Voice-Chat Arkade: Celebridades deveriam dublar personagens de videogames?
Recentemente recebemos uma boa leva de atores e músicos nacionais participando na localização e dublagem de videogames. Mas será que eles deveriam estar tão envolvidos assim? Ou este lugar é apenas para os profissionais da área?
Uma tendência que anda se intensificando cada vez mais é a participação de celebridades em videogames no Brasil no processo de localização de um jogo. Um exemplo é André Ramirez (Tropa de Elite) trabalhando ao lado de Dan Stulbach (Mulheres Apaixonadas) na dublagem de Battlefield 4.
Além disso, temos Marcos Veras e Rafael Infante (ambos integrantes do Porta dos Fundos) sendo Batman e Robin em Lego Batman 3: Beyond Gotham, Roger Moreira (Ultraje a Rigor) interpretando o policial Nick Mendoza em Battlefield: Hardline e mais recentemente, e a cantora Pitty foi confirmada como a voz da filha do casal Johnny Cage e Sonya Blade, Cassie Cage, em Mortal Kombat X.
O aumento de celebridades — atores, músicos e artistas em geral — nos videogames é uma consequência direta do suporte contínuo das empresas em nosso país, ou seja, publicadoras e desenvolvedoras como Warner Bros. e EA Games, além da Sony, Microsoft, Sega e várias outras AAA que estão dando mais atenção ao Brasil e trabalhando para traduzir jogos, que se fosse um caso diferente, não seriam bem traduzidos ou sequer localizado para cá.
No entanto, colocar pessoas famosas no lugar de dubladores profissionais seria a melhor forma de valorizar o trabalho de dublagem?
Precisamos esclarecer que chamar alguém famoso para participar de seu projeto funciona quase que inteiramente para a publicidade, tirando os casos em que a pessoa famosa também é talentosa e realmente consegue dar um valor além de sua popularidade, acertando dois em um. O problema existe no desperdício que vemos quando alguém famoso ocupa o espaço de uma pessoa talentosa e que poderia melhorar o projeto, algo que muitos estão criticando com os recentes anúncios dos jogos que foram citados até agora.
“Ah, mas nos Estados Unidos eles vivem chamando atores famosos para interpretarem personagens em videogames!”
Sim, isso é verdade. A cultura lá de fora sempre fez de tudo para unificar todo o tipo de subcultura, tendo artistas participando em qualquer projeto. E essa tendência lá fora vai continuar ainda mais, especialmente pela Activision nos ter dado Kevin Spacey em Call of Duty: Advanced Warfare, Mike Bythell colocando Andy Serkis no aguardado Volume, e também a Sony e Quantic Dream contratando Ellen Page e Willem Dafoe para participar de Beyond: Two Souls, aumentando o número de jogos que não usam somente a voz, mas também a aparência e personalidade daquele artista.
E isto nem é algo pioneiro, lembrando que Stranglehold fez isso com Chow Yun-Fat e Onimusha 3: Demon Siege fez o mesmo com Jean Reno anos atrás, sendo alguns dos vários exemplos desta prática sendo feita no passado.
A tecnologia e o valor cultural dos videogames ajudam nesse caso, dando oportunidades para artistas que querem participar de um videogame, seja porque gostavam de jogos desde pequeno ou porque encontraram algo de interessante naquela vertente. Lembrando que você não precisa ser um “gamer” para dublar videogames, já que a ideia é trazer vida ao personagem daquele jogo e não de todos que já foram lançados, deixando ao discernimento do dublador em estudar a história daquele jogo em questão.
Mas aí é que está o grande problema, todos os jogos lançados que citei conseguiram ter um sucesso porque os atores são talentosos, se importaram com o jogo e com seu respectivo personagem, e infelizmente eu não consigo ter a mesma sensação transmitida pelo artista quando vejo Roger em Battlefield: Hardline ou a Pitty interpretando Cassie Cage em Mortal Kombat X.
Claro que não posso pular para conclusões em um jogo que ainda não foi lançado, continuo com a esperança de que os artistas selecionados farão um trabalho competente para incorporar aquele personagem. Mas temos um questionamento ainda maior: Será mesmo que as empresas são culpadas por chamar estas celebridades?
Em uma entrevista ao Kotaku, o famoso dublador de todas as mídias imagináveis, Guilherme Briggs, comentou o estado atual da dublagem nacional nos videogames. Em vários momentos ele explica o trabalho porco que envolve a localização de jogos no Brasil, além de esclarecer um questionamento pertinente em uma das perguntas a respeito de quem é o culpado da história, sendo que não existe alguém para apontar, seja a empresa, o dublador ou ambos.
Mas antes, veja o caso da empresa, vendo que não existe bons dubladores no mercado ou que não existe uma estrutura para que o dublador consiga fazer o seu trabalho, a única resposta desta empresa é chamar alguém famoso para participar de seu jogo, que já funciona como um empurrão para os fãs daquela pessoa comprarem o jogo.
Obviamente que isto não é a solução correta, afinal, colocar uma pessoa que não é do ramo de dublagem enfraquece o mercado e o valor dos dubladores em geral, algo que continua em declínio por todos os motivos já citados neste texto. Mas esta opção é extremamente fácil de se fazer quando se é uma empresa, e a visibilidade daquele produto fica em primeiro lugar na lista de prioridades.
Sim, a localização pode errar na maioria das vezes, salvo algumas exceções como a excelente dublagem de The Last of Us e até a ótima dublagem do já mencionado Battlefield 4, mostrando que atores também podem fazer um ótimo trabalho em outros ramos. Mas ainda é quase contraditório ver um mercado que está em crescimento mesmo lançando trabalhos abaixo da média que mais incomodam do que ajudam.
Em todo o caso nós precisamos de um foco maior neste ramo que aumenta sua demanda a cada jogo lançado e pensar antes de colocar a primeira pessoa famosa que ver, porque no final o estrago pode ser muito maior do que qualquer ganho imaginado pela empresa.
O que vocês acham? Dublagens de jogos deveriam pertencer somente para dubladores ou artistas merecem um lugar no mercado? E afinal, vocês fazem questão de um jogo ser localizado para cá? Deixe a sua resposta nos comentários!