RetroArkade: Começando a correr em três dimensões em Virtua Racing
Nos dias de hoje, temos jogos de corrida com toneladas de polígonos, detalhes impressionantes e carros virtuais que se comportam semelhante (ou igual, em alguns casos) aos reais. Porém, no já distante ano de 1992, conhecemos um dos grandes desbravadores da corrida virtual, com um nome que praticamente definiria o gênero: Virtua Racing.
Eram os anos 90, e a Sega, mais do que nunca, estava em uma era extremamente fértil, em consoles e arcades, oferecendo uma gama gigantesca de opções para jogadores de todos os tipos. E nos arcades, com o crescimento de jogos em três dimensões, a companhia investiou pesado, em placas, gabinetes e jogos, que aos poucos, iam preparando o mundo para o que seria padrão muito em breve.
O game marca a estreia da Model 1 e de um novo conceito nos videogames, sejam eles de qualquer gênero. Tínhamos agora, algo que apenas poucos games de PC tinham na época: imersão tridimensional, sem “truques” em duas dimensões e a chance de se guiar de maneira bem realista um carro de corrida.
Era uma vez, a Model 1 e seu protótipo
Na década de 90, a Sega precisava se movimentar em relação a um novo cenário que estava sendo desenhado: sua concorrência com a Nintendo nos consoles estava cada vez mais acirrada, várias empresas se demonstravam interessadas em investir nos arcades e o 3D estava começando a sair dos computadores e ir parar nos videogames e fliperamas. Em meio a este panorama, em 1992, a Sega anunciou a sua Model 1, placa que prometia renderização em três dimensões para games de arcade, tão acostumados com o 2D e seus beat ‘em ups.
A Model 1 não durou muito, pois era cara e já demonstrava uma atualização urgente, pois os games concorrentes rapidamente estavam aparecendo, com mais qualidade visual. Mas isso não impediu a placa de oferecer clássicos como Virtua Fighter, e o Virtua Racing, o game da RetroArkade da vez.
Virtua Racing nem foi feito para ser um jogo comercial, era apenas um protótipo para mostrar o poder da placa, porém agradou tanto, que foi parar nos arcades de todo o mundo, oferecendo, além de visual impressionante para a época, controles que contam com uma qualidade impressionante para um protótipo, além de um conceito que faria parte dos games de corrida dali para a frente.
Tínhamos então um game bem completo para a sua época. Ao colocar a ficha, somos apresentados ao que seria padrão e jogaríamos muitas e muitas vezes em Daytona USA, Indy 500, Sega Rally e tantos outros: três pistas diferentes, cada uma com seu nível de dificuldade. A Big Forest é a Beginner, feita para iniciantes, enquanto a Bay Bridge é a Intermediate, feita para jogadores intermediários, e a Acropolis, ou a Expert, feita especialmente para quem já domina o game. Junto as pistas, também foi em Virtua Racing que a Sega definiu seu sistema de câmera, com quatro visões, da mais alta até a do cockpit, que dava a oportunidade do jogador preferir uma em específico.
Além de VR, também tivemos o Virtua Formula, lançada em 1993 e que trazia o multiplayer, com uma sala especial no parque da Sega, envolvendo 32 máquinas, dividindo o número de jogadores em quatro grupos com oito máquinas interligadas, sendo uma das grandes atrações de sua época, indo parar depois no multiplayer de Daytona e os outros, e quem já jogou numa destas máquinas, sabe da alegria que isso nos proporciona.
Vamos correr em casa?
Após o sucesso de Virtua Racing nos arcades, uma dúvida pairava no ar: será que os consoles estavam prontos para receber o revolucionário game? Olhando para o cenário da época, a resposta era certa: não. No Mega Drive, Ayrton Senna’s Super Monaco GP era o game de corrida da vez, e embora extremamente competente, não contava com todos os recursos necessários (pelo menos em uma primeira opinião); no Super Nintendo, Top Gear era febre no Brasil, mas também era um “típico” game de 16-bits. A solução, então, era aguardar a chegada dos 32-bits, com o Saturn já adaptado para rodar os games da Model 1, e também da Model 2, sua sucessora, que inclusive contou com a sua versão, lançada em 1996 e desenvolvida pela Time Warner.
Porém, a Sega quis arriscar e deu um jeito de colocar Virtua Racing no próprio Mega Drive, utilizando duas opções que tinham em mãos: a primeira, era usar o 32X e seu “upgrade”, colocando uma versão satisfatória do game, bem semelhante ao seu original das máquinas grandes e, a segunda, foi incluir o SVP (ou, Sega Virtua Processor) no cartucho original mesmo. A solução era “simples”: adicionar no cartucho a tecnologia necessária para gerar polígonos, tirando do console esta responsabilidade. Esta técnica foi utilizada no Super Nintendo também, com o chip Super FX, com Star Fox. Mas em ambas as plataformas, tal tecnologia não foi para a frente por uma simples questão: preço. Era muito caro construir um processador para cada cartucho, o que gerava jogos a US$100,00 em uma época a qual os CDs já estavam sendo introduzidos, fazendo com que tal iniciativa ficasse fora de questão, tanto que Virtua Racing foi o único jogo feito com o tal SVP.
Mas, já que o game foi lançado, era hora de conferir o que aguardava o ansioso dono de Mega Drive que podia, pela primeira vez, jogar algo “semelhante” ao que se via nos brilhantes arcades Brasil afora. Virtua Racing para Mega foi um evento tão impressionante que, na Super Game Power, o Chefe em pessoa foi quem fez a matéria a respeito do game, e começou comemorando o fato de que nós, brasileiros, contamos com acesso quase que imediato ao game em relação ao seu lançamento nos Estados Unidos, graças aos esforços da Tectoy na época. A Videogame esclareceu que embora os esforços tenham sido muitos, a versão não era “a mesma” dos arcades, enquanto a Ação Games elogiou sua jogabilidade.
Obviamente, não podemos deixar de mencionar que estávamos diante de um milagre tecnológico. Na comparação a seguir, você pode conferir o jogo rodando tanto no Mega Drive quanto no 32X, e percebe-se o incrível esforço para colocar tanta coisa em um cartucho de 16 megabits.
Na versão de Mega, não temos o Stock nem o Protótipo, como modalidades de competição, restando apenas o Fórmula para correr, e, mesmo com as limitacões que diminuem a sensação de velocidade e também dificultam um pouco mais o controle, já que o framerate é bem menor. Mas em nenhum momento, a diversão fica de fora, já que o game conseguiu um resultado muito competente no 16-bit da Sega.
Em ambas as versões, o que mais chama a atenção, mesmo para os dias de hoje, são os controles, pois são muito bons. Esqueça os gráficos poligonais datados ou as músicas e fanfarronices da Sega, o que faz valer jogar Virtua Racing hoje são seus controles que, embora seja parte de um jogo arcade, consegue exigir do jogador uma boa atenção quanto ao domínio do carro na pista. Engana-se quem acha que é apenas acelerar a trocentos km/h e ficar por isso mesmo, já que qualquer escapada da pista significa uma rodada e perda de segundos — e posições. As capotadas, eternizadas em Daytona USA, já existiam aqui e punem todos aqueles que desafiam os muros das pistas e dificultam ainda mais o trajeto. E por fim, temos os adversários, que não estão ali apenas para serem ultrapassados e resistirão até o fim por suas posições.
Tudo isso faz de Virtua Racing um excelente game de corrida, ainda hoje. Obviamente, o tempo passou e ganhamos simuladores de extrema competência, mas a nível de diversão, a Sega, de fato, foi uma das melhores desenvolvedoras de corridas em todos os tempos. E tivemos por aqui, não só um game clássico, mas sim uma revolução que, embora tímida no começo, foi crescendo e redefinindo para sempre a maneira de se correr nos videogames.