RetroArkade: Road Rash e a sua pancadaria em duas rodas na geração 32-bit

2 de julho de 2017

RetroArkade: Road Rash e a sua pancadaria em duas rodas na geração 32-bit

Trocar sopapos em duas rodas e ainda ser sacaneado quando perde. Os anos 90 nos permitiram dar um gigantesco passo no mundo dos games, com vídeos sendo inseridos dentro dos jogos, fazendo com que eles ficassem, de certo modo, mais realistas, já que atores reais (substituídos posteriormente pelos próprios gráficos do jogo, ou ainda por CGs) davam maior profundidade para jogos que ainda não sabiam o que fazer com tanto espaço disponível em um CD.

Este foi um dos elementos que marcou Road Rash. A série que nasceu no Mega Drive e fez seu sucesso no mundo 16-bit, chegava ao novo mundo dos 32-bit com a proposta de continuar a levar corridas de motos pelas estradas, com pilotos mal encarados trocando pontapés e trocando pauladas para ver quem chega em primeiro, tendo também que passar por vários obstáculos.

Deixamos a playlist com a trilha sonora de Road Rash pra você ouvir enquanto lê a matéria. Aproveite e siga a gente no Spotify!

É quase um Hang On, mas com paulada

Para entendermos Road Rash, precisamos voltar um pouco no tempo, em 1985. Neste ano a Sega lançou Hang On, divertido game com motos que oferecia até uma moto como “gabinete” para a sua versão arcade, que consistia em ir do ponto A ao ponto B, acelerando antes do tempo acabar. Road Rash segue um formato semelhante, desde seu lançamento para o Mega em 1991, inclusive se inspirando no game da Sega no que diz respeito ao estilo dos motociclistas, mas com foco nos rachas ilegais, em estradas comuns, e com a adição da violência como forma de ganhar.

Temos então algumas pistas, espalhadas por “mundos”, em que um mínimo de um terceiro lugar garante a continuidade do jogo. Obviamente, com o passar das fases, os adversários ficam mais rápidos, mais agressivos e os trajetos ficam mais longos e com mais obstáculos. O 32-bit permitiu que árvores, carros e muitos outros obstáculos atrapalhassem ainda mais o jogador, em sua busca pela vitória, que pode acabar se tornando um último lugar. Com a sua colocação no jogo, você ganha dinheiro para comprar motos melhores e peças mais eficazes, para continuar competitivo, ou mesmo para pagar multas para a polícia, já que você pode ser pego por excesso de velocidade.

Os consoles de 32-bit também permitiram que Road Rash contasse com uma física muito boa. O ato de subir ou descer é bem realista, na medida do possível da época em que o jogo foi feito, e também pode se tornar um problema, caso o jogador não lide bem com ela, ao saltar com sua moto. E, como cereja do bolo, claro que estão os combates contra os outros motociclistas, com direito a socos, chutes, ou armas de mão. É até possível recolher a arma da mão de um piloto para usar contra ele, batendo a ponto de que sua resistência, representada por uma barra, se esvazie e ele caia da moto.

Vídeos, Soundgarden e cenários digitalizados: bem vindo ao mundo 32-bit!

Como mencionamos anteriormente, no início da era dos 32-bits, com os CDs padronizando a indústria, equipando Playstation, Saturn, 3DO, e tantos outros videogames, os programadores não tinham muito o que fazer para preencher o espaço. A saída era apostar em vídeos, feitos de maneira simples (e em alguns casos, até bem tosco), para preencher o espaço que ainda contava com jogos com cara de 16-bit, mas com gigantescos saltos de qualidade. A Califórnia oferecida pelo CD era bem mais viva e detalhada, com os sprites fazendo muito bem seu papel de aumentar a imersão em comparação a versões passadas.

A proposta da EA, que queria mesmo oferecer algo a mais do que já havia feito anteriormente no Mega Drive, foi a de adicionar conteúdo. No CD, Road Rash permitia escolher personagens, variando entre eles as motos, capacetes, e alguns até com armas desde o início. O jogo também oferecia um sistema de reputação e fofoca para incrementar mais o gameplay, sabendo o que “os outros pensam de você”, além, claro, das sequências em vídeo.

Logo de cara, já era possível conferir a introdução do jogo ao som de Rusty Cage do Soundgarden, apresentando uma nova face dos videogames que, a partir dali, contariam com músicas licenciadas, se tornando um padrão hoje. Além da banda do finado Chris Cornell, também havia músicas das bandas como Paw, Hammerbox, Monster Magnet e Swervedriver. A trilha, novidade até então, foi muito bem recebida pelos jogadores, dando liberdade para a EA continuar a usar desta estratégia, adicionando músicas em seus jogos de esporte, da série Need for Speed, e tantos outros. Curiosamente, apenas a versão de Sega CD toca as músicas durante as corridas, com todas as outras tocando as faixas apenas nos menus, ou nos vídeos.

Falando em vídeos, os de Road Rash eram bem divertidos. Em uma pequena, mas considerável variação, tínhamos vídeos para o início da corrida, em que todos se alinham aguardando a largada, os vídeos de vitória, em que os pilotos comemoram a seu jeito o triunfo, e os melhores, que são os de derrota, em que o jogo te sacaneia mostrando problemas acontecendo pela sua derrota, seja ela levando uma multa, e com seu piloto sendo preso por isso, ou chegando em último e ver a sua garota dos sonhos com outro cara. Isso ajudava na imersão do game e deixava tudo mais legal.

Queremos mais paulada em duas rodas. Cadê Road Rash, EA?

RetroArkade: Road Rash e a sua pancadaria em duas rodas na geração 32-bit

Nos anos 90, a EA estabeleceu duas franquias de velocidade. Enquanto Need for Speed ia evoluindo jogo a jogo, e continua a ganhar jogos até hoje, Road Rash chegou a ganhar jogo em 3D para Playstation e para Nintendo 64, e algumas versões portáteis para Game Boy Color e, posteriormente, Game Boy Advance. A última aparição do jogo foi em 2006, com uma coletânea para o PSP, enquanto seu último jogo original é mais antigo ainda: Jailbreak, exclusivo de Playstation, lançado em 1999.

Em 2013, o designer da série, Dan Geisler, afirmou que gostaria de voltar a fazer o jogo. Na época, ele afirmou para um fã no Reddit: “fiquei exausto após Road Rash 3. Mas eu estou pronto para fazer um novo jogo agora. Eu só precisei de 20 anos de folga. Estou pronto para fazer um jogo melhor agora. Eu também sinto falta de jogá-lo [Road Rash]. Se houver interesse suficiente, eu farei um Kickstarter para isso“.

No mesmo ano de 2013, apareceu Road Redemption, jogo feito pela DarkSeas Games e que empolgou os fãs da série, além de Dan, com os trailers de exibição. O espírito da série e seu apelo visual estava todo ali, turbinado pela Unity 4. Feito com apoio do Kickstarter, o jogo ficou em desenvolvimento por um bom tempo, e está atualmente em Early Access na Steam. Também há Road Rage, da Maximum Games, prometido para este ano para Xbox One, Playstation 4 e PC. A atenção que estes jogos recebem do público mostram o quanto a EA poderia reunir velhos membros da equipe e desenvolver algo novo para a série. Inclusive, a proposta cinematográfica que insistem em levar para Need for Speed encaixaria muito melhor no jogo de duas rodas. Resta aguardar para ver quando a EA achará interessante trazer de volta a sua série de motos.

Junior Candido é editor do Arkade e você pode seguí-lo no Twitter.

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui! Siga-me em instagram.com/juniorcandido ou x.com/junior_candido

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