Sound Test Arkade Faixa 10 – Yasunori Mitsuda / Chrono Cross
Na edição de número 10 da Sound Test Arkade, iremos relembrar um dos melhores trabalho de um dos compositores mais importantes da história da música nos videogames: falaremos da composição de Yasunori Mitsuda para Chrono Cross.
Para os fãs de RPG japonês (JRPG), o final da década de 90, com a até então Squaresoft nos seus tempos áureos, foi um prato cheio e provavelmente o início da estabilização de um gênero que perdura até hoje. E nós, que amamos música nos videogames, também não podemos reclamar.
Dentre várias composições brilhantes que essa época dos videogames nos proporcionou, hoje vamos apresentar um pouco da grande (literalmente) obra de Yasunori Mitsuda e seu casamento perfeito com Chrono Cross, que, se me permitem a franqueza, é um dos meus jogos favoritos de todos os tempos.
O jogo
Lançado pela Squaresoft (hoje Square Enix) em 1999 para o primeiro Playstation, Chrono Cross fez parte do “boom” de RPGs japoneses publicados para o console na época e que teve seu maior expoente em Final Fantasy VII, lançado dois anos antes, pela mesma Squaresoft.
Desenvolvido por uma divisão diferente da que fazia os jogos da série Final Fantasy, Chrono Cross foi uma sequência não-direta de Chrono Trigger, um dos maiores sucessos da geração anterior, no Super Nintendo. E conseguiu manter o nível, acendendo algumas discussões sobre qual seria o melhor jogo da série.
O protagonista de Chrono Cross é Serge, um menino de 17 anos que um dia acorda em um universo alternativo onde ele morreu afogado aos 10 anos de idade. E, determinado a descobrir o que está acontecendo, ele acaba entrando em uma jornada onde se descobre a única pessoa capaz de salvar o mundo (como em todo bom RPG japonês da época).
Tal qual seu predecessor, Chrono Cross tinha destaque total na sua história. Se no primeiro jogo, o personagem principal podia viajar pelo tempo, agora a viagem era por universos paralelos, que tinham eventos e personagens diferentes para interação. Aliás, o números de personagens recrutáveis é algo que merece destaque, pois 45 (quarenta e cinco!!!) diferentes poderiam ser incluídos no seu time. Todos com histórias, habilidades e motivações únicas.
Contudo, era impossível obter todos em uma única campanha, já que os eventos que levavam a recrutar um determinado personagem poderia automaticamente te afastar de outros. Contudo, os diversos finais possíveis (tipo, só 11…) no jogo serviam de motivação para iniciar um New Game+.
No que diz respeito a jogabilidade, Chrono Cross mantinha um padrão parecido com o da série Final Fantasy. Batalhas por turnos com o controle de três personagens, onde os Elementos eram responsáveis pelos efeitos mágicos e precisavam ser equipados. Algo parecido com as Materias do Final Fantasy VII.
Uma das marcas registradas dos RPG japoneses da época, eram suas cenas feitas em computação gráfica (a famosa CG) que contavam parte da história na maior parte das vezes com direções épicas. Estas, chamavam muita atenção na época em que os jogos engatinhavam na construção de cenários e personagens poligonais. E Chrono Cross, é claro, não ficaria de fora. E, na humilde opinião deste que vos escreve, recebeu uma belíssima cena de abertura conduzida por provavelmente uma das músicas mais bonitas que já ouvi.
Veja a abertura de Chrono Cross ao som de Time’s Scar:
O Compositor
Tendo aulas de piano desde os cinco anos, Yasunori Mitsuda decidiu virar um compositor independente inspirado pelas trilhas de Blade Runner e A Pantera Cor-de-rosa. Ele tinha acabado de terminar o colegial quando viu um anúncio na famosa revista japonesa Famitsu de uma vaga de emprego para produtor musical na Square.
Ele enviou uma demo tape para a empresa e foi chamada para uma entrevista. Lá, foi entrevistado por ninguém menos que Nobuo Uematsu e apesar do próprio Mitsuda já ter revelado que foi “desastroso” nessa entrevista, Uematsu enxergou talento no jovem que entrou para a Square em 1992.
No início da carreira na empresa, Mitsuda começou trabalhando como engenheiro de som e criou os efeitos sonoros de jogos como Secret of Mana e Final Fantasy V. Contudo, como ele tinha o sonho de ser compositor, deu um ultimato a Hironobu Sakaguchi, criador da série Final Fantasy e até então vice-presidente da Square: ou ele teria a oportunidade para compor, ou sairia da empresa.
Então, Mitsuda foi escolhido para ser o compositor único de um novo jogo da empresa, que tentava fazer um RPG um pouco diferente do que eles estavam acostumados até então. E foi assim que Yasunori Mitsuda assumiu a composição de Chrono Trigger.
O compositor estava tão engajado em tornar a trilha sonora deste jogo um sucesso, que compôs 54 faixas e, num ritmo de trabalho extenuante, chegou até mesmo a desenvolver uma úlcera que o obrigou a ser internado e a Nobuo Uematsu e Noriko Matsueda terminarem seu trabalho.
Após o já conhecido sucesso de Chrono Trigger, Mitsuda ainda teve destaque nas composições de Xenogears, Front Mission: Gun Hazard, Mario Party e, é claro Chrono Cross.
A Trilha
Como toda saga épica de JRPG, as orquestrações são a palavra de ordem em Chrono Cross. Contudo, Mitsuda mostrou ter buscado influência em diversos gêneros musicais ao redor do mundo. De música celta, passando pelo fado português e típicas percussões africanas, pode ser encontrado de tudo um pouco na trilha de Chorno Cross, que possui três CDs e 67 faixas no total, somando mais de 3 horas de música.
Amante das artes, Mitsuda já revelou que a inspiração para as suas músicas veio dos livros de artwork do jogo. E que ele decidiu como a música vai soar dependendo da arte de cada cenário, combinando diretamente com Masato Kato, diretor do jogo. Após as músicas estarem prontas, a dupla tirou um dia para ouvi-las e decidir quais entrariam no jogo, neste momento Kato admitiu que chorou ao ouvir o tema do final.
A trilha sonora do jogo fez tanto sucesso que, além de ganhar o principal prêmio no Playstation Award de 2000, foi relançada em 2005 por conta da demanda dos fãs, que até hoje fazem remixes das canções. O que originou algumas versões ainda mais sensacionais que as originais, como essa:
Tema da abertura de Chrono Cross, Time’s Scar (ou Scars of Time. Coisas da tradução japonês/inglês) além de receber dezenas de versões, ainda é recorrentemente lembrada na lista de melhores músicas dos videogames de todos os tempos.
E assim terminamos mais uma edição da Sound Test Arkade. Deixe nos comentários quais sua lembranças sobre a música de Chrono Cross, qual “Chrono” é o melhor, e quais trilhas sonoras vocês querem ver aqui nas próximas edições!
Ilustrações usadas na capa criadas por Fen Zhu Design e pelo usuário arnef em Zero Chan.