Out There Somewhere (PC) review: um game indie 100% brasileiro
Out There Somewhere poderia ser apenas mais um simples jogo de side-scrolling: seguir em linha reta da esquerda para a direita, pular em inimigos, saltar sobre abismos e, no máximo, enfrentar seres gigantescos no final de algum estágio. Felizmente, ele foge um pouco deste padrão, acrescentando novas mecânicas e ótimos puzzles à esta receita de sucesso.
O gênero side-scrolling de plataforma fez de Mario, Sonic e cia. grandes sucessos, e sofreu alterações a cada geração de consoles para se manter interessante. Porém muito antes de Limbo, Braid e tantos outros títulos fazerem sucesso com seus puzzles, jogos como Metroid, Kid Icarus, Prince of Persia e Another World introduziram novidades na mecânica de jogos com progressão lateral.
Desde o sistema de exploração (Metroid e Kid Icarus) a ideias cinematográficas (Prince of Persia e Another World) o gênero plataforma se manteve em constante evolução. Em suma, independente do gênero, o importante é tentar inovar em sua mecânica. E é exatamente nesse ponto que Out There Somewhere, game indie desenvolvido pelo estúdio brasileiro MiniBoss, se destaca.
O início do jogo se dá com Yuri (protagonista da aventura) em um combate no estilo shoot’ em ups de navezinha, algo que já de cara deve agradar os amantes do estilo.
Porém, as coisas mudam bastante, pois após ter sua nave danificada, o protagonista é obrigado a aterrissar em terras desconhecidas, então o real objetivo do jogo é apresentando: encontrar uma maneira de consertar a nave, derrotar o malvado Grigori e salvar o Planeta Mãe.
Durante o percurso, vemos que a topografia retô dos cenários remete a década de 90: por exemplo, as texturas escuras de alguns locais lembram as cavernas de Brinstar do clássico Super Metroid. O jogo apresenta uma coloração com tons mais escuros dando realmente a impressão de um planeta inóspito, mas ao mesmo tempo, convidativo para a exploração.
Porém, logo somos apresentados a Worm Aliens e os Treemen. O primeiro irá oferecer algumas dicas de possíveis acessos a determinadas passagens secretas, enquanto o segundo é um tipo de personagem que não acrescenta nada na narrativa em si (pois realmente não oferece nenhum diálogo interessante).
Essa oposição de personalidade dos personagens cria um balanceamento ao gameplay, pois o jogador verá que nem sempre terá a ajuda necessária para continuar o seu percurso tendo que raciocinar por conta própria. Isso fica ainda mais evidente nos puzzles, onde a única que você vai encontrar é seu próprio cérebro.
Aliás, é nos puzzles que Out There se destaca como um jogo de plataforma. A mecânica do jogo é baseada em um sistema de teletransporte, que funciona graças à arma que personagem utiliza.
Como regra básica, ao atirar em uma parede a personagem é direcionada ao lugar do alvo. Mas, ainda há outras formas de interação com o cenário; por exemplo, a Teleport Gun conserva momentum, ou seja, ao pular antes do tiro bater em uma parede, ao terminar o teletransporte o pulo ainda estará sendo realizado. Coisas que já vimos em games como Portal, mas que caem bem em um side-scroller 2D.
Além do momentum, o cenário apresenta três tipos de raios que influenciam diretamente o gameplay. O primeiro que conhecerá é o The Null Beam ele absorver a energia da Teleport Gun, forçando a personagem atravessar normalmente o feixe de luz.
O segundo, The Block Beam, faz Yuri se teletransportar normalmente e ainda permite que o personagem realize alguns pulos especiais.
O terceiro e último raio, The Up Beam, muda o percurso do tiro em direção ao teto. Isso faz com que seja possível acessar locais de alturas maiores. Falando assim não parece nada de mais, mas os puzzles misturam raios e colocam-nos em lugares onde você sabe que pode chegar, só precisa descobrir como.
É uma mecânica simples e intuitiva, e os puzzles bem elaborados conservam o interesse do jogador, ao mesmo tempo que oferecem um respeitável teste de raciocínio, tudo isso aliado a um bem-vindo estilo retrô.
Mesmo com sua linearidade é impossível não simpatizar com Out There Somewhere, pois o jogo se mostra eficiente no que se propõe: ser um puzzle platformer.
Apesar de simples, o título do estúdio MiniBoss cativa por sua arte retrô, sua trilha sonora nostálgica – que remeter aos velhos cartuchos de 16 bits -, e a genialidade de nos fazer pensar com uma mecânica extremamente funcional de teletransporte.
P.S. Já que o assunto é Out There Somewhere, aproveite e confira a entrevista exclusiva que a Arkade realizou com o pessoal do estúdio MiniBoss na edição 34 da revista Arkade!
Esta análise foi escrita por Raphael Franck, colaborador da equipe Arkade.