RetroArkade – Air Combat e o início de uma grande aventura no ar
Os jogos de tiro com aviões tinham duas vertentes bem populares durante os anos 90. Os famosos “games de navinha”, com gameplay insano, tiroteio pra todo lado e um descompromisso insano com a realidade. E os simuladores, que exigiam desde aquela época um nível de precisão imenso, para fazer aviões decolarem e se manterem no ar.
Mas havia espaço para novas iniciativas. Com a crescente dos arcades em 3D, a Namco apostou em um tipo de ação com aviões diferentes. Oferecia, assim, um game que te dava controle sobre aviões insanos, iguais os que existem na vida real, mas com missões e ação arcade, que tirava do jogador a responsabilidade de controles técnicos sobre a nave, se preocupando apenas com o tiroteio.
Assim, em 1992, os arcades japoneses receberam Ace Combat, que acabou recebendo o nome de Air Combat no ocidente. A partir do segundo game, o nome ficou o mesmo para todos os países. E, a partir daí, tivemos Ace Combat 2, 3, e toda uma série de sucesso, de mais de 14 milhões de games vendidos em todo o mundo, e que terá o seu sétimo game (sem contar os spin-offs) chegando ainda neste mês.
Vamos dar um tempo no volante para decolar um avião
Em 1992, ano de lançamento de Air Combat, os arcades eram basicamente divididos em três grupos: os Beat’em Ups, que, apesar de ainda contarem com jogos de qualidade, já começavam a viver tempos de baixa. Os de luta, dominando tudo e todos com os onipresentes Street Fighter, Mortal Kombat, além dos games sempre competentes da SNK.
E os games de corrida, com seus gabinetes coloridos, compostos por volantes e pedais, prontos para trazer ao jogador uma divertida experiência de pilotagem. Daytona USA estava no forno, mas Out Run, Rad Mobile, Virtua Racing e tantos outros já davam este gostinho. Mas avião não era algo muito comum nos arcades.
Jetfighter, e alguns outros games, eram bastante jogados, mas nos computadores. E os videogames teriam que aguardar mais um ano ou dois, pra curtirem games interessantes como Tomcat Alley, para o Sega CD, ou Star Fox, no Super Nintendo. Entretanto, o game da Namco chamou atenção, tanto pelo seu clima “Top Gun“, quanto pelo seu gabinete estiloso.
Sua história era simples, como rezava a cartilha dos games de sua época. Uma força terrorista começou a atingir um pais aleatório com força. Obviamente, cabe a você inserir uma ficha, “subir no avião” e dar cabo de todos eles, representando uma força aérea mercenária, que foi contratada para libertar este tal país de toda a ameaça dos caras maus.
Uma vez no ar, você tinha que lidar com o tempo, para alcançar o próximo alvo e destruí-lo, ganhando tempo extra de checkpoint para caçar o próximo inimigo. Tudo isso embalado por uma trilha que inspirava ação, e toda a ação no ar que dignificava os filmes do gênero. Se o tempo acabasse, o avião dava problema sozinho, seu personagem saltava de pára-quedas, e dá-lhe Game Over.
Muito mais do que um port
O game fez o seu sucesso, cativou o seu público e deu razões para a Namco investir em um port, para um recém anunciado videogame, que, embora ainda não era muito conhecido pelo público, era considerada como uma boa aposta na indústria. Estou falando do Playstation, que desde o início, contou com o apoio direto da Namco.
Para entendermos um pouco melhor o port de Air Combat, precisamos relembrar da importante parceria da Namco com a Sony, nos primeiros anos do Playstation. O primeiro videogame da Sony prometia muitas novidades, incluindo a aguardada expansão de conteúdo através do CD, que demonstrava ganhar mais força.
Mas a Sony só estava focando no console, e não nos games. E, como todos sabemos, sem games de qualidade, nada de videogame fazendo sucesso. A Sony sabia disso e, assim, contou com o apoio incondicional da Namco, que trouxe nos primeiros anos de vida, vários games, sendo em sua maioria, competidores diretos dos games da Sega. Ridge Racer rivalizaria com Daytona USA, Tekken com Virtua Fighter e Time Crisis com Virtua Cop. Seu game de avião, também seguiu o mesmo caminho e estreou no console cinza da Sony em 1995.
Mas Air Combat ganhou um pouco mais de atenção na hora do port. Pois não é uma conversão literal do arcade. As motivações e o plano de fundo são os mesmos: mercenários combatendo terroristas. Assim que você aperta Start, uma narração explica a situação e suas funções no game. Uma simples cutscene também te dá o briefing da missão, como alvos a serem destruídos, e a sua recompensa.
Aí era hora de ir pro céu e voar com seus 65 mísseis e seus 9999 tiros. Não há mais a necessidade de tempo como no arcade pra atacar os aviões, porém é preciso lidar com o combustível, para terminar sua missão antes de ficar com o tanque vazio. Também há um mapa que ajuda o jogador a se localizar. Missão concluída, é hora de ver o “recibo” na tela, com todo o valor que você ganhou pelos alvos derrubados.
Alguém na Namco argumentou que a ação arcade, apesar de divertida, era curta demais. E talvez isso não seria muito interessante nos videogames caseiros. Por isso, o game oferece 17 missões, além da possibilidade de escolher um entre 16 aviões, como F-4, um F-14 um Su-27, ou um MIG-31. Todos com suas propriedades de força, velocidade e defesa.
Só isso já era suficiente para, na medida do possível da época, garantir uma vida útil maior ao game, além de aproveitar melhor o espaço do CD, em dias em que os desenvolvedores ainda estavam começando a ver o que dava pra fazer com os discos e a infinidade de espaço que ofereciam, em comparação aos cartuchos dos consoles antigos.
Um legado que segue até hoje
A decisão de se fazer um game mais completo para o Playstation se mostrou uma ótima decisão para a série. Ace Combat 2 chegou em 1997. Seguido pelo terceiro, que desembarcou em 1999. A franquia viveu dias ainda melhores no Playstation 2, e a comunidade fã dos games aguarda ansiosamente Skies Unknown, o sétimo jogo da série que acabará com um hiato de oito anos, desde Assault Horizon. Houve ainda um game gratuito, Infinity, de 2013, mas independente do último game que você possa considerar, já faz um bom tempo que não voamos nos caças da hoje Bandai Namco.
Air Combat apostou em um gênero que, embora não estivesse tanto em alta no início dos anos 90, ainda contava com muitos adeptos. A “aura” Top Gun fez dele o legítimo jogo do filme. Já que não havia nenhum jogo definitivo do filme de Tom Cruise (e os que tinham eram bem fraquinhos). E, pelos anos que se seguiram, os jogos foram ganhando novos e melhores recursos, agradando mais e mais sua base de fãs.
Há jogos de tiroteio com aviões por aí. Inclusive, Star Fox, apesar de um gameplay um pouco diferente e sendo de um game espacial, também compartilha de boas ideias para o gênero. Mas é em Ace Combat, que o fã de combates aéreos encontra os seus melhores momentos. Uma série para um público específico, que sempre traz boas ideias para estes fãs.