Sound Test Arkade Faixa 14 – Yoko Shimomura / Street Fighter 2
É a vez dos World Warriors participarem da Sound Test Arkade, com uma artista que colaborou e muito para fazer de Street Fighter 2 um dos maiores de todos os tempos. Aumente o volume e vamos curtir juntos mais uma faixa da Sound Test.
O Jogo
Sério mesmo que temos que “apresentar” Street Fighter 2? De 1991 até os dias de hoje, o game não apenas é um dos mais famosos e jogados de todos os tempos, mas também definiu um gênero e também serviu para ajudar a alavancar os games ao status de ícones da cultura pop. Sim, sei que Mario já existia, mas não tem como negar o empurrão que Ryu, Chun Li e companhia deram para este “status”.
Lançado primeiro para Arcade, depois para versões dos consoles de sua época, como o Mega Drive e o Super Nintendo, mas ganhando mais tarde várias outras versões, como a Collection para o PSOne com as três versões de SF 2, a Anniversary Collection para o PS2 e até a versão brasileira autorizada pela Capcom para o Master System (isso sem falar da versão para iOS e Android) fazem do título um dos obrigatórios na cartilha gamer.
A Compositora
Yoko Shimomura é a pessoa a qual você tem que agradecer se você ouve até hoje as trilhas animais de Guile, Ken, Ryu e de todos os outros. Como era bem comum na época, o pessoal que participava do desenvolvimento de um game raramente contava com seu nome nos créditos e se rolasse isso, era um pseudônimo que iria aparecer na tela. Com Shimomura não foi diferente, e acabou que a composição tem a assinatura de Pii♪.
Em um meio aonde as mulheres raramente tinham oportunidades, Yoko não só tomou posição à frente da composição, como fez praticamente todas as músicas do game. Isao Abe (Oyaji), que assumiria o bastão mais tarde, compôs a faixa de Sagat, de Here Comes a New Challenger e a da tela de VS, aquela que antecedia as lutas. Mas as faixas eternas de Guile, Ryu, Ken e a música-tema, além das faixas de encerramento das histórias dos personagens, que são reproduzidas e adaptadas em versões eletrônicas, com guitarras e muitas mais até hoje são todas de Shimomura, o que assusta pelo fato de ter acertado vários raios em um só lugar e em um só game.
Esta mulher não seria apenas uma boa compositora, seria conhecida como “a mais famosa compositora de games do mundo”.
Em entrevista para a Red Bull em 2014, Yoko explicou um pouco sobre a abertura para as mulheres que a Capcom tinha na época, caminhando na contramão de uma indústria (até hoje) predominantemente masculina: “Quando entrei na Capcom, os principais compositores foram divididos em projetos corporativos e de consumo. E as melhores compositoras em ambos os setores eram mulheres. Eram talentosas e faziam boa música, por isso senti que, se as cabeças das equipes eram mulheres, era mais fácil que outras mulheres participassem do departamento. Uma vez que elas já estavam lá antes de que eu entrasse na empresa, não sei como chegaram ao topo. Mas sei que elas entendem as necessidades das outras mulheres, por isso foi tranquilo para mim trabalhar lá (na Capcom).”
Ela também tocava piano na banda Alfh Lyra (ou Alph Lyla, você decide), banda da Capcom que compunha diversas músicas para vários jogos da empresa e participou da Game Music Festival ’92. Ouça aí esse medley antológico de Street Fighter 2 que faz parte da compilação do festival e é espetacular! Faz favor de aumentar o volume e depois nos agradeça nos comentários, pois esse medley é F*** PRA C******!!!!
Após o sucesso de Street Fighter 2, game que a própria Shimomura confessou que não sabe dar um hadouken ou um shoryuken direito, foi trabalhar na Square em 1993, e ficou lá até 2002, saindo em grande estilo: Kingdom Hearts é o game de despedida do estúdio da compositora, que hoje atua como free lancer, e terá seu talento em Final Fantasy XV e Kingdom Hearts III.
A Trilha
Inesquecível.
É esta a palavra que usamos pra definir a trilha sonora de Street Fighter 2.
Shimomura diz que Breath of Fire foi o seu game, mas sabe que foram os World Warriors que marcaram sua vida para sempre. Ao invés de criar músicas temas para cada personagem, ela usou de liberdade para imaginar como seriam as músicas de cada país, trazendo elementos típicos das variadas culturas, mas sem apelar para os clichês.
Logo no começo, com aquela cena antológica da briga com o prédio ao fundo, o cartão de visitas foi bem entregue. A adrenalina vai a mil e a música-tema de Street Fighter 2 é o convite perfeito para que você coloque suas fichas apenas neste jogo e em nenhum outro. No concorrido e barulhento espaço das casas de arcade, quem cativasse mais o jogador, levava vantagem. Como o game em questão foi apenas um dos maiores fenômenos dos games de todos os tempos…
A faixa de Blanka, por exemplo, poderia ser recheada de clichês, mas tem apenas a “casca” tribal, típica de um guerreiro da Amazônia. Sua essência é recheada de tensão, afinal de contas estamos enfrentando uma “fera” que dá choque. Chun Li tem uma faixa mais clichê, mas nem por isso, menos competente, com elementos da música chinesa fazendo conjunto com uma faixa um tanto mais acelerada do que o normal, até para ajudar uma lutadora veloz.
Bison apresentava o último estágio com uma faixa levemente puxada para algo militar, afinal o personagem é um ditador, mas também adicionando o drama do último combate. Zangief tinha uma trilha eletrônica “demais” para o gosto soviético, mas tinha tudo a ver com o personagem.
Mas existem três faixas nas quais Yoko se supera: duas estão nos Estados Unidos e Japão. Na “casa” de Ryu, uma faixa que deveria ser cantada embala os combates, tem uma levada dançante e heróica; Ken luta empurrado por uma trilha extremamente rock’n roll, enquanto o tema de Guile apresenta a imponência de um lutador forte, um soldado que busca vingança.
Mas independente da sua música favorita, a verdade é uma só: todas elas conseguiam inserir o jogador no universo de Street Fighter, grudando faixa por faixa na mente da gente e adicionando mais adrenalina no prazer que era encarar os guerreiros mundiais em um fliperama, com toda aquela música alta que eles ofereciam com prazer em sua era de ouro.
Todas as faixas, da primeira até a última que o jogador ouve enquanto aproveita o game, mostram a qualidade do trabalho de Yoko Shimomura, e ajudou a definir Street Fighter 2 como um dos gigantes dos games. Street Fighter 2 é jogado e lembrado por seus Hadoukens, Shoryukens, Tiger Uppercuts, mas também é jogado e lembrado por causa de sua épica trilha sonora, a qual merece ser melhor conhecida por todos aqueles que apreciam o que os games oferecem de melhor.