OneShot quebra a quarta parede e explode sua cabeça (agora em português)

9 de janeiro de 2018

OneShot quebra a quarta parede e explode sua cabeça (agora em português)

Sou um grande fã de obras que quebram a quarta parede, desde que este recurso seja empregado da maneira certa. Recentemente descobri um jogo muito bacana que quebra a quarta parede de formas que me eram inimagináveis: OneShot, game que não é necessariamente um lançamento, mas que recebeu recentemente legendas em português, o que facilita a vida dos gamers brasileiros.

Tal qual To The Moon, OneShot é mais um game produzido no bom e velho RPG Maker, ou seja, o visual é uma pixel art simples, com cara de Super Nintendo. A história do game gira em torno de Niko, uma simpática criaturinha com olhos de gato que acorda em um mundo que não é o seu, e ao encontrar um pedaço do sol, acaba tornando-se o messias daquele mundo, e sua missão é reacender o sol e garantir que aquele mundo não desapareça na escuridão.

OneShot quebra a quarta parede e explode sua cabeça (agora em português)

Até aí tudo bem. O diferencial de OneShot é que nosso amigo Niko sabe que nós, jogadores, existimos, interagindo diretamente conosco fazendo perguntas e compartilhando suas impressões sobre o mundo. As máquinas do game também sabem de nossa existência, e, de um jeito um tanto bizarro, interagem não só conosco, como também com nosso computador.

O jogo é tão sagaz nestas interações que sugere que o jogador mantenha o game no modo janela, para que possa enxergar sua área de trabalho no background e interagir com pastas e arquivos fora do jogo. E isso é realmente fundamental para que possamos prosseguir na aventura, pois o game “vaza” para fora de si mesmo de formas muito interessantes e criativas!

OneShot quebra a quarta parede e explode sua cabeça (agora em português)

Por exemplo, em dado momento, um dos terminais de computador do game avisa que a pista de um puzzle está arquivada em um Documento fora do game, em um lugar geralmente utilizado para arquivar documentos. Fui verificar a pasta “Meus Documentos” de meu PC e lá estava um arquivo .txt criado pelo game, só para me dar a informação que eu precisava!

OneShot é cheio desses pequenos momentos surpreendentes de criatividade que vão além do jogo em si. Ele vai trocar o seu papel de parede, ou sugerir que você chacoalhe a janela do game (arrastando-a com o mouse) para que um código seja revelado. É como se o jogo fosse realmente uma janela para um outro mundo, que está à nossa mercê e possui uma misteriosa ligação com o nosso próprio mundo.

OneShot quebra a quarta parede e explode sua cabeça (agora em português)

Como gamer de console que fui na maior parte de minha vida, eu sinceramente não estava familiarizado com este tipo de recurso, e confesso que jogar OneShot meio que explodiu minha cabeça mais de uma vez.

Eu estava habituado com jogos que quebram a quarta parede através de recursos narrativos metalinguísticos — como ICEY ou SUPERHOT –, e nem imaginava que um game poderia “mexer” no meu PC sem o meu consentimento e integrar isso ao gameplay de maneiras tão interessantes.

OneShot quebra a quarta parede e explode sua cabeça (agora em português)

No geral, OneShot é um jogo bastante simples, mas este “plot twist” da quarta parede coloca-o acima da média, afastando-o do estigma de ser “apenas mais um adventure com puzzles” para transformá-lo em algo mais criativo, envolvente e pessoal. OneShot é a história de Niko querendo voltar para casa, mas também é a nossa história com Niko, e a minha provavelmente será ligeiramente diferente da sua.

Se o jogo em si não é realmente novo para muita gente, o fato dele ter recebido legendas em português brasileiro no finzinho do ano passado torna-o especialmente relevante para nós, gamers brasileiros. E, considerando que ele é um dos jogos mais bem avaliados da Steam por si só é algo que sem dúvida conta muitos pontos a seu favor, e faz valer a pena uma espiada, até por ele ser bem baratinho.

OneShot é mais um daqueles casos em que criatividade e inovação se mostram muito mais valiosas do que um orçamento milionário ou uma engine top de linha. Um pequeno grande jogo que vai te surpreender, interagindo diretamente com você (e com seu computador) de formas surreais.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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