RetroArkade: Comemorando os 80 anos de Mauricio de Sousa (parte 1)
A RetroArkade precisa reverenciar a vida e a obra de Mauricio de Sousa, que completou 80 anos e oferece um legado eterno, nos oferecendo não personagens, e sim amigos para a vida toda. Vem com a gente nesta homenagem!
Falar de Mauricio de Sousa apenas como um cartunista que criou personagens extremamente populares em nosso país é quase que uma blasfêmia, pois sua obra vale muito mais que isso. Sua turma, com personagens tão queridos como a Mônica, o Cebolinha e tantos outros significam mais do que histórias de quadrinhos de sucesso: eles são responsáveis pela inciação da leitura de milhares de crianças, atravessaram quatro gerações sempre se mantendo modernos e atualizados e são a prova viva de que nós brasileiros temos capacidade de produzir arte e contar histórias, sem precisar nos espelhar apenas nos gringos.
Por isso, é dever da RetroArkade desligar o videogame por um momento, pegar as inúmeras edições da Turma da Mônica e relembrar a vida e obra de um dos artistas mais importantes do nosso país.
No princípio, os “desenhos policiais”
Natural de Santa Isabel – SP, mas criado na vizinha Mogi das Cruzes, Mauricio era filho de pais envolvidos com arte, como a poesia e pintura, e desde cedo se viu cercado de livros e leitura. E foi a arte o seu destino desde o início de sua carreira profissional, desenhando ilustrações para jornais regionais, além de cantar quando menino em programas de rádio da região. Seu alvo sempre foi o desenho, mas ao entrar no Folha da Manhã (atual Folha de São Paulo), conseguiu apenas uma vaga como repórter policial, onde trabalhou por cinco anos.
E se você pensa que o Mauricio era uma espécie de Datena ou Gil Gomes dos jornais, está enganado, pois o meio que ele encontrou para expor melhor as suas notícias, quando não havia foto, eram exatamente através dos desenhos, com ilustrações que contavam melhor os fatos e que eram aprovados por seus leitores.
Mas o alvo não era viver a vida desenhando sobre crimes, e após alguma insistência, sua primeira história foi aprovada, indo parar nas tiras do jornal no dia 18 de julho de 1959, com Bidu e Franjinha protagonizando a historinha:
E como se pode reparar, o feeling de Mauricio para as histórias, usando poucos elementos de cenário e o estímulo à imaginação, se tornariam marcas registradas para as HQs futuras. Um pouco depois, um novo menino começou a fazer parte das historinhas, com sua mania de trocar os Rs pelos Ls e seus cabelos espetados: o Cebolinha. Cebolinha é, na verdade, Luís Carlos da Cruz, que como amigo da família, acabou ganhando o icônico apelido do pai de Mauricio, lembrando também de que ele também falava elado.
E nasce uma turma. E uma lenda.
E inspiração não faltou na agitada infância de Mauricio, seja na sua, seja na de seus dez filhos, já que todos eles foram ganhando aos poucos, espaços nas histórias em quadrinhos. A Magali era sim comilona, Marina, a mais “artista” da casa, Maurício Takeda era realmente Do Contra, Mauro tinha neura com o tempo como Nimbus e a lista continua.
Porém, mal sabia o Mauricio e todo o Brasil que uma menina invocada, que arrastava um coelho pelo chão e tinha os dentes um tanto avantajados — pois se eu disser que ela é baixinha, gorducha e dentuça, eu apanho — seria um ícone da nossa cultura. A Mônica então, foi para os quadrinhos ser a coadjuvante das histórias do Cebolinha, porém sua popularidade foi tamanha que o público nomeou ela como a “dona da Rua”, título que ela mantém até hoje, mesmo com inúmeras tentativas do Cebolinha com seus Planos Infalíveis. O legal é que a Mônica nasceu exatamente com o “espírito” das crianças, já que até o seu cabelo “forma de banana” é fruto de uma travessura de sua irmã Mariângela ao cortar o cabelo dela, aparecendo na Folha de São Paulo em 3 de março de 1963.
As histórias e a produção das tiras foram amadurecendo, porém não deixavam de passar a imagem principal, existente desde o início das tiras: a mensagem de se aproveitar a infância, de curtí-la. Para as crianças, inspiração em brincadeiras e histórias que todas elas passaram ou irão passar, com a ajuda da fértil imaginação desta fase da vida e, para os adultos, lembranças de tempos bons que podem continuar se manter a criança interior viva.
Nós também temos o nosso “Superman #1”
Em 1963, Mauricio de Sousa criou com a “Tia Lenita” (Lenita Miranda de Figueiredo) a Folhinha de S. Paulo, segmento exclusivo para crianças e que além de existir até hoje, inspirou inúmeros jornais a fazerem o mesmo, como o Estadinho, lançado em 1983 e extinto em 2013, que também contou com o apoio de Mauricio e conta até hoje com tiras no Estadão com os personagens da Turma da Mônica.
Mas foi em 1970 que um grande passo foi dado, com a publicação da primeira edição da revista Mônica. A revista, com seis histórias estreou para nunca mais parar de ser produzida. A revista servia para trazer as histórias da Mônica e de outros personagens, de uma forma que continua até hoje. Com o passar do tempo, outros personagens foram ganhando suas próprias revistas, cada um com um público em específico, já que suas histórias focavam as personalidades dos personagens: Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento, e tantos outros, em uma fábrica que sempre se atualiza e oferece histórias com a diversão de sempre, mas adaptadas a realidade dos dias atuais.
A turma da roça também chegou!
Outro “universo” foi criado por Mauricio de Sousa em 1961. Inspirado em seu tio-avô, que vivia na área rural de Santa Branca, Chico Bento contou com um destino semelhante ao de Mônica: estreou como coadjuvante das histórias de Hiroshi e Zezinho. Estes dois são quem conhecemos hoje por Hiro e Zé da Roça, amigos de Chico que tiveram que ver o personagem crescer e se firmar como um dos principais entre a galeria de Mauricio, ganhando um gibi próprio em 1982.
E o universo aumenta e aumenta!
A mente de Mauricio sempre foi longe demais, a ponto de trazer do espaço o Astronauta, um viajante solitário que reflete sobre a vida em suas histórias, mais sérias do que o habitual nos gibis. Foi também até a pré-história, aonde nos apresentou a Piteco e seus amigos, e namorada Thuga, além de Horácio, um dos personagens mais enigmáticos de todos, com histórias que são puras obras de arte. Papa-Capim é o representante indígena, sempre defendendo a nossa fauna e flora dos cara-pálidas.
Jotalhão e a turma da floresta também garantem boas risadas e a lista não termina: quem é mais antigo, pode lembrar de Seu Juca, o pobre coitado que sempre era “ajudado” pela turma; o Capitão Feio, o inimigo número 1 do Cascão; Floquinho, o cãozinho parceiro do Cebolinha; Luca, o cadeirante que tem sua cadeira de rodas “turbinada” pelo Franjinha… Sério, são muitos personagens, de todos os tipos e gostos. O que mostra como o universo de Mauricio de Sousa é rico e democrático.
Homenagens também fazem parte do universo sempre inclusivo de Mauricio de Sousa, com o Pelezinho, o Ronaldinho Gaúcho e hoje o Neymar sendo alguns destes representantes.
O futuro dos quadrinhos
Os quadrinhos de Mauricio de Sousa tem a receita da eternidade: seus personagens são atemporais, sempre se atualizando de maneira competente pelos anos que passam. Se já houve histórias envolvendo discos de vinil, hoje é normal ouvir os personagens falando de Facebook, por exemplo.
Além disso, a Mauricio de Sousa produções também lançou a Turma da Mônica Jovem, trazendo um novo público para perto, inclusive aproveitando para lidar com temas como drogas e sexualidade nas histórias. E mais recentemente, também contamos com as MSP Graphics, trabalhos espetaculares que contam com uma liberdade artística nunca antes vista, usando dos personagens para criar histórias únicas e inesquecíveis. E é bom lembrar que Laços, uma destas obras de arte, vai virar filme, com informações que já trouxemos durante nossa cobertura da CCXP. E fique atento, pois semana que vem iremos continuar com mais uma parte desta merecida homenagem a um gênio da nossa cultura. Até lá.
Gostaríamos de agradecer a Mauricio de Sousa Produções por todo o apoio neste especial, nos garantindo uma matéria com informações corretas e precisas, nos permitindo trazer uma homenagem à altura do grande Mauricio.