RetroArkade: Headhunter e o dia que a Sega quis competir com Metal Gear Solid

18 de dezembro de 2016

RetroArkade: Headhunter e o dia que a Sega quis competir com Metal Gear Solid

Em 1998, um certo Metal Gear Solid chegou e mudou para sempre a forma de se fazer videogame. Seja pela questão do enredo, pelas tomadas cinematográficas ou mesmo pelo gameplay, a obra de arte de Hideo Kojima até hoje inspira muitos desenvolvedores a tocarem seus projetos. E em sua época de glória, também não era difícil encontrar games que apareciam para tentar tirar o trono.

E acabava ficando assim: qualquer game que caminhasse com o tema “espionagem”, já era tratado como o próximo desafiante de Solid Snake: Syphon Filter, Fear Effect, os games 007 pós-Rare e até o Mission Impossible, todos eles chegavam com este status e, entre qualidades e defeitos, nunca chegaram perto da qualidade da aventura dos 32-bit.

Entre tudo isso, havia a Sega, que estava com seu Dreamcast recém-lançado, comemorando a potência de seu console e a qualidade de seus jogos do Sonic, mas, a ausência de grandes parceiros obrigava a companhia japonesa a apostar em iniciativas próprias, colocando, por exemplo, o seu Virtua Striker como opção para o futebol, em ausência de jogos FIFA ou Winning Eleven. E, claro, um game com agentes secretos se fazia necessário para o console.

Foi aí que a Sega acabou lançando, em 2001, já no final de vida de seu console e apenas na Europa, Headhunter, game desenvolvido pela Amuze, um estúdio sueco que tem em seus registros apenas a série de agentes, que acabou sendo relançada em 2002, já com a Sega fora do mercado de consoles, para o Playstation 2, e que gerou uma sequência, Headhunter Redemption, lançado em 2004 para PS2 e Xbox.

Meio anos 80, meio Jack Bauer

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O game se passa em um futuro próximo, em uma Los Angeles que conta com uma agência especial para combate do crime organizado, a ACN (Anti-Crime Network), especializada em resolver os casos que o governo não tem condições de enfrentar. Para a ACN, os agentes contratados são caçadores de recompensas ou assassinos profissionais, que recebem um trabalho e vão cumprindo, conseguindo uma certa escalada de sucesso.

Porém, o que nem os agentes sabiam era que a ACN aproveitava os órgãos de seus alvos abatidos, vendendo para o mercado negro para a alta sociedade local, uma vez que a cidade estava em crise de órgãos humanos para transplantes. Mas tudo ia caminhando tranquilamente até a morte do fundador da agência, Christopher Stern, e a amnésia de Jack Wade, um dos melhores agentes de lá.

A história, apesar de ser apresentada de uma forma bem canastrona, com imagens de um jornal local e algumas cutscenes, até que encontra um plano bem interessante para se desenrolar, ignorando o tema “salvação do mundo”, e colocando o foco no protagonista, que busca por respostas, enquanto, junto ao jogador, vai descobrindo mais sobre as falcatruas da agência e seus membros. Bem como eram os filmes de ação dos anos 80. Como um de muitos exemplos, deixo aqui Máquina Mortífera, série de filmes que tinha história e vilão locais, e que também contava com muita atenção em seus protagonistas.

Meio Metal Gear Solid, Meio Resident Evil

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O gameplay do jogo, por sua vez, acaba sim emprestando elementos de Metal Gear Solid, como por exemplo, a comunicação entre os personagens, que, de maneira muito parecida com os Codecs de Solid Snake, ocorrem em relógios especiais (e patrocinados pela Casio) no qual é possível ouvir e ver o personagem em questão. Do game de Kojima, também temos a furtividade, necessária em alguns momentos, com direito a ataques por trás e tudo, e também temos um sistema de classificação, que é confuso e esquisito, mas que lembra bastante o ranqueamento dos games de MSX da série da Konami.

Além disso, as batalhas com os chefes também parece ter se inspirado muito no game de espionagem. Não pelos chefes em si, mas pela necessidade que o game tem de te colocar em situações diferentes para cada combate, tentando mudar o gameplay nestes momentos, tais quais as batalhas que Snake encarou em 1998, seja lutando contra um Helicóptero, ou contra um tanque. Ah, e temos “treinamentos em Realidade Virtual” por aqui também, viu?

Mas, também houve outro game que emprestou muitas influências para Headhunter: Resident Evil. Por se tratar de um jogo com investigação, os S.T.A.R.S. emprestaram para Jack Wade a capacidade de encontrar itens pelo caminho, que solucionam puzzles e abrem portas inicialmente inacessíveis. E, uma terceira influência também é visível no game, quando pegamos aquela moto bacanuda para passear por Los Angeles. Estamos falando de Driver, o game que antes de GTA III e cia, já nos colocava de maneira mais simples, claro, em uma cidade para resolver missões em alta velocidade.

A moto aqui, serve apenas como um meio de transporte, levando Jack para os locais de investigação e ação do game, e tem seu gameplay bem simplório. Apesar das missões em VR, que te exigem a cumprir um circuito em um tempo especificado, no game em si, ela só serve para locomoção e para a irritante soma de pontos que o game te pede para acessar a próxima missão especial para subir de nível.

E o pacote, como um todo, se apresentou bem consistente. Nada que assustasse Snake — isso só foi acontecer em 2003, com a chegada de Sam Fischer e seu Splinter Cell –, mas também nada que comprometa o conjunto da obra. Tirando algumas ideias que foram mal implementadas, como o sistema de soma de pontos na moto, a câmera que mais atrapalha do que ajuda, e alguns combates toscos contra chefes, o jogo em si é bem interessante, e merece ser jogado pelos fãs de ação, pelo menos uma vez.

Headhunter tem espaço no Playstation 4 e Xbox One?

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Acredito que sim. Porém a franquia, que não foi muito popularizada no mundo gamer, precisaria de um reboot, ou um remaster de seu primeiro jogo, corrigindo seus probleminhas, para conquistar um espaço que foi deixado pelo fim de Metal Gear Solid e a diminuição de popularidade dos games Splinter Cell. Não que ele tomasse o trono destas séries, mas com bom planejamento, o bom universo de Headhunter teria tudo para brilhar hoje.

Mas o que impede o game de fato de renascer é a sua própria casa. A Sega não tem lançado muitos games novos, pelo menos no ocidente, tendo apenas como grande franquia hoje a série Yakuza, que por lá faz muito sucesso e dá rios de dinheiro para a companhia, a ponto dela acabar “esquecendo” deste lado do globo, sem mencionar a fraqueza atual da Sega of America. Porém, temos certeza que, bem feito e caprichado, Headhunter teria tudo para fazer um sucesso interessante entre os games de espionagem atuais.

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui! Siga-me em instagram.com/juniorcandido ou x.com/junior_candido

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