#TBTArkade – A expectativa com o Dreamcast na Gamers #35 de 1998
“É impossível não notar o empenho da Sega nesta TGS“, dizia a Gamers #35, de 1998, sobre a forte presença do Dreamcast na feira. A Tokyo Game Show foi um dos palcos que a Sega utilizou para divulgar ao máximo o seu console, que prometia ser o mais avançado do ano, e também ser a reviravolta definitiva da companhia.
A matéria compartilhou, entre outras coisas, as novidades da SNK e seu Neo Geo Pocket. A Capcom, que traria uma versão surpreendentemente muito boa de Street Fighter Zero 3 para o Playstation. E a Square, que ainda não “tinha Enix” no nome, e fazia a alegria de muita gente com os seus RPGs.
Voltando à Sega, o evento japonês contou com a presença de Soichiro Irimajiri, o presidente da companhia; Bernard Stolar, presidente da Sega of America, e Yuji Naka, criador de Sonic e mente criativa de diversos outros títulos da empresa. A matéria destacou também a maneira forte com a qual a empresa divulgou o Dreamcast.
Com um estande obviamente laranja, a companhia aproveitou para disponibilizar estações rodando Sonic Adventure, seu programa de acesso à Internet, via o modem do console, além de outros games, que chegariam pelos próximos dias.
Os games que iniciaram a saga do Dreamcast
A TGS 98 foi importante para apresentar ao público os primeiros jogos do Dreamcast. Este momento era encarado com olhares atentos, uma vez que o Saturn não era lá um console muito amigo das desenvolvedoras independentes, que preferiam fazer seus games para o Playstation e, caso fosse conveniente, também para o Nintendo 64.
Mas a lista inicial parecia interessante. A Hudson, por exemplo, trouxe Elemental Gimmick Gear, um game que trazia arte desenhada à mão. Geist Force era uma espécie de Star Fox para o console, e prometia boa ação, mas acabou sendo cancelado posteriormente. Climax Landers chamou boa atenção da revista, que destacou o gameplay em 60fps, e garantia opções em RPG para o console.
Blue Stinger também chamou atenção, por se tratar de um survival horror, em plena época de ouro para Resident Evil e seus derivados. A Gamers explicou na matéria que o enredo ficou nas mãos de Pete Von Sholley, o mesmo que fez o roteiro de O Máscara. É claro que a empolgação da época com as novidades garantiu um “Resident Evil que se cuide” na matéria. Mas, no fim, apesar de não ser brilhante, Blue Stinger é sim um game bem interessante.
A matéria ainda iria destacar Godzilla Generations, que aproveitava do sucesso do filme lançado na mesma época; To the North: White Illumination era um jogo de relacionamentos, tipicamente japonês; Grandia 2 prometia, e muito, após o sucesso e a qualidade do primeiro game; Virtua Fighter 3 TB, com sua versão jogável na TGS, também prometia muito.
Sonic Adventure era, com razão, um game com muita expectativa. Era, de fato, a estreia do azulão em um mundo 3D. Apesar da reclamação da demo rodando a 30fps, a Gamers deixou claro que o game estava demais: “simplesmente pode ser considerado o game com os gráficos mais impressionantes até hoje vistos em um video game”. E com razão: o game ficou muito bem feito, a ponto de hoje contar com versões para diversos outros sistemas.
Por fim, Evolution, um RPG nos anos 30, com temática de expedições, e Sega Rally 2 Championship fecharam o bloco das novidades do Dreamcast na TGS. Todos vistos com bons olhos pela revista, a Gamers explicava que o console garantia, em sua chegada, uma boa variedade de jogos. Suficiente para agradar os japoneses, e oferecer um bom início para o console.
A promessa de um grande console
A Gamers ainda aproveitou um espaço em suas famosas grandes matérias, que dispensavam um bom design ás vezes, em favor de colocar o máximo de informação possível, para trazer mais sobre o Dreamcast. Explicou, por exemplo, que Resident Evil: Code Veronica estava em desenvolvimento. Na época, o game ainda era encarado como uma história a parte da cronologia de RE. Embora hoje, saibamos bem que o game é uma continuação direta de Resident Evil 2.
Sobre o game, que prometia mais recursos devido a maior potência do console, Yoshiki Okamoto, chefe de desenvolvimento da Capcom, disse, na ocasião que “o Dreamcast é a máquina que faz com que todos os sonhos de todos os criadores se tornem reais”. Um The King of Fighters (era o Dream Match 1999) também foi anunciado. Além dos rumores de um RPG baseado na série de luta. O RPG acabou chegando anos depois, para Android.
Ainda falando em SNK, foi apresentado também na matéria a conectividade entre o Dreamcast e o Neo Geo Pocket. Ainda era cedo para saber muito sobre a conexão. Mas já estava claro que o portátil se conectaria diretamente ao console, funcionaria como um VMS (o memory-card do console). E seria compatível com alguns games.
A Konami rebatia um rumor (sim, eles já existiam) de uma versão de Metal Gear Solid para o console, o que de fato nunca existiu (esta versão sairia para o GameCube, em 2001). Turok 2 chegou a ser anunciado também, mas foi cancelado. A revista também contou que a Namco lançaria Tekken e Ridge Racer para o Dreamcast, mas estas versões nunca existiram. Ridge Racer até chegou a ganhar uma versão para o Nintendo 64, mas nada de Sega.
E, entre os games revelados, havia um tal de “Project Berkley”. A revista estava falando de Shenmue, que ainda não tinha um nome oficial. Foi explicado que era um RPG com mais de quinhentos personagens englobados em um mesmo mundo, “em uma aventura nunca antes vista”. Yu Suzuki, disse na época, que “o game seria como Final Fantasy ou Dragon Quest, mas muito diferentes destes em vários aspectos”.
A matéria termina falando sobre o lançamento do Dreamcast no Japão. O pacote contaria com o console, um joystick, o modem, além de cabos RF, e A/V. Ele custaria 20.800 ienes, que equivalia a US$ 250 (o que seria cerca de R$ 996, no câmbio atual), e seria lançado em setembro de 99. No fim das contas, a Sega lançaria o Dreamcast no dia 9/9/99. Aproveitando a data específica, para promover seu “console do milênio”.