RetroArkade: 20 razões para nunca esquecermos do Sega Saturn, que completou vinte anos de história.
Agora é a vez de explorar Saturno. A Sega vacilou muito com este console e inclusive começou com ele sua caminhada para o fundo do poço, porém mesmo assim nos ofereceu muita coisa boa, vamos relembrar?
Se a Sega não fosse tão descabeçada, talvez este texto fosse um pouco mais completo (e feliz). Em 1994, no auge da guerra Sega x Nintendo, a casa de Sonic resolveu apostar no mundo 32-bit e mal sabia que seu novo inimigo seria a ainda “incógnita”, mas já sucesso Playstation. Muitas decisões precipitadas, um console difícil de se programar, a falta de títulos das third-parties e brigas internas ajudaram a entregar um Saturn cheio de problemas, mas mesmo assim um legítimo aparelho Sega com muita coisa bacana para relembrar.
Na época do lançamento do Saturn, vários problemas logo na largada atrapalharam e muito o desempenho do console. Pra começo de conversa, o console mesmo com CDs e capacidades avançadas, ainda tinha a intenção de rodar apenas jogos em duas dimensões, mas ao ver o que Playstation e 3DO ofereciam, colocou capacidades de 3D no console bem de qualquer jeito. Tirando alguns bons jogos feitos pela própria Sega, compare os mesmos jogos de PSOne e Saturn pra entender o que estou dizendo.
Com isso, programar para o Saturn era tarefa das mais complexas e ao perceber que a Sony oferecia facilidade atrás de facilidade, as third-parties foram em massa fazer jogos para o Playstation. Vale também mencionar como ponto para a vida problemática do console a briga birrenta entre a Sega do Japão e a Sega dos Estados Unidos que já vinha se arrastando desde a época do Mega Drive.
Mesmo assim, o Saturn foi um sucesso no Japão e por aqui também conquistou seu espaço e a prateleira de muitos gamers, incluindo o Ryo de Shenmue que em 1986 tinha um Saturn em casa (?). Também tenho um Saturn e para comemorar seus vinte anos, vamos lembrar de vinte razões que fazem a gente ignorar todos os problemas que o 32-bit da Sega enfrentou e comemorar os bons momentos que passamos com o console, mesmo que ele não tenha um legitimo jogo do Sonic.
1 – Jogos de Luta 2D
Se você gostava de jogos de luta, o Playstation até tentava, mas não era a recomendação mais indicada! Era no Saturn que o bicho pegava com vários ótimos jogos de arcade rodando nos seus drives de CD. O “arcade em casa” da Sega ofereceu a todos nós jogos de primeira qualidade da Capcom e SNK, as dominantes da época, do calibre de: Marvel Super Heroes, Street Fighter Alpha, a série The King of Fighters e até X-Men vs. Street Fighter com a troca de lutadores no meio da luta, coisa que o concorrente não conseguia fazer.
2 – Jogos de Luta 2D com memória RAM a mais
E se os jogos já eram bons, ficavam ainda melhores quando se colocava um cartucho de expansão de memória de até 4MB. Aí era apelação: os jogos ficavam impressionantes, alguns até perdiam o chato Loading Time. O termo “fliperama caseiro” foi elevado a décima potência com os cartuchos e fez donos de Saturn causarem inveja aos donos de Playstation, que tinham que aguentar quase um minuto de loading para jogar The King of Fighters 95. Por Luta.
3 – Daytooooooooooonaaaaa!!!
O jogo de corrida definitivo da Sega me encanta até hoje, prova disso está no Arkade Cast em que falamos sobre trilhas sonoras. E o Saturn obviamente se lançou no mercado com uma versão de Daytona USA. Lógico que pelos problemas em 3D e uma possível pressa na programação o jogo não ficou lá aquelas coisas, mas dois anos depois, a edição Championship Circuit resolveu este problema com mais pistas, mais carros e uma trilha sonora melhor ainda, com Eric Martin do Mr. Big cantando em algumas faixas. O mais legal era que dava pra colocar o CD do jogo no aparelho de som e curtir as músicas mesmo quando “sua mãe mandou desligar esse negócio”.
4 – Os arcades da Sega na sua casa
Mas não era apenas Daytona. The House of the Dead, Sega Rally, Virtua Cop e tantos outros arcades da Sega também deram um alô para o Saturn. Claro que o mais lembrado será Virtual Fighter 2, por ser extremamente técnico e bem feito. No 3D o Saturn perdia feio pra concorrência, mas os arcades Sega fizeram diferença mesmo assim.
5 – Todos os Sonic de Mega Drive (menos o CD) para jogar
Em Sonic Jam, tivemos todos os jogos do Sonic à disposição para jogar, incluindo suas dicas e até o modo especial de Sonic & Knuckles, em um sistema que emulava o jogo de cartuchos. Além disso também vinha com vários vídeos e comerciais dos jogos de Sonic. A única bola fora foi não colocar no disco o melhor jogo do azulado de todos os tempos: o Sonic CD. Hoje temos este jogo até em celular, mas por um bom tempo ele ficou restrito apenas ao Sega CD e PC, nem no Saturn dando as caras. Por outro lado, excelentes jogos do Sonic fazem parte do pacote e o tornam obrigatório para qualquer fã do ouriço azul.
Vale lembrar que o Saturn, apesar de contar com Sonic 3D Blast, Sonic R e o próprio Sonic Jam, não conta com um jogo “oficial” do azulão, já que Sonic Adventure saiu para o Dreamcast apenas em 1999. Há o famoso Sonic X-Treme, que seria lançado para o console, mas diversos problemas acabaram fazendo com que o projeto fosse engavetado.
6 – Nights: Into Dreams
Já diz o provérbio: “Bem aventurada é a casa que conta com Yuji Naka em seus projetos”. Não contente com o sucesso cultural que foi Sonic, o japonês dribla todas as dificuldades técnicas do aparelho e lança Nights: Into Dreams, com jogabilidade simples, porém muito profunda. Se aventurar em um mundo de sonhos e pesadelos foi a magia que o Saturn precisava e é outro item obrigatório para qualquer gamer que se preze.
7 – Controle Analógico de primeira
Junto com Nights, a Sega lançou o que era novidade na época e hoje é padrão: um controle analógico. E o controle do Saturn apesar de desconhecido é muito bom: conta com uma segurança excelente no segurar e muda a maneira de jogar os jogos compatíveis com ele. Seu formato inclusive ajudou a desenvolver o controle do Dreamcast que apesar de esquisito á primeira vista, é um dos melhores controles disponíveis na história gamer.
8 – Burning Rangers
https://www.youtube.com/watch?v=yrveY5I-vgY&spfreload=10
Onde mais você poderia ser um bombeiro e salvar vidas? Só no Saturn! Trazido ao ocidente pela Sonic Team contou com a “benção” de Yuji Naka e colocou o jogador na pele de bombeiros futuristas que faziam missões de resgates tendo á disposição os melhores e mais modernos recursos para o resgate. Sabe aquele jogo que talvez nunca tenha ouvido falar mas se conhecer vai ficar ligadão nele? Burning Rangers é um destes, vá conhece-lo e entenderá bem onde quero chegar.
9 – Memory Card pra quê?
Pra quê Memory Card se você pode salvar seus progressos no console? Por um lado, muito mais prático pois você já pode salvar seus progressos de fábrica sem precisar comprar um acessório mas por outro, sem uma saída USB para transferir seus saves você ficava a mercê do espaço reservado pelo console. Isso quando não acabava a bateria e você perdia tudo (Leia isso com a voz do Sílvio Santos). Mas em 1995 nós ganhávamos pouco e qualquer economia era bem vinda, e mesmo com o Saturn também oferecendo Memory Cards, a gente se virava com o console mesmo.
10 – A tela que rola enquanto ouvimos música
Sabe o termo “viajar na música”? Ele foi bem representado no Saturn. Era ligar seu CD de música favorito em um painel que lembrava de uma espaçonave e literalmente viajar enquanto a nave ia andando sem rumo pra lá e pra cá!
11 – O apoio da Tec Toy
O apoio da Tec Toy ao Saturn não foi tão significativo quanto ao Master System ou ao Mega Drive, mas não é por isso que ela também não fez a sua parte. Não tivemos jogos traduzidos para o português muito menos iniciativas 100% nacionais como As Férias Frustradas do Pica Pau, mesmo assim o serviço por telefone que oferecia dicas e truques funcionava as mil maravilhas e até um jornalzinho era distribuído para quem tinha o console. E com o apoio e distribuição local, ele podia ser comprado em mil prestações nas Casas Bahia ao contrário do Playstation que só era adquirido por aqui via importação (se ela era lícita ou não, é outro assunto).
12 – Escolha o seu Saturn preferido
Enquanto o Playstation tinha apenas um modelo disponível (dois depois que o Slim foi lançado), o Saturn ofereceu vários designs, a maioria deles referindo a região a qual ele era fabricado. O Saturn japonês era diferente do americano que por sua vez era diferente do europeu. O Brasil recebeu a versão japonesa mas mesmo assim vários tipos de console chegaram por aqui, incluindo o branco. Sem contar os consoles não feitos pela Sega, mas com autorização da empresa.
13 – A tela de abertura
https://www.youtube.com/watch?v=tCBYdwbOWV4&spfreload=10
Altamente nostálgica, uma explosão de polígonos forma o logo do Sega Saturn e após isso ou entra o jogo ou caso não tenha um disco no sistema, a tela de operações do console é aberta. Não é icônica como a abertura do Playstation, mas garante o mesmo grau de nostalgia para o retornarem.
14 – As caixas de embalagem eram mais legais
Maiores e mais ostentação. Eram assim as embalagens dos jogos do Saturn. A partir de uma decisão do marketing da Sega of America, as caixas dos jogos eram grandes e aparentavam de fato serem mais legais do que os outros, ganhando destaque nas prateleiras.
15 – A chave de troca de região
Queria jogar um título japonês em seu Saturn? Era só levar a um técnico e pedir o chaveamento do console. Não confunda o processo de chaveamento com pirataria, pois neste caso o intuito da chavinha era fazer com que seu videogame mudasse de região com uma chave (ou mesmo com um cartucho colocado no mesmo lugar de onde se colocavam as expansões de RAM) e pudesse jogar títulos exclusivos do Japão. Se você teve um Saturn com essa chave, sabe de como ela foi útil!
16 – Jogos em 3D feios, mas com charme
Sabe o programa do Chaves? Que a gente vê a produção simples e tosca mas gosta mesmo assim por ver um certo charme em tudo aquilo? O mesmo acontece no Saturn. Já disse que as capacidades 3D do console foram colocadas ás pressas e de qualquer jeito tornando o console um patinho feio quando o papo eram as três dimensões. Mesmo assim havia o tal charme da tosqueira em seus jogos e acabava se relevando a baixa capacidade dele nesse quesito. Menos no FIFA 98: aquilo era uma piada de mal gosto mesmo.
17 – O controle mais legal de todos
Baseado no Mega Drive, o controle de Saturn era o tradicional controle para jogos de luta: um direcional em cruz e seis botões (os três de soco e os três de chute). Junto deles temos também ícones de controle de som para o CD Player com play, stop e os botões L e R populares no Super Nintendo. Mas ele era legal pois além de prático, tinha um visual todo futurista.
18 – Grandia
O Saturn não tinha Final Fantasy mas tinha a competência da Game Arts. Excelente produtora, trouxe vários bons jogos para o console mas dentre todos se destaca Grandia, por suas animações em anime que vão além das capacidades do console e pela sua dinâmica de RPG. Graças a tal chave (e as recomendações da Gamers), experimentei a exclusiva versão japonesa, mas algum tempo depois o jogo chegou ao Playstation com legendas em inglês.
19 – Nos deu uma “amostra grátis” do que seria Sonic Adventure
Já ouviu falar de Sonic X-Treme? O Sonic que nunca saiu rende muito assunto e podemos falar dele no futuro, mas o que sabemos é que Yuji Naka perdeu a paciência ao ver que nada de bom com seu personagem estava sendo feito e começou a fazer Sonic Adventure que saiu com o Dreamcast em 1998. E na coletânea Sonic Jam, mencionada acima, temos um modo onde jogamos livremente com Sonic e a mecânica lembra muito o que viríamos a jogar no futuro, na ingenuidade de que não teríamos jogos ruins do Sonic e…
20 – A melhor leva final de jogos para um console
O Saturn foi asfixiado, mas morreu no seu auge. Ao contrário da maioria dos consoles que mesmo com um modelo mais avançado continua recebendo jogos até ter um fim natural, a Sega cortou o Saturn em uma época onde ele estava recebendo ótimos jogos. Por isso a leva final de jogos envolve clássicos como Steep Slope Sliders, Panzer Dragoon Saga, Burning Rangers, The House of the Dead, Shining Force III (um jogo que era pra ter três partes e no ocidente chegou apenas uma), Magic Knight Rayearth (um jogo que levou quatro anos e muitos problemas pra ser finalizado) e Deep Fear. Ainda após o final de vida do console chegou Street Fighter Alpha 3.
A galáxia sem Saturno?
Mesmo com o Saturn não sendo o sucesso em vendas esperado nem oferecendo clássicos de grosso calibre para a massa gamer, não tem como não reconhecer o quanto que este console colaborou para a indústria dos videogames. Sem um Saturn nas prateleiras muita coisa poderia ser diferente. Me arrisco a dizer que a decisão errada de insistir nas duas dimensões no final acabou ajudando a equilibrar a balança e freiar o “padrão 3D” que já era realidade mas que precisava ser melhor trabalhada.
Também me arrisco ao afirmar que sem o console, muito da criatividade da Sega (que hoje rende lucros mas não rende tantas boas ideias) iria se perder de maneira mais rápida e confusa. No final, temos muito o que agradecer a Sega por ter lançado este console e lembrar que todos os videogames, seja os mais populares ou os mais problemáticos, merecem nosso respeito por trazer algo de diferente para um universo tão exigente quanto estes dos videogames.