The Lost Games: Myth: The Fallen Lords e suas batalhas sangrentas
Preparados para descobrir mais jogos desconhecidos? Então venham conhecer Myth: The Fallen Lords, e a última esperança da humanidade.
1997. Quatro anos antes da Bungie lançar o primeiro game de sua série de maior sucesso; Halo: Combat Evolved, série que perdura até os dias de hoje e com toda a certeza perdurará por ainda mais tempo. Nesse ano, a empresa lançou o primeiro game de uma série de RTT (Real Time Tactics) que durou até o mesmo ano do lançamento de Halo. Esse game era Myth: The Fallen Lords.
A série na verdade não é desconhecida, pois em sua época obteve um grande sucesso, e The Fallen Lords foi muito elogiado. O motivo para esse game estar aqui na coluna The Lost Games é um: quem ainda se lembra desse game? Muitos games sofrem por não obterem atenção em seus lançamentos, e ótimos títulos acabam ficando no limbo do “anonimato”, outros sofrem com o tempo, quando após anos de seu lançamento acabam esquecidos até mesmo por aqueles que o jogaram. Myth ainda é lembrado com louvor por uma dedicada base de fãs fervorosos, mas para o resto do mundo, hoje a série Myth está (infelizmente) esquecida.
UM MUNDO MEDIEVAL FANTÁSTICO
A série Myth contava a história de um mundo onde a humanidade vivia a beira de sua completa aniquilação. Myth: The Fallen Lords contava um trecho de uma vasta história de luta eterna entre a Luz e a Escuridão. Em um ciclo eterno pelo controle do mundo, a cada mil anos as duas forças se enfrentavam, sendo que cada ciclo tinha seu derradeiro momento com a passagem de um cometa no céu. O astro anunciava a vinda e queda do ser conhecido com o “The Leveler“. Esse ser possuía o corpo do último herói a matá-lo, dando assim início a um outro ciclo.
Dessa forma, aquele que matava o “The Leveler“ para defender seu próprio povo era fadado a ser possuído pelo mesmo e se reerguer contra seus semelhantes, enquanto o ser tornava-se mais forte pelo acúmulo de poder e experiência de cada corpo possuído.
Mil anos antes dos eventos de The Fallen Lords, um herói humano chamado Connacht matou a criatura eterna e trouxe paz para a humanidade e todo o mundo. Anos depois, ele ingressou numa viagem misteriosa para longe, quando o ciclo se refez e ele foi possuído pelo “The Leveler“, mudando seu nome para Balor.
Durante todo esse tempo ele reuniu e fortificou suas Forças da Escuridão junto de seus tenentes, os Fallen Lords, criando um inacreditável exército de mortos e outros tipos de monstros e ameaçando extinguir a humanidade, dessa forma, dando fim ao seu ciclo de morte e ressurreição, conquistando tudo definitivamente.
Nos eventos de The Fallen Lords, acompanhamos a última chance da humanidade de sobreviver, com uma nova esperança que surge na forma de uma cabeça decepada, mas ainda viva, que clama ser um antigo inimigo de Balor, e que revela informações que podem ajudar a raça humana a combater sua própria extinção. A história é contada através de briefings antes de cada missão, e as vezes com estilosas cutscenes em desenho animado.
BATALHAS REFINADAS E DESAFIADORAS
Myth: The Fallen Lords é um RTT, Real Time Tactics. Um subgênero que não deve ser confundido com o popular RTS (Real Time Strategy). A crucial diferença é que o gênero RTT é focado inteiramente no combate e em táticas, sem a necessidade de coleta de recursos ou criação de um exército. Simplificando, nesse gênero você possui um número determinado de unidades em seu exército para cada missão, e deve se virar com elas para conseguir progredir. Dessa forma, perder unidades é algo realmente aterrador.
O ponto alto do game está justamente em sua estratégia. Por jogarmos com unidades pré-determinadas, devemos manejá-las da melhor forma possível para combater as hordas inimigas, e o game oferece muitas possibilidades para isso. No modo single player, controlamos a humanidade, com variados objetivos e unidades de acordo com a missão.
Temos cavaleiros de armaduras, espadas e escudos, a unidade básica e mais abundante. Temos os anões, que carregam consigo sacolas explosivas e atiram poderosos coquetéis molotov. Bárbaros ao melhor estilo Coração Valente, com longas barbas e cabelos, pinturas corporais e longas espadas, andarilhos, que podem curar unidades feridas, arqueiros, e em breves momentos, gigantes das florestas e até um mago.
Os jogadores então podem agrupar suas unidades da forma que bem entenderem, criando “batalhões” combinando as unidades desejadas. Cada batalhão é criado com uma identificação no teclado, dessa forma, apertando a tecla do primeiro batalhão, todos os seus membros serão selecionados mesmo se estiverem dispersos por todo o cenário.
E, dando ainda mais controle dos batalhões aos jogadores, é possível utilizar formações: selecionando grupos de unidades e utilizando as teclas numéricas, é possível organizá-los em diferentes formas no cenário. Como uma formação fechada em bloco, uma linha reta com todas as unidades uma do lado da outra, formação em círculo sobre alvos, e etc.
O bom manejamento de unidades, batalhões e formações faz uma grande diferença nas batalhas, permitindo que o jogador até mesmo crie emboscadas e grupos de apoio para seu exército, determinando o que elas devem fazer ao ver inimigos; se devem partir pra cima, não fazer nada, ou fugir. Também é possível ordenar as unidades e batalhões inteiros que montem guarda sobre pontos definidos,com eles marchando de um ponto a outro definido pelo jogador protegendo a área.
Algo bem interessante está nas estatísticas de unidades sobreviventes. Cada missão tem suas unidades determinadas, e muitos podem acabar morrendo em batalha. Cada unidade do game é única, possuindo um nome e um pequeno texto contando sua história. As unidades que chegam vivas ao fim de uma missão são nomeadas na tela de resultados da missão, onde são contabilizados os mortos aliados e inimigos. Os sobreviventes podem seguir adiante nas missões seguintes, com marcas em sua barra de status mostrando quantos inimigos ele matou e quantas batalhas já sobreviveu. Unidades sobreviventes se tornam mais fortes nas missões seguintes, o que ajuda e muito nas batalhas.
REALISMO E SANGUE
Myth: The Fallen Lords tem uma sólida jogabilidade realista. Com cenários 3D e personagens em sprites 2D, tudo deve ser levado em conta nas batalhas. Os jogadores podem ordenar que suas unidades ataquem inimigos ou áreas, e a própria área influencia os ataques. Flechas, por exemplo, sofrem influência do vento, e inimigos alvos de arqueiros são espertos para manterem-se sempre em movimento, bem como os arqueiros podem acabar acertando seus próprios aliados se atirarem no meio da área de uma intensa luta de espadas.
Batalhas em florestas limitam a visão do jogador e a movimentação das unidades. Os anões, munidos de coquetéis molotov podem ser vítimas de seus próprios ataques. Fazer um anão correr na direção do inimigo soltando bombas pode resultar na bomba caindo em sua própria cabeça, e a velocidade pode apagar o fogo do “pavio” da garrafa, impedindo a explosão.
Myth é um jogo bem difícil, mesmo em suas dificuldades baixas. A IA dos inimigos é realmente competente, e os inimigos conseguem surpreender os jogadores de formas assustadoras, tornando batalhas que já pareciam ganhas em um massacre completo, com muito, muito sangue derramado. Aliás, uma coisa impressionante no jogo é a quantidade de sangue derramado nas batalhas. Quanto mais unidades se enfrentam e mais mortes acontecem, o solo vai ficando mais e mais vermelho, e tudo fica ainda melhor ao se jogar uma bomba, para que partes carbonizadas de inimigos mortos voem para todos os lados, deixando trilhas de sangue e marcas negras de explosão. O combate é visualmente impressionante.
E um grande auxílio para esse estilo de jogo é o controle da câmera. É possível girá-la em diferentes ângulos, bem como aproximá-la até o chão e afastá-la. O mapa de cada missão é diferente um do outro, com florestas, cidades, rios e pontes, desertos, áreas gélidas e etc. E uma coisa muito legal é que o jogo permite gravar e salvar os replays de suas partidas. Assim, você pode assistir posteriormente aquela épica e sangrenta batalha com todos os controles de câmera disponíveis, acelerando e desacelerando a ação para assistindo tudo em velocidade acelerada ou câmera lenta.
A GUERRA ENTRE A LUZ E A SOMBRA, JOGADOR CONTRA JOGADOR
O multiplayer de Myth era algo muito amado por seus jogadores. Nesse modo, era possível jogar com gueiros da Luz (os humanos), e também com guerreiros da Sombra (os mortos e monstros), tendo até mesmo a possibilidade de, em alguns modos, combinar ambas as forças. O game possuía vários modos diferentes, como capture a bandeira, king of the hill, body count, entre outras com diferentes regras; entre proteger sua área, matar todos os outros inimigos, ou sobreviver.
As batalhas do modo multiplayer se iniciavam antes mesmo da ação acontecer, pois os jogadores deveriam montar seus exércitos de acordo com suas estratégias. Antes das batalhas, os jogadores possuíam um número de pontos que eram usados para trocar por unidades. Unidades mais básicas custavam 1 ponto cada, e unidades mais fortes custavam mais pontos.
Assim, os jogadores deveriam escolher suas unidades de forma correta, ou então as batalhas estariam perdidas antes mesmo de começarem. Os jogadores podiam gastar todos os seus pontos com unidades mais fracas, mas ganhando com isso um exército numeroso. Ou gastar mais em unidades mais poderosas, formando um exército menor.
O multiplayer podia ser jogado com vários jogadores ao mesmo tempo, em modos de cada um por si, ou em times, onde um dos jogadores do time era escolhido como líder, tendo que selecionar as unidades que entrariam em jogo e distribuí-las entre todos os players do time.
CAINDO NO ESQUECIMENTO
Talvez você esteja imaginando, como um jogo que está sendo tão elogiado nesse artigo, sendo que em seu tempo foi muito bem avaliado, pode ser um “lost game”? A série Myth perdurou de 1997 até 2001. Com Fallen Lords sendo seu primeiro game, sendo seguido por Myth II: Soulblighter e Myth III: The Wolf Age. Dentre todos, Soulblighter é o mais famoso, pois expandiu tudo o que o primeiro game tinha de bom, corrigiu seus erros e deu continuidade ao seu enredo. Já Wolf Age acabou não sendo tão bem aceito, apesar de ainda ser um bom game.
Após os lançamentos de Myth I e II, a Bungie foi comprada pela Microsoft para produzir a série Halo em 2000. Nessa compra, a Bungie teve seus direitos sobre a série Myth retirados e entregues para a Take-Two Interactive, que contratou a produtora recém-formada MumboJumbo para produzir Myth III. Após o lançamento desse game — que segundo muitos foi feitoàs pressas, o que comprometeu a qualidade final do game — a Take-Two desfez sua parceria com a MumboJumbo e cancelou todo o suporte dado a todos os jogos da série Myth.
A venda para a Take-Two resultou no fechamento dos servidores dos modos multiplayer de Myth I e II, e após o lançamento de Myth III a série foi simplesmente deixada de lado, nunca mais recebendo nenhum game novo. Sua dedicada comunidade de fãs foi a responsável por manter o suporte da abandonada série Myth, e por longos anos se dedicaram a criar novos patches, recriar servidores para a jogatina multiplayer, e manter a série viva. Porém, mesmo os esforços dos fãs acabaram diminuindo com o tempo, com o grupo que ainda matinha a série se desfazendo, sobrando por fim um pequeno grupo, que pelo menos até o fim de 2014 ainda era (um pouco) ativo.
E com isso, hoje Myth: The Fallen Lords é infelizmente um game esquecido e pouco conhecido principalmente pelos novos gamers que, se não tiveram a chance de jogar a série no passado, dificilmente poderão experimentá-lo no futuro. O abandono ainda é mais triste quando vemos a fala de oportunidade que o game tem até mesmo hoje em dia.
Uma das magias do mercado de games de PC é o fato de que ainda é possível adquirir games antigos em lojas virtuais, sendo que algumas dessas lojas até mesmo ressuscitam os antigos servidores desses games para deixar o saudosismo tomar conta da diversão. Porém, Myth nem mesmo teve essa chance atualmente, o que é realmente triste.
E este foi Myth: The Fallen Lords, um game que deu inicio a uma série que viu a glória em seu tempo, mas acabou sendo jogada de lado e abandonada por completo, acabando esquecida pela maioria dos jogadores, ao ponto de hoje em dia ser desconhecida por novos jogadores. Curiosamente, lá no começo, a série Halo seria criada como uma versão diferente de Myth, ambientada no espaço, antes da Bungie tornar a franquia em um dos FPS mais aclamados da história.
Esse game nos faz refletir um pouco: existem games que obviamente serão esquecidos com o passar dos anos, afinal, nem todo game consegue se tornar eterno como os clássicos de ontem e de hoje. Mas infelizmente já tivemos games que foram injustamente jogados no esquecimento de tal forma que até mesmo sua lembrança acabou sendo comprometida.
Você lembra de algum outro jogo que foi injustamente esquecido? Comente aí embaixo, e relembre suas aventuras de Myth com a gente!