#TBTArkade: O futuro incerto da SEGA na Ação Games de maio de 2001
Durante os anos 90, a SEGA era uma das gigantes dos videogames. A empresa, que era sucesso indiscutível na época do Mega Drive, e engatou inúmeros sucessos como os games Sonic, a série Street of Rage, e os games Virtua Fighter, só para citar alguns exemplos. Mas, na virada do milênio, a história começou a mudar.
Com vários erros na época do Saturn, e com o Dreamcast não conseguindo ser a salvação prometida, além de fracassos comerciais com games como Shenmue, a empresa dava sinais de um futuro sombrio. Era necessária uma reformulação profunda em sua estrutura, para evitar que a companhia fechasse as portas.
E, para falar sobre esse tema, a Ação Games, que na época, contava com conteúdo da EGM, que viria a abrir sua própria revista no Brasil um ano depois, discutiu em sua edição, de maio de 2001, a respeito da “nova SEGA” que estava para vir. É a mesma edição que comentamos, em outra oportunidade, sobre a prévia de Winning Eleven 5.
A SEGA morreu?
Em 31 de janeiro, data da chegada de Phantasy Star Online ao Dreamcast, a SEGA anunciou o seu plano de reestruturação. E, neste plano, já incluía o desenvolvimento de jogos para outros consoles, como o Playstation 2, e o GameCube. Entretanto, as informações vinham de outra forma. Mesmo com a Internet já disponível, as revistas ainda eram a fonte principal de informação.
Assim, muita gente não sabia direito o que estava acontecendo com a empresa. Alguns diziam que ela iria falir. E de fato, a SEGA estava mal financeiramente, pois o Dreamcast foi engolido pelo Playstation 2, e Shenmue, apesar de emplacar dois grandes jogos, custou muito caro, e não retribuiu em vendas. Enquanto outros, entendiam que a SEGA iria trabalhar como a SNK. Com console próprio, mas atendendo outros sistemas.
Mas na verdade, não foi a SEGA quem “morreu”. E sim, o Dreamcast. “O segmento de hardware não é lucrativo”, disse, na ocasião, Peter Moore, presidente da SEGA of America na época. “A perda média em um console varia de 50 a 200 dólares”, continuou. Assim, a estratégia de emergência, para estancar a hemorragia financeira, foi a de encerrar imediatamente a produção do console. E os que estavam prontos foram colocados à venda por cerca de US$ 99.
Porém, tanto SEGA quanto estúdios independentes seguiriam lançando games para o console. Em 2001, o videogame recebeu Sonic Adventure 2, Shenmue 2, Virtua Tennis 2, e Crazy Taxi 2, entre outros. Mal sabiam eles que em 2019, jogos novos seguiriam sendo desenvolvidos para o console. Finding Teddy, Magic Pockets, e Schildburg são alguns dos exemplos de jogos feitos pela comunidade que seguem ampliando a biblioteca do Dreamcast.
A SEGA precisou “matar” o Dreamcast e assumir sua saída do mercado de hardware. O 128-bit da empresa era um ótimo console, mas não era o primeiro fracasso comercial da companhia. O Saturn tinha sido ainda mais problemático, e este evento em 2001 apenas selou um destino que já havia sido construído desde a segunda metade dos anos 90, quando a SEGA começou a embalar fracassos e problemas. Sonic X-Treme, por exemplo, ilustra bem essa fase problemática da empresa.
O “renascimento da SEGA”
A matéria também abordou a nova fase da SEGA. “O universo dos games está mudando e temos que mudar também”, explicou Hideki Sato, presidente da SEGA japonesa. Segundo a matéria, a SEGA havia oficializado, incialmente, o desenvolvimento de games para Playstation, Playstation 2, e Game Boy Advance.
O Playstation 2 receberam, como primeiros games, uma versão de Virtua Fighter (Seria o Virtua Fighter 4), Space Channel, Sakura Wars e dois games de esporte. Já o Game Boy Advance receberia o Sonic Advance, o primeiro game Sonic feito para um console da Nintendo. E que se tornaria em uma série interessante para o portátil, feito pela Dimps. Além dele, ChuChu Rocket! e Puyo Puyo estavam na lista.
E até o Playstation original estava apto para receber lançamentos. A promessa, na revista, dizia sobre um game do Sonic, e relançamentos do Saturn. Mas, na prática, apenas dois games foram lançados: MiniMoni: Shaker and Tambourine! Dapyon!, em 2002, e Puyo Puyo Sun Ketteiban, em 2003.
Moore falou, na época, sobre uma grande dúvida da comunidade. Como os jogos da SEGA se comportariam nos novos consoles. A resposta foi simples: “Temos uma equipe de desenvolvedores que produziu para o Saturn. E quem desenvolve para o Saturn, desenvolve para qualquer coisa”. E, além disso, a SEGA também decidiu vender suas ferramentas de desenvolvimento para outros estúdios.
Mas, em meio a tantas dúvidas, a SEGA iniciou sua nova jornada e foi, entre acertos e erros, se estabilizando como desenvolvedora.
E o destino?
Na matéria, foi explicado que, para encerrar a produção do Dreamcast, a SEGA gastou 689 milhões de dólares. O ex-presidente da companhia, Isao Okawa, doou 730 milhões de dólares para cobrir estas despesas. E, mesmo em meio a um futuro incerto, afinal, ninguém poderia ter certeza de que a SEGA teria sucesso desenvolvendo games e longe do mercado de hardware, a projeção era positiva.
Moore acreditava que, embora a SEGA patinava no hardware, nos games, a companhia sempre entregava excelentes jogos, que poderiam ser apreciados por mais pessoas. “Dizem que o segredo de fazer dinheiro está na lâmina, não na navalha”, comparou. “No momento, os games são as lâminas mais afiadas que temos”.
Logo na primeira semana, as ações da SEGA cresceram em 80%, o que simbolizava otimismo geral. E depois de tudo isso, a história nos mostrou que a companhia conseguiu se estabelecer. Na geração 128-bits, levou seus games de Dreamcast para um público maior, trouxe novidades como Sonic Heroes ou Virtua Fighter 4. Além de introduzir novos clássicos, como a franquia Yakuza. E fez uma interessante parceria com a Microsoft, desenvolvendo games de qualidade para o primeiro Xbox, como o Panzer Dragoon Orta.
Na geração seguinte, a SEGA seguiu desenvolvendo games, acertando em algumas ocasiões, e errando com outras, especialmente nos jogos com o Sonic. Nesta época, também respondeu com “sim” a uma pergunta levantada na matéria: “Haverá um game Mario & Sonic?”. E, hoje em dia, a companhia vive uma ótima fase, nas graças dos seus fãs.
Assim, a SEGA trouxe Sonic de volta a seus bons e velhos tempos com Sonic Mania, comemora o sucesso em todo o mundo dos games Yakuza, relançou o Mega Drive no Brasil, junto com sua parceira Tectoy, e relançará, por ela própria, um Mini Mega Drive. Lembrando também de seu sucesso no SEGA Forever, e em várias coletâneas, que sempre seguem levando adiante o legado da empresa. Embora acredite que além de Mega Drive, os outros sistemas da companhia já estejam merecendo coletâneas semelhantes.
Será que alguém em 2001 imaginaria a SEGA da maneira a qual ela se encontra hoje?