Voice-Chat Arkade: Não me importa a cor do Homem-Aranha. Me importa que ele seja bom.
Muito tem se falado sobre o Homem-Aranha desde a sua “volta” para a Marvel no que diz respeito aos filmes da companhia. E também muito tem se falado sobre super heróis como um todo, por tabus que estão sendo quebrados e questões sendo levantadas.
Estamos vivendo uma era de questionamentos. Muitos valores que até tempos atrás eram considerados comuns, hoje é visto com outros olhos e alvos de muita discussão. As super heroínas com seus maiôs, o excesso de “americanização” dos personagens ou temas como o homossexualismo nas histórias geram conversas em fóruns e mesas de bar mundo afora. E isso, com bom senso e respeito é bom. Pois mostra o quanto estamos seletivos e como o “sempre foi assim” não funciona mais.
Claro, desde que exista o respeito: de conversar, de entender opiniões diferentes e acima de tudo, de aceitar que existam pessoas que se expressem de maneira completamente diferente da sua. Passando deste ponto, qualquer agenda perde o sentido: o homossexual ou o conservador, a feminista ou o machista perdem razão (mesmo quando a possuem) quando colocam a arrogância e a petulância no debate, querendo impor seus valores e ideias ao invés de apresentar que novas maneiras de enxergar o mundo são possíveis.
Pois bem, no meio de tudo isso apareceu a notícia de que o Homem-Aranha que irá aparecer nos filmes da Marvel será negro. Ou latino. Tanto faz, o fato é de que ao invés do nova-iorquino Peter Parker, tudo indica que Miles Morales (da série Ultimate das HQs) será o amigo da vizinhança nos filmes da empresa. A tendência obviamente é aproveitar deste momento onde questões de minorias estão sendo levantadas, e sair na frente da “conservadora” DC como a dona da bandeira de defensora dos direitos.
A própria Marvel, historicamente busca trazer em suas histórias situações e personagens que fogem do “só salvar o mundo”: os X-Men lidam com o preconceito desde 1963, Thor a partir de agora será uma mulher nas HQs, o Capitão América será negro e até o Wolverine já assumiu um relacionamento gay em história num universo paralelo ao “oficial”. Isso mostra como a Marvel sempre se sentiu um pouco á vontade de tocar em temas polêmicos, mesmo dando bola fora ás vezes. Mas é claro que tudo isso é para vender mais, vamos ser sinceros.
Só que assim como muitos que estão aqui raciocinando comigo, entramos num dilema: Peter Parker é um personagem legal, com seu jeitão nerd e atrapalhado enquanto tenta ser um herói bonzinho, mas é interessante também ver o Aranha negro salvando o dia com Os Vingadores. Peter Parker é o herói que estrelou todos os filmes conhecidos da grande mídia e essa mudança seria confusa para quem não acompanha as HQs e sua dinâmica, mas um possível Aranha Morales bem construído faria a gente ignorar todos os porquês a apenas curtir os lançamentos de teias nos curtas.
Mas porquê levantei estas questões antes? Simples: por preferir Peter Parker como Homem-Aranha, mas sem me sentir mal por preferir o branco ao invés do negro. Nosso mundo anda tão bagunçado que o simples fato de achar ruim outro herói ao invés de Parker poderia fazer de mim um racista, um desgraçado que merece a fogueira. Mas não. Valorizo as buscas por novidades, valorizo as lutas das minorias por igualdade e acredito que esta igualdade só vem se equilibrar a balança, ou seja, tirando peso de um lado e colocando do outro. Mas ainda assim prefiro o Peter se atrapalhando para querer ajudar a sua Tia e o Homem de Ferro.
Em contrapartida, posso queimar minha língua e ver o outro Aranha ir muito bem e elogiar ele ao ver o filme, mas não por causa de cor de pele, mas por mérito de roteiristas e atores que do mesmo jeito que capricharam na construção do Tony Stark dessa geração, podem acertar a mão de novo. Quem ganha somos todos nós. Por isso, mesmo preferindo Parker, o título deste texto reflete minha ideia sobre tudo isso: não me interessa a cor e sim a qualidade do personagem.
Acredito que talento e competência são características do ser humano e não da cor da pele. Se a indústria do cinema e de conteúdo midiático em geral sempre preferiu o padrão “branco-estadunidense-alto-forte-olhos-claros”, azar. Perdem muito com isso, mas pelo visto as coisas estão mudando.
Nosso universo gamer/nerd precisa evoluir muito ainda. Temos uma minoria (mas que grita bem alto) de pessoal altamente prepotente, dono da razão e arrogante, lembrando também do alto grau de preconceito que é vomitado todos os dias por esse pessoal. Basta ver os tratamentos que as garotas sofrem em jogos online ou perder tempo “apreciando” certas páginas de comentários internet afora (em tempo: parabéns para você, leitor da Arkade, que é curva fora do rio e sempre manteve em nosso site um exemplo de bom senso em respeito ao comentar!). Isso sem mencionar o GamerGate, né?
E quem sabe não seja com o amigo da vizinhança que essas questões possam de fato ampliar ainda mais o nosso diálogo por igualdade, mesmo que no fim das contas, o que interessa pra Marvel/Disney antes de qualquer coisa são os milhões da bilheteria. Se antes o “como estava” era garantia de lucro, hoje o “pode ser diferente” é quem leva as pessoas ao cinema. O que importa é oferecer ao Aranha um filme legal, afinal de contas ele merece. Seja ele o Aranha que for.
* Este texto expressa apenas a opinião de seu autor, não sendo a opinião da Arkade e dos demais membros em relação ao assunto.