O que aconteceria se o Playstation nunca tivesse existido?
Responsável pela venda de mais de 100 milhões de unidades em todo o mundo, o Playstation transformou para sempre a indústria dos videogames. Mesmo com os esforços de SEGA e Nintendo, na famosa guerra travada pelas duas companhias, foi a Sony que fez com que pessoas de todo o mundo, incluindo as que nunca cogitaram ter um videogame em casa, tivesse um aparelho cinza em casa.
Mas e se a Sony nunca tivesse levado para frente o projeto Playstation? Ou se ela se contentasse com a Nintendo e lançasse apenas um add-on em CD, sem maiores pretenções? Hoje vamos fazer um livre exercício de imaginação, cogitando cenários nos quais o Playstation não estaria presente, e o que isso influenciaria na indústria dos videogames.
“O que aconteceria se” será uma nova série de matérias do Arkade, no qual iremos imaginar juntos sobre potenciais cenários alternativos da história dos videogames. O objetivo, além de imaginar cenários alternativos da indústria, é também entender melhor como este universo funciona, e compreender mais os detalhes da história.
Faz de conta que a Sony nunca rompeu com a Nintendo…
E tenha lançado, enfim, o Nintendo Playstation, o famoso add-on de CD para o Super Nintendo, que seria lançado por todo o mundo, fazendo frente ao Mega/Sega CD, o add-on do Mega Drive que tem princípios semelhantes. Neste cenário, é bem simples imaginar que a Sony poderia se contentar em ser fornecedora de tecnologia, ao invés de criadora.
No máximo, a Sony manteria o seu estúdio de games, que publicava alguns games de pouca expressão, talvez expandindo mais o estúdio, uma vez que estava dentro do mercado de games. Mas, claro, sem a mesma profundidade de um projeto próprio.
Mas, por ser uma empresa muito bem estruturada entre eletrônicos, poderíamos ter uma novidade. A Nintendo, em parceria com a Sharp lançou anos antes o Twin Famicom, produto que embutia o Famicom com o Disk System em um só aparelho. Caso a relação entre a Big N e a Sony estivessem prósperas e o produto se tornasse um sucesso em vendas, seria bem provável termos um Super Nintendo da Sony, nos moldes do GameCube da Panasonic que foi lançado posteriormente.
Este produto, no entanto, seria utilizado pela Sony para explorar, além de games, outras mídias, uma vez que a gigante japonesa já possuía grande influência na música, e também no cinema.
A grande concorrente da Sony seria a Apple
Partindo do princípio que a Sony não investiria em games, ou que no máximo lançasse versões especiais de consoles Nintendo, ela continuaria atuando de forma mais eficaz em eletrônicos e mídia. Isso poderia refletir em maiores esforços em pesquisas para a criação de novos dispositivos.
Uma vez revolucionando o setor da música nos anos 70 com o Walkman, a Sony poderia tentar revolucionar novamente no início dos anos 2000, ao mesmo tempo em que a Apple também trabalhava para voltar ao topo com o iPod.
Assim, ao invés de termos atualmente uma disputa entre Sony e Microsoft, além da Nintendo, pela liderança dos games, poderíamos ter Apple e Sony trabalhando para estarem sempre um passo na frente da concorrente, em lançamentos. É verdade que a Sony apresentou lançamentos interessantes, mas sem uma divisão de games que se tornaria a prioridade em seus projetos, poderíamos ter mais novidades.
Especialmente se lembrarmos que a Sony já possuía, naqueles dias, grande força na indústria da música, essencial para trazer um produto já com conteúdos de primeira, como valor contra a concorrência.
Sem Sony, talvez também sem Xbox
A Microsoft já contava com um programa de games quando o Playstation foi lançado, em 1994. Mas atuava no mundo dos computadores, explorando o Windows, e buscando uniformizar o mercado de games com o DirectX, e os novos recursos do vindouro — e revolucionário — Windows 95.
Mas será que, caso a Sony não investisse em videogames, a Microsoft demonstraria interesse de entrar no mundo dos games? Vale lembrar que a companhia já poderia ter ingressado neste universo antes, seja com uma produtora de games, um console, ou compartilhando tecnologias, como aconteceu com o Dreamcast.
Mas, seja você fã da Sony ou não, é preciso reconhecer que foi o Playstation que expandiu de vez os videogames como produto de mídia, tal como conhecemos hoje, e sem a presença da gigante japonesa, talvez o mundo dos games seguisse outro caminho, o qual guiasse a Microsoft para focar e trabalhar com mais afinco apenas em games para PC.
Quem sabe, num futuro com nuvem, ela não chegaria, enfim, neste universo com assinatura de games e um dispositivo específico para isso, unindo o melhor do PC com o melhor dos games?
Um atraso de gerações
Mesmo não sendo o mais avançado de sua geração, o Playstation, mesmo abrindo mão do 2D (e de alguns games populares de luta) em nome do “futuro” tridimensional, forçou a concorrência a se movimentar, para acompanhá-la. Se não existisse um Playstation, talvez a Nintendo e a SEGA arrastassem por mais alguns anos Super Nintendo e Mega Drive.
Ambos os consoles, por exemplo, já possuíam projetos de games tridimensionais, feitos com apoio de chips especiais. E, enquanto o Mega Drive contava com expansões como o Sega CD e o 32X (que poderia ser mais explorado sem um Saturn), o Super Nintendo oferecia algo totalmente novo com Donkey Kong Country e a tecnologia de sprites 3D pré-renderizados.
Assim, sem a guerra pela busca do 3D ideal já nos anos 90 fortalecida pela Sony, o próximo console da SEGA, além do próximo videogame da Nintendo, que provavelmente seguiriam seus mesmos nomes e projetos, poderiam ser lançados posteriormente, talvez um, dois, ou até três anos depois.
O suficiente para, hoje em dia, estarmos jogando o “novo” Nintendo Wii U, console com suporte ao antigo Nintendo Wii, mas com um pouco mais de poder gráfico, mas com entrada HDMI e suporte para até 4K. Ou um Dreamcast Xbox, fruto de uma parceria duradoura, a qual imaginei anteriormente.
Novas concorrentes?
Poderíamos estar jogando hoje um “Samsung Station”. Junto da Sony, com o reaquecimento da indústria do videogame, primeiro pelas iniciativas da Nintendo e depois da SEGA, empresas de todo o mundo tentaram, de um jeito ou de outro, criar sua divisão dos jogos. Phillips, Sanyo, Sharp, Panasonic e até as então desconhecidas LG e Samsung buscavam, de qualquer forma, beliscar um pedaço da fatia.
Assim, se em 1996 a “trinca” dos videogames era Sony, SEGA e Nintendo, se retirássemos a Sony, teríamos uma “vaga” sobrando. Quem ocuparia ela? Poderia ser a oportunidade para a Microsoft entrar, mas como imaginei antes, a companhia poderia estar mais focada nos computadores. A Apple, por sua vez, poderia insistir, após o fracasso do Pippin, com um novo videogame, usando do seu know how com o Macintosh.
E mesmo as duas gigantes coreanas, Samsung e LG, que se fortaleceram nos anos 2000, poderiam enxergar nos games
Universo Cinematográfico Marvel / Sony
Uma vez longe dos games, a mídia talvez seria o grande local de atuação da Sony, que seguiria (como segue até hoje) na produção de eletrônicos. Mesmo com o Playstation, a gigante japonesa atuou forte no mundo do cinema, comprando, por exemplo, os direitos do Homem-Aranha para filmes, em 1999, por US$ 7 milhões.
Sem o Playstation, muito provavelmente a Sony atuaria de forma ainda mais profunda neste crescente gênero, analisando o sucesso crescente com filmes de heróis, e, quem sabe, apoiando um outro longa que se arrastava para sair do papel: o primeiro filme do Homem de Ferro.
Fortaleceria-se, assim, a parceria entre Marvel e Sony, que renderia diversos filmes e, quem sabe, até um universo cinematográfico, com vários heróis ganhando filmes, mas, claro, com foco no personagem mais importante para a Sony, que é o Homem-Aranha. E a Disney teria que se contentar com Star Wars, ou procurar outro mercado valioso para atuar.
Ainda assim, Crash, Metal Gear e Final Fantasy seguiriam. Mas esqueça The Last of Us ou God of War.
O Playstation entrou no mercado dos games já sabendo que exclusividade é uma arma poderosa. Mas os “exclusivos da Sony”, nesta época, pertenciam a outros estúdios, usando de estratégia semelhante a da Nintendo em tempos passados. Crash, Metal Gear e Final Fantasy eram desenvolvidos por estúdios que poderiam produzir tais games para qualquer outro console.
E estes games existiriam, mesmo sem Sony na jogada. Crash era o mais novo nesta época, mas Metal Gear e Final Fantasy, citando dois exemplos, já eram séries conhecidas, ao menos no Japão. Metal Gear Solid seria lançado primeiro, para o 3DO, e talvez fosse lançado por lá mesmo. Enquanto Final Fantasy, que havia feito sucesso nos consoles Nintendo, naturalmente seguiria no Nintendo 64.
O problema vem depois, nos anos 2000, quando os primeiros sucessos reais da Sony, como God of War, ou Uncharted, foram lançados.
Dito isto, a pergunta é: será que teríamos The Last of Us, Horizon Zero Dawn, Uncharted ou Ghost of Tsushima em um mundo sem Playstation? Nintendo e SEGA escolhiam e produziam seus exclusivos, sem muitas oportunidades de estúdios terceiros apresentarem novas ideias. E, imaginando que a Microsoft estaria mais interessada nos PCs, talvez estas ideias originais tivessem os computadores como locais preferidos.
A verdade é que a Sony revolucionou o mundo dos videogames
Você pode ser um apaixonado pela Sony, seus videogames e seus games. Ou pode torcer o nariz para os tais “exclusivos” da companhia. Mas não tem como não observar a revolução que a entrada da Sony no mundo dos games fez com a indústria.
O primeiro Playstation conseguiu convencer pessoas que jamais teriam um videogame em casa, de que era legal ter um dispositivo para curtir jogos e, de vez em quando, até ouvir música. Tal estratégia foi ainda melhor com o Playstation 2, quando foi vendido como um DVD que rodava jogos, que ajudou — e muito — a transformá-lo em um sucesso de vendas, já no seu lançamento.
A verdade é: este exercício de ficção, tentando enxergar um mundo sem Playstation, só serve para mostrar como a gigante japonesa foi importante e impactante na indústria do videogame. Seja como produtora, fabricante, ou cuidando de franquias exclusivas, muitos hoje, tem o videogame como hábito, graças a primeira caixa cinza, que chegou em 1994 para mudar, para sempre, o mundo dos videogames.