Voice-Chat Arkade – Games: por uma geração mais inteligente
Nos primórdios da era dos videogames, quando um game era somente um amontoado de pixels se movendo pela tela, para chegar de um lado a outro, ou cumprir determinado objeto, eles eram simplesmente classificados como “uma diversão para crianças”. Porém, mesmo naquela época, havia uma ponta de aprendizado por trás daqueles pixels; era necessário um raciocínio rápido para superar obstáculos, e um mínimo de estratégia para chegar ao fim do game.
Os anos se passaram, os games cresceram junto, e o “brinquedo” foi se tornando mais sofisticado. E as histórias que ele nos conta também: aos poucos, os games foram ganhando enredos complexos, motivos para aquele personagem estar tentando chegar ao seu objetivo. Com isso, a capacidade de transmitir valores e conhecimento também aumentou.
As crianças que acompanharam o início de nossa diversão digital se tornaram adultos, e os games os acompanharam na passagem dos anos, oferecendo novas experiências que se tornarm mais complexas, inteligentes e desafiadoras.
Hoje os games são uma mídia bem democrática, existe a diversão descompromissada de alguns jogos, a violência exagerada de outros, a simulação esportiva realista, a aventura medieval, e por aí vai. Mas o que todos esses gêneros possuem em comum? Eles podem nos ensinar coisas de maneira lúdica, interativa… e divertida!
Desde o treinamento do raciocínio para resolver puzzles em Zelda, a coordenação necessária para apertar o botão certo em um quick time event de God of War, a agilidade mental e precisão para dar aquele headshot em um soldado inimigo em Call of Duty, a rapidez de raciocínio para correr, saltar, deslizar e andar pela parede de Prince of Persia… até o Mario nos ensinou a ter perseverança, pois a princesa sempre está em outro castelo!
Mas isso é só o básico: os games podem, e já vão, muito além do que isso, hoje temos games que podem ensinar história, desenvolvimento de análise crítica, sociabilidade, e muito mais! Temas que não entram na cabeça de muita gente como matemática, física e até mesmo química podem ser facilitadas com um bom game. Ou você nunca reparou quanta física está envolvida em games como Portal, por exemplo?Não estamos falando daqueles games educativos à venda em bancas de jornal (nada contra eles, alguns até são legais), mas das grandes produções de hoje em dia. Franquias inteligentes, com enredos fortes, histórias que mesclam de maneira impressionante história real com ficção e instigam a curiosidade do jogador.
A franquia Assassin’s Creed, por exemplo: temos localidades, acontecimentos e muitos de seus personagens saídos diretamente do mundo real. As cidades são construídas com extrema atenção aos detalhes da cidade real. Os inimigos, as datas e contextos de suas mortes, também foram baseados em suas histórias reais.
Até mesmo a Ordem dos Assassinos existiu de verdade (e pasme, eles utilizavam mantos brancos com uma faixa vermelha na cintura). A própria cidade de Masyaf existe, e fica na Síria!Claro que nem a cidade nem a Ordem deviam ser exatamente como a franquia mostra, os assassinos de antigamente talvez fossem bem menos glamourosos, mas é fato que eles existiram. Rodrigo Borgia, Cesare Borgia, Maquiaveli, Bartolomeo D’Alviano, e obviamente Leonardo da Vinci existiram, e viveram em contextos muito semelhantes ao que vimos nos games.
Outras franquias, como a série Metal Gear Solid, aborda história real e aproveita para inserir temas polêmicos. A série já nos mostrou questões éticas sobre genética e clonagem, ideologias políticas em respeito a guerras, disputas de poder e mesmo conspirações envolvendo os governos mais poderosos do mundo.
A polêmica questão (ainda atual) sobre desenvolvimento e todo o conceito de armas nucleares, as superpotências que usam a força para controlar o mundo… está tudo lá, realidade diluída em ficção. Em muitas situações o próprio gamer deve refletir sobre o controle existente sobre a população por “forças maiores”, os questionamentos levantados por Metal Gear Solidsão enormes, e podem render muitos debates.Outros jogos, como Heavy Rain, Mass Effect ou o recente The Walking Dead, brincam com o livre arbítrio do jogador, dando-lhe a liberdade de decidir o que fazer, desde que seja responsável por seus atos. Não é assim que a vida funciona: faça suas escolhas e encare as consequências? Com a vantagem de que, nos games, podemos dar um “retry” e tentar de novo, enquanto na vida, quase nunca temos uma segunda chance.
Nem precisamos ir para este lado tão sério da coisa: que tal aprender uma boa (e violenta) dose de mitologia grega em God of War? Ou viajar pela cultura oriental em Okami? Fazer uma passagem (ainda que brutal e exagerada) por uma das obras mais importantes da história em Dante’s Inferno? Exercitar seu raciocínio e seu vocabulário jogando Scribblenauts?
Estes são só os exemplos mais óbvios, pois a lista de games que consegue ir além da diversão para nos ensinar alguma coisa é gigantesca.Ok, grandes histórias inspiradas no mundo real nos são contadas, mas e a barreira do idioma? Bom, que tal fazer desta barreira uma motivação para aprender? Um bom nível de inglês é fundamental hoje em dia, e jogar videogame é uma ótima maneira de se familiarizar com o idioma. Para não ficar boiando na história, muita gente corre atrás, pois quer entender o que está se passando, o que os personagens estão falando.
Hoje, com o Brasil numa posição de destaque no cenário de games internacional, mais e mais games estão sendo traduzidos – legendados e até mesmo dublados – para o nosso português, mas muitos grandes games continuam em inglês, permitindo no máximo uma mudança para espanhol. O inglês do colégio foi só o primeiro passo, o resto é com você: pratique e exercite seu inglês enquanto joga. Se precisar, jogue com um dicionário do lado, e perceba como sua compreensão de fonemas e sua bagagem do outro idioma vai aumentar enquanto você joga!
Apesar de tudo isso, ainda há quem critique os games, julgue-os meros “brinquedos de criança”, ache que eles são coisa do capeta (?!) ou culpe-os por qualquer tipo de barbaridade perpetrada por jovens gamers. As pessoas têm medo do que não conhecem, e geralmente quem tem essa opinião não conhece todas as vantagens físicas, motoras e intelectuais que os games nos trazem.Mas a indústria dos games continua crescendo e mostrando para todo mundo as incríveis ferramentas de conhecimento, imersão e, claro, diversão que são os games!
O fato é: assim como um livro, um filme, uma música, e até uma boa conversa, games são um meio poderosíssimo para disseminar cultura e desenvolver as capacidades intelectuais de uma pessoa. Nas mãos de pessoas capacitadas, o melhor pode ser extraído de tudo!
Este artigo foi escrito por nosso colaborador Renan do Prado.