que a maioria das pessoas não conhece. “Odiar” o Nickelback tornou-se uma piada recorrente, e muita gente odeia sem nem saber exatamente o porquê. Esse inclusive me parece ser um problema contemporâneo: muitas pessoas odeiam muitas coisas sem nem saber o motivo.
Eles vieram poucas vezes ao Brasil, e eu nunca tinha me dado ao trabalho de ir vê-los porque eram sempre atrações “secundárias” do Rock in Rio: abrindo para o Bon Jovi da vez passada e para o Muse no próximo domingo (aka amanhã). Eu não queria ver um show “de abertura” deles, queria a experiência completa, longa, com direito às músicas pesadas que me fizeram gostar da banda.
Infelizmente, não foi o que eu tive nesta quinta-feira, dia 03 de outubro, quando eles tocaram no Itaipava de Som a Sol, no Ginásio do Ibirapuera: em 1h30 de palco, os caras apresentaram um show cheio de baladas, com uma ou outra música mais pesada aqui e ali, e um setlist bastante focado nos álbuns mais recentes — sobrou espaço para apenas 3 músicas “das antigas”.
Isso quer dizer que o show foi ruim? Não necessariamente. Só não foi o que eu esperava ver. As garotas fãs da banda que marcaram presença no Ibirapuera sem dúvida saíram realizadas, pois ouviram praticamente todos os hits (aka baladas) que deixaram a banda famosa. Chad até chamou duas fãs gêmeas para subirem ao palco e cantarem Rockstar com a banda… e as garotas definitivamente não fizeram um bom trabalho. XD
O show foi MUITO mais leve do que eu gostaria. Photograph, Far Away, Lullaby, Someday, When We Stand Together e aquela que não pode faltar — How You Remind Me – tomaram a maior parte do tempo de palco, e as (poucas) músicas pesadas foram espremidas entre uma balada e outra.
Verdade que tocaram Animals, que eu adoro, e a divertida Figured You Out também. Fechar o show com Burn it to the Ground foi uma grata surpresa, mas estes foram momentos pontuais de um show que claramente foi pensado para ser mais “pop” e menos “rock”.
Daniel (batera) e Ryan (guitarra) chegaram a dar uma palhinha da intro instrumental de Because of You –uma das músicas mais pesadas do repertório da banda — mas ficou por isso mesmo. Na verdade, a segunda música da noite foi a boa e antiga Hangnail, o que me fez acreditar que teríamos um show com escolhas de repertório menos óbvias… e, bem, não foi o que aconteceu.
Claro que nada disso estraga a performance ao vivo dos caras, que é muito competente. A banda se mostra à vontade no palco, brinca bastante com a plateia, solta umas poucas palavras em português — “obrigado”, “São Paulo” e “saúde”, basicamente — e toca com energia. Eles curtem, o público curte, e todo mundo se diverte. É uma sinergia que funciona muito bem.
Este foi o setlist da noite. Vou até deixar as baladas identificadas só para você ter uma noção de como o show foi light:
- Feed the Machine
- Hangnail
- Photograph (balada)
- Far Away (balada)
- Hero (balada)
- Figured You Out
- Someday (balada)
- Lullaby (balada)
- Animals
- When We Stand Together (balada)
- Rockstar (balada)
- This Afternoon (balada)
- Million Miles an Hour
- How You Remind Me (balada)
- Gotta Be Somebody (balada)
- Burn It to the Ground
Acho imperdoável que faixas clássicas E famosas como Too Bad e Never Again — ou mesmo mais antigas, como Leader of Men e Breathe — tenham ficado de fora, mas né, quem escolhe o set list não sou eu. Eu limaria de primeira baladas chatinhas como This Afternoon e Gotta Be Somebody para meter ali no meio as já mencionadas Side of a Bullet e Because of You.
E já passei por frustrações do tipo até em shows que o público DE FATO escolhia o setlist: na turnê Metallica By Request que passou pelo Brasil em 2014, quem escolhia o setlist eram os fãs, através de um site. Na época, achei que esta seria a minha chance de ver clássicos como Disposable Heroes e Dyers Eve… mas o público escolheu as mesmas de sempre — Enter Sandman, Master of Puppets, Nothing Else Matters, etc.
Eu geralmente argumento que o Nickelback que as pessoas não conhecem é o Nickelback que realmente vale a pena ouvir, mas não foi essa faceta que eles quiseram apresentar aos fãs brasileiros. O que tivemos foi uma demonstração da banda em seu lado mais “amorzinho” e comercial.
Talvez eles mudem um pouco o setlist para o show de amanhã no Rock in Rio, mas acho pouco provável. De qualquer modo, não foi o show que eu esperava, mas foi uma noite divertida. Quem sabe na próxima eles tragam um setlist menos baladeiro, e me ajudem a provar que Nickelback não é feito só de músicas melosas e baladinhas.
De qualquer modo, se você não é uma das pessoas que “odeiam” o Nickelback, a passagem dos caras por aqui é uma boa oportunidade de vê-los de perto, independente do setlist. Se vai ao Rock in Rio, bom show, e depois passe aqui e nos conte o que achou! \m/
* Créditos das Fotos: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts