RetroArkade: Como as revistas de games noticiaram o primeiro Xbox
Em 2021, o Xbox completa duas décadas de histórias. Colocou seu nome na história dos games apresentando novos conceitos, como as muitas opções online com a sua Xbox Live, consagrou franquias, como Halo, Gears of War e Forza, e ainda hoje, traz tendências e inovações, como o xCloud, e o Xbox Game Pass.
Porém, em 2001, tudo isso era uma grande incógnita. Durante os anos 80 e 90, diversas companhias tentavam abocanhar uma fatia do rico bolo da indústria dos videogames. Se SEGA (pelo menos durante estes dias), Nintendo e Sony conseguiram avançar, Mattel, Apple, Panasonic e Sanyo (através da 3DO), Phillips e tantas outras fracassaram em suas investidas.
A Microsoft tinha suas armas: a experiência no ramo de software, com o Windows já se tornando referência em games no PC, e com o mesmo sistema operacional já contando com uma versão customizada no Dreamcast; a tendência de investir no online, em uma época em que tais recursos estavam avançando, porém sem uma solução eficaz nos games; e as parcerias com estúdios, próprios ou não, para produzir games para o sistema, fruto dos já bons relacionamentos no passado.
Mesmo assim, a pergunta: será que a Microsoft vingaria no mundo dos videogames? A história diz que sim, vingou e vingou muito bem. Mas hoje, vamos fazer uma visita no tempo, para relembrar como que as revistas de videogame brasileiras, no passado, noticiaram a chegada da então, grande novidade dos games, em 2001. Em um ano o qual o Playstation 2 já havia agradado muita gente, e a Nintendo preparava o sucessor de seu Nintendo 64.
Ação Games – A cobertura mais completa
Em 2000, a Ação Games, em sua estrutura, era a revista mais completa do país. Possuía uma parceria com a revista EGM (que começaria a circular em edição brasileira a partir de 2002), o que garantia matérias mais completas, sobre diversos temas.
Em maio de 2000, dois meses após a icônica apresentação do até então X-Box, com aquele protótipo bem diferente, com um grande X que lembrava muito o fantoche do programa X-Tudo da TV Cultura, a revista trouxe uma matéria entitulado “A caixa secreta da Microsoft”.
Nela, Renato Viliegas, o autor, comentou sobre a apresentação, e a impressão causada pelos vídeos de demonstração, que já mostravam que o novo console seria superior, tecnicamente, ao Playstation 2, seu concorrente na época. O artigo explica que o console teria 100 milhões de polígonos e teria como mídia o DVD, que permitiria que o console também funcionasse como DVD Player, para assistir filmes.
Também falava que o “X-Box” acompanharia um HD de 8GB, o que era novidade para a época (e padrão hoje), e que teria acesso à Internet, porém sem um modem embutido, vendido separadamente. A própria Ação Games, meses mais tarde, em um dossiê especial do Xbox, esclareceu que a informação era equivocada e que sim, o console acompanhava uma porta Ethernet embutida para o console, pronta para a Xbox Live, que chegaria em 2002.
Já em março de 2001, o Xbox ganhou não só a capa da revista, como um dossiê completo. O artigo, publicado na EGM nos EUA e adaptado na Ação Games via parceria entre as duas publicações, trouxe muita informação sobre o console que estava chegando.
Com o título “Esquartejamos o Xbox”, que literalmente apresentou tudo sobre o videogame, o novo sistema era tratado como o “primeiro concorrente sério no mercado de consoles desde o apogeu do Atari“. Provavelmente fazendo referência ao mercado dos EUA, uma vez que Sony e Nintendo são japonesas. Foram oito páginas que mostraram o console em todos os seus detalhes: mostraram a frente, a traseira, suas conexões, e o controle. Tudo muito novo, pois o clima era de estreia e expectativa.
Sobre o console, a revista mostrou suas configurações e os planos da Microsoft de transformar um videogame em uma estação de entretenimento mais completa. E, sobre o controle, as semelhanças com o pad do Dreamcast foram rapidamente notadas. No final, a lista completa dos games do lançamento, mais as expectativas com Halo, o primeiro grande game do Xbox, foram divulgadas.
Super Game Power – uma ausência que “pulou” a cobertura
A situação do lançamento do Xbox ilustrou uma situação bem específica da Super Game Power. A revista, que desde 1994 operava com este nome, em 2001, parou de ser publicada pela Nova Cultural, passando para as mãos da Editora Option. Na edição 90, de setembro de 2001, uma pequena nota anunciava que 17 games chegariam ao sistema da Microsoft.
E divulgava, em outra nota, sobre a chegada do Xbox ao Japão. A revista afirmava que o console, que chegaria em novembro de 2001 nos EUA, daria as caras no Japão apenas em março de 2002. Os rumores estavam quase certos, pois o console, de fato, chegou um mês antes, em 22 de fevereiro daquele ano.
Antes, na edição 73, de abril de 2000, o então chamado “X-Box” foi assunto de uma matéria especial. Nela, a revista abordou o hardware do console, e mencionou o “X Prateado”, que era apenas um protótipo utilizado na apresentação do sistema, no já mencionado evento de maio daquele ano. Falou sobre a grande capacidade de processamento e os estúdios que fariam jogos para ele.
Já na edição 91, publicada apenas em maio de 2002, muita coisa já tinha rolado. Inclusive, esta edição já estava divulgando as primeiras notícias sobre o Playstation 3, que na época, eram. apenas rumores. Sobre o console da Microsoft, já se comparavam vendas de PS2 e Xbox no Japão.
E a Gamers?
Assim como a Super Game Power, a Gamers teve num hiato bem na época do lançamento do console, indo de meados de 2001 até meados de 2003. Ao contrário de GameCube e Game Boy Advance, que receberam especiais com dezenas de páginas, o console da Microsoft não rendeu muita atenção da redação, com apenas alguns lançamentos anunciados em meados de 2001.
Foi a Revista Game Over, também da Editora Escala, que deu mais destaque, com uma matéria completa sobre Halo, logo em sua primeira edição. Como o Xbox ainda era um console novo, ainda não haviam tantos games para ele, assim como nos sistemas concorrentes, logo, a importância de Halo não só como game, mas como carro-chefe do sistema foi mencionada. E o multiplayer, que se tornaria um padrão na indústria futura, foi citado como “boa opção”.
Um momento importante no mundo dos games
Apesar de não ter sido lançado oficialmente no Brasil, o primeiro Xbox marcou um momento importante no universo nacional de games. Primeiro de tudo, por marcar a entrada da Microsoft, que nós conhecíamos apenas pelo Windows naqueles dias, no mundo dos games, com uma grande interrogação em nossas cabeças sobre o que ela poderia fazer.
O console faria sucesso no país, mesmo sem suporte dedicado e conteúdo em português. Em 2003, o Brasil já era o sétimo país no mundo em assinantes na Xbox Live, isso tudo em um momento de videogames (mais) caros, falta de suporte, Internet limitada e conexões difíceis a servidores no estrangeiro.
Depois, por marcar um momento de decadência das revistas de videogame, sempre tão queridas. A partir do início dos anos 2000, pouco a pouco, as revistas foram perdendo força, dando lugar aos primeiros sites de notícias de games que renderam os atuais canais de YouTube, e os outros diversos meios para se falar de games.
E, por fim, por representar um momento diferente para a cobertura de videogames. Antes presos apenas a pequenas notas e notícias que traziam mais entusiasmo do que informação, a cobertura do Xbox, em especial da Ação Games, com o apoio da EGM, apresentava ao leitor brasileiro uma nova era para a cobertura de games: mais profunda, mais profissional e mais completa.