Primeiras Impressões: Starfield e suas horas iniciais cheias de “Bethesda”
Depois de anos de quase nenhuma informação divulgada, depois de um desenvolvimento que sofreu bastante e inclusive sobreviveu à pandemia, depois da venda da Bethesda para a Microsoft e até o risco do game nunca ser lançado, finalmente Starfield está entre nós! O game que leva a assinatura de Todd Howard, chefe da Bethesda, e que também ficou conhecido como o game mais ambicioso da empresa até então chega hoje (dia 06/09), mas já estava em acesso antecipado desde o final de agosto.
Como atualmente estou com quase trinta horas de jogatina, não tenho a mínima coragem de chamar este texto de “análise completa” de Starfield. Essa, inclusive, sairá mais pra frente, quando este que vos fala der conta das dezenas de horas de conteúdo que este jogo proporciona. Mas ao mesmo tempo julgo importante trazer para vocês leitores as primeiras impressões que tive durante essas horas iniciais de jogatina conhecendo e desbravando toda a narrativa, jogabilidade, recursos, mecânicas e planetas que o game tem a oferecer.
Mas já adianto duas coisas: Starfield não é revolucionário como alguns podem estar esperando, mas também não é “mais do mesmo” como outros insistem em dizer. Mas não é nesse texto que darei um veredito sobre o game; e essa era a segunda coisa que eu tinha pra dizer. Tudo esclarecido? Então vamos para nossas primeiras impressões de fato.
“You’re Finally Awake”
Desde a introdução de Starfield consegui ver claramente que se tratava de um game da Bethesda. O que me fez perceber que este é de fato o primeiro game original da Bethesda para a nova geração. Um jogo que atualiza de certa forma a linguagem da empresa que ficou conhecida pelas suas duas principais franquias: The Elder Scrolls e Fallout.
Na introdução de Starfield (no melhor estilo Skyrim de ser), nós acompanhamos um grupo enquanto exploramos uma caverna repleta de mineradores espaciais. Essa sequência toda serve de tutorial para os comandos mais básicos do jogo, como usar armas, analisar os arredores, movimentação e câmera. Nada novo, mas que culmina na famigerada criação de personagem.
Da criação falarei mais no próximo tópico, mas em poucas linhas basta eu comentar que a criação é bem completa, uma das mais complexas e completas da Bethesda arrisco dizer. Após um tempo terminando de editar meu personagem, sou levado para a superfície do planeta no qual toda a sequência inicial se desenrolou, para então termos a primeira interação do game com combates e, por fim, com um voo na nave espacial.
Toda essa sequência introdutória é muito cuidadosamente pensada para introduzir o jogador tanto no mundo do jogo quanto nos comandos e novidades da jogatina. Serve de imersão e tutorial ao mesmo tempo, cumprindo muito bem ambos os objetivos. Não conseguir deixar de comparar essa sequência com a incrível sequência inicial de Skyrim ou até de Oblivion, que igualmente fazem essa mescla de imersão e tutorial orgânico muito bem.
A criação de personagem
Como comentei mais acima, Starfield talvez tenha o sistema de criação de personagens mais avançado e detalhado da Bethesda até então. Não convém ficar destrinchando tão a fundo cada nuância da personalização aqui, mas vale dizer que, em termos estéticos, o sistema é tão ou mais competente do que os de Fallout 4. Mas é nas personalizações da história do seu personagem que ele mais me chamou a atenção.
Isso porque no lugar de “classes”, Starfield nos dá um “histórico”. Esse histórico nos dá um pouco mais do fator roleplay, que sinceramente ainda não vi tanto impacto assim nas interações durante a jogatina. Mas principalmente afeta nossas habilidades iniciais. Cada opção de histórico permite que o personagem já comece o jogo com três habilidades aprendidas diferentes, que fazem sentido para o histórico em questão.
O bacana que isso vai para além dos atributos, os quais envolvem outras métricas e acabam se somando ao histórico escolhido. É interessante observar também a variedade de históricos, que vão desde os tradicionais exploradores e piratas espaciais até elementos mais exóticos como cozinheiro ou diplomata.
Eu escolhi a opção “carga pesada” no histórico do meu personagem, que basicamente me faz ser um “caminhoneiro espacial”, transportanto mercadorias e entregas do ponto A ao B por toda a galáxia. Esse histórico me deu habilidades iniciais como Pilotagem, que basicamente me permite pilotar com maior facildiade naves espaciais, Sistema de Armas Balísticas que melhora o dano causado pelas minhas naves e Levantamento de Peso que me permite carregar mais peso sem me cansar.
Carregando…
Aqui temos um ponto bem controverso na experiência inicial de Starfield no qual precisamos nos debruçar um pouco. Sim, o jogo possui muitos loadings e telas de carregamento durante a jogatina. Isso é percebido desde a introdução e não diminui com o passar do tempo, só passamos a nos acostumar com eles.
Acontece que o novo game da Bethesda não é um mundo aberto sem telas de carregamento como alguns imaginavam comparando-o ao No Man’s Sky. Na verdade, Starfield é o oposto do jogo da Hello Games nesse aspecto: ele tem telas de carregamento para você entrar em algumas construções, para você embarcar na sua nave, para sua nave levantar voo e sair ou entrar em um planeta, para você viajar de um planeta/lua para outro, para você mudar entre sistemas estelares, para você pegar elevadores e etc.
Algumas telas são mais “imersivas” que outras, mostrando sua nave decolando ou pegando o hiperespaço, lembrando um pouco o que a franquia Mass Effect fazia em suas telas de carregamento. Mas principalmente telas de troca de ambientes dentro de planetas e para entrar na nave não possuem essas animações, dando só uma tela preta de loading na sua cara mesmo.
Os carregamentos não são demorados no SSD, o que justifica inclusive a recomendação da Microsoft sobre o game ser levada a sério. Mas acabam atrapalhando a imersão, principalmente nas primeiras horas de jogo. Com a habituação que veio com o passar do tempo pra mim, notei que essas telas são uma faca de dois gumes em Starfield, porque ao mesmo tempo que quebram a imersão tão bem construída no início do jogo, também possibilitam a Bethesda fazer algo aqui que No Man’s Sky nunca deu conta de fazer desde 2016. Vamos falar mais disso no próximo tópico.
Um universo cheio de vida
Não me entendam mal, eu sou um dos maiores defensores da Hello Games e de No Man’s Sky desde 2016. Já gostava de NMS desde bem antes dele ser de fato um bom jogo. Mas é inegável que ele possui falhas e determinados elementos nunca foram introduzidos no jogo ou então foram introduzidos de um modo um tanto quanto defasado. É possível notar nas criaturas, estruturas dentro de planetas e comportamento das IAs de No Man’s Sky as limitações do sistema randômico do jogo.
E isso eu considero um ponto alto em Starfield. Ele peca bastante na imersão, ao ponto de sacrificar ela para ter telas de carregamento quase que o tempo todo. Mas em compensação isso permitiu a construção de mundos muito mais ricos em detalhes, naves completamente customizáveis cheias de detalhes internos, possibilidades de mecânicas até então inéditas em games espaciais como acoplagem da sua nave em naves inimigas, cidades robustas comparáveis com NighCity de Cyberpunk 2077 e muito mais.
Por isso, dando continuidade ao argumento do tópico anterior, sim, Starfield tem muitas telas de carregamento e isso é sim um ponto negativo para a jogatina. Mas também dá pra ver no próprio jogo qual foi a necessidade dessa quantidade de carregamentos. Talvez fosse possível mascarar mais esses carregamentos, deixando a experiência como um todo mais consistente. Mas nem de longe esse aspecto torna o jogo péssimo.
Incontáveis sistemas e mecânicas
Starfield conta com outro aspecto bem tradicional dos jogos originais da Bethesda: sua quantidade exorbitante de sistemas e mecânicas secundárias. Vi uma vez uma analogia a respeito dos jogos da Bethesda se parecerem bastante com Icebergs. Tendo uma história principal e mecânicas básicas que permitem um jogador ir do início ao final do jogo de forma quase linear. Porém, “isso é só a ponta do iceberg”, tanto em narrativa quanto em jogabilidade.
A verdade é que a Bethesda não foge nem um pouquinho dessa lógica com Starfield. Tal qual em Skyrim, Fallout 3 ou 4 e Oblivion, a nova IP da empresa traz uma história principal que não aparenta ser tão longa assim. Tal qual as mecânicas para se chegar nela não são tão variadas assim para um RPG de exploração espacial: pilotagem e batalha entre naves espaciais, equipamentos, pontos de experiência, opções de resposta variadas e customizações de habilidades.
Mas como todo bom jogo da Bethesda, é justamente no fundo do iceberg que vemos toda a grandeza de Starfield. Quando nos dedicamos a explorar cada uma das possibilidades que suas enormes cidades proporcionam, quando tentamos apreender todas as mecânicas secundárias do jogo como a construção de assentamentos, customização e melhoria de naves espaciais, como funciona o comércio e o sistema moral; é só aí que enxergamos a real grandeza do game.
E sinceramente? Starfield faz muito bem seu arroz com feijão dos RPGs futuristas. Mas o tempero de fato está nas mecânicas secundárias bem como nas histórias opcionais do game. Ele definitivamente não é um jogo para ser rushado, mas sim explorado. Tal qual vimos acontecer com Skyrim, é possível que leve anos para a comunidade de jogadores explorar ao máximo cada nuância de cada mecânica e sistema presente nesse game.
Muito ainda para ver
Nas minhas primeiras dezenas de horas de game, pude perceber que Starfield, acima de tudo, é um game com alma. Fruto de um desejo quase pessoal de Todd Howard, o jogo conta com tantos detalhes e características próprias que dá pra ver que ele não é um mero caça-níquel. Porém ele é um game muito característico da Bethesda. Para o bem e para o mal, é claro como o jogo recebe influências de outros projetos da desenvolvedora.
Por isso, é importante ressaltar que mesmo que minha experiência até agora com Starfield esteja sendo muito prazerosa, tenho consciência que nem todo mundo vai sentir o mesmo. Afinal, estamos falando de um jogo complexo, burocrático, imenso e repleto de nuâncias.
Ele pode cansar alguns, ele pode desmotivar outros a sequer tentar encará-lo. Mas não ser para todos não faz de Starfield um jogo ruim. Muito pelo contrário: ter tantas mecânicas e nuâncias e ao mesmo tempo se manter com identidade própria talvez seja o seu maior mérito até aqui. Fique ligado para, nas próximas semanas, nossa análise completa!
Starfield foi lançado oficialmente dia 06 de setembro de 2023 para Xbox Series S/X e PC (via Steam). O jogo está inglês, mas seus textos encontram-se todos em português brasileiro.