Uma análise sobre os preços do Playstation 5
E, na nova geração, só faltava ela. A Sony enfim anunciou os preços de seus dois modelos de Playstation 5. Em 12 de novembro, nos mercados principais, e em 19 de novembro, no resto do mundo, quem quiser participar da nova geração com um console Playstation terá que desembolsar US$ 399 na versão sem leitor de disco, e US$ 499, na versão que aceitará discos.
Já há o valor em reais, conforme divulgamos ontem: R$ 4.499 a versão digital, e R$ 4.999 a versão com discos. Falarei mais especificamente sobre os valores no Brasil em breve. Hoje, só o preço “original” em dólar, combinado? Mas se quiser comprar ele na pré-venda, é só ir na página da Amazon, tanto para a versão com disco, quanto para a versão digital.
Mas, que tal analisar mais a fundo o preço? Ver o histórico da Sony com lançamentos de videogames, o momento atual da companhia, e as possíveis estratégias que a companhia tem para a nova geração? É isso o que vamos fazer, agora.
Por incrível que pareça, lá fora, o PS5 poderia ter sido mais caro
Sim, é estranho ler isso, ainda mais nós, brasileiros. Mas lá fora, o PS5 vai dar prejuízo, pra Sony, em um primeiro momento. Era para o console custar US$ 100 a mais. Entretanto a estratégia é simples: perder no console para recuperar em games e assinaturas. Os games, exclusivos ou não, rendem dinheiro, assim como a venda de assinaturas. A PS Plus já tem 41 milhões de assinantes, e pode aumentar a base, com a proposta de jogos “de aluguel” para o novo console.
Esse modelo de negócios é usado, de forma mais agressiva, pela Amazon. Lá fora, ela vende, por exemplo, o Fire HD 7, um tablet, por incríveis US$ 49. Embora a empresa subsidie muito desse valor, ela usa como uma espécie de “isca” para oferecer seus produtos: o Prime, o Kindle Unlimited, além das possíveis vendas em lojas físicas. Logo, esse valor “perdido” é rapidamente recuperado, além de criar fidelidade ao consumidor em seu ecossistema.
A Sony vai apostar de forma parecida. Pela primeira vez, a compatibilidade com uma versão anterior é uma atração para o jogador de Playstation 4. Que tem quem tenha ficado ressentido, por não poder “levar” seus games de PS3 para o novo console. Além disso, a Plus deu um salto, oferecendo, no PS5 uma biblioteca de games de PS4 para ampliar a gama de jogos. Que espero, com o passar dos anos, que some jogos de PS5 também.
Enfim, o preço de US$399/US$499 lá fora, está ótimo. Lembrando: LÁ FORA! Não estou considerando o preço no Brasil. A Sony segue a tendência atual, ficando em um meio termo entre o que ela já fez no passado. O primeiro Playstation começou muito bem, sendo lançado a US$ 299, mais barato que seu rival, o Saturn. Cinco anos depois, o Playstation 2 chegou pelo mesmo valor.
Já com o Playstation 3, a Sony foi mais “careira”, lançando ele a US$ 499 e US$ 599. O Xbox 360, seu concorrente, lançou uma versão de US$ 299. E o Playstation 4 saiu por US$ 399. Cem dólares a mais do que o Xbox One, que vinha com o Kinect obrigatoriamente. Isso significa que, preferências a parte, o fator preço é importante sim. A própria Sony teve bons impulsos em seus consoles, quando eles eram mais baratos que seus rivais.
Na geração atual, o Playstation 5 segue, como sempre, com configurações inferiores a seus concorrentes. Mas tudo bem para o seu potencial consumidor, pois a marca sempre atraiu sua comunidade através de seus games. O consumidor fiel de Playstation também não se importa com um custo-benefício menor do que o de Xbox. Então, para ele, seja a versão digital ou a com disco, este valor está dentro do esperado. E a pessoa que gosta de Uncharted, The Last of Us e outros, terá o “roteador branco” na sua estante em novembro.
O alvo principal é o “fã de Playstation”
Exclusivos. Este talvez é o principal argumento de quem é fã de Playstation para defender suas escolhas. E quero dizer fã, não consumidor. Há uma diferença, e você pode verificar apenas olhando as vendas de Playstation 4. O console da Sony, que vendeu muito em sete anos, acumula 112 milhões de unidades vendidas. Entretanto, seus exclusivos raramente atingem a faixa dos 20 milhões de cópias vendidas.
God of War vendeu 10 milhões de cópias em um ano. Horizon Zero Dawn precisou de mais tempo para vender também 10 milhões de cópias: 2 anos. Uncharted 4 vendeu 16 milhões, enquanto Spider-Man, vendeu 13 milhões de unidades. Não me leve a mal. Não quero dizer que as vendas foram “baixas”. Longe disso, pois convencer 10 milhões de pessoas a comprar um jogo, é um fator muito interessante.
Mas, o que quero dizer, é outra coisa: que a maioria esmagadora de donos de Playstation 4, estão longe do que podemos chamar de “bolha gamer”. Não ligam para exclusivos, não conhecem recursos como definição, resolução, ou engines. Alguns nem conectam o console à Internet, e muito menos conhecem a Playstation Plus. O serviço da Sony tem 41 milhões de membros, o que não é a metade de sua base instalada.
Isso significa uma coisa: maioria não significa, necessariamente, preferência absoluta. Ou que os 112 milhões de donos de Playstation 4 sejam pessoas que “fazem hype” por um The Last of Us, ou que querem desesperadamente jogar um novo God of War. Entretanto, é para este fã, mais fiel, da Sony, que é possível ver o alvo de seus primeiros movimentos. A lista de jogos anunciados, recursos, serviços e preço: tudo para o fã que vai no Twitter “mostrar seu hype” pelos jogos do console.
E a razão é simples: apostar na torcida, pra torcida, via boca a boca, fazer o resto do trabalho. O Playstation 5 vai vender “muito” na largada? Não, não vai. A expectativa de vendas está na casa das seis milhões de unidades. O Playstation 4, por exemplo, vendeu 7.5 milhões de unidades no mesmo período. Mas vai vender o sucificente, pois mesmo com as questões do coronavírus, vamos lembrar de uma coisa: a comunidade gamer é extremamente consumista, e há sim pessoas dispostas a sacrifícios “em nome do hype”. Isso vale pra Microsoft, vale pra Nintendo, e com a Sony não é diferente.
Inclusive isso explica a opção por não levar seus vindouros exclusivos, por um período, ao Playstation 4 (se bem que a Sony demonstrou, pelo menos por enquanto, ter “voltado atrás). O “fã” assume o sacrifício, paga “o preço que for”, inclusive nós brasileiros, começa a falar dos games, e vai passando a mensagem. Enquanto isso, o console vai barateando com o tempo e atrair outras pessoas. O único porém, desta vez, é que a Microsoft tem uma arma poderosa para este público mais casual: o Xbox Series S, focada no público mais alheio ao mundo dos games, e que “só quer algo pra plugar e jogar um GTA“.
Não esqueça: o sucesso do Playstation é importantíssimo para a Sony
Por fim, não custa lembrar: Nos últimos anos, quem carrega a Sony nas costas, é a divisão Playstation. A companhia, que em outros tempos foi sinônimo de status e qualidade em TVs, câmeras, smartphones e aparelhos de som, viu sua fatia no mercado diminuir de maneira drástica, nos últimos anos. Isso significa que o Playstation 5 destaca grande atenção da Sony.
Como falei em outra oportunidade, a Sony possui outras marcas e empresas: a marca Walkman, a Columbia (que também possui os direitos do Homem-Aranha para o cinema), algumas gravadoras, a Funimation entre outras empresas. Mas, nos últimos anos, é o Playstation que mantém a saúde da empresa. Em 2020 com o aumento de procura em games pela pandemia de Covid-19, por exemplo, a divisão de games, sozinha, rendeu lucros de US$ 5.7 bilhões para a Sony.
A popularização do Playstation 4, que atingiu muito além da “comunidade gamer”, mais o sucesso com a base, com seus games vendendo bem, na média de 10-15 milhões de cópias já mencionada, faz com que todos os movimentos com o PS5 sejam vistos com maior importância, do que os movimentos da Microsoft com o Xbox. Não falando de maneira dramática, ou apocalíptica, mas é fato que, pelo visto nos últimos anos, o sucesso do Playstation sempre será fundamental para a boa saúde financeira da Sony. Resumindo: a Sony tem menos direito “de errar”.
Isso pois ela perdeu espaço em vários outros setores. As TVs Bravia, que eram objeto de desejo há alguns anos, ainda existem, mas perderam muito espaço para concorrentes coreanas, como a Samsung e a LG. No mundo dos smartphones a Sony bem que tentou também, porém perdeu terreno, para as mesmas coreanas, as chinesas, como Huawei e Xiaomi, e até a Apple. Uma olhada nas ações da Sony, na NYSE, também ajudam a ver que a companhia vive momentos de altos e baixos, apesar de estar em razoável crescente desde 2012:
Chega a ser estranho: a divisão tem situação muito diferente da companhia. Enquanto a divisão goza da liderança em vendas, e tem uma base fiel, a companhia em si tem sofrido vários problemas, inclusive fechando fábrica no Brasil, o que mostra um choque de realidades entre “mãe e filha”.
Assim, o foco é o PS5, e o alvo prioritário para este sucesso é a base: faz a base feliz, ela “grita”, outros ouvem. Em alguns anos, alguma versão “slim” também pode chegar, o que significaria o início da “era da popularização”. Mas, com um Xbox sendo vendido logo de cara a US$ 299 (o mesmo preço dos consoles atuais, diga-se de passagem, o que é mais uma mostra de que o casual é o alvo) será que a Sony vai nadar de braçadas dessa vez? Um tanto difícil. A seu favor, há uma espécie de “top of mind” quando o assunto é videogame. Mas, historicamente, falando de vendas e não de preferências, o preço sempre foi um fator bem importante para vendas de consoles.
O Playstation 5 oferece o melhor custo-benefício entre os games? Não. Porém oferece recursos que satisfazem seus consumidores, além dos tão falados “exclusivos”. Desta vez, a Microsoft chegou duro na briga, e assim como foi em 2006, chegou com preços competitivos. Que, fizeram com que, na largada, o Xbox 360 tivesse vendas muito maiores do que o PS3 (sabendo, depois, que a Sony conseguiu “equilibrar a balança”, quando mudou suas estratégias).
Mas, acima de preferências e preços, o consumidor prioritário de Playstation, no exterior, está satisfeito. Pagará um preço dentro da média histórica dos lançamentos, e terá games dentro de suas expectativas, como Final Fantasy XVI e um novo God of War. O que eu quero observar é, se no futuro, a Sony conseguirá, mais uma vez, convencer o consumidor do lado de fora da bolha gamer, para continuar no lado Playstation da força.