O Deep Purple trouxe um ótimo vinho musical para ser apreciado em show realizado em São Paulo

14 de setembro de 2024

Quem acompanha o Deep Purple há um bom tempo já está acostumado a ver Don Airey virar uma taça de vinho em seu solo de teclado. Ele fez isso de novo na apresentação de ontem (13) da banda em São Paulo mas não foi só ele que apreciou um bom vinho. O fã do Deep Purple, dos mais recentes aos de longa data, também tiveram a oportunidade de aproveitar um som de qualidade de uma banda com muita história pra contar, e que envelhece tão bem quanto a bebida que também fica melhor.

Entre o público, de um Espaço Unimed lotado, era possível ver o impacto de uma banda com quase 60 anos de história, através de um publico muito misturado, de todas as idades. Era possível ver fãs de longa data, que foram a muitos shows da banda, como jovens, inclusive acompanhados dos pais, também fãs, curtindo Highway Star pela primeira vez, ao vivo. E foi justamente com este clássico que o show começou, já com a energia de Simon McBride, que consegue fazer um bom elo entre passado e presente no palco, especialmente com os fãs mais jovens, que esperam um pouco mais de energia.

Energia também claramente percebida na voz de Ian Gillan. Claro, o tempo não volta mais e quem foi no evento sabia que o cantor não entregaria exatamente o mesmo vigor de outros tempos, mas mesmo de forma mais cuidadosa e com algumas saídas a mais do palco em momentos de solo, quando era preciso ouvir a sua voz, estávamos ouvindo, de verdade, uma das vozes mais importantes do rock em todos os tempos.

Don Airey, como mencionado, roubou a cena novamente, com a sua excelência com os teclados, mas também ao tocar, em seu momento solitário no palco, Aquarela do Brasil e um trecho do nosso hino nacional. O grupo tocou 15 músicas em sua apresentação, que foi até curiosa, pois se por um lado faltaram clássicos como Perfect Strangers ou Sometimes I Feel Like Screaming, por outro, músicas bacanas como Anya e When a Blind Man Cries foram interpretadas em um show que, do jeito Deep Purple de ser, foi bem intimista.

Entenda: o show de ontem do Deep Purple não foi “histórico”, no sentido de ser arrebatador no passado, mas ainda assim foi uma ótima noite para quem curte a banda e música de qualidade. Tivemos, na verdade, uma apresentação mais próxima de seus fãs (literalmente de todas as idades, é bom ressaltar), antes do show no Rock in Rio, amanhã (15).

Tanto é que, apesar de cantar a plenos pulmões Highway Star, Hush ou Smoke on the Water, a sensação real, de quem estava ali, era a de estar apreciando uma boa taça de vinho. Apreciando, mais uma vez, a competente voz de Gillan, a energia de McBride, a elegância de Airey e os discretos, mas potentes baixo e bateria de Roger Glover e Ian Paice. Afinal de contas são músicos que, caminhando para a casa dos 80 anos, em sua maioria, seguem fazendo música de real qualidade, e que deve ser valorizado, ainda mais em uma época onde artistas tão mais jovens, usam e abusam de playbacks.

No fim, não só eu como a maioria dos fãs saíram satisfeitos do show, pois o Deep Purple, que nasceu lá em 1968, continua agradável de se ouvir em 2024. Como os melhores vinhos.