The Lost Games: Pokémon Gold Silver – O Frankenstein dos sete mares
A The Lost Games continua e desta vez vamos conferir um jogo muito curioso: já jogou Pokémon Gold Silver? Mas não estamos falando do clássico de Game Boy e sim da sua “versão” para Super Nintendo!
Eu já nasci gamer. Na minha ultrassom eu já criticava a jogabilidade da vida, é o que contam. Meus próprios pais sempre incentivaram os joguinhos eletrônicos na minha família, e, desde quando me conheço por gente, eu sempre tive, ao menos, um console na casa. Por muito tempo, também, tive apenas um console por vez, naquela velha lei de que quando comprasse um novo, vendesse o antigo.
Foi assim que consegui praticamente todas as gerações de consoles ao longo da vida, indo do Nintendinho ao mais recente PS4, mas o Super Nintendo sempre possuiu em mim um lugar especial entre a aorta e a traqueia. Na época do SNES, tudo era nebuloso.
Os conhecimentos e truques, as noticias sobre jogos e basicamente tudo deste universo era compartilhado como informações sigilosas, pouco eram aqueles com referencial, o que deu margem para a explosão das saudosas revistas da época, mas mesmo elas não conseguiam cobrir todo o escopo dessa indústria em ascensão.
Por muito tempo fui taxado de mentiroso, e caluniador, na fase da adolescência. Sempre quando comentava sobre o SNES, e seus ótimos jogos, tais quais Super Mário RPG, Earthbound, Metroid, Megaman X, Pokémon e Chrono Trigger. Sim, Pokémon. Não, não estou mentindo. Eu tive esse jogo, eu joguei, mas vendi o console com as fitas para pegar um Playstation.
Sempre era o mesmo diálogo, só mudavam os sujeitos envolvidos. Anos se passaram e guardei essa verdade como uma mentira, lembro-me como ontem das vezes que passava almoçando e vendo Eliana & Alegria, da vez que fui no mercado cinza(gourmetização do camelô) pedir por um jogo do Pokémon, e eis que me entregam o sensacional Gold Silver(o melhor de dois mundos).
Graças ao invento da internet, finalmente descobri o que joguei, e posso aqui contar para vocês do que se trata este, questionável, jogo. Mais como um desabafo de um ex-mentiroso do que uma análise concreta de um fidedigno pescador.
Neste excelente jogo de plataforma, nós podemos escolher entre Chikorita(escrito erroneamente como Chokorita) e o Totodile(Waninoko no original japonês). O que parece uma decisão difícil à primeira vista, tanto quanto escolher o primeiro pokémon nos consoles portáteis da Nintendo, mas que na verdade não serve de nada, já que com o apertar de um botão(Select) pode-se fazer a troca de personagem no meio de qualquer uma das fases.
Sim, de maneira genial inseriram a escolha como um alivio de tensão já no inicio de sua grande aventura. O jogo é constituído por 4 fases com uma penca de pokémons(ou quase isso) ao longo delas, atingindo o ápice no ultimo chefão: Mewtwo! Você consegue imaginar algo mais épico do que um Chikorita ou Totodile vencendo um Mewtwo? Nem eu.
A jogabilidade é quebrada e repleta de glitchs, mas acredite, é proposital, pois se não fosse você não teria o orgulho de terminar. Não existiria o desafio em conjunto daquele suor de capacidade e recompensa que só um Super Nintendo poderia gerar.
A história da criação deste jogo é tão nebulosa quanto parece. Diria até que Pokémon Gold Silver é um Frankenstein(o monstro, não o doutor) dos jogos piratas, não muito diferente dos outros, mas tão enigmático quanto. A engine, que também é utilizada nos jogos chineses Digimon Adventure e Pocket Monster, é misteriosa.
Em fóruns obscuros já tentaram desconstruir a trajetória e desenvolvimento desse jogo mas tudo o que existem são suposições e sobras de uma obra nostálgica e quebrada. Pra começar, a trilha sonora é toda roubada e tricotada de outro jogo do SNES, o Bonkers. Num editor de rom, como o hex editor, você consegue notar linhas de texto, não utilizadas, de Lemmings e um final cheios de sobras de gráficos de A Bug’s Life(Vida de Inseto), é quase que o mais incrível de todos os mundos unidos num só.
É atribuído à criação de Pokémon Gold Silver a empresa chinesa Sintax, embora isso seja questionável pois alguns defendem que ela era uma desenvolvedora pirata exclusiva de jogos para Game Boy, e que o próprio Digimon Adventure fora um port mal feito para o Super Nintendo, numa razoável mudança gráfica. Outros “culpam” a DVS Electronic Co pois é o nome por trás de Pocket Monster, e basicamente é o mesmo jogo com algumas poucas alterações. No fim, provavelmente jamais saberemos o nome por trás de tudo isso, assim como o Herman Melville, autor de Moby Dick, que morreu no esquecimento, olharemos para trás sem uma referência da entidade por trás dessa formidável obra.
Infelizmente sem saber a quem agradecer por esse marco na história dos games eu termino esse texto com uma sensação de dever cumprido, pois mais pessoas agora conhecem esse jogo que, por muito tempo, fora inexistente na minha infância para os outros, mas completamente tangível e divertido para mim, dada as devidas proporções e memórias que devem permanecer na infância. Assim como esse jogo, que a própria existência data uma época onde coisas como essa podiam existir em consoles originais, não mudem jamais.