Primeiras Impressões: Pokémon Scarlet/Violet e o futuro da franquia
Hoje é o dia que finalmente chegou ao mundo a nona geração de Pokémon com os games Pokémon Scarlet e Pokémon Violet. Os novos games de Switch da linha principal da franquia chegam com uma responsabilidade muito grande nas mãos: abrir uma nova geração com qualidade o suficiente para não ser considerado um retrocesso se comparado ao Pokémon Legends Arceus, lançado no início do ano.
Com um novo continente repleto de novas e velhas criaturinhas todo aberto para a exploração, as minhas primeiras horas com Pokémon Scarlet/Violet foram um misto de emoções (como normalmente os games da franquia fazem). Cheio de boas novidades e com um senso de continuidade interessante se comparado ao Pokémon Legends: Arceus, ainda assim, a nona geração ainda comete deslizes questionáveis. Mas uma coisa de cada vez.
Estudante da região de Paldea
Pokémon Scarlet/Violet trazem um início que mescla uma sensação nostálgica com algumas novidades. Entre elas, a primeira é o convite à aventura desse game. Dessa vez não somos simplesmente treinadores começando nossa jornada como na maior parte dos games anteriores. Na verdade, somos parte da Academia Naranja, uma escola Pokémon no melhor estilo Hogwarts com uniforme, grupos e etc.
Logo nos primeiros minutos de game somos apresentados ao diretor Clavell, que nos visita para informar que fomos admitidos na Academia. E daí sim começa a nossa jornada ao lado de Nemona, nossa simpática rival no jogo. Ainda na introdução, uma quebra de padrão interessante (ao meu ver): encontramos de cara o lendário capa do jogo, que pode ser Kuraidon para Scarlet ou Miraidon para Violet.
Nesse encontro acabamos nos aliando ao Pokémon durante uma breve aventura para, a partir daí, virarmos companheiros durante toda a nossa jornada, com o lendário servindo de montaria desde o início da jogatina. Mas vale dizer que ele não é utilizado em batalhas, o que deixa a experiência de início de jogo bem igual ao que já é comum na franquia, com a escolha dos bichinhos iniciais e tudo mais.
Assim, após um tutorial mediano que insiste em pegar o jogador pela mão para ensinar conceitos básicos da franquia — como batalhas, capturas de monstrinhos e exploração –, temos finalmente o mundo para explorar. Sobre esse mundo e suas explorações, temos muito o que contar, então vamos por partes para essa preview não ficar tão confusa.
Para além das 8 insígnias
Pokémon Scarlet/Violet segue a linha principal de jogos da franquia, ao contrário do que vimos em Pokémon Legends: Arceus. Dessa forma, o caminho de seguir pelos oito líderes de ginásio até conseguir as insignías para chegar a enfrentar a Elite dos Quatro e finalmente o campeão da região permanece a mesma de sempre. Mas em Paldea alguns outros elementos são estabelecidos para tentar dar mais dinamismo à jogatina.
Assim, além dos oito líderes de ginásio, temos também cinco líderes do time Star (a “Equipe Rocket” da região), que precisam ser derrotados para que uma história relacionada à Academia seja completada. Como se não bastasse, temos também cinco Pokémon Titãs, estes trazem mais a vibe dos chefões de Arceus.
Essas três linhas principais de história são interessantes e se mesclam muito bem durante a exploração do continente. Até certo ponto, fica a cargo dos jogadores escolherem o que fazer primeiro, se preferem focar em uma atividade ou outra e qual ordem deve fazer cada um dos desafios. Porém, é importante ressaltar que essa exploração livre tem consequências drásticas, das quais falaremos mais abaixo.
Quanto às atividades de mapa, temos sim um mundo aberto relativamente cheio de elementos e atividades. Seja das três linhas principais da história, seja por parte de missões secundárias, Pokémon mais raros e treinadores esperando para serem desafiados. É um mundo cheio de cor e um pouco menos vazio do que fora Legends Arceus em janeiro. Mas, ainda aquém dos jogos mais atuais que utilizam mundos abertos, vou explicar o porquê.
Exploração completamente falha
Ao mesmo tempo em que temos um mundo repleto de atividades a serem feitas, temos uma exploração nada inteligente. Quando falamos de mundos abertos, temos exemplos péssimos, exemplos medianos e exemplos excelentes. Elden Ring e The Legend of Zelda Breath of the Wild são exemplos excelentes de games que soltam o jogador em um mundo literalmente repleto de coisas a serem descobertas e deixa que eles explorem à sua maneira tudo aquilo.
Entre os exemplos medianos podemos citar os games mais recentes da franquia Assassin’s Creed, The Witcher 3: Wild Hunt ou Cyberpunk 2077, com mapas imensos repletos de detalhes, easter-eggs e atividades secundárias, mas que não dão ao jogador a real oportunidade de explorar por conta própria aquele mundo. Isso porque a todo momento existem pontos de interesse marcados no mapa, sinalizações de missões e tudo o mais para pegar o jogador pela mão e guiá-lo para onde ele “deve” ir.
Por fim, temos os exemplos péssimos, e infelizmente Pokémon Scarlet/Violet se encaixa neste grupo. São aqueles jogos que possuem mundos abertos vazios de conteúdo, sem incentivo para a exploração livre, com marcações a todo momento do que deve ser feito e, finalizando o desastre, ainda pune jogadores que tentam explorar o mundo por conta própria.
Mesmo que a divulgação de Pokémon Scarlet/Violet tenha se orgulhado em dizer que ginásios e demais objetivos poderiam ser explorados na ordem que o jogador quisesse, na prática isso é uma baita mentira. Os líderes de ginásio, por exemplo, não acompanham o nível dos Pokémon do jogador, eles possuem uma ordem lógica a ser seguida. E isso simplesmente impede que um jogador enfrente os ginásios em qualquer ordem, ou vai acabar massacrado em uma batalha muitos níveis acima do seu.
Ainda assim, divertido
Mesmo que Pokémon Scarlet/Violet estejam longe de serem os melhores games da franquia, com várias falhas questionáveis em seu desenvolvimento, ele ainda assim é um jogo divertido. Sinceramente, me diverti mais nas horas que joguei Pokémon Scarlet do que em todo o tempo que joguei Pokémon Sword em seu lançamento. Mesmo com uma exploração nada livre e com muito espaço vazio entre uma cidade e outra, o game ainda é Pokémon, para o bem e para o mal.
As batalhas lembram bastante o que fora visto em Legends Arceus, o que é uma ótima notícia. Porém, infelizmente, o mesmo não pode ser dito do método de captura de monstrinhos, que retrocedeu ao velho padrão de batalhar-enfraquecer-capturar obrigatoriamente. A história, até agora, diverte — e ter o lendário do jogo sempre te acompanhando nas aventuras cria um laço mais interessante entre o protagonista e a criatura, algo pouco trabalhado em outros jogos da franquia.
O jogo em si é o mais bonito da franquia até então, com texturas melhor trabalhadas, um mundo aberto repleto de cores, uma boa variedade de monstrinhos, movimentação fluida e vários biomas. A mecânica de Terastalize fica liberada desde o início do jogo e acrescenta uma dinâmica um pouco diferente para as batalhas (melhor que os Dinamax da geração anterior).
Essa é, ao meu ver, a magia que Pokémon ainda consegue ter. Sua legião de fãs vai se divertir com a jogatina, mesmo ciente dos problemas. O game vai vender bastante, simplesmente por ser “mais” Pokémon.
No fim das contas, Pokémon continua sendo Pokémon: um jogo simples e com um processo de desenvolvimento instável e absurdamente questionável, mas que diverte e tem carisma.
Pokémon Scarlet/Violet foram lançados hoje, dia 18 de novembro de 2022 com exclusividade para o Nintendo Switch. Em breve, teremos uma análise mais completa, falando também da parte técnica e do desempenho do jogo no Switch.