RetroArkade: Top Gear foi o ritual de iniciação da velocidade gamer
Se hoje temos games e fãs de jogos de corrida, podemos creditar muito disso ao eterno Top Gear, jogo preferido de muita gente até hoje. Vamos relembrar das divertidas corridas?
Muito do que você entende por velocidade gamer, provavelmente é culpa do jogo de hoje da RetroArkade. O game foi praticamente uma cerimônia de iniciação para a velocidade gamer para nós brasileiros, e abriu espaço para muitos outros jogos que chegaram e continuam jogando até hoje.
Você pode ser fã das curvas a 400km/h de Ridge Racer, dos carrões de Need for Speed ou do realismo de Gran Turismo, mas independente da sua preferência, se lhe perguntarem qual é seu jogo de corrida clássico preferido, a resposta seria Top Gear, não seria?
Por isso, venha conosco escolher seu carro, seu estilo de câmbio e vamos juntos acelerar uma vez mais em Top Gear. E já que um dos fatores que faz deste jogo inesquecível é a sua trilha sonora, fica o convite para conferir nossa Sound Test Arkade que fala melhor do aspecto sonoro do game.
No princípio, existia Rad Racer
A história começa nos anos 80 e o sucesso que a Sega havia obtido com Out Run. Seu jogo de corrida, cujo objetivo era chegar até o outro ponto da estrada antes que o tempo esgotasse fez muita gente gastar fichas e fichas nos arcades da época e acabou por inspirar Rad Racer.
Rad Racer foi produzido pela Kemco e lançado para o NES em 1989. Sua “sequência”, Top Gear então já começou a ser desenvolvida para o mesmo console, porém a Nintendo pediu para a equipe levar o novo game para o seu novo console, o Super Nintendo. Com isso o time responsável teve mais tempo para trabalhar no game, que acabou sendo lançado apenas em 1992.
Como o Super NES oferecia mais recursos técnicos e gráficos que seu 8-bit, o pessoal da Kemco ganhou tempo para se adaptar ao novo kit de programação e também para testar suas novidades, que acabaram por entregar um jogo bem feito, completo nos padrões da época e muito divertido, que deve ser a principal proposta de um game.
Aperte Start (e já vá lembrando das músicas do game)
Logo de cara, o jogo já empolgava com a musiquinha de fundo, o logo da Kemco e o “press start” na tela-título. A partir daí, você deveria de cara já digitar a password para continuar ou ir escolhendo nome para o piloto (Player 1 para os preguiçosos), carro, câmbio e com um ou dois jogadores, ir direto pra corrida, sem muita frescura.
A partir daí, as épicas músicas começavam a embalar a corrida, enquando seu carro largava em último, te dando a obrigação de ultrapassar todo mundo até no máximo a quinta posição, ou estará desclassificado. Você também perde se o combustível do seu carro acabar por você não ir reabastecer. E falando em reabastecimento, tá aí uma das poucas críticas ao game. É chato entrar nos boxes, não é mesmo? Primeiro pelo simples fato de que só você precisa reabastecer, fazendo-o perder posições preciosas e segundo, ele é colocado de maneira tão ruim que não são raras as vezes em que você erra o caminho e acaba não fazendo a parada.
Top Gear também incentivava a competição, pois mesmo jogando apenas com um jogador, a tela é dividida, dando a urgência de vencer seu concorrente. Nós brasileiros já vivíamos a guerra Senna x Prost x Mansell x Piquet há alguns anos, por isso curtimos muito este elemento. Ganhar a corrida te dava a posição inversa no grid da próxima corrida e somando o maior número de pontos em um circuito, te qualificava para correr em outro.
Porém o game tem muitas virtudes, como os gráficos, que apesar de contar com pequenas falhas, nos garantia diversidade de tempo e clima, oferecendo corridas noturnas, com subidas, descidas e muitos detalhes. Embora na época era difícil fazer pistas diferentes umas das outras, eles conseguiam passar essa impressão com os detalhes de ambiente, com o fundo dos cenários e até com a maldita placa que acabava com sua paciência quando atingia.
Tudo com uma jogabilidade excelente. Simples e direta, era apenas acelerar e curtir a vista, seja no manual ou no automático. Os nitros ajudavam também, porém precisavam ser usados com maestria, mesmo sabendo que você já os disparava logo na largada, batendo em todo mundo e não fazendo ele servir pra nada!
Qual era o seu carro preferido?
Por questões óbvias de licenciamento, os carros de Top Gear não “tem marca”, mas foram inspirados em possantes reais, que emprestaram o essencial para serem lembrados e evitar processos para os escritórios da Kemco.
O interessante é que, diferente de jogos da época, cada carro tinha seu desempenho próprio, gastando pneus e combustível de maneira diferente de um para o outro. Claro que a molecada não estava nem aí e escolhia mais pelo gosto visual, mas quem se dedicou a dominar cada carro, com certeza pode também se divertir com as configurações específicas de cada um.
O Cannibal era o carro vermelho, inspirado na Ferrari Testarona de 1991. Fazia 237 km/h, demorava 5,9 segundos para fazer de 0 a 100 km/h, tinha pneus de baixa aderência e era o carro que mais bebia combustível; O branco Sidewinder era a Ferrari 288 GTO de 1985, com limite de 210 km/h, demorava apenas 3,5 segundos pra fazer o 0-100 km/h, tinha pneus com boa aderência e consumo baixo de combustível.
Já o carro roxo Razor era o Honda NSX no jogo, atingia 220 km/h, levava 5 segundos para atingir os 100 km/h, contava com baixa aderência de pneus e combustível moderado; e por último, o Wasel, que é o carro verde-azulado inspirado no Porsche 959, faz 0-100 km/h em 4.3 segundos, tem aderência média de pneus e consumo moderado de combustível.
Rodando o mundo
Baseado nos circuitos mundiais de torneios de corridas, o jogo da Kemco também oferece um circuito mundial com pistas em diversas cidades do globo.
Começando pelos Estados Unidos, aonde as pistas de Las Vegas, Los Angeles, Nova York e San Francisco o aguardam. São as pistas fáceis, estão lá apenas para te mostrar como é o jogo e te dar a sensação de ganhar algo.
Depois temos as Américas, com pistas no Rio de Janeiro (sempre o Rio), Peru, México e a Amazônia (Passwords — em ordem de dificuldade: Moonbath / Four Meg / Educated); o Japão (Gearbox / Legend / Oilcloth); Alemanha (Car Park / Theworld / Wreckage); Escandinávia, com pistas na Suécia, Dinamarca, Finlândia e Noruega (Road Hog / Letsrace / Caracole); França (Emulator / Alchemy / Epyllion); Itália (Analyser / A Looper / Glucagon); e por fim, o Reino Unido (Horizons / Seasonal / Keelson).
Terminar os torneios na dificuldade Amateur ou Professional não significa terminar o jogo. Pra terminar de vez e subir ao pódio, é necessário ser excelente e terminar na dificuldade Championship.
Curiosidades em última marcha
Muse na música tema: Já ouviu Bliss, da banda Muse? Se sim, notou certa semelhança, certo? Pois é isso mesmo, a introdução desta canção foi inspirada na música tema do jogo.
Chegue em primeiro e em segundo também: Quem dominava esse bug, ganhava todas sem muitas dificuldades. Se você acertar o carro no meio do poste da linha de chegada e ganhar a corrida, você chega em primeiro e em segundo também, faturando os 20 pontos do primeiro lugar mais os 15 pontos do segundo. Sem atualizações e coisas do tipo, tal bug obviamente está disponível até hoje.
Dos games para a vida real: Em Top Gear você tem que reabastecer o carro para terminar as corridas, mas em Top Gear 3000 você podia passar por um “trecho especial” para recarregar o carro e reparar seus danos, lembra? Pois bem, na Inglaterra, irão testar uma estrada que recarregará o carro durante o trajeto, aumentando a autonomia do veículo. Veja só a “pista do futuro”
Top Gear não deixa mais lançar games Top Gear: Como alguns já sabem, existe o programa Top Gear, da BBC. E com o nome sob o domínio da emissora inglesa, mais os criadores Jeremy Clarkson e Andy Willman, a Kemco não conseguiu mais lançar jogos com este nome após o programa ir ao ar em 2002, já que esbarrava em uma marca agora patenteada. Se antes recuperar o nome já seria difícil, hoje com a demissão de Clarkson, tudo ficará um pouco mais impossível. A decisão que definiu o processo pode ser visto aqui.
TecnoTopGearBrega: Sim, fizeram música da música de Top Gear e com o “melhor” do TecnoBrega. “Aprecie”:
A pista do menu existe: Já se preguntou de que onde raios fica aquela imagem do menu do jogo, não é mesmo? Pois embora não exista confirmação, tudo indica que ali é o Washington Boulevard com a Avenida Jefferson em Detroit, Michigan. Quem assistia a F1 e as corridas do Senna, sabe muito bem que se trata do circuito de rua que era parte do GP dos Estados Unidos da Categoria. Veja um pouco da pista da época em que o Senna corria pela Lótus:
O piloto Ritchie também existe: Lembra do Ritchie, o piloto que sempre te incomodava chegando sempre nas primeiras posições? Pois ele é Ritchie Brannan, programador chefe dos três primeiros Top Gear. Ritchie também passou pela Codemasters, onde ajudou em Grid, e atualmente está no Morphic Void, seu próprio estúdio localizado no Reino Unido.
E depois?
Com o sucesso do primeiro jogo, pequeno lá fora, mas imenso aqui no Brasil, a Kemco lançou Top Gear 2 em 1992 e Top Gear 3000 em 1995, com melhorias gráficas e novas ideias, como a atualização dos carros com a compra de peças ou os danos sofridos durante as provas.
No Nintendo 64 a série ainda ganhou mais alguns títulos e depois não tivemos mais games da franquia. A própria Kemco hoje, se tornou “mais uma” desenvolvedora de jogos móveis, daqueles sem carisma e genéricos.
Porém no último dia 20, tivemos o lançamento de Horizon Chase, a continuação espiritual de Top Gear, já que além de resgatar o espírito das corridas, também conta com a participação de Barry Leitch, o compositor das canções do game. Analisamos o game e você que curte Top Gear, não fique sem ver o que achamos do “retorno”.