Um novo olhar para The Medium, agora no Playstation 5
Quando anunciado, The Medium chamou bastante a atenção de um público ávido por títulos de terror e suspense, sobretudo daqueles que sentem falta de um novo Silent Hill há anos, e descobrir que era um título de lançamento, no mercado de consoles, para XBox Series, deixou os fãs do lado azul da força um tanto quanto frustrados. Eis que alguns meses depois a Bloober Team traz o título para o Playstation 5, com a promessa de aproveitar, ao máximo, as particularidades do sistema, principalmente o seu grande diferencial até aqui em comparação à concorrência: o DualSense.
Este texto, que fique claro, não é a análise completa do jogo, já que ela foi feita de forma detalhada e equilibrada pelo colega redator aqui da casa Fernando Floriano e você pode conferi-la, na íntegra, em algum link por aqui. Nosso objetivo, portanto, é buscar compreender o que há de novo nessa nova investida do título, ainda exclusivo da nova geração, algo pertinente e justificável pelas suas características técnicas, sobretudo o sistema de tela dividida dual reality, do qual trataremos mais adiante.
Para quem deixou passar o titulo em sua época, um rápido resumo: logo no começo da jornada, conhecemos Marianne, a médium do título, relatando um sonho tão recorrente, com uma garota sendo assassinada, que até parece ser algo real. Contudo, essa não é bem uma história de origem, já que a protagonista já conhece suas habilidades e já lida com elas há algum tempo. Ainda que algumas coisas estejam acontecendo a ela pela primeira vez (ou de forma diferente de antes), essa é uma aventura na busca pela compreensão daquilo que já está dado, não de descoberta. E isso faz bastante diferença para a construção narrativa, que nos leva a uma investigação espiritual tensa, imersiva e cheia de reviravoltas.
Na prática, há três possibilidades principais de exploração do mundo do Hotel Niwa, local onde se passa a maior parte do jogo: o mundo regular, um mundo espiritual ou ambas as dimensões ao mesmo tempo, algo possibilitado pelas características dos novos sistemas velozes da nova geração de carregamento acelerado que permitem a renderização em tempo real de dois cenários completamente diferentes ao mesmo tempo. Funcionou muito bem no XBox Series, continua rodando da mesma forma no Playstation 5 a lisos 30 quadros por segundo a 4K, algo que pode parecer pouco, mas para um jogo menos frenético que outros títulos, funciona com fluidez bastante adequada.
The Medium, antes de iniciarmos a campanha, já nos avisa: a utilização de um headset é altamente recomendada para potencializar a experiência do jogo, e eu acatei a sugestão, algo que realmente impactou bastante no meu engajamento com a história e principalmente nas minhas percepções sensoriais para com esse universo macabro. Todavia, o grande diferencial desta versão está, como já imaginado, nos recursos imersivos a partir do controle, algo já alardeado pela própria desenvolvedora ao celebrar o lançamento. Mas nem todas essas funções são perfeitas.
A primeira delas, que se apropria do sensor de movimento do DualSense, é bastante explorada quando se investiga certos objetos, ou quando se assume a observação de algum ponto de interesse. Basicamente, podemos girar o dispositivo para controle livre da câmera nesses momentos, algo que na prática mais atrapalha do que qualquer outra coisa, mesmo que também tenhamos a possibilidade de utilizar os direcionais para a mesma função, só que sem poder desligar uma coisa ou outra. Se você é daqueles que não gosta tanto assim de ficar girando as mãos durante o jogo, ou se gosta de ficar meio largadão no sofá, acaba precisando se adaptar a isso de um jeito ou de outro. É questão de costume, mas ainda assim, não é das inovações mais brilhantes.
Dito isso, todo o resto é de uma implementação bastante satisfatória e a vibração controlada é muito bem adaptada às transições entre realidades, texturas e ambientação. A utilização das habilidades de Marianne tem peso, tem impacto, tem a gravidade que a própria narrativa faz questão de destacar. “Nunca vou me acostumar com isso”, pensa a heroína da história em dado momento, tamanho o sofrimento que essa passagem lhe causa, e isso é reproduzido com bastante coesão para o dispositivo háptico. Segurar a respiração para evitar ser detectado ganha camadas ainda mais intensas de dramaticidade quando você sente essa sutileza no controle até na pulsação acelerada pelo medo de uma iminente e inapelável morte.
Particularmente, não sou daqueles fãs do auto-falante embutido nos controles Playstation, e em vários jogos eu inclusive desligo a função. Para esta análise, claro, deixei a função habilitada em uma passagem que joguei com o som da TV e fui surpreendido positivamente por isso também. Não há exageros aqui, são poucas as intervenções, mas são muito bem colocadas para melhorar a dimensionalidade do som. Na maioria do tempo, contudo, joguei com headset e por isso não creio que a função seja obrigatória ou necessária. Ainda assim, é funcional, tem méritos e certamente é muito recomendada para quem for jogar com o som da TV ou sistemas externos.
Por sua vez, os famigerados gatilhos adaptáveis são bem explorados em certos momentos onde é necessário utilizar a projeção de energia. A resistência dos gatilhos transparecem esforço, sofrimento, uma utilização de poderes paranormais que não é, em momento algum, confortável para a protagonista. A resistência aqui não é exagerada como em jogos de tiro, nem pesada como em games de de luta com espadas (como Godfall, que acaba pecando pelo excesso), mas transmite a tensão necessária para o esforço diegético.
Por outro lado, a apropriação do touchpad para girar objetos na busca pelos ecos não tem qualquer elemento significativo, e eu preferi, na maioria do tempo, utilizar os direcionais para isso. É bom dar um objetivo a mais para esse negócio para além de ser um botão grandão (como a maioria dos jogos faz), mas não é algo que realmente faça diferença, ao menos em The Medium. O mesmo vale para a barra de luz do controle imitar a lanterna de Marianne, inclusive acompanhando e reproduzindo o efeito de quando esta começa a falhar e piscar. Até é algo perceptível quando se joga com a luz apagada (o jeito certo de jogar games do gênero), mas é um aceno, uma firulinha a mais que não faz tanta diferença assim.
Como conjunto da obra, as adições implementadas parecem promover uma ampliação do sentimento de tensão e opressão constantes do game. Possivelmente, eu me impactei um pouco mais com a carga dramática e os recursos de suspense e horror do que o Fernando (considerando o relato na análise do jogo), e The Medium se mostrou uma ótima mistura de referências de gêneros diferentes.
O jogo traz elementos de alguns dos games mais importantes das últimas três décadas, incluindo Layers of Fear da própria Bloober Team, e outros games narrativos, como os da Quantic Dream (Reavy Rain, por exemplo) e até o sistema de câmera fixa dos clássicos Resident Evil, Silent Hill, ou do mais recente Until Dawn. Se de fato ele tem suas limitações em termos de gameplay e de qualidade artística (a dublagem e o movimento labial continuam estranhos, e os sistema de colisão e de movimentação são bastante rústicos) há muitos méritos e esta não deixa de ser uma das melhores experiências do gênero para uma geração ainda carente de títulos de peso.
The Medium chega neste dia 03 de setembro de 2021 para Playstation 5. O game foi lançado originalmente no dia 28 de janeiro para PC e Xbox Series S/X e continua disponível no Game Pass para ambas as plataformas originais.