Sound Test Arkade Faixa 2 – Daisuke Ishiwatari / Guilty Gear XX: The Midnight Carnival
Na segunda edição da Sound Test Arkade, decidimos sair dos synths e batidas eletrônicas de Yuzo Koshiro para cair de cara no caos e adrenalina que são os riffs de guitarra de Daisuke Ishiwatari em uma de suas melhores obras, Guilty Gear XX: The Midnight Carnival.
É isso mesmo, vamos falar sobre o homem que criou uma das melhores franquias de jogos de luta nos últimos anos e ainda foi responsável por toda sua trilha sonora. Mas desta vez, vou falar da minha trilha favorita, que está em Guilty Gear XX: The Midnight Carnival.
Mas como de praxe, antes de começarmos eu quero que você vista aquela camisa velha do Metallica que está soterrada no guarda roupa, pegue o seu soco inglês e caia de cara no primeiro mosh pit que encontrar. Ou você pode ir no caminho mais seguro e dar o play aqui embaixo para escutar a trilha sonora completa do jogo que estamos falando:
O JOGO
Assim como a maioria das franquias de jogos de luta que temos hoje em dia, a franquia de Guilty Gear está na ativa já faz um tempo. O primeiro jogo, simplesmente nomeado Guilty Gear, foi lançado em 1998 bem na época do Playstation e a série continuou aparecendo nos consoles da Sony, nos fliperamas japoneses e recebeu versões especiais em outros consoles, como no Nintendo DS, PSP e Xbox 360. A franquia continua recebendo jogos em uma frequência aceitável, sendo que Guilty Gear Xrd saiu em Fevereiro nos fliperamas japoneses e agora em dezembro foi lançado para PS3 e PS4.
Digamos que a história de Guilty Gear é um tanto quanto complexa para um jogo tão simples que consiste em enfiar a porrada em todo mundo. Tudo começa em 2010, quando a humanidade encontrou uma nova fonte de energia e poder conhecida como Mágica. Enquanto a Mágica se tornou a solução para os problemas de energia do mundo, ela também serviu como a causa de várias guerras durante os anos pelo seu imenso poder sobre as pessoas.
Aquele poder em questão acabou se combinando com os humanos e animais criando uma arma viva e extremamente perigosa, chamada Gears. Em um momento estas mesmas armas vivas se voltaram contra a humanidade e assim começou uma guerra infindável que dura mais de um século.
No primeiro jogo a guerra envolve Justice, líder dos Gears e a nova organização criada para combatê-los, conhecida como a Sacred Order of Holy Knights. A batalha chegou ao fim quando Justice foi derrotado e enviado para uma prisão dimensional que, por sua vez, acabou desativando todos os Gears. Pelo menos era isso o que eles queriam que a humanidade pensasse.
Cinco anos se passam e um novo Gear surge para tirar Justice de sua prisão e retornar com seus planos contra a humanidade. Assim as Nações Unidas procuraram os diversos lutadores que possam derrotar Justice e o Gear que o tirou da prisão, Testament. A franquia em si continua a história em cima desta trama entre Justice, os Gears e a humanidade que faz o máximo para impedir esta ameaça. Por isso o jogo consegue ter uma variedade imensa de lutadores, cada um com sua ambição, objetivo e passado que o tornou tão obstinado em seguí-lo.
E assim vamos para Guilty Gear XX: The Midnight Carnival, o terceiro jogo da série lançado em 2002 pra os fliperamas e no PS2. A história segue algumas semanas após o fim de Guilty Gear X onde surge uma organização chamada Post War Adminstration Bureau, que pretende acabar com o restante do Gears refugiados pelo mundo afora, e para isso eles criam um exercito de robôs que possuem os mesmos poderes de um dos personagens principais na história, Ky-Kiske. A trama em paralelo envolve a misteriosa personagem, I-No e a sua luta incessante em destruir seu mestre e criador dos Gears, chamado como That Man.
A variedade de personagens é relacionada diretamente com a criatividade de seu criador, Daisuke Ishiwatari, Guilty Gear XX: The Midnight Carnival contém 23 lutadores e cada um deles tem sua própria historia, o que é motivo pelo jogo ter um final diferente baseado no personagem que você jogou.
O COMPOSITOR
Nós percebemos que Daisuke Ishiwatari tem um bom gosto musical quando notamos as diversas referências musicais em suas criações. O compositor/designer/ilustrador/desenvolvedor ficou bastante conhecido apenas em Guilty Gear, mas o seu trabalho começou um pouco antes quando estava na SNK ajudando a desenvolver os jogos da série Last Blade.
Ishiwatari saiu da SNK e foi para a Arc System Works, onde criou o seu primeiro jogo por completo trabalhando com a história, o design de personagem, a dublagem de Sol Badguy e claro, sua trilha sonora pauleira. O sucesso do primeiro jogo o fez desenvolver uma série que até hoje continua firme e forte e é considerada uma das melhores franquias de jogos de luta já criadas. O mundo que Ishiwatari criou é vivo e extremamente colorido, com personagens originais e cativantes, além de compor músicas que facilmente poderiam ter saído de uma banda de rock verdadeira.
Sua inspiração musical é relacionada diretamente com a sua criatividade, Ishiwatari é um homem que coloca a música em primeiro lugar e como a sua “musa inspiradora”. Quase todos os personagens no jogo fazem homenagens a bandas favoritas de Ishiwatari, temos o caçador de recompensas Sol Badguy, em que seu nome verdadeiro é Frederick e “Badguy” era o mesmo apelido do cantor da banda Queen, Freddie Mercury; O estranho lutador Zappa é uma referencia ao músico Frank Zappa, assim como vários outros, incluindo a aparência e nome de Axl Low em referência ao Axl Rose de Guns N’ Roses, o personagem Slayer em relação a banda de trash metal de mesmo nome, e Ky Kiske e seu nome que é derivado dos dois músicos conhecidos na cena de Power Metal alemão, Michael Kiske e Kai Hansen, que faziam parte da banda Helloween.
Mas as referências não acabam em nomes, sendo que golpes, trilhas sonoras, riffs de guitarra e praticamente o mundo inteiro que envolve a série Guilty Gear é uma grande homenagem ao gênero Rock e Heavy Metal. O sucesso de Guilty Gear fez com que Daisuke Continuasse a ser um dos responsáveis pela reputação da Arc System Works, que subsequentemente desenvolveu BlazBlue, que também é considerado como um sucessor espiritual de Guilty Gear, além do próprio Daisuke ter trabalhado na trilha sonora de Hard Corps: Uprising.
A TRILHA
Como havia dito, a trilha sonora de Guilty Gear XX: The Midnight Carnival consegue atingir pontos extremamente altos em sua composição. Ishiwatari não fez uma simples música de rock como pano de fundo para a pancadaria, mas compôs algo com alma e coração, dando personalidade na música que ressonava em cada lutador. A trilha sonora que simboliza a batalha entre Sol e Ky, intitulada Noontide, prepara o jogador com uma sensação indescritível de adrenalina em que você sabe como a luta entre estes dois rivais será excitante.
E Ishiwatari trouxe emoção em sua música com diversos instrumentos, claro que a guitarra elétrica e bateria está lá desde o começo mas cada trilha tem sua própria identidade graças aos instrumentos especiais utilizados para aquele personagem e também do próprio estilo apresentado, então por exemplo, temos Good Maners and Customs de Zappa que utiliza sintetizadores; Haven’t you Got Eyes in Your Head do Slayer complementando com um clarinete; Suck a Sage de Chipp Zanuff intensificando o uso de riffs e dando claras inspirações a músicas de Megadeth, especialmente a Last Rites/Loved to Death; Além dos diversos usos do piano, guitarra elétrica e violão em diferentes tons para complementar o restante da trilha sonora.
A triha sonora de Guilty Gear XX: The Midnight Carnival foi tão bem trabalhada que até ganhou versões vocais produzidas por artistas musicais, desde o seu lançamento três versões da mesma trilha sonora foram criadas, incluindo a Guilty Gear XX In L.A. Vocal Edition com a performance de A.S.H. e sendo produzida por Jay Gordon da banda Orgy, e Guilty Gear XX in N.Y. Vocal Edition com os vocais do vocalista da banda de rock industrial Godhead, Jason C. Miller, sendo que ambas foram lançadas em 2004. Dois anos depois Guilty Gear X2 #Reload Korean Version Original Soundtrack foi lançada com a produção de Shin Hae Chul contando com a performance de sua banda, N.E.X.T.
Acredito que é uma atenuação dizer que a trilha sonora de Guilty Gear XX: The Midnight Carnival é somente boa, a composição e trabalho de Daisuke Ishiwatari brilha ainda mais neste jogo e é facilmente a mais icônica e bem feita até hoje do artista. Um dos maiores feitos de Daisuke Ishiwatari é mostrar que a música é um componente crucial no desenvolvimento de um jogo e acaba sendo tão importante quanto jogabilidade e história. Por isso mesmo Guilty Gear XX: The Midnight Carnival se torna um dos meus jogos favoritos de luta por Daisuke encontrar o tom certo em todos os seus elementos, especialmente em sua impressionante trilha sonora.
O que achou de nossa homenagem a Daisuke Ishiwatari e sua trilha sonora encontrada em Guilty Gear XX: The Midnight Carnival, tem alguma música favorita de todas estas que mencionamos? E qual é próxima trilha sonora que devemos homenagear na Sound Test Arkade? Deixe a sua sugestão nos comentários!
*Arte da capa: KageAkira