RetroArkade – Aero the Acrobat, “mais um” mascote dos anos 90
Vira e volta, alguma tendência surge no mundo dos videogames, com toda a indústria tentando aproveitar o sucesso de um jogo, produzindo diversos jogos no mesmo estilo. Aconteceu com GTA, que “fundou” o jeito mundo aberto de se fazer jogos. Também aconteceu com os games de “pai tristes” que se tornaram comuns atualmente.
E, nos anos 90, aconteceu com os “mascotes”. Graças aos sucessos de Mario e Sonic, diversos estúdios tentavam emplacar seus mascotes, para surfar na onda do sucesso dos mascotes, personagens divertidos que se tornavam símbolos das empresas que os desenvolviam.
Neste contexto, David Siller, nome importante dos videogames, com a Sunsoft, mais a Iguana Software, apresentaram, em 1993, Aero the Acrobat, um morcego que vive no mundo do circo, e que precisa lidar com um ex-palhaço mau chamado Edgar Ektor, que quer acabar com a “concorrência”.
Um novo mascote ganha vida
David Siller, o criador de Aero, teve várias ideias para personagens, mas foi em 1992 que ele resolveu esboçar o que seria o morcego acrobata. A mecânica, que se assemelhava aos games de seu tempo, receberiam novas ideias, enquanto Siller ingressava na Sunsoft.
Justin Siller, seu filho, foi quem trouxe o conceito final ao game, misturando diversos elementos comuns dos anos 70 e 80. As limitações da época tiraram algumas ideias do projeto, como inimigos, itens e níveis inteiros.
Aero the Acrobat seria um game de NES, mas em 1992 o mundo de 8 bits já estava defasado pelas gerações mais modernas, sendo o Super Nintendo e o Mega Drive os sistemas escolhidos. Ambas as versões foram desenvolvidas em conjunto, mas a do sistema da SEGA ficou pronta antes, sendo lançada primeiro.
O game também seria lançado para o Atari Jaguar, mas a situação do console da Atari, que encontrou vários problemas e teve baixas vendas, fez o projeto nunca ser levado para a frente.
Aero Bandicoot?
Um fato curioso é a de que Aero poderia ter tomado o lugar de Crash Bandicoot. Com as boas vendas e o sucesso da série, que ganhou uma sequência em 1994, Siller foi para a Universal Interactive que, naqueles dias, já buscava investir nos games, também buscando um mascote para chamar de seu.
A Universal comprou os direitos de Aero e começaram a trabalhar no game que seria o Aero the Acrobat 3D, um trocadilho entre o fato de ser o terceiro game, e ser em 3D, por ser a estreia do personagem no Playstation. Mas o projeto não foi para frente, pois a Universal encontrou Andy Gavin e Jason Rubin, donos de “uma tal de” Naughty Dog. Como a Universal acreditou em Crash, foi este o personagem escolhido para dar sequência ao projeto de mascote, com o resultado que todos sabemos hoje. David Siller trabalhou no primeiro game de Crash, sendo creditado como produtor e projetista.
Mas já que Aero não seria o mascote da Universal, Siller fez um acordo com a companhia e retomou os direitos do personagem, quando saiu da empresa. O morcego quase foi parar na Capcom, quando seu criador trabalhou na companhia. A Capcom dos EUA queria aproveitar o personagem, que foi negado pela “mãe” do Japão.
Assim, em 2002, Siller contratou o Atomic Planet, que fez um port de seu game original para o Game Boy Advance. Enquanto isso, os fãs órfãos da série ficam imaginando como seria o retorno do personagem, nos dias atuais.
Vida de morcego
Edgar, um malvado industrial, tem um passado com problemas com o circo. Havia sido banido por uma brincadeira exagerada que quase matou um leão. Ressentido, ele foi com seus aliados Zero the Kamikaze Squirrel e sua gangue Psycho Circus para acabar com um parque de diversões, e sequestrou todos os artistas do circo.
Aero, o “morcego acrobata”, é o grande nome do circo e precisa resgatar os artistas, o que inclui a sua namorada Aeriel, e confrontar o ressentido vilão, para colocar um ponto final em suas ambições maldosas. Para tal, Aero circulará por níveis no bom e velho jeitão de plataforma em 2D.
Mas, diferente de Sonic e Mario, Aero não deve apenas ir do ponto A ao ponto B do mapa, e sim cumprir tarefas pelas fases, para que a saída seja revelada. Entre as “missões”, temos a passagem por aros, a subida em plataformas, subidas em montanhas russas, entre vários outros desafios. Inclusive, usando e abusando dos recursos comuns aos consoles 16-bits, para dar maior imersão ao jogador.
São quatro mundos com cinco níveis cada, com cada nível sendo bem grande para o padrão de seu tempo. Muitos, inclusive, cheios de armadilhas com morte instantânea. Para atacar seus inimigos, Aero pode atirar estrelas, desde que as tenha, ou realizar um ataque aéreo que precisa ser eficiente.
Há bônus para quem conseguir somar pontos suficientes no final do nível. No Mega Drive, Aero mergulha em uma piscina, em scroll lateral, enquanto pega o máximo de bônus possível. Já no Super Nintendo, com o Mode 7, o personagem mergulha em uma visão superior com o efeito dando a imersão ideal para um “salto de fé”.
O bat-legado
Aero the Acrobat é mais um dos vários games injustiçados em toda a história do videogame. Seus games venderam bem, ganharam prêmios, além de notas boas, das revistas da época. A revista EGM chegou a dar a Aero o prêmio de Melhor Personagem Novo de 1993.
O episódio com a Universal, que poderia ter mudado drasticamente o mundo dos videogames como conhecemos hoje, faria com que, ao invés de um marsupial, adultos dos nossos dias tivessem grande nostalgia com um morcego. Que faria com que o primeiro console da Sony atingisse o mesmo sucesso, rendendo games de corrida e uma franquia querida.
Ou não, ajudando menos nas vendas do Playstation e influenciando negativamente a sorte da primeira iniciativa da Sony nos games. Isso fica pra nossa imaginação tentar pensar no “como seria se”.
O que se sabe é que Aero não tem sorte mesmo. Em 1995, uma série animada seria produzida pela Saban, que foi cancelada para dar lugar a outro vindouro fenômeno: os Power Rangers.
Ainda assim, os games de Aero são parte importante da história dos videogames. Esquecido por muitos e ignorado pelos gamers atuais, as boas propostas e o carisma do morcego circense cumpriram bem seu propósito de mascote. Que se não fosse pela sua falta de sorte, poderia ter uma história ainda mais bonita escrita nos videogames.