RetroArkade – The Great Giana Sisters, um “quase Mario” para o Commodore 64

9 de janeiro de 2022
RetroArkade - The Great Giana Sisters, um "quase Mario" para o Commodore 64

No início da jornada dos videogames, o conceito de clonagem de games era algo meio comum. Era um game fazer sucesso, que surgiam diversos outros jogos idênticos, apenas com mudanças pontuais para se manter na zona cinza entre a “inspiração” e o plágio. Aconteceu com Arkanoid, com Pong, com Space Invaders e, como não poderia ser diferente, com Super Mario Bros.

O game da Nintendo, que fez muito sucesso com o Famicom no Japão, e no NES no restante do mundo, fez com que a indústria observasse um novo gênero, que poderia render muitos games interessantes. Houve quem ampliasse este conceito, criando obras originais, como Contra ou Castlevania, como quem simplesmente usasse a mesma fórmula, com mudanças entre personagens e cenários.

Neste contexto, temos The Great Giana Sisters, um game que não representa apenas um episódio de clonagem de games, como também serve para nos mostrar um episódio muito importante da história dos videogames, que são a febre dos computadores pessoais, especialmente na Europa, como um dos grandes representantes o Commodore 64, que era um dos dispositivos para games mais consumidos no continente naqueles dias.

Mas afinal de contas, o que é um Commodore 64?

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Antes de falar do game em si, vale a pena uma breve recapitulação sobre o que é o Commodore 64. Apesar de ter feito muito sucesso na Europa, a Commodore é dos Estados Unidos, nascida em 1954, para a produção de calculadoras. Logo nos anos 70, passaria a produzir computadores pessoais, impulsionada pela iniciativa da Apple, lançando, em 1982, o Commodore 64.

Foi um sucesso de vendas, com números aproximados de 20 milhões de unidades vendidas. E viveu um tempo único para o mundo dos computadores pessoais, pois, além do Apple II, na Europa também teve a concorrência dos computadores ingleses: Sinclair ZX Spectrum, BBC Micro, e o Amstrad CPC 464.

Tais computadores foram, em um primeiro momento, a porta de entrada para os videogames na Europa. Em matéria que fiz junto com a Embaixada da Suécia no Brasil, os suecos dizem que foi um dos computadores que serviram para os primeiros projetos de programação, além de incentivar não só suecos, mas europeus em geral, a criarem suas iniciativas com foco em jogos, resultando em diversos estúdios que existem até hoje.

No Brasil, no entanto, o computador é totalmente desconhecido. Muito disso é devido à lei de Reserva de Mercado, que proibia importações de eletrônicos em nosso país. Empresas interessadas em comercializar computadores no Brasil clonaram outros modelos, como os da Apple, da Sinclair ou o MSX. Alguns computadores chegaram a entrar em solo brasileiro, mas em números totalmente inexpressivos.

Os altos valores dos computadores, além da oferta muito abaixo da média, se comparado a outros países, somado à introdução dos videogames, como o Atari 2600 ou o Master System (além dos clones de Nintendo) como ferramenta de entretenimento fez com que estes computadores dos anos 80 não fossem tão utilizados em sua época, ao contrário do que aconteceria na década seguinte, com a chegada da Internet.

Hora das irmãs Giana

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Uma das artes do game, para o Atari ST

O game foi feito por Armin Gessert, com apoio de Manfred Trenz na parte gráfica e Chris Huelsbeck cuidando das músicas. Sob o selo da Time Warp Production Inc., o game chegou em 1987 ao Commodore 64. Em seguida, chegaria ao Amiga, Amstrad CPC e Atari ST. E o game não oferece grandes surpresas: é exatamente o mesmo gameplay de Super Mario Bros., que havia chegado anos antes, ao Famicom e ao NES.

A mesma paleta de cores, os mesmos blocos e o mesmo jeito de se jogar, incluindo os power-ups. Mudavam apenas os personagens, que trocavam os irmãos italianos pelas irmãs Giana, com um design que representavam típicas garotas dos anos 80, e a trilha sonora, que usava os recursos sonoros do computador, com uso e abuso de efeitos entre as faixas.

Talvez a grande mudança no gameplay estava mais no hardware, pois o Commodore 64 oferecia um controle no formato de alavanca e botão, diferente do direcional em cruz, que fez a diferença no console da Nintendo. Mas, fora isso, é basicamente um jogo do Mario, feito por outras pessoas.

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Já para o AMIGA CD32, também da Commodore, a apresentação das irmãs era bem diferente

A Nintendo, sempre conhecida por manter um portfólio de advogados sempre prontos para atender seus interesses, não moveu ação contra a a Time Warp Productions e nem contra a Rainbow Arts. A Nintendo, que já era conhecida no mundo jurídico pela recém vitória histórica contra a Universal e o caso envolvendo Donkey Kong, usou outra estratégia, ao invés do processo legal.

Como era muito fácil entender que The Great Giana Sisters era praticamente um clone de Super Mario Bros., o que inclui a primeira fase, idêntica, a Nintendo foi, desta vez, diretamente aos fabricantes, pedindo extrajudicialmente para retirar o jogo das prateleiras, argumentando violação de direitos autorais. Assim, o game praticamente sumiu das lojas, aumentando, assim, o interesse em conhecê-lo, e obviamente, seu valor entre colecionadores, por ser um item raro.

Mesmo assim, o game continuou sendo portado. O ZX Spectrum, por exemplo, teve sua versão, também cancelada. Mas em 1993, a holandesa Sunrise lançou uma versão para o MSX2. E, com o passar do tempo e o trabalho de entusiastas, vários clones do game chegaram a diversos computadores, incluindo os sistemas MS-DOS e Windows. Até o Nintendo DS tem uma versão não oficial do game, que roda em cartuchos com cartão SD.

Mas mesmo sendo facilmente notado como um clone de Mario, The Great Giana Sisters foi reconhecido como um grande game. As revistas europeias especializadas da época elogiaram muito o jogo, com as análises reconhecendo que Super Mario Bros. era melhor, mas isso não tirava o mérito do game das irmãs Giana.

Foi o suficiente para o game ter uma base fiel de fãs até hoje, atingindo o status de game “cult”. A sua trilha sonora, inclusive, está sempre em listas de “melhores trilhas sonoras de games de todos os tempos”, com diversos vídeos com reproduções de fãs das faixas. A trilha sonora chegou a ser interpretada por uma orquestra alemã, a Symphonic Shades.

Temos, assim, mais um game muito interessante, que conta até hoje com entusiastas que compreendem o seu valor. O game, inclusive, não está na lista oficial dos games do Commodore 64 Mini, a versão miniatura do computador que chegou nos mesmos moldes dos consoles em miniatura em 2018. Mas, através da adição de games via USB, é um dos preferidos para quem quer conhecer bons games do computador, ou para quem jogou e sente saudade deste clássico.

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui! Siga-me em instagram.com/juniorcandido ou x.com/junior_candido

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