RetroArkade: a união de Cadillacs e Dinossauros foi uma das melhores coisas dos anos 90

9 de abril de 2017

RetroArkade: a união de Cadillacs e Dinossauros foi uma das melhores coisas dos anos 90

Nos anos 90, tudo era permitido. Tartarugas (e mais tarde, sapos) podiam tomar forma humana e combaterem o mal; cinco jovens (e depois, seis) foram recrutados de uma escola para salvar o mundo; guerreiros mudavam de cor de cabelo quando ficavam mais forte, e monstrinhos podiam ser colecionados. Em um contexto desse, misturar carrões com dinossauros parece algo sem noção? Não mesmo.

Em meio a máquinas e mais máquinas de arcade que viviam nos convidando para torrar nossa mesada em seus desafios, em 1993 apareceu uma bem diferente, apesar de oferecer o mesmo gameplay de andar e bater como muitos “colegas” de sua época. Porém, o game tinha um brilho especial, só seu, que fazia com que geralmente fosse o eleito para a jogatina. Ainda me lembro da primeira vez que tive acesso ao game, no ano de 1994, ao tomar lanche com minha família e não passar da primeira fase com a minha irmã. Mas o que este game tinha (e tem) de tão especial? Descubra hoje, no Globo Repórter RetroArkade.

Primeiro os quadrinhos

RetroArkade: a união de Cadillacs e Dinossauros foi uma das melhores coisas dos anos 90

Talvez muitos nem sabiam disso enquanto jogavam Cadilacs and Dinosaurs, porém o game nasceu baseado em uma série de quadrinhos bem interessante, de Mark Schultz e que teve sua estreia em 1987, ainda com o nome de Xenozoic Tales. Na história, a humanidade encontrou seu próprio fim devido a desastres naturais causados pelo descaso do homem, obrigando os poucos humanos que restaram a viver no subterrâneo, criando assim uma nova civilização e estilo de vida abaixo da terra.

No ano de 2513, ao perceber que era seguro retornar para a superfície, os humanos dão de cara com algo bem interessante: os dinossauros, extintos na Pré-História, estão de volta, e, ao contrário dos livros de história, conviviam de maneira dócil e amistosa com todos os seres vivos, independente do dino, de maneira muito semelhante ao que vemos no começo de Jurassic Park. Mas assim como no filme, o caos com os dinossauros começou quando uma gangue especializada em caça-los, chamada de Black Marketers, provocou tanto os bichos que os deixaram enfurecidos e, como forma de se defender, passaram a atacar todos os que se aproximavam.

É neste contexto que Jack Tenrec, Hannah Dundee, Mustapha Cairo e Mess O’Bradovich decidem botar ordem no barraco e partem em uma jornada, a bordo de um Cadillac “da era passada” para colocar fim na tal gangue e em seu chefe. É este o enredo que vemos nas HQs, no game e também em uma animação, que passou por algum tempo no extindo Band Kids. Para refrescar a sua memória, segue a abertura do desenho:

Mas uma hora a gente tinha que jogar, não é mesmo? Pois pegando carona no sucesso e observando o potencial que o jogo tinha, somado ao know-how da Capcom com games de pancadaria, e sua iniciativa de fazer jogos diferentes ao invés de cansar apenas uma franquia, tivemos a oportunidade de conhecer então os dinossauros, a gangue que fazia mal a todos eles, e os valentes que decidiram colocar fim na festa dos maus.

Pancadaria, tiroreio e dinossauros nervosos

O gameplay de Cadillac and Dinosaurs é simples e muito parecido com o que já havíamos jogado desde Double Dragon e Final Fight: é andar para o fim da tela, espancando todo mundo a quem se tem direito e encontrando um chefe apelão ao final. A diferença aqui estava no universo dos quadrinhos, que trouxe boas inspiraçòes para os desenvolvedores, que foram reproduzidas em boas ideias, dando ao game um ar de originalidade e exclusividade, mesmo sendo muito parecido com seus contemporâneos.

Primeiro de tudo, temos que falar da questão do enredo. É claro que a maioria que se metia a jogar o game não fazia ideia das razões de se ter dinossauros no jogo, e muito menos dos eventos que ocasionaram a situação de combate dos personagens, mas sim, temos aqui algo bem mais profundo do que “salve a garota” ou “bote fim na gangue má”. Conhecendo melhor a trama, fica ainda mais legal jogar, por conhecer uma história nova e, na medida do possível, ir conferindo os acontecimentos e se prender na trama, o que é algo louvável em um game que exige apenas vontade de esmagar botões e bater nos outros.

Mas mesmo no gameplay, boas ideias fazem com que o jogo não fique repetitivo, um problema que já era sentido nessa época. Temos, por exemplo, um curioso e útil “especial”: lembra que mencionei que os dinossauros eram dóceis até serem provocados? Pois eles estão nas fases do jogo, quietos e numa boa, mas se der umas cacetadas neles, eles ficam descontrolados e partem pro ataque, te ajudando involuntariamente a espancar uns caras maus já que eles batem no que aparecer em sua frente, exigindo cuidado do jogador para não apanhar também.

Além disso, tínhamos armas á disposição, e em abundância. Eram pistolas, metralhadoras, facas e muito mais que podiam ser encontrados pelas telas ou tirados de inimigos caídos, trazendo um pouco mais de violência e sangue, ao se metralhar um inimigo. Como não houve adaptações para consoles domésticos, fica aí a sugestão de imaginar como tal game seria portado para um Super Nintendo com a famosa restrição de censura da Big N.

Tínhamos também o ataque em dupla, muito divertido de se fazer jogando com um amigo, de maneira semelhante ao que fazíamos no arcade dos Simpsons, e por fim, uma fase especial que consistia em dirigir o Cadillac atropelando tudo e todos, tomando cuidado com os obstáculos. Essa variedade foi um dos fatores que muito chamou a atenção na época, somando a isso o visual muito bem caprichado e detalhado dos personagens e cenários, além de uma competente trilha sonora.

Mas cadê as conversões?

RetroArkade: a união de Cadillacs e Dinossauros foi uma das melhores coisas dos anos 90

Pois bem, elas não existem, mesmo, e podemos imaginar várias razões. A violência exibida no jogo ia totalmente contra a política mais conservadora dos games que, mesmo com Mortal Kombat já causando impacto, iria exigir muito trabalho dos responsáveis para tirar, por exemplo, as animações de tiro e sangue que eram comuns nas fases. Questões de direitos autorais também podem ser levados em consideração, já que os quadrinhos são licenciados e a marca Cadillac também se fazia presente, fazendo com que mais negociações tivessem que ser feitas, o que poderia significar um risco, caso o jogo não vendesse bem em outros sistemas.

Mas, independente das razões, nenhuma delas nunca confirmadas, o fato é que nunca houve versões do game, para nenhum console ou computador. O que tivemos apenas, foi um game da marca, mas totalmente diferente, lançado para Sega CD e computadores em 1994. O game utilizava os recursos de filmes interativos, os FMVs, populares para o sistema de CD da Sega na época e trazia um gameplay de tiro com os personagens no Cadillac. Pela baixa procura do Sega CD e por não se tratar de uma adaptação legítima do sistema, o jogo acabou passando batido.

E quando os dinossauros voltarão?

RetroArkade: a união de Cadillacs e Dinossauros foi uma das melhores coisas dos anos 90

Acredito que apenas no ano de 2513, se os eventos narrados nas HQs se tornarem verdade. A verdade é que, se o game não contou nem com conversões em sua época de glória, o que faria Capcom e os detentores de outros copyrights se unirem para fazer um remake, remaster ou seja lá o que for? Infelizmente Cadillacs and Dinosaurs foi um jogo feito apenas para arcades e nos arcades que ele ficará para sempre.

Não é bem um problema, já que o game é totalmente jogável e bacana de se curtir hoje, ainda mais com essa febre de arcades caseiros que estão aparecendo por aí. Mas, com certeza, uma versão com visual atual, personagens desenhados à mão e algumas novidades no gameplay fariam muito sucesso, pelo menos com a galera mais velha. Resta torcer para que, algum dia, alguém que possa fazer algo a respeito possa unir Cadillac, Capcom e a turma das HQs e oferecer novamente a chance de visitarmos esse mundo em que dinossauros andam novamente entre nós.

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui! Siga-me em instagram.com/juniorcandido ou x.com/junior_candido

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