RetroArkade: Relembre como “era bom” perder a mesada jogando Final Fight no arcade e locadora
Lembra como era divertido espancar os tipos do submundo enquanto “limpava” Metro City? Então vem com a gente apertar o botão de soco feito doido e relembrar Final Fight. Os três.
Para começar a história de hoje e conhecer melhor o que existe por trás deste jogo precisamos pegar o primeiro avião com destino a felicidade aos anos 80. Mais precisamente no ano de 1987, que foi quando o mundo conheceu Street Fighter. Ryu e Ken já soltavam seus primeiros hadoukens porém todo mundo sabe que o jogo não foi lá essas coisas, nem em crítica muito menos em público, mesmo assim a Capcom achou por bem lapidar melhor sua franquia e tentar novamente.
Mas ao contrário do que todos pensam, a sequência imaginada não seria o Street Fighter 2 amado e adorado que todos conhecemos e sim um jogo de luta em ruas obscuras no melhor estilo beat’n up, popularizado por Double Dragon. A questão é que Street Fighter quer dizer briga de rua e um torneio fechado de artes marciais não é bem um quebra pau no meio da rua (como a abertura do segundo jogo da franquia deixa bem claro), por isso a solução inicial da Capcom foi divulgar o seu Street Fighter ’89 no ano de 1988 com este conceito melhor trabalhado.
No pôster acima já dá pra ver bem que a ideia do “street fighter” foi levada mais a sério. A clássica arte onde vemos os “mocinhos” encarando e brigando com os mau encarados e com um “grandalhão” caído na calçada perdendo sangue foi a proposta da Capcom para sentir dos fãs de seria uma boa uma sequência neste sentido.
Felizmente o destino nos reservou duas grandes surpresas: em 1991, com alguns elementos absorvidos deste conceito inicial saiu o Street Fighter 2: The World Warriors que mesmo trazendo novamente Ryu, Ken e o torneio de artes marciais, inovou por levar vários combates para locais abertos e públicos, entre outras coisas que só podem ser explicadas em uma RetroArkade específica, claro.
E dois anos antes, os fliperamas receberam Final Fight, a “evolução” deste Street Fighter ’89 mas com personalidade e carisma próprios, embora ambos os jogos fazem parte de um mesmo universo. A briga de rua foi levada a sério e os cenários urbanos que já eram moda em filmes e séries daquela década apenas foram alguns fatores de que fizeram Final Fight ter o seu espaço e fazer muito sucesso entre os “ande e bate”.
Final Fight – 1989
A cidade de Metro City elegeu como prefeito o grandalhão Mike Haggar, que prometeu limpar a cidade do crime. Como represália, os capangas da gangue Mad Gear sequestraram Jéssica, sua filha, exigindo sua renúncia em troca da vida da garota. Mas ao invés de renunciar, o ex-lutador de junta ao namorado da garota Cody e um amigo em comum de todos, Guy e partem para a base enfrentando tudo e todos para o resgate.
Haggar é o grandalhão, forte e habilidoso com agarrões e canos. Mas pelo seu tamanho, perde em agilidade. Cody faz o papel do “equilibrado”, e é o melhor com facas. E Guy é o rápido do time, com agilidade e boas voadoras. Jogar Final Fight é como jogar qualquer jogo do gênero: escolha seu personagem, ande para a direita, espanque quem estiver na sua frente e quebre latas de lixo para achar armas e frango (os caras são tão do mal que comem comida do lixo!) para repor a energia. O divertido era jogar com um amigo no co-op, passando por várias fases combatendo os muitos inimigos.
Os cenários são urbanos e muito comuns em filmes de pancadaria daquela época (saudades Cine Kickboxer!): becos escuros, metrô, ringues clandestinos de torneios ilegais e parques abandonados estão entre as locações do jogo. Foi em Final Fight que os bônus ficaram mais legais, especialmente a destruição do carro que conta com as lágrimas do bandido ao ver seu bem em pedaços. Como inovação ao gênero, podemos citar os golpes especiais que consumiam um pouco de sua energia, um “padrão Capcom” com personagens grandes e cenários coloridos que nos apresentaria anos mais tarde vários clássicos nos arcades do calibre de Cadillacs and Dinosaurs e as mesmas diferenças dos lutadores de fighting games no beat’n up, afinal cada um dos três protagonistas contam com estilos próprios.
Com o sucesso o jogo ganhou suas conversões: para o Sega CD e seus loadings “rápidos” de duas horas e para o Super Nintendo que perdeu Guy, movimentos, fases e muita coisa em relação ao jogo original. Um pouco depois, servindo como uma DLC, saiu Final Fight Guy colocando o ninja no lugar de Cody em um jogo idêntico ao “original”. Ah, e no Super Nintendo, nada de jogatina em duplas.
Final Fight 2 – 1993
Agora, um jogo exclusivo de Super Nintendo, muitos dos problemas originais da conversão foram corrigidos. Também pudera, afinal a Sega já estava causando dor de cabeça suficiente com seu Streets of Rage e algo deveria ser feito. Pra começar, finalmente poderíamos jogar com dois personagens ao mesmo tempo.
Personagens novos entraram na trama: Maki Genryusai e Carlos Miyamoto se uniram ao prefeito Haggar para resgatar o pai e a irmã da ninja Maki que foram sequestrados na Ásia, com tudo indicando para um retorno da Mad Gear. Guy tinha saído para treinar e o Cody após o final do primeiro jogo foi passear com sua namorada Jessica. Embora ninguém sabe até hoje o que o tal do Carlos faz no jogo, a ninja Maki conquistou seu público ganhando até uma vaguinha em versões de Street Fighter Alpha 3.
A evolução técnica é óbvia, claro que tendo de referência a versão de Super Nintendo. Porém, enquanto muita série obteve o auge no segundo jogo (Donkey Kong, Street Fighter, Tekken e tantos outros), neste caso temos um retrocesso enorme! Claro que o jogo diverte e sacia a sede de quem gosta de jogos assim, porém a história fraca, personagens sem carisma e mais do mesmo sem nenhuma adição significativa faz dele um jogo meio que esquecido da galera.
Final Fight 3 – 1995
https://www.youtube.com/watch?v=B1wEA0Zzqvs&spfreload=10
E em 1995, o terceiro jogo chegou também como exclusivo do Super Nes. Agora a Mad Gear está morta e enterrada, porém Metro City contou com uma guerra no submundo para ver quem seria a nova potência do crime local, com a gangue Skull Cross obtendo o poder e voltando a tocar o terror na cidade.
Por isso, Haggar teve que voltar ao combate com a ajuda de Guy que havia voltado do treinamento, mais a novata Lucia, detetive da cidade que decide ajudar a colocar um fim nos problemas e Dean, um bad boy que quer vingança já que perdeu sua família pelas mãos da gangue.
E o jogo em si, embora um “mais do mesmo” de novo, pelo menos é interessante. Temos quatro personagens e podemos jogar com dois ao mesmo tempo, incluindo um modo aonde o segundo player pode ser jogado pelo computador pra quem está jogando sozinho. Além disso, uma barra de especial emprestada de Super Street Fighter enchia e permitia um golpe especial para ajudar na luta.
E os personagens, desta vez não são tão aleatórios, apesar de não contar com o carisma dos originais. Lucia e Dean tem motivações e razões para participar dos eventos além de que aqui sim temos algo com cara de continuação.
Final Street Fighter
Como já mencionamos, Street Fighter e Final Fight são parte de um mesmo universo. Desde o bônus do carro emprestado do primeiro jogo do beat’n up que apareceu novamente com os World Warriors, passando pela Chun Li fazendo participação especial em Final Fight 2 até a presença de Guy, Cody, Maki, Haggar, Sodom e Rolento como lutadores na série Street Fighter Alpha, mais o Andore em SF III e Poison em Ultra Street Fighter IV.
Mas a mistura vai além do que imaginamos, pois são de fato dois jogos que andam lado a lado. Lembra que Guy “saiu para treinar” em Final Fight 2? Na verdade ele estava participando de Street Fighter Alpha 3 e após os eventos retornou para Metro City em Final Fight 3. Cody por sua vez não está no segundo jogo por estar preso, como podemos reparar em Alpha 3.
Haggar por sua vez estaria presente em Street Fighter 2, porém os desenvolvedores acabaram por bem escolhendo colocar Zangief em seu lugar e se você reparar, vai ver que seus golpes são semelhantes. Um Rolento desolado pelo fim de sua gangue quer criar sua própria nação militar (Big Boss curtiu isto?), enquanto Sodom quer reconstruir a Mad Gear e ter sua revanche com Guy.
Inimigos Inesquecíveis
Um bom jogo não se faz sem bons inimigos, certo? Pois em Final Fight os chefões são tão carismáticos quanto os “caras maus” comuns, aqueles que ficam aparecendo aos montes no cenário pedindo para apanhar.
Além dos chefes como Sodom e Rolento que foram inseridos nos jogos Street Fighter, também tivemos a presença dos “comuns” Andore/Hugo e a polêmica Poison. Isso mostra o quanto eles foram importantes para o jogo e quanto carisma havia nos personagens “do mal”.
Mais destaque ainda para a Poison, onde ouvimos bastante sobre a história de que ela era uma mulher no Japão, mas transsexual nos Estados Unidos, por medo de protestos de feministas ao verem uma mulher levando sopapos no jogo. Porém nos manuais japoneses do jogo, ela aparece como “new half”, termo local para transsexual. O que prova que a intenção era lidar com o tabu do tema sexualidade ainda nos anos 80, onde o tema era muito mais evitado do que hoje.
Sua sensualidade, cabelo rosa e toda essa aura “é ou não é?” levantaram muitas discussões (e eu sugiro que assista a este vídeo), mas acima da questão sexual, Poison está aí para mostrar como uma “simples” inimiga de fase pode ser bem construída e ter seus minutos de fama (e não por causa das polêmicas e sim devido ao carisma).
Os “outros” jogos da série
Mas Final Fight não contou apenas com os três jogos canônicos em sua história. Outros jogos também levaram o nome da luta final em suas capas, mesmo não seguindo nada da trilogia original.
Mighty Final Fight saiu em 1993 e é uma espécie de “remake” do primeiro jogo, mas lançado para NES. Com as limitações do 8-bit, o jogo é mais voltado ao público infantil (comum quando um console está no seu final de carreira), conta com a mesma história do Final Fight original, porém mais fácil e com personagens em SD (Super Deformed: cabeção e corpinho). Pontos de habilidade estão presentes e ao contrário do jogo de Super NES, aqui dá pra escolher um dos três personagens, mas jogando sozinho.
Final Fight Revenge, ao mesmo tempo que é uma continuação do primeiro game, também não é considerado algo da cronologia oficial. Ao mesmo tempo que a história é sem noção nenhuma, podemos ver um pouco sobre Cody indo para a cadeia e também sobre a questão da Poison, que aqui está a fim do protagonista e cogita até mudar de sexo para ficar com ele. O jogo não é beat’n up, é um jogo de luta em 3D no melhor (ou pior) estilo Virtual Fighter e mesmo assim foi a única sequência da franquia para arcades, sendo lançada em 1999 e um ano depois para o Saturn, quando o console nem estava mais sendo produzido. E se você nunca ouviu falar dele, tudo bem pois o negócio é ruim demais.
E se a franquia andava ruim, Final Fight Streetwise foi a melhor tampa para o caixão possível. Lançado para o Playstation 2 em 2006, é mais um jogo fraco mas que pelo menos tentou ser beat’n up novamente. Aqui temos Haggar, Guy e o irmão de Cody, Kyle, prontos para “mais uma vez” sair limpando a cidade da esquerda para a direita. Mas infelizmente mais um jogo fraco feito em uma época aonde “beat’n up” significava God of War, enterrou completamente qualquer chance de termos um novo jogo da série hoje.
Tem espaço pra Final Fight hoje?
Diria que sim e não. Não pois o andar e bater é uma fórmula que já na época dos jogos era um gênero que já tinha cansado. Prova disso era a análise de Final Fight 3 na Super Game Power em 95 onde claramente se podia ler que “já tinha dado o que tinha que dar e que valia apenas o aluguel”. Mas o fato de seus personagens fazerem parte do universo de Street Fighter, estando até hoje contando com “aparições públicas” e de ter seus jogos nos celulares e serviços de videogame digitais não deixam o samba morrer nem o samba acabar.
A série Arkham foi a quem melhor evoluiu o gênero: entre a história excelente, a furtividade de Batman e a parte de investigação dos jogos, os combates do Morcego com seus adversários pelas ruas de Gotham diz claramente que é possível sim fazer bons jogos de pancadaria. Talvez uma história melhor elaborada ou uma Metro City aberta seriam soluções inteligentes para um reboot ou é melhor deixar os personagens lutarem em Street Fighter mesmo?
Resumindo: um novo jogo Final Fight hoje é improvável, é impossível. Porém te jogar e ter que esquecer, é insuportável, é dor incrível. Mas vamos conversar, quais suas lembranças quanto a Final Fight? Era o centro das atenções da locadora da sua cidade quando ia jogar? Vamos juntos relembrar mais um clássico dos games, que é a função da RetroArkade.