Os videogames precisam mesmo ser historicamente fiéis o tempo todo?
Após o lançamento de Call of Duty WWII no ano passado, e o anúncio de Battlefield V, os principais títulos de FPS sobre a Segunda Guerra Mundial atualmente, alguns questionamentos foram feitos sobre uma característica do jogo, que é o afastamento da realidade histórica. O primeiro foi acusado de se afastar da questão por não manter as suásticas nos modos multiplayer e zumbi (!), enquanto o segundo gerou comentários por colocar na capa a presença de uma mulher.
Um jogo eletrônico é um produto cultural, ou seja, ele está inserido em uma lógica de produção/consumo/circulação. E como tal apresenta os interesses dos indivíduos que formam uma sociedade, apresentando assim as contradições e visões de mundo dos produtores e responsáveis pela divulgação do jogo. No caso de um jogo que tem como pano de fundo um elemento histórico, nesse caso a Segunda Guerra Mundial, é esperado que um jogo possua fidelidade com o período histórico retratado.
Porém um jogo não é um livro de história, nem um documentário ou muito menos pode reproduzir a História tal qual aconteceu, sua intenção é o entretenimento. Então fica uma questão: Até que ponto um jogo pode (e deve) ser fiel a realidade histórica na qual ele busca representar?
Para exemplificar essa questão vou citar um exemplo, jogos como Age of Empires III e Sid Meier’s Colonization IV, que possuem o pano de fundo a temática da colonização da América, negam a escravidão africana no atlântico por serem temas pesados e difíceis de tratar porém não enxergam da mesma maneira, a presença de um aspecto negativo, a conquista e posse de terras da população ameríndia. É uma questão um tanto quanto complexa.
Voltando ao período da Segunda Guerra Mundial, outros jogos que também são focados no período, como a série Commandos, lidam com essa questão de verosimilhança. Já no começo do jogo são apresentados vídeos reais de tropas nazistas marchando, servindo de ponte para situar o jogador no período, além disso, antes de cada missão é apresentado uma espécie de dossiê que conecta as etapas da Guerra com a missão específica. Outro jogo que também trata dessa questão é a série Company of Heroes, no primeiro título o jogador poderia controlar os Aliados e tropas do Eixo, focando nos EUA e Alemanha, depois foram lançadas expansões que também possibilitava o controle de tropas britânicas. No segundo título essa opção continuou e o palco da guerra foi modificado para o lado oriental, onde é possível perceber o lado dos soviéticos em relação ao conflito.
Ao meu ver, a possibilidade de controlar lados opostos, com visões e objetivos distintos é algo extremamente positivo nos Jogos com temática histórica. E você leitor, concorda? Até que ponto os jogos devem ser fiéis ao contexto histórico? E se não forem, perdem a autenticidade? Se forem demais deixa de ser um jogo e vira outra coisa? Não deixe de opinar.