Arkade Séries: The Walking Dead (9ª Temporada, Ep. 3) “Warning Signs”
Esse texto contém spoilers do episódio dessa semana de The Walking Dead.
O anúncio da saída de Andrew Lincoln de The Walking Dead certamente mudou o rumo da história que Scott M. Gimple (supervisor geral da franquia) e Angela Kang (atual showrunner) gostariam de contar, porém, mesmo com essas limitações algumas coisas positivas são identificáveis.
O terceiro episódio intitulado como “Warning Signs”, roteirizado por Channing Powell e dirigido por Dan Liu, mantém o mesmo sentimento dos capítulos anteriores: ideais conflitantes e nervos à flor da pele na tentativa de reconstruir a sociedade. Há todo um mistério que gira em torno do desaparecimento de alguns membros da comunidade dos Salvadores e, por consequência, a desconfiança se torna um fato constante para todos.
No começo Rick ressalta a importância de Michonne para a comunidade de Alexandria e há uma linha de diálogo que deixa implícito sua vontade de ter mais um filho. Essa fala se conecta ao fim do episódio passado no qual Negan o provoca dizendo: “Você está construindo um futuro para quem? Sua família está morta”. O sentimento de ‘passagem de bastão’ permeia muitos dos fatos desse capítulo e esse senso de continuidade é pincelado repetidas vezes.
Judith, filha de Rick, também aparece bastante interagindo com seus ‘pais’ (Michonne não é sua mãe biológica) e esse é um fato inédito na série. Eventualmente a menina aparece ao longo dos episódios, mas sempre em segundo plano e nunca contracenando diretamente com Rick. Em poucas cenas Judith passa de um mero elemento simbólico de motivação (família) para uma representação de futuro e de esperança.
Dois fatos importantes acontecem, um faz sentido em termos de narrativa e o outro nem tanto. O primeiro é a inserção das mulheres de Oceanside efetuando com suas próprias mãos uma vingança diante dos Salvadores. No passado o grupo de vilões praticamente dizimou Oceanside e, naquele momento, a reclusão foi sua única opção. Agora que ‘todos estão em paz’ (Salvadores incluídos nessa nova proposta de mundo orquestrada por Rick) a sensação de impunidade e injustiça parece mais discrepante e, por essa razão, Oceanside começa a matar sorrateiramente alguns membros pivotais dos Salvadores.
Maggie e Daryl presenciam um desses momentos no qual Arat, até pouco tempo vilã, está subjugada e prestes a morrer e o episódio faz um link com a decisão de Maggie no piloto dessa temporada. Ao matar Gregory ela passa uma mensagem que existe mais de uma lei e a forma que Rick enxerga o mundo é apenas uma das visões possíveis. A justiça de Maggie, matar Gregory, legitimou o que Oceanside pensava e queria fazer. É interessante perceber que apesar do ritmo lento da temporada todos os fatos estão se conectando com uma certa ordem, o que é surpreendente dado os últimos desfechos da série.
O outro fato importante é o arco de Anne. Antes antagonista, nos dois primeiros episódios da 9ª temporada aliada e agora antagonista novamente. Jadis (Anne) era uma personagem risível no passado, com trejeitos exagerados e personalidade inconsistente. Agora que a série carece de um conflito ela é a escolhida para ser esse estopim. Em sua antiga comunidade ela ‘traficava’ pessoas para um grupo misterioso em troca de mantimentos. Ela volta a seu antigo lar, o lixão, e entra em contato por rádio com uma pessoa desconhecida que solicita uma nova leva de pessoas. Para quais fins? Ainda não sabemos.
Não fica claro o que acontece com essas pessoas que são sequestradas, mas Anne e a misteriosa voz os classificam como “A” ou “B”, talvez um nível de importância ou liderança. Gabriel intercepta essa conversa e Anne o nocauteia e diz que ele passou do grupo “B” para o “A”. É tudo muito críptico e um pouco exagerado, mas como mencionei, sem conflito não há história. Ela se tornou aliada de forma abrupta e voltou para o lado do ‘mal’ de forma igualmente abrupta.
“Warning Signs” manteve o mesmo nível dos últimos dois episódios e contou com mais fatos positivos do que negativos. A parte final na qual Maggie e Daryl compactuam com as ações de Oceanside foi deveras emocionante e trouxe uma carga ideológica a esses dois personagens que, inevitavelmente, os levará a um conflito contra Rick. Novamente um capítulo seguro, mas é importante destacar que a equipe por trás de The Walking Dead está apostando na história da maneira que ela é, ou seja, lenta. Mesmo que isso possa causar descontentamento aos fãs que preferem mais ação do que desenvolvimento de personagens.