O dia em que a Bruxa de Blair saiu das câmeras caseiras e foi para os games
A Bruxa de Blair surgiu nos cinemas em 1999, e se tornou histórico por uma questão bem única: por não ter cara de nenhuma produção hollywoodiana. Com cara de documentário caseiro, o filme trouxe um ambiente de terror nunca antes visto, e fez uma produção de apenas US$ 60 mil se tornar um dos filmes mais rentáveis da história, ultrapassando os US$ 200 milhões em faturamento.
O curioso é que o filme saiu bem na época em que games de terror estavam fazendo sucesso, como Resident Evil, Silent Hill e diversos jogos mais genéricos, que tentavam pegar carona na tendência dos jogos que traziam medo ou tensão aos jogadores, uma vez que o mundo 3D permitia uma imersão maior nos games.
Mas, de qualquer forma, A Bruxa de Blair demorou muito para ter o seu game, e até que valeu a pena, por dois motivos. O primeiro é que as tecnologias atuais permitem uma reprodução semelhante ao filme original, e a segunda é que foi a Bloober Team, que conquistou com o passar dos anos seu espaço no gênero, com Layers of Fear e Observer, além de The Medium, que rendeu a honra ao estúdio polonês de fazer o remake de Silent Hill 2.
A Bruxa de Blair chegou aos games em 2019, vinte anos após o sucesso no cinema, em dias nos quais outras franquias, como Amnesia, voltaram a fazer sucesso. E o game chegou com uma proposta bem interessante: em um raro momento em que um game consegue ser bem fiel ao filme que o inspirou, o jogador controla uma pessoa comum, no meio do pesadelo, sem capacidade de defesa nenhuma.
É o mesmo clima de pânico, tensão e medo que o filme tentou passar nos anos 90. O game te coloca na Floresta de Black Hills, do clássico filme, trazendo uma ambientação escura, de baixa saturação, para trazer ainda mais a sensação de medo e tensão, com um design de som que mostrava a evolução da Bloober Team também neste elemento.
O game conseguia, assim como em Silent Hill, trazer medo tanto durante o dia, quanto de noite. E, como um bom jogo de terror deve fazer, de noite as coisas ficam ainda piores, com direito a “truques” propostos pelo estúdio, para desnortear o jogador, fazendo-o se sentir mais tenso com um elemento tão aterrorizante do que sustos ocasionais: o fator labirinto. A confusão da localização, que pode ser um problema em vários jogos, aqui se torna ideal, dada a proposta de ter uma pessoa que não sabe o que fazer e nem como lidar com o que vê, em um lugar que se transforma em uma “prisão de pesadelo”.
O game honrou o clássico de 1999 com direito a sequência na antiga casa presente no longa. A Bruxa de Blair, o game, ainda conseguiu expandir sem pudor nenhum a mitologia do jogo, ampliando ainda mais os seus potenciais, garantindo uma aura de “filme 2” para ele. Ou pelo menos um spin-off “canônico”. No game você é Ellis, um cara que tem uma história complexa que é entregue durante a aventura.
Para ajudá-lo, o jogador conta com o apoio de Bullet, seu amigo pastor-alemão que sempre está de prontidão para apontar itens escondidos ou o perigo que se aproxima. Num labirinto de pesadelo como o jogo, ele é o seu “raio de luz” e inclusive a forma com que você o trata influencia o final do game. A campanha é curta, entre 8-15 horas, com vários finais, fazendo os fãs do gênero e da franquia jogarem o game várias vezes.
E seu gameplay traz uma coisa bem interessante. Pois, diferente dos outros jogos de terror, onde mesmo quando o personagem não é um super-soldado, eles ainda podem se defender de alguma forma, por aqui a sua única “arma” é fugir, ou lidar com uma espécie de combate, bem específica para o jogo.
Blair Witch, o jogo da Bruxa de Blair, foi mais uma ótima produção da Bloober Team. Tive a oportunidade de conversar com desenvolvedores do estúdio em uma BGS, quando estavam divulgando Observer, e após bons games, além da grata surpresa que foi The Medium, vê-los tocar o remake de Silent Hill 2, uma franquia tão querida por seus fãs exigentes, e receber o apoio da Private Division, da Take-Two, mostra apenas como o talento do estúdio foi reconhecido, e coisas ainda melhores podem vir, se eles manterem essa interessante evolução que mostraram nos últimos anos.
O game da Bruxa de Blair foi lançado em 2019, e conta com versões para PC, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch. Uma experiência ainda mais imersiva está disponível em VR, para o Oculus Quest 1 e 2.