RetroArkade: Ao encontro do mais forte em Street Fighter 2V!
Um dos melhores jogos de todos os tempos ofereceu ao mundo um dos melhores animes já feitos. Hora de treinar o seu Hadouken e rodar o mundo ao encontro do mais forte em Street Fighter 2V!
Não sei se com você era assim, mas comigo era: as 10 horas de sábado em 1996 eram sagradas. Tudo por causa dum tal de Hadouken e dois amigos que rodaram o mundo para encontro-lo. É que nessa época o SBT transmitiu no seu Sábado Animado o excelente anime Street Fighter 2 Victory.
Era um anime como tantos outros que viriam após ele e estreou na mesma época que Dragon Ball no Brasil. E também veio no embalo do sucesso que a Manchete já desfrutava com as animações orientais com os Cavaleiros do Zodíaco e Shurato. Mas diferente de tudo o que passavam na época, Street Fighter 2 V tinha suas particularidades que faziam valer a pena assistí-lo, inclusive sendo reprisado com o mesmo sucesso no Cartoon Network pelos idos de 2005.
Primeiro de tudo, os personagens. Eles eram de fato semelhante aos jogos dos quais foram inspirados. E em uma das coisas mais raras a se acontecer, os episódios chegaram apenas um ano após a exibição no Japão. Para efeito de comparação, Dragon Ball chegou dez anos depois de sua estreia e Cavaleiros do Zodíaco demorou cinco anos para chegar aqui. E como o seriado pegou embalo no Super Street Fighter 2, que tinham os novos personagens T. Hawk, Cammy, Fei Long e Dee Jay, e com o jogo sendo febre por aqui também, o sucesso foi garantido.
Continuando com os personagens, eles eram mais humanos que o comum para este tipo de animação. Embora exista algo de sobrenatural no enredo e personagens que dominam técnicas especiais, eles não exageravam nos golpes nem ressuscitavam quinhentas vezes nem vestiam armaduras especial: eram pessoas comuns, com estilos de vida variados (Ryu um “ermitão do oriente, Ken um playboy…) mas acessíveis e passíveis de dor, alegrias e até da morte. E aqui, morte definitiva igual “a nossa”.
Em busca do segredo do Hadouken
O enredo é baseado nos jogos de luta de Street Fighter, mas tem várias liberdades em relação a história original mas em nenhum momento viaja nas ideias, sendo bem pé no chão. A história começa com o convite de Ken para rever seu amigo de infância Ryu e reviver os bons tempos, com lutas incluídas. Ao chegar aos Estados Unidos os dois amigos saem pela noite procurando confusão e encontram é uma verdadeira surra do grandalhão Guile, sargento (se levarmos em consideração que os eventos ocorrem antes de SF II, onde ele é coronel) da Força Aérea.
Vendo que precisam melhorar muito suas técnicas eles decidem rodar o mundo “ao encontro do mais forte”. Quando descobrem um tal de Haduko (que foi traduzido errado mesmo nos primeiros episódios, depois que foi corrigido para Hadouken) e a trama vai se desenrolando de maneira interessante e consegue prender o espectador.
São apenas 29 episódios mas são ideais. História com começo meio e fim e um fim bem legal aliás. Sem contar que temos aqui um projeto que envolve muito sentimento, mostrando valores como a verdadeira amizade, a vontade de fazer a diferença com seu povo e o amor de pai com filha.
Melhores momentos (SPOILER A VISTA!)
E outro fator que fez deste anime um dos melhores já feitos na minha opinião foram os vários momentos épicos que o seriado apresentou. Para evitar estragar a vida de quem ainda não viu esta pérola mas se interessou, a partir daqui o texto será escrito na cor do fundo, então basta selecionar com seu mouse as próximas linhas, combinado?
Surra de Guile em Ryu e Ken: Os dois personagens mais populares da série ainda eram adolescentes irresponsáveis aqui e aprenderam uma boa lição após uma surra épica de Guile logo no primeiro episódio. Foi demais e você pode rever aqui.
Sagat vs. Ryu: Quando Ryu vai preso injustamente na Tailândia, ele conhece Sagat. Mas diferente do jogo, o clima entre os lutadores não tão animal, rolando até momentos de apoio mútuo. Mas nem isso impediu um bom combate.
Ken vs. Vega: Na Espanha Ken encara Vega em uma das lutas mais impressionantes de todas. Muito sangue (detalhe: o desenho passava ás 10 da manhã de sábado, lembra?) e muita pancadaria de alto nível. É tão bem trabalhada que não concorre apenas como a melhor luta do anime (pois ganha da luta final com certeza), concorre é como a melhor luta de todos os animes juntos.
Ryu vs. Ken na Caverna do Demônio: O combate entre os dois amigos é interessante pois mostra dois amigos que quase se matam sem perceber mas depois se dão conta de que são apenas feras querendo sangue e não lutadores honrados. Um momento muito importante no desenvolvimento dos dois personagens.
Chun Li vs Bison: A chinesa que aqui é apresentada como uma adolescente de 15 anos mostrou muita coragem ao lutar contra Bison e seu Psycho Power. Chun Li quase morre ao ser estrangulada pelo chefe da Shadaloo mas os planos do vilão eram outros.
Temos um Hadouken: E quando Ryu e Ken desenvolvem o Hadouken pela primeira vez? Um golpe tão “comum” de se ver nos jogos trouxe muita identidade aos combatentes ao mostrar os dois lutadores conhecendo e desenvolvendo aos poucos tamanha energia. Ryu solta seu primeiro Hadouken aqui.
A morte de Nash (Charlie): Todo mundo sabe que Charlie morreu ao tentar impedir os planos de Bison. Mas no seriado a sua morte é tratada com uma dose gigante de emoção ao mostrar um Guile impotente que não pode fazer nada se não assistir a morte de seu melhor amigo.
A luta final: Outra luta épica é a que ocorre no final do seriado com Ryu e Bison. Ken também participa mas quem desenvolve o golpe na sua excelência e coloca um ponto final nos planos de Bison é o japonês. Relembre aqui.
Trilha Sonora impecável
Uma benção que Street Fighter 2 V nos deixou foi sua parte sonora. As músicas eram demais e emocionantes. Desde as músicas de ação que eram muito bem feitas até as ótimas faixas cantadas. Como não se emocionar com Forever Friends ou com as músicas de abertura e encerramento? Lembrando também de uma trilha sonora a parte, que é a música tema de Ruy e Ken enquanto eles desenvolvem o Hadouken. É realmente um projeto feito com muito cuidado e encanta em todos os detalhes. Então tome para ouvir toda a trilha sonora do seriado mais as duas aberturas em japonês:
Curiosidades
Algumas curiosidades do seriado encontradas no site SFRPG para você conferir:
- O dublador do narrador e de Dubal (pai da Chun Li) é Nelson Machado, o Kiko do Chaves.
- Ken veste Armani e Chun Li usa Chanel em vários episódios. Os modelos que eles vestem existem de verdade.
- E enquanto as marcas de grife seguem seus nomes reais, a caminhonete que passa em um episódio é da marca TOTOTA.
- O Ken do anime é ruivo e não loiro. Ele obviamente é muito rico e tem um American Express SEM LIMITE (seus gastos durante os episódios mostram isso).
- Chun Li não é agente especial ainda, ela trabalha como guia turística e conhece Ryu e Ken com a função de apresentar Hong Kong para os dois.
- O quadro que Ryu recebe do mestre Yo da Casa de Chá é de Bodhidharma, o famoso teórico do Chi e criador do Kung Fu
- Sagat não tem cicatriz nem tapa-olho.
- Balrog no anime não é boxeador e não entra em nenhuma luta. Ele é um agente infiltrado na Interpol para atrapalhar as investigações da polícia.
- Talvez por em 1995 não existir mais União Soviética, Zangief deixou o orgulho soviético de lado e foi apoiar Bison na Shadaloo.
- Na luta de Bison contra Chun Li, ele se aproveita dela com teor sexual (leve, claro) e ninguém da patrulha da censura viu isso. Imagina se fosse hoje…
- Cammy só usa maiô quando está na piscina. Sua roupa de “combate” é um colant bem decotado de espiã.
- O Charlie (Nash) do anime é totalmente diferente do Charlie do videogame. Como em 1995 Charlie ainda não tinha sido apresentado ao mundo, os desenvolvedores do anime criaram um personagem com suas próprias ideias: moreno, barbudo e de óculos. O Charlie dos videogames apareceu logo depois em Street Fighter Zero, loiro e sem barba.
- A Shadaloo do desenho não é um “império” global: ela está se fortalecendo no sul da Ásia e na Espanha. Mas com um final que sugere que Bison não está morto e com muita coisa como conhecemos nos videogames ainda não ocorreu, podemos entender que os criadores não deixaram a organização tão poderosa de propósito.
- O Hadouken do seriado é o Denjin Hadouken e foi introduzido em Street Fighter 3.
- O SBT tinha comprado da Columbia um seriado feito nos EUA sobre Street Fighter (sim, aquela porcaria com Guile de mocinho que passava logo após o anime). Como a animação estava demorando para chegar ao Brasil, o anime foi oferecido como pedido de desculpas ao Sílvio Santos que aceitou e passou no horário que todos conhecemos sem nenhum corte ou censura.
Akuma, é você?
Em 1995 o grande segredo de Super Street Fighter 2 era Akuma. O misterioso lutador apareceu primeiro neste jogo como um personagem secreto que derrotava Bison com um golpe apenas e desafiava apenas os melhores jogadores. Em uma época com pouca Internet e muita especulação, Akuma fez algumas aparições no seriado mas como um legítimo easter egg. O que ele faz nos locais ou o que ele planeja ao “seguir” os dois amigos é algo que nunca vamos saber.
Ih, ó o cara aí!
Sim, eu sei que existe animes lendários e eternos como Dragon Ball Z e Cavaleiros do Zodíaco. Mas pelo menos na minha opinião, Street Fighter 2 V marcou pra valer nossa geração por ter uma história mais pé no chão, enrolar menos (ignore aqui os Hadoukens do Ryu) e ser bem fiel com a obra que serviu de inspiração. É sim uma grande obra de animação japonesa por vários fatores, mas o principal é o fato de que são gente como a gente podendo aprender mais do que ser “apenas forte”: elas podem aprender a ser pessoas melhores.