Preview Arkade: o beta de Marvel’s Avengers empolga, mas com ressalvas
Rolou neste final de semana a primeira etapa da fase beta de Marvel”s Avengers, exclusiva para a galera de PS4 que realizou a pré-compra do jogo. A SquareEnix nos concedeu um código de acesso ao beta, e olha… com o controle na mão, Marvel’s Avengers é bem mais legal do que parecia quando foi anunciado!
Uma breve retrospectiva
Para quem não lembra, o jogo dos Vingadores foi anunciado em 2017 — época em que ainda nem tínhamos assistido à Guerra Infinita, e o MCU estava a todo vapor nos cinemas. A parceria da Marvel com a SquareEnix e os estúdios responsáveis por séries como Hitman e Tomb Raider era muito promissora, e o anúncio deixou os fãs animados.
Depois do anúncio, o jogo ficou quase 2 anos sem receber novidades… e quando ele foi oficialmente apresentado ao mundo, na E3 de 2019, o resultado foi bem menos empolgantes: com modelos de personagens feios e um deliberado afastamento de tudo o que estava rolando de grandioso nos cinemas, o jogo definitivamente não deixou uma primeira impressão muito boa.
De lá para cá, mais vídeos de gameplay foram apresentados, e, em um ano sem E3, tivemos até um evento exclusivo do game para apresentar novidades. Aos poucos, a imagem do game foi melhorando, ainda que boa parte dos fãs encarasse o título com ceticismo.
Este fim de semana, enfim a primeira fase de beta testes rolou, e pude testar o jogo em primeira mão — junto com jogadores de PS4 do mundo todo que realizaram a pré-compra de Marvel’s Avengers. E olha vou te falar que, com um controle na mão, o jogo é muito mais legal do que aquilo que foi mostrado em 2019!
O Dia A
O beta começa com um trecho cheio de ação no chamado Dia A, que deveria ser uma celebração à nova sede dos heróis, mas acaba tornando-se uma tragédia quando uma explosão (supostamente causada pelo porta-aviões dos heróis) devasta a cidade de São Francisco.
Ainda não dá para saber quem está por trás desta explosão, mas uma coisa é fato: o vilão Taskmaster e algumas hordas de soldados inimigos criaram uma distração para os heróis ao atacarem a famosa ponte Golden Gate, desviando a atenção deles para o que rolava na enorme aeronave. Como a explosão partiu de lá, os Vingadores acabam saindo como culpados, uma vez que sua tecnologia aparentemente colocava em perigo a vida de milhões de pessoas.
Esse início — o Dia A deve ser, de fato, o começo do jogo — é muito empolgante e cinematográfico. Controlamos praticamente todos os principais heróis do grupo alternadamente, enquanto eles se ajudam no combate aos inimigos e no salvamento dos pobres civis que foram pegos de surpresa pelo atentado.
Cada herói tem suas próprias características de combate: Hulk é a força bruta capaz de virar até tanques, e usa seus enormes saltos para se locomover. Iron Man claro, pode voar, e utiliza os recursos de sua armadura contra os inimigos. O Capitão América vai no soco e arremessa seu escudo, enquanto Thor ataca com o Mjolnir e pode disparar raios. Por fim, a Viúva Negra — que é quem encara o Taskmaster no mano-a-mano — é extremamente ágil, seja com suas pistolas, ou com suas tonfas.
Em defesa dos momentos scriptados
Começar o jogo com esta pegada é um baita acerto: além de dar um gostinho do gameplay dos principais heróis, a experiência já começa com ar de superprodução, elevando a adrenalina. Trechos de gameplay e cutscenes se misturam, bem como trechos scriptados que são muito empolgantes e cinematográficos.
Eu sou um defensor de momentos scriptados: vivemos em uma época de Souls-likes, roguelikes e battle royales. Jogos que são legais, mas são muito pautados pelas suas mecânicas: os momentos épicos dependem da habilidade do jogador. Em eventos scriptados, isso não é problema: aquele momento vai ser épico porque é assim que os produtores querem que ele seja.
Hoje em dia há pouco disso no mundo dos games, e acredito que os melhores estão nos jogos da Naughty Dog: ela cria jogos cinematográficos cheios de momentos cinematográficos. E aqui vemos um esforço de fazer algo desse tipo: é lindo voarmos nas costas do Taskmaster socando a cabeça dele com a Viúva Negra em um QTE, enquanto vemos Thor, o Hulk e o Iron Man resgatando veículos e salvando pessoas nos arredores.
Toda essa intro do jogo, cheia de explosões, QTEs e momentos scriptsdos parece algo que veríamos em um filme, e reforça não só a união e o espírito de equipe dos heróis, como também este lado mais blockbuster do jogo, que afinal, precisa se provar ao lado de uma década de grandes filmes do MCU.
A novata Kamala Khan
Passada essa eletrizante sequência de abertura, descobrimos que a explosão afetou a cidade de diversas maneiras: algumas pessoas simplesmente morreram, outras ganharam super poderes e habilidades especiais. É o caso de Kamala Khan, uma jovem que é fã dos Avengers e, na explosão do Dia A, viu seu corpo ganhar a elasticidade digna do Luffy, pirata de One Piece.
A jovem — que deve vir a se tornar a Miss Marvel com o desenrolar da história — é a peça-chave que irá reunir novamente os Vingadores para encarar uma nova ameaça, uma empresa de tecnologia chamada AIM que promete ser “boazinha” e proteger os cidadãos… mas claramente tem segundas intenções.
O próximo trecho do beta envolve Kamala e o Dr. Bruce Banner encontrando — e reativando — o Quimera, antigo porta-aviões dos Avengers que servirá de base móvel para as novas missões. Não sabemos exatamente como/onde Kamala e Banner se conheceram, mas isso deve ser melhor explicado no jogo final.
Este é mais um trecho que ilustra bem a sinergia dos heróis. Enquanto Kamala pode usar seu tamanho e seu corpo elástico para superar obstáculos, Hulk encontra seu próprio caminho na base da porrada, e logo a dupla consegue reativar ninguém menos que Jarvis, a IA de Tony Stark, que cuida do funcionamento da nave.
Um detalhe muito bacana é a personalidade de Kamala: ela é fã dos Vingadores, usa camiseta da Capitã Marvel e broche do Capitão América na bolsa. A empolgação da garota ao se deparar com “relíquias” dos heróis é muito genuína — ela representa, na prática, todo fã dos Avengers, e está realizando um sonho de conhecer melhor seus heróis e lutar ao lado deles.
Outros jogos de super-heróis fizeram a besteira de nos permitir criar um herói, mas não nos dava controle daqueles que crescemos admirando nos quadrinhos e filmes. Esse é um erro que Marvel’s Avengers não comete: ele nos permite controlar vários outros heróis além dela — e a lista deve ir aumentando com o tempo — e isso conta muitos pontos para o jogo, afinal, queremos ser os Vingadores, não só a novata empolgada.
Por falar nisso, veja um pouco da empolgação da garota abaixo, dublada em português:
Como temos dois botões básicos de ataque — quadrado e triângulo — quem jogou os primórdios da saga God of War sem dúvida vai perceber que os combos da Kamala tem bastante em comum com os do Kratos. Enquanto o espartano chicoteava as correntes de suas Blades of Chaos e terminava com um poderoso golpe no chão, a jovem Vingadora usa seus braços elásticos em combinações mais ou menos parecidas!
Experiência cooperativa
O beta também nos apresenta ao primeiro objetivo cooperativo do beta, uma missão em um lugar gelado onde devemos recuperar um componente do Jarvis, para que ele funcione melhor e possa desempenhar todas as suas funções.
Aqui, um jogador assume o controle de Kamala, outro do Hulk, e a missão se passa em uma área ampla, com alguns objetivos opcionais que pode ser desbravados se o jogador quiser encontrar baús e coletar itens. O objetivo principal propriamente dito tem uns momentos meio Destiny, nos quais devemos, por exemplo, defender uma estrutura por alguns minutos, enquanto hordas de inimigos atacam.
Depois que cumprimos uma missão tutorial no HARM (uma sala de treinamento virtual), ganhamos acesso a mais um punhado de missões cooperativas em diferentes lugares. Novamente, é fácil identificar elementos típicos de jogos competitivos, como controle e recuperação de pontos de interesse. Por exemplo, os heróis precisam ficar por perto de alguns terminais de computador, enquanto Jarvis acessa-os remotamente para obter alguma informação. Algo que em outros jogos chega na forma de partidas PvP, aqui ganha um aspecto PvE, uma vez que são objetivos de 4 jogadores versus hordas de inimigos. Algo que Destiny também fazia.
Destiny, aliás, pode acabar se mostrando um bom comparativo do que podemos esperar da versão final do jogo: no game da Bungie, há missões do tipo Assalto nas quais somos pareados com outros players, e aqui isso também é uma opção (embora você possa jogar com aliados controlados pela IA, se quiser). Não sei como serão as missões principais da campanha — espero algo no nível da introdução do Dia A –, mas sem dúvida teremos muitas missões cooperativas um pouco mais “genéricas” para rechear a obra.
O temido “game as a service”
O que mais me preocupa em Marvel’s Avengers é o lado “game as a service”: já no beta é possível encontrar dezenas de baús com diferentes graus de “raridade”, que nos dão acessórios que melhoram as estatísticas dos personagens, ou lhes concedem algum buff de proteção — ou mesmo mineirais e recursos que melhoram os atributos dos equipamentos.
Nesta fase no gelo, por exemplo, alguns inimigos possuem armas que podem congelá-lo, então é recomendável equipar itens que mantenham os heróis protegidos de congelamento. Em outras fases cooperativas, inimigos que envenenam se fazem presentes, e obviamente há acessórios que minimizam a ação dos venenos. Considerando que acessamos diferentes fases pela “War Table” do Quimera, é só questão de acrescentarem novos modificadores em cenários já existentes para criar uma experiência nem tão “nova”, que aumente o fator replay.
Acessórios com diferentes níveis de raridade são mais poderosos, e, mais ou menos como em Destiny, seu nível de poder é aumentado pelo nível dos seus equipamentos. Cumprir fases que demandam um alto nível de poder exige que você tenha equipamentos de alto nível… e aí entra o farming de acessórios que — pelo menos no beta — nem afetam o visual dos personagens: são acessórios “holográficos” que sequer chegam a ser cosméticos — ao contrário de Injustice 2, por exemplo, para se ater ao universo dos super-heróis.
Acho legal que o jogo tenha uniformes diferenciados para os heróis, mas essa parte “loot holográfico” do jogo me parece um tanto desnecessária, algo que está lá simplesmente para obrigar o jogador a 1) rejogar as mesmas fases diversas vezes e 2) gastar dinheiro real para adquirir acessórios, gestos, e bijuterias. Isso é “uma praga” comum de jogos free-to-play e looter-shooters; colocar isso em Marvel’s Avengers me parece uma forçação de barra para aumentar a longevidade do jogo e fazê-lo virar… bem, um serviço.
Sem contar que este formato de “jogo como serviço” cria jogos que nunca acabam, pois estão sempre recebendo novos conteúdos, personagens e missões. Isso vai acontecer com Marvel’ s Avengers: o Gavião Arqueiro já foi confirmado como primeiro personagem extra, e a notícia de que o Homem-Aranha será exclusivo do console da Sony deixou muita gente indignada.
Pessoalmente, eu preferia que Marvel’s Avengers fosse um jogo mais na linha de Batman Arkham ou Marvel’s Spider-Man: ótimos jogos single player, com uma campanha longa, satisfatória, e cheia de easter eggs. Até poderia ter algum tipo de multiplayer assíncrono — como Devil May Cry V, por exemplo –, mas isso não precisava ser o carro-chefe do jogo.
Audiovisual
Como estamos falando de um beta, não acho justo comentar aspectos técnicos do jogo, mas adianto que no geral, a experiência está excelente: o visual do jogo é incrível e com ótimos efeitos de iluminação. O design dos personagens estão muito melhor resolvido — afastando-se deliberadamente da “cara” dos atores do MCU. A qualidade das dublagens em PT-BR é de primeira.
Apesar disso, tanto em cutscenes quanto durante o gameplay algumas frases em inglês escapavam — coisa que não deve acontecer na versão final do jogo. Foi uma grata surpresa constatar que o Photo Mode já estava presente no beta — se quiser ver algumas imagens que capturei, confira meu Instagram @gamesphotomode.
Jogando no PS4 Pro, acho válido ressaltar que ele parece exigir bastante do console: quem joga no PS4 sabe que de vez em quando parece que o videogame vai sair voando, e jogando Marvel’s Avengers, o console ficou com a “turbina” ligada no máximo o tempo todo, fazendo bastante barulho — mas conseguindo entregar uma jogatina fluida, sem engasgos, tanto no modo 4K quanto no modo Desempenho. Não sei se isso é passível de melhoria na versão final, mas se no Pro o console já quase vira um drone, imagino como as versões inferiores dos atuais consoles vão se comportar.
Conclusão
No geral, minha experiência com esta fase beta de Marvel’s Avengers foi satisfatória: ela sem dúvida apagou a primeira impressão negativa que o jogo deixou, e o clima cinematográfico do Dia A aumentam as expectativas para o potencial do jogo e a sinergia entre os heróis.
Só não digo que estou realmente empolgado pelo jogo porque sei que a maior parte da experiência deve ser menos “cinematográfica”, e mais voltada para missões cooperativas e conteúdos genéricos típicos de “jogos como serviço”. Esse não é o meu formato favorito de jogo, então espero que os produtores tenham achado um meio termo saudável entre tudo o que o jogo quer oferecer.
Por mim, Marvel’s Avengers seria um Triple A single player para rivalizar com os melhores jogos do gênero. Mas a proposta aqui é outra, mais ambiciosa e duradoura, com possibilidade de ser expandida ao longo da próxima geração. Estou ansioso para ver outros heróis integrando o elenco… mas fico com o pé atrás pelo “game as a service”, e espero que as toneladas de braceletes, botas, gestos e outras bobagens não estraguem a experiência.
Se quiser jogar Marvel’s Avengers antes do lançamento, fique ligado nas próximas etapas do beta, que vão rolar nos próximos fins de semana:
- De 14 a 16 de agosto: beta liberado para todos os jogadores de Playstation 4.
- Também de 14 a 16 de agosto: beta disponível para jogadores de PC e Xbox One que realizaram a pré-compra do jogo.
- De 21 a 23 de agosto: beta liberado para jogadores de todas as plataformas (PS4, Xbox One e PC).
Marvel’s Avengers será lançado em 4 de setembro, com versões para PC, Playstation 4, Xbox One e Google Stadia.