RetroArkade – Crash Team Racing e a insanidade em quatro rodas
Em 1996, um marsupial descolado e irreverente chamou a atenção de todo o mundo, e fez com que Mario e Sonic conhecessem um novo mascote que, entre tantos outros que tentaram durante os anos 90, tinha carisma suficiente para buscar a sua fatia do bolo. E, assim como um mascote que se preze, nada mal um jogo de corrida, não é mesmo?
Com o sucesso que foi — e é — Mario Kart, que já contava com dois games lançados na época da chegada de CTR, a Naugthy Dog e a Sony apostaram em fazer a sua versão do jogo de corridas insanas, mas, com o mesmo cuidado o qual os jogos de plataforma contavam, tudo foi feito para dar identidade própria, aproveitando elementos interessantes dos três primeiros jogos da franquia, e oferecendo um game que é querido e jogado até hoje.
Ligando os motores!
https://www.youtube.com/watch?v=jGRrIOS4m8c
Tudo começou com a conclusão de Crash Bandicoot 2, quando a Naughty Dog começou a desenvolver um game de corrida (ao mesmo tempo que Crash 3: Warped), porém com personagens avulsos com cabeça de bloco. O jogo foi apresentado para a Sony, com a intenção do estúdio de usar Crash como protagonista, ideia esta que também agradou a dona do Playstation. Era preciso convencer a Universal, dona dos direitos do personagem (que já mostrava sua complicação neste assunto desde esta época), porém o acordo foi feito sem grandes dificuldades. Porém, se não houvesse acordo, o game existiria da mesma forma, porém com outros personagens.
Com o ok de todos, hora da Naughty Dog trabalhar por oito meses no game, já observando um de seus grandes trunfos: o multiplayer. Para ver se era possível reproduzir o game da maneira adequada, a equipe reconstruiu Crescent Island de Diddy Kong Racing, em caráter de testes, para conferir o comportamento dos carros na pista, e também da forma que teriam que lidar com o fato de renderizar quatro vezes na tela os carros, em caso de quatro jogadores simultâneos. A saída, simples, mas muito eficaz, foi a de transformar as rodas dos karts como sprites bidimensionais, fazendo assim, que ocupassem menos espaço e não precisassem ser renderizados junto com a pista.
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Foi nesta época também, que ficou decidido que o vilão do game seria Nitros Oxide, originalmente um cientista louco (mais um!), que, obcecado por velocidade, queria acelerar o mundo até o final dos tempos, usando dos karts para isso. Mas, como todos os personagens de Crash estavam presentes no jogo, “mais um” cientista não teria o efeito desejado, fazendo os desenvolvedores decidirem fazer de Oxide um personagem sobrenatural, dando a ele um ar maior de “chefão”.
Já o excelente turbo do game, que existe já na largada, ao acelerar na medida certa, ou durante os drifts nas curvas, foi escolhido para permitir que o game tivesse uma cara mais moderna, comparado aos games antigos, com turbos funcionando apenas por power-ups. Assim, todos poderiam sentir o gosto de ter um extra na aceleração, sem esperar uma caixa sortida para ter esta sensação. Porém, em uma época em que ainda havia limitações, personagens tiveram que ficar de fora da corrida: Kimodo Moe correria junto com seu irmão, mas só um dos Kimodo correm, enquanto Polar e Pura foram divididos, contrariando a ideia original, de manter os dois em um só kart.
E é dada a largada!
Um game de corrida precisa ser rápido e um game de kart com personagens precisa ser divertido. Crash Team Racing, felizmente, tem dos dois. Toda aquela insanidade já conhecida dos games de plataforma se reproduzem de maneira bem legal nas corridas. Para quem começa no modo história, uma novidade bem legal, pelo menos para os jogos da época, era o mundo aberto. Em análise da IGN de 1999, foi apresentado que o jogo se inspirou demais em Diddy Kong Racing, mais até do que Mario Kart, ao implementar o modo história, e os mundos a se explorar. Além do Adventure, o Arcade garante corridas rápidas e descompromissadas, o Time Trial desafia o tempo, e o Cup permite que torneios sejam disputados, com pontuação e pódium para os vencedores.
Outro aspecto levantado, está na variedade de circuitos, seja no traçado, com armadilhas e atalhos, como no clima, com áreas geladas e escorregadias, ou em trajetos cheios de calor e fogo correndo solto pela pista. Estes elementos fazem com que as pistas sejam bastante desafiadoras e que o jogador, além de lidar com os adversários, precise dominar também as pistas. Tudo isso com um gameplay ágil, simples e muito divertido. O turbo pós draft é uma das coisas mais legais nos jogos do gênero, com uma derrapada gerando energia que é revertida em explosões de velocidade que podem determinar um vencedor, assim como os itens, que, apesar de poucos, são bem úteis, que vão desde caixas-bomba e poções que atrapalham a pista.
As frutas de Crash também são importantes por aqui, pois, ao juntar 10, o poder de seus itens aumenta, e toda vantagem é útil por aqui. E o mais legal? Tudo em 3D. A Super Game Power #69 também rendeu elogios para o gameplay, que segundo eles “é fácil de assimilar”. E destacou também o modo Battle, em que os corredores eram colocados em uma arena de “destruição”, com várias armas à disposição. E, para fechar o rico portfólio do game, o modo Adventure também traz arenas com tarefas, como a de quebrar um número X de caixas antes de o tempo acabar, e as corridas contra os chefes também são incríveis!
Um digno Crash, que também merece um Digno remake
Crash Team Racing é mais uma prova do talento da Naughty Dog, que, ao pegar um elemento que já existia, melhorou tudo o que podia, colocou personalidade em tudo e entregou um game dos mais divertidos que existe no PSOne. A sorte da concorrência é que Crash Bandicoot é parte de um dos direitos autorais mais complicados da história e isso fez com que a série andasse para trás nos anos seguintes, e mesmo com novas investidas no mundo do kart, tais games não chegam nem perto do original de 1999. Crash Nitro Kart saiu em 2003 para consoles da época, Game Boy Advance e até o N-Gage, mas, como sabemos, o game que, mesmo mantendo muito do original, perde ao não ter o talento da casa de Uncharted e The Last of Us.
Por isso, com o sucesso que foi o remake dos três primeiros games de Crash, nada mais justo que um remake à altura de CTR, certo? Rumores já existem quanto a este projeto, mas nada foi afirmado até o momento. Mas, seria muito legal poder correr de novo nas lendárias pistas do jogo, em 4K, e com direito a competições online, seja nas corridas, ou no modo Battle. O incrível da carreira de Crash é que o personagem é praticamente uma galinha dos ovos de ouro (basta lembrar do impacto que foi o anúncio do remake), mas é totalmente mal explorado por seus detentores. Os diversos problemas de direitos autorais simplesmente diminuem muito as oportunidades com os personagens e, com o atual remake, uma nova oportunidade surge para o personagem, daí o remake.
Porém, mesmo se não houver remake, ainda vale muito a pena curtir o game. De maneira oficial, é possível jogá-lo no Playstation, ou através da PSN, com um Playstation 3, PSP ou PS Vita. O interessante é que, se houvesse de fato um remake, mais pessoas poderiam ter acesso a este jogo, como o remake atual, que chegará ao Switch e ao Xbox One. Só nos resta torcer.