Só a SEGA pra conseguir a façanha de unir Batman e o Homem-Aranha no mesmo game

31 de janeiro de 2023
Só a SEGA pra conseguir a façanha de unir Batman e o Homem-Aranha no mesmo game

Marvel e DC até que tiveram parcerias interessantes durante a história dos quadrinhos. Mas, nos games, seus personagens só aparecem juntos em jogos feitos por fãs, ficando cada um “no seu quadrado” nos mais variados games, pelas mais variadas gerações. Mas a SEGA, sempre fanfarrona, conseguiu a façanha de unir dois personagens de universos tão distintos, em um mesmo game. O Revenge of the Shinobi, no caso.

Melhor: em um game de ninjas, aparecendo como chefes e, obviamente, com nenhum direito autoral incluso. Lançado em 1989, o jogo traz algo completamente impensável para um game atual: a presença não só do Batman ou do Homem-Aranha, como também o Hulk, o Exterminador do Futuro, o Godzilla e o Rambo. É praticamente a Carreta Furacão dos games.

É natural, em vários games, existir uma referência ou outra a algum personagem. O próprio Batman, seja em Final Fantasy XV (em Episode Ardyn), no Mario Kart: Double Dash, ou em DragonFable, há referências ao Batman, porém sem nenhuma imagem oficial do herói, justamente por questões envolvendo direitos autorais.

Mas em 1989, lá na SEGA, nada disso. E olha que na mesma época a SEGA tinha licenciado o Rambo para um jogo baseado em seu terceiro filme. Posteriormente, todos os personagens que “apareceram” em Revenge of the Shinobi teriam presença nos consoles SEGA com jogos próprios. E licenciados, claro.

A primeira versão de Revenge of the Shinobi, que é que saiu no dia de lançamento do game, é a mais rara de ser encontrada em cartucho, por contar com todos os “convidados especiais”. Com uma mudança digna daqueles jogos “clones” dessa época, feita por estúdios de origem completamente duvidosa, por aqui tanto Batman quanto o Homem-Aranha são criaturas que se transformam nos personagens, ao invés de serem “humanos que vestem um uniforme”.

Como não poderia ser diferente, o jogo foi sofrendo adaptações com o passar do tempo. Nunca foi claro se a SEGA foi processada ou apenas notificada, ou se a mudança aconteceu por causa de toques internos de seus advogados. Entretanto, como o jogo teve quatro alterações ao longo dos anos (sim, anos), é quase certo que o jurídico da companhia teve uma certa dor de cabeça com o game. Isso se não levarmos em consideração que os advogados da empresa poderiam ter jogado o game apenas para achar possíveis infrações de copyright.

Pouco tempo depois do primeiro jogo, surgiu a versão 1.01, que “transformava” o Batman em um morcego um pouco mais animalesco, e menos “protegido por direitos autorais”, enquanto os Rambos, que eram inimigos do game, ficaram carecas. Na versão 1.02, de 1990, o Homem-Aranha não foi removido, porém aparecia a informação de copyright nas primeiras telas do game, afirmando que a Marvel agora permitia o uso de seu herói no game. Tal licença tem a ver com jogos do herói que sairiam posteriormente para o console, como o The Amazing Spiderman Vs. The Kingpin, que chegaria em 1991.

Mas como os outros “problemas” ainda estavam presentes no game, chegou mais uma atualização, a 1.03, que é a mais conhecida, por ter sido mais popularizada, e que não foi trocada das prateleiras. Quem foi alterado, desta vez, foi o Godzilla, que foi trocado por um esqueleto de dinossauro.

Desde então, esta foi a versão definitiva do game, que acompanhavam os cartuchos do jogo para o Mega Drive, enquanto o 16-bits da SEGA teve sua vida útil. O jogo não era relançado em coletâneas, até que a Nintendo surgiu com o seu Wii, 17 anos depois. Que, entre várias propostas, também trazia o Virtual Console, uma plataforma de jogos que permitia que o jogador comprasse e jogasse games de consoles antigos, entre eles o Mega Drive.

E assim, Revenge of the Shinobi foi relançado, porém com a sua última atualização, a 1.04. E ela foi necessária para lidar com uma última questão: o Homem-Aranha. Como naqueles dias a SEGA já não tinha mais direito de usar o personagem, eles resolveram transformar o herói num ser rosa, que mantinha o que era essencial para o gameplay, mas que mantivesse a SEGA longe dos tribunais.

O game foi alterado quatro vezes, porém nunca em sua essência. As mudanças envolvendo questões de direitos autorais sempre eram resolvidas por iniciativas que mudavam o visual, mas mantinham a ideia original de gameplay. De qualquer forma, sabe-se lá o motivo, dois personagens foram mantidos inalterados, até na versão de Wii: os que lembram o Hulk e o Exterminador. Estes personagens “inspirados” nos heróis talvez passaram pelo “pente fino” e foram considerados aptos para estarem no game.

Tanto é que poderiam ter sido mudados em versões posteriores, mas foram mantidos em sua “forma original”. Mas nem preciso falar que a comunidade de fãs, como sempre, fez o trabalho inverso e disponibilizou, há algum tempo, uma hack para o game, que “devolve” todos os personagens protegidos por direitos autorais, especialmente o Batman e o Homem-Aranha. Pelo menos, assim, a SEGA não vai precisar lutar contra eles. Só o Shinobi.

Junior Candido

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