Uma análise do preço do Nintendo Switch no Brasil
O Nintendo Switch foi anunciado no Brasil. Três anos após o seu lançamento no Japão, o console chegará oficialmente em lojas brasileiras, custando R$ 2.999. Sendo um valor alto para os padrões brasileiros, muito se falou sobre o preço do console no país. Há fatores, como o posicionamento da Nintendo com seus preços, mais a nossa economia atual, que colaboram, e muito, com tudo isso.
Mas, que tal avaliar mais a fundo essa questão? Vamos, juntos, entender o que é a “Nintendo no Brasil” que temos atualmente, o momento atual da Big N no mercado, e a visão que a empresa tem em relação ao Brasil. Assim, podemos avaliar o preço, e também entender um pouco mais sobre o valor do console, e o que esperar da companhia no país, já que a mesma sinalizou aproximações, nos últimos anos.
Antes de tudo, NÃO é a Nintendo do Brasil. E sim uma parceria.
Desde quando a Nintendo participou da BGS, de maneira reservada, há dois anos atrás, a euforia dos brasileiros era sentida pelo Twitter. Era “a volta” da Nintendo, diziam. Ano passado, com o seu estande, e presença de executivos da companhia, a conversa era a mesma. Mas calma, pessoal. Euforia é bom, mas a razão ajuda a entender algumas coisas. A primeira delas, é que não, nunca houve uma “Nintendo do Brasil“.
Nos anos 90, o que rolou foi bem simples: a Playtronic, uma empresa que nasceu da união de Gradiente com Estrela, recebeu autorização oficial da Nintendo, para fabricar e comercializar videogames Nintendo no Brasil. Inclusive, o trabalho da Playtronic, além de bem feito, foi histórico: foi a primeira empresa que produziu consoles Nintendo fora do Japão. O foco no brasileiro foi excelente: o Super Nintendo era adaptado para os padrões de TVs brasileiras, montado no Brasil, e com caixas e manuais em português.
Com o fim da Playtronic, a Gradiente seguiu sozinha até 2003, com a representação da Nintendo. Também com qualidade, a empresa trazia grandes games de Nintendo 64, deu suporte para todas as versões de Game Boy, e chegou a lançar, oficialmente no Brasil, o Game Boy Advance, e o GameCube. O trabalho, excelente, foi feito apenas com o “ok” da Nintendo. A Nintendo, em si, apenas autorizava e lucrava com a parceria com as empresas brasileiras. Algo muito diferente da própria Nintendo, caso estivesse presente no Brasil.
Em 2006, a panamenha Latamel trouxe, agora por importação, o Nintendo DS, e posteriormente o Wii, ao mercado nacional. E, em 2011, a Gaming do Brasil foi a nova responsável pela importação e comercialização de consoles da Big N: desta vez, o 3DS, o relançamento do Wii, e, posteriormente, o Wii U. Porém, a situação era bem diferente da época de Playtronic/Gradiente. Os consoles e games eram apenas importados e distribuídos, sem grande presença da marca, como propagandas, ou suporte. O marketing vinha através de alguns eventos, e a empresa até montou estande na BGS 2012, onde conheci o Wii U.
Qual a diferença? Simples: Sony e Microsoft tem mais autonomia sobre seus consoles e todo o sistema de vendas. Além disso, ambas podem, ocasionalmente, decidirem fabricar seus consoles no Brasil, o que deixa o preço ainda mais baixo. A Microsoft, por exemplo, fabricou o Xbox 360 e o Xbox One original no país. E inclusive, por causa disso, lançou o console no Brasil para R$ 2.200. Quase que a metade do preço da Sony e seu Playstation 4, importado, que chegou por R$ 4.000.
Mas a Nintendo of America esteve, nos últimos tempos, de olho no Brasil. E, devagar, foi se aproximando, ela própria, do nosso mercado. Trouxe, primeiro, os cartões de jogos, vendidos em parceiros como a Americanas e a Magazine Luiza, e agora, através de nova parceria de importação, trouxe o Nintendo Switch. E, esta atenção da Nintendo, a médio prazo, parece interessante. Pois lá dos Estados Unidos, eles podem observar melhor o nosso mercado, e oferecer melhorias aguardadas pelo público, como mais legendas (ou quem sabe, dublagem) em nosso idioma, ou um sistema de compra de games mais eficiente.
Mas, afinal, quem é a Nintendo no Brasil?
Como falei, não existe uma “Nintendo do Brasil“. Ou seja, uma empresa localizada no Brasil, que atua oferecendo suporte e promovendo seus produtos diretamente ao público brasileiro. O Xbox atua no país com a Microsoft Informática LTDA, no CNPJ 60.316.817/0001-03. Já o Playstation atua através da Sony Brasil LTDA, no CNPJ 43.447.044/0004-10. Enquanto a Nintendo, não conta com nenhum cadastro oficial no país. Se procurar por CNPJ da Nintendo, você até encontra um: a “Nintendo Games”, nome fantasia de uma loja, em Santa Fé do Sul – SP.
A “Nintendo do Brasil” se chama Ingram Micro Brasil. É a subsidiária brasileira da Ingram Micro, empresa de soluções em tecnologia, e que recebeu a missão de distribuir oficialmente os produtos Nintendo no Brasil. A empresa distribuirá para as lojas parceiras o Nintendo Switch, seu controle Pro e os controles Joy-Con. Nada foi falado sobre games, que continuam com os cartões de presente, e a loja oficial, em português, da Nintendo, para jogos digitais.
Uma frase, de Ricardo Rodrigues, da Ingram Brasil, expõe um pouco que o “fã brasileiro precisa da Nintendo aqui”: “Esperamos aproveitar toda essa paixão do público pela Nintendo para expandir a nossa atuação no mercado e, claro, levar muito entretenimento para a casa das pessoas”. Sim, há muitos apaixonados pela Nintendo no país, que tiveram, mediante a Playtronic, uma saudável introdução ao mundo de Mario, Fox, Kirby e tantos outros. E o desejo de que a companhia tenha essa mesma presença segue forte.
Então, cabe a Ingram, neste novo momento que os games vivem, seguir com esta missão. E, junto com a Nintendo, oferecer experiências, tanto de compra, quanto de uso, mais próximas a de outros mercados pelo mundo.
A Nintendo é “cara”, pois quer reverter os problemas do passado
A Nintendo, depois de dominar o mercado com o NES e o Super NES, vive dias de “montanha russa”. Teve grande sucesso com o Wii e tem o mesmo prestígio com o Switch. E também dominou, enquanto podia, o mundo dos portáteis, do Game Boy ao 3DS. Mas teve consoles que não foram campeões de vendas: Nintendo 64, GameCube e, o pior deles, o Wii U. A Nintendo sempre foi saudável financeiramente, pois soube administrar suas franquias mais do que seus próprios consoles, mas dá pra entender um pouco tudo isso refletindo no valor da empresa através de suas ações:
Observando o gráfico, dá pra ver melhor a “montanha russa” que a companhia de Kyoto vive, entre seus sucessos e problemas: seu auge foi em novembro de 2007, época de explosão do Wii, quando uma ação chegou a valer 70.500 ienes. Caiu bastante durante a “era Wii U“, e teve uma retomada com o sucesso do Switch. Atualmente, suas ações valem cerca de 60 mil ienes (cerca de R$ 3 mil: curiosamente, o preço do console no país).
O que isso nos leva a refletir? Que o sucesso do Nintendo Switch é a oportunidade da Nintendo recuperar não só o prestígio, mas a paz financeira. Em 2016, antes do Switch, a Big N encarava a possibilidade de quedas entre 34% e 54% de lucro. Afinal, o Wii U não vendia lá grande coisa, e o 3DS, onipresente no início da década, agora já sofria com a competição dos smartphones.
Já no início de 2020, com o Switch consagrado, a companhia viu o seu melhor lucro trimestral, em dez anos. Isso faz com que a companhia mantenha uma política de manutenção de preços. Afinal, se “continuam comprando, pra quê baixar os preços”? O Switch segue, após três anos, pelo mesmo preço: US$ 299. Os games também no “preço cheio”: Super Mario Odyssey e Zelda: Breath of the Wild, de 2017, seguem à venda por US$ 59,90.
A Nintendo se posicionou bem com o Switch, oferecendo as suas franquias consagradas como um elemento “premium”. Mesmo com “cara de brinquedo”, é possível ver semelhanças na estratégia do Nintendo Switch com o iPhone, já que tanto Apple como Nintendo tem os seus fãs “fiéis”, que pagam o preço que for no console. E, se os games seguem vendendo, mesmo com preço cheio, há meses, ninguém em Kyoto vê razões para “abaixar a tabela”.
A Nintendo sempre trabalhou de maneira mais conservadora que as demais: abaixar preços de forma radical, salvo necessidades extremas, não faz parte da política da empresa. Uma rara oportunidade em que a Big N lançou, logo de cara, um console mais barato que seus concorrentes, foi com o GameCube, que chegou às lojas, em 2001, 100 dólares mais barato do que Playstation 2 e Xbox. Lembre-se que, lá fora, um Switch, mais limitado em hardware, custa os mesmos US$ 299 de um Playstation 4, e Xbox One, e custará o mesmo preço de um Series S.
E, seus movimentos, são bem mais lentos do que o normal na indústria. Basta ver que tivemos um intervalo de dois anos entre a distribuição de games no país, e apenas por cartões de presente, sem os cartões, e o lançamento de apenas um console da linha Switch de maneira oficial. O Lite segue sem o lançamento em terras brasileiras.
O problema é que essa postura segue no Brasil. Com os nossos conhecidos problemas econômicos, os impostos que temos que lidar e, para piorar, a alta do dólar em 2020. Vamos falar disso já.
Nintendo Switch não é caro só no Brasil. Mas o Brasil “piora” tudo
R$ 2.999,00. Com mais noves do que seu preço em dólar, este foi o preço apresentado pela Nintendo para o Switch “oficial” do Brasil. O que foi amplamente questionado por muita gente. Bom, antes de qualquer coisa, vamos acompanhar como o preço do console foi “construído” no Brasil:
Primeiro, a conversão em dólar. Com o Switch a US$ 299, e com o dólar em uma média de R$ 5,30, o preço médio do console, sem impostos, ficaria na casa dos R$ 1.500 (sem impostos, como o IOF, que alguém pagaria na compra do console, em cartão internacional, por exemplo). Faltam a outra metade, R$ 1.500. Para esse valor, soma-se: os valores de importação, o IPI, que é de 40% para consoles de mesa, entre outros impostos, mais questões de logística e distribuição, além da margem de lucro. Isso é: margem do lucro duas vezes, neste caso, pois no valor original, de US$ 299, já há a margem da Nintendo.
Mas videogame oficial caro da Nintendo no Brasil não é novidade. Lembre-se que o Nintendo Wii, importado oficialmente, era vendido aqui, pela Latamel, por incríveis R$ 2.399,00. Em uma época que o console custava US$ 250, e o dólar estava na casa dos R$ 2,20. Hoje, um console que custa, lá fora, US$ 299, custa aqui cerca de US$ 560. E não, importar sozinho não vale a pena. As questões de alfândega e envio acabam com qualquer sonho de trazer um Switch, via Correios, dos Estados Unidos.
O Switch no Brasil tá caro? Sim, mas poderia ser pior. Há quem especulava que o console chegaria custando R$ 3.500, isso sem falar do mercado cinza, que vendia em sites de vendas Brasil afora o console pelo preço bizarro de R$ 5 mil. Pelo menos, olhando pelo lado bom das coisas, a Nintendo “acabou com a farra” dos vendedores dos sites de marketplace.
A Nintendo poderia atuar diferente com o Brasil: vendendo o console a preços mais acessíveis, e lucrar ao divulgar serviços, como o seu serviço online. Ou na venda de games. Poderia “perder” um pouco no lucro do console, mas vender mais. Mas isso não vai acontecer. Além da Nintendo não mexer também em seus preços no exterior, aqui no Brasil, tá bem claro que o alvo da companhia é um só: a classe média. Não há indícios de que a Nintendo busque a liderança de consoles no Brasil, e nem o interesse de colocar “Switch na mão de todo mundo”. Lembrando que nem o Switch Lite, que, neste modelo de negócios, poderia chegar aqui entre R$ 1.999 e R$ 2.499, e poderia ser a “versão de entrada”, foi anunciado no “pacote” brasileiro.
Por isso, não espere por preços baixos a médio prazo. Apenas promoções, que poderão diminuir um pouco o preço. A Nintendo sabe o público que tem no Brasil, e sabe que pode vender para esta pequena parte da “população gamer” disposta a pagar este valor. A facilidade de crédito no Brasil também ajuda a quem, “engolindo seco”, resolver parcelar o videogame em “10 vezes de R$ 349,90”. Então, pelo menos nestes meses, a Nintendo está bem confortável, tanto em seus fatores externos, quanto em sua presença no Brasil.
O videogame está caro sim, e seguirá assim por muito tempo, assim como seus jogos, que, incluindo games de três anos atrás, seguem em valores altos para a realidade da maioria das pessoas. Bem diferente do que Sony e Microsoft fazem no Brasil, oferecendo promoções constantes, serviços que oferecem games mediante assinatura, e selos especiais, que colocam games antigos a preços mais acessíveis. Seria importante tal medida no país, por parte da Nintendo. Pois, além do console caro, a biblioteca também não ajuda muito, no fator preço.
Quem conseguiu comprar, importando, no passado, está feliz, por ter pagado entre R$ 1.000 e R$ 1.500 no videogame. Agora, quem quer um Switch hoje, a única boa notícia que vai contar, é a de que não precisará pagar o abusivo preço de R$ 5 mil no console. Infelizmente, a realidade, para quem quer Nintendo Switch no país, é essa: ou junta a grana, ou parcela. E terá que aceitar este valor, se não houver a possibilidade, por exemplo, de ir ao exterior buscar um Switch lá.