RetroArkade: O Master System tem um jogo épico (100% português!) e ele se chama Phantasy Star
Se o Nintendinho tem Final Fantasy e Dragon Quest, o Master System tem Phantasy Star! Hora de relembrar este épico que “levava três meses para terminar” e chegou até nossos consoles totalmente em português!
Na década de 1980, a guerra entre SEGA e Nintendo não era tão feroz como na década seguinte; na verdade nem guerra havia já que o NES simplesmente era sinônimo de videogame na época e a sua concorrente tentava mas nunca conseguia obter os mesmos resultados de venda (até chegar o Mega Drive). Mas por outro lado, é inegável o fato de que a SEGA sempre teve uma veia inovadora e criativa que faz dela a preferida de muito jogador retrô até hoje.
Entre tentativas de “melhorar” os conceitos já existentes, tivemos Alex Kidd tentando ser um Mario mais completo, por exemplo. O próprio Master System (ou Sega Mark III no Japão) oferecia essa proposta: gráficos e sons melhores do que a concorrência. E em meio a recente febre dos RPGs, encabeçada por Dragon Quest (e depois Final Fantasy), a SEGA então desenvolve e coloca nas prateleiras Phantasy Star.
O primeiro Phantasy Star chegou para os japoneses no dia 20 de dezembro de 1987 para o Sega Mark III com “impressionantes” 4 megabits de memória no cartucho (e se você viveu esta época, sabe que é impressionante mesmo!). Essa memória toda fazia com que o jogo fosse muito superior em gráficos e sons, além de oferecer mais recursos técnicos do que os jogos de seu concorrente.
As mentes principais atrás do jogo eram Rieko Kodama, que depois trabalhou em Altered Beast e ainda ajudou em Skies of Arcadia para o Dreamcast e Yuji Naka, que anos mais tarde iria se consagrar com a criação de ninguém mais ninguém menos que Sonic, o porco-espinho.
Para surpreender os jogadores da época, o jogo apresentou personagens eram mais detalhados e vivos com cenários bem variados e com muitas peculiaridades de acordo com o local a ser visitado. Além disso, o inovador labirinto em 3D em primeira pessoa também chamava muita atenção (e era uma aula de como se perder em três passos). Os inimigos eram os mesmos de qualquer jogo do tipo, mas aqui alguns eram pacíficos e o combate podia ser resolvido na conversa.
O capa e espada futurista também inovou por apresentar uma das primeiras heroínas dos videogames, com delicadeza feminina e força de combate na medida certa: Alis era bela mas tinha competência para encarar boa parte da aventura sozinha, contando com ajuda posterior mas sem perder sua identidade de guerreira forte. Sim, Samus Aran já existia neste contexto, mas lembre-se de que naquela época a heroína de Metroid só era revelada como mulher ao final do jogo (e por alguns ainda), então Alis causou um impacto maior no quesito “belas garotas fortes dos games”.
E Alis luta para vingar a morte de Nero, seu irmão que foi morto ao combater a tirania de Lassic, um bondoso líder que do nada se corrompeu pelo mal e trouxe caos e desgraça a todos. Em busca de vingança ela acaba descobrindo algo muito maior (e mais nobre) para a sua caminhada e com a ajuda do gato falante Myau (protagonista de uma das cenas mais emocionantes dos games: quem jogou sabe!), o guerreiro Odin e o feiticeiro Noah, partem para salvar o destino de Algol.
Mas que diabos é Algol?
Algol é o sistema estelar de Phantasy Star e o nome da estrela que fornece vida para os três planetas (e um “secreto”) que fazem parte do ambiente:
- Palma: Seria o nosso planeta Terra, oferecendo vegetação, montanhas e grandes mares. É onde a aventura começa e local de morada dos Palmanos, que equivalem a você e eu, ou seja, os seres humanos.
- Motávia: Lar dos Motavianos (seres que lembram ratos), é um planeta deserto e cheio de hostilidade. Mesmo assim é lá que fica a Capital do Governo de Algol.
- Dezoris: A parte “de gelo” do jogo. Devido a sua geografia de difíceis acessos e muita neve e gelo, é praticamente não habitado sendo lar apenas dos Dezorianos, seres verde que lembram répteis (Piccolo, é você?)
- Rykros: Este planeta existe mesmo “sem estar no mapa”. Visto pelos habitantes dos outros planetas apenas de mil em mil anos, é coberto de cristais e cheio de seres esquisitos. Dentre seus habitantes temos monstros, três seres que defendem a “Grande Luz” e um ser desconhecido com forte poder.
Três meses de jogatina e textos em Português!
E em 1991 Phantasy Star chegou para todos nós brasileiros trazido pela Tectoy que por perceber que o potencial do jogo poderia se perder em meio a diálogos e muito texto, traduziu completamente o jogo, além de investir em uma propaganda de marketing forte. Resultado? Sucesso de vendas.
Suas propagandas exaltavam o fato de ser um jogo grande, que “demorava até três meses para ser terminado” e vinha com bateria interna para salvar o progresso (coisa rara na época). Como o Master System até então era fabricado e suportado no Brasil e o Nintendo não existia de maneira oficial, tendo em seu lugar várias versões com lançamentos aleatórios e confusos de seus jogos, essa “organização” fez dele o primeiro RPG de muito brasileiro por aí.
Mesmo assim, muitos fãs discordam da tradução por se basear na versão dos Estados Unidos que por sua vez mudou (como sempre) muito do que existia no original em japonês. O remake do Playstation 2 que trouxe melhores gráficos e mais interação entre os personagens também contou com essa mesma tradução feita pelos fãs. Outra coisa que os jogadores mais puristas fizeram questão de trazer ao ocidente é a trilha sonora, que é melhor no Japão devido ao chip FM que apenas o Mark III tem.
Ouça os dois áudios e faça a comparação você mesmo:
Como RPG, encara seus rivais de igual para igual
Não demorei três meses para terminar o jogo, mesmo jogando de maneira relaxada e com desequilíbrio entre três dias seguidos de jogo para uma semana sem ligar o videogame. A história tem elementos típicos de capa-e-espada com momentos épicos e emocionantes; os gráficos convencem bem as diferenças geográficas dos lugares e trouxeram mais vida para jogos com poucas animações e movimentos.
O jogo em si não é difícil, mas pede bastante “passeio” pelos campos para combates e aumentos de níveis, além de passeios para a igreja para curar seus personagens e ressuscitar os mortos (o jogo só dá Game Over se todos os guerreiros morrerem no mesmo combate). Visitas nas lojas para compras de itens e armas é praticamente obrigatória (mais ainda quando é necessário obter um visto para a primeira viagem do jogo) e o bate-papo pode ajudar muito. Por causa das limitacoes tecnicas Phantasy Star foi traduzido mas sem acentos ou coisas mais complexas do nosso idioma. Fica esquisito no começo mas é de se acostumar (claro, se você não for um chato exigente ao extremo!).
Os combates ficam mais interessantes quando o quarteto se une, pois cada um tem suas virtudes e fraquezas, facilitando o trabalho em conjunto e a variedade de estratégia. Os itens praticamente não são usados (mas deve ser por questões do jogador em questão, que usa apenas o “Camp” no Final Fantasy e tem preguiça de combinar e conhecer as funcionalidades dos itens — o negócio é ganhar nível!). Mas o que vai te deixar louco (e em alguns casos, com dor de cabeça), são os labirintos. Em “3D”, em primeira pessoa e sem nenhum mapa, apenas hoje com tutoriais e detonados fáceis de se achar pela internet que o desafio fica muito mais tranquilo. Mas encare quinze minutos dentro de um desses labirintos e veja como ficará após o processo. Enfim, diga o que disser, esse recurso é demais!
Eu quero jogar Phantasy Star agora! #ComoFaz?
Depois do Master System a SEGA relançou o primeiro jogo exatamente igual ao original para o Mega Drive, numa tiragem especial de duas mil cópias que foi sorteada para os compradores do Phantasy Star IV em 1994. Depois a SEGA fez uma nova tiragem deste cartucho, porém ele ainda é bem difícil de achar.
E se você quer jogar hoje Phantasy Star sem ter um Master ou um Mega, a SEGA durante estes anos todos nos ofereceu várias oportunidades de conferir este clássico: além do cartucho PT-BR do Master System, a aventura épica e espacial também acontece no Wii/WiiU (Virtual Console), e nas coletâneas que o Sega Saturn e o Game Boy Advance receberam. O jogo também está escondido na coletânea Sonic’s Ultimate Genesis Collection de PS3 e Xbox 360 (para desbloquear, basta derrotar Robotinik em Sonic 2 pela primeira vez com dois jogadores ao mesmo tempo). Tem também o remake para celular (no Japão) e para Playstation 2. Ou seja, desculpas não faltam para jogar de novo ou conhecer este clássico e para muitos, o jogo mais completo que o Master System já viu.