O mundial de Sonic & Knuckles em Alcatraz, registrado pela Videogame em 1994
Quando vemos hoje os eSports, e seus muitos torneios, jogadores, e games feitos para o cenário, sempre dá uma vontade de imaginar como seria esse mundo no passado, não é mesmo? Pois a competitividade em videogame não é algo recente, com registros de torneios importantes nos já longínquos anos 90.
Além dos conhecidos campeonatos da Nintendo, que ofereciam o que hoje é uma das fitas de videogame mais rara do mundo, a SEGA usou da competitividade para promover o seu recém-lançado Sonic & Knuckles. Com direito a título de “maior jogador hardcore do mundo”, alta premiação, e finais no lendário presídio de Alcatraz, relembre com a gente este episódio da história dos videogames.
Que tal representar o Brasil no mundial de games da SEGA?
A matéria em questão saiu na revista Videogame, de novembro de 1994. Nela, o foco estava em Luciano de Souza, que tinha 19 anos na ocasião. Paulistano, ele venceu 400 jogadores em uma etapa brasileira, que não tem mencionada na revista nem onde ocorreu, e nem a maneira utilizada para a classificação.
Mas a revista acompanhou Luciano, conseguindo uma declaração do jogador. “Foi uma experiência super legal. Agora é treinar mais para voltar no ano que vem”, explicou. O brasileiro não conseguiu chegar às semi-finais. O torneio funcionou um pouco diferente do comum para a época. O normal entre os torneios de games era a soma de pontos em um tempo de jogo, tal qual ocorria nos eventos da Nintendo.
Mas no torneio da SEGA, a escolha foi o número de argolas que poderiam ser coletadas em três minutos. Este formato traria mais drama para a disputa, pois um vacilo e todas as argolas recolhidas poderiam ser perdidas. E foi exatamente isso o que aconteceu com Luciano, que, ao tentar acertar um inimigo para obter o escudo, acabou levando o dano, que o fez perder tudo.
Luciano foi para os EUA, em sua primeira viagem ao exterior, com apoio de uma locadora do bairro paulistano de Tucuruvi, a Arcade. Ele representava a equipe desta locadora e já havia sido vice-campeão em um campeonato da Capcom. Eram tempos bem diferentes, sem patrocínios de grandes marcas, uniformes, e tudo o mais o qual estamos acostumados hoje em dia.
“O maior jogador hardcore do mundo!”
Nos anos 90, tudo tinha que ser muito espalhafatoso. Seja para combinar com a década, ou para chamar a atenção, em um tempo sem redes sociais, e hashtags, a SEGA se uniu com a MTV e a Blockbuster, e juntas realizaram o MTV SEGA: Rock The Rock.
Assim, a ideia era bem simples: em um formato que era parte Reality Show, parte campeonato de games, e parte show de entretenimento, os melhores jogadores pelo mundo eram literalmente “presos” por “policiais”, e levados para Alcatraz, o lendário presídio que fica em uma ilha em São Francisco, e que, já naquela época, é um ponto turístico.
Tudo foi feito para promover Sonic & Knuckles. Que foi lançado um dia depois da exibição do programa. Durante o especial, era possível ouvir os envolvidos com o game falando sobre as novidades, que incluíam o Lock-On, o sistema único que permitia desenvolver mais gameplay com as versões anteriores do Sonic. Em um tipo de esboço do que seria, no futuro, as DLCs.
Tudo embalado por músicas de bandas como Beastie Boys, AC/DC e Metallica. Além de apresentadores descolados, e bom humor. A SEGA tinha uma posição de mercado nos EUA como a “empresa descolada e jovem”. Ela inclusive afirmava, através de propaganda, que a Nintendo “era coisa de criança”. Por isso, para afirmar esta postura, a parceria com a MTV foi certeira.
Assim sendo, com as parcerias, os campeões levariam bons prêmios para casa. Os dois melhores colocados ganhariam cópias de todos os jogos lançados pela SEGA até o final de 1995. E o campeão, Chris Tang, levou também para casa o prêmio máximo de US$ 25 mil. Se hoje tal premiação ainda é considerada alta, imagine naquela época.
o eSport já pagando bem antes de ser eSport
Vamos comparar. US$ 25 mil em 1994, valeria hoje em dia, com as devidas correções monetárias, cerca de US$ 43 mil. O Mythic Invitational, o primeiro Major da fase atual de MTG Arena, deu US$ 250 mil para o campeão. Levando em conta que o atual modelo conta com patrocinadores fortes, e transmissão ao vivo para o mundo todo através de streaming, e ás vezes canais de TV, até que não era nada mal ganhar 25 mil verdinhas em 1994. Dava pra comprar um Golf GTI importado por essa quantia.
Sorteados por telefone e outro brasileiro na disputa
A matéria encerra explicando que houve outro brasileiro na competição. Era Paulo Emminger, que tinha 15 anos na ocasião. Entretanto, ele estava no torneio pela Alemanha. Pois era filho de alemão e morava, na época, na cidade alemã de Hamburgo.
Junto aos dois, o torneio contou com 20 americanos. Entre eles, cinco foram selecionados por sorteio feito através de um número 800, algo inimaginável para o eSport atual. Ou você consegue imaginar cinco sorteados em streaming participando de um Major contra o MIBR? Mas, além deles, também disputaram a competição dois canadenses, e um japonês.
Apesar de ser um torneio majoritariamente masculino, haviam duas garotas. Uma de 12 e outra de 13 anos, que conseguiu chegar até as semi-finais do campeonato. E era exatamente a idade que chamava atenção. Com idades entre 10 e 25 anos, praticamente qualquer gamer que tivesse índice para jogar a competição (tirando os sorteados), poderia testar suas habilidades.
É claro que havia muito mais de show do que em competitividade no torneio da SEGA. E também que tudo girava em torno da promoção de Sonic & Knuckles. Mas não há como negar que este evento foi um dos primeiros que trazia um embrião do que vemos nos dias atuais. São torneios cada vez mais profissionais, com cada vez mais investimentos e que, a cada ano que passa, vão se tornando em estações de entretenimento, como acontece, aqui no Brasil, na BGS e na Game XP.