Voice-chat Arkade: o ódio à Anita Sarkeesian e algumas reflexões sobre sexismo nos games
Não faz muito tempo, apresentamos a você uma Tribuna Arkade sobre as ameaças que a criadora do Feminist Frequency vem sofrendo através do Twitter. Vamos discutir um pouco mais?
Um advogado defendeu um homem uma vez. Esse homem foi chamado por muitos anos na vida dele de “boi morto”, pois era gordo.
Num belo dia, matou alguém por isso. O advogado na defesa começou: “Senhoras e senhores membros do júri, excelentíssimo senhor juiz e excelentíssima promotoria…” e depois “Senhoras e senhores membros do júri, excelentíssimo senhor juiz e excelentíssima promotoria…”, novamente “Senhoras e senhores membros do júri, excelentíssimo senhor…”, e mais vezes, até que o juiz finalmente o interrompeu e disse que o advogado estava se comportando de forma insustentável na sala de audiência, desrespeitando a todos com essa atitude.
O advogado então retrucou: “Se os senhores já se sentem desrespeitados com toda minha introdução, chamando-os pelos devidos pronomes de tratamento, imaginem como se sentia esse homem, sendo chamado por toda sua vida de ‘boi morto”.
Ele ganhou a causa, dizem os contadores.
Eu escrevi tudo isso, porque acredito que tudo em demasia faz mal. Seja uma ideia, uma atitude, uma atividade… É uma lástima ler todas essas frases horríveis dirigidas, sem motivo aparente, a Anita Sarkeesian. Porém, é muito provável que 99% delas sejam provenientes de pessoas que não têm a mínima coragem de dizer isso na cara (quanto mais de fazer), valendo-se do famoso poder do anonimato, que é uma das características preponderantes relacionadas ao dano moral na internet.
Também acho demais dizer que boa parte dos games seja machista. Eu não encontrei só jogos de mulheres-objeto na minha vida. Pelo contrário. Há personagens incríveis e com um background de louvor nas costas. Lara Croft? Jill Valentine? Samus Aran? Uma mulher, para ser forte e respeitada, deve ter sua beleza ou sensualidade totalmente ignoradas? Acho isso meio impossível.
Não podemos ignorar um atributo por achá-lo ofensivo de alguma forma. Achar inválido que uma mulher apareça nua num vídeo ou sendo estuprada, implicaria achar inválido vermos um doente terminal num filme ou animais sendo caçados em seu habitat. Então vamos proibir tudo? Ok, devemos ter mais atitudes positivas nos games e outras mídias, isso é verdade.
Então vamos falar sobre o que é positivo. Não temos heroínas nos games? Mães lutando por filhos? Jovens mulheres demonstrando seu afeto e sua dedicação por alguém? Alguém que já jogou Final Fantasy VII, por exemplo, deve ter uma ideia disso. Clementine, da série The Walking Dead, é uma grande heroína, mesmo sendo uma criança. Jill é inegavelmente uma heroína e é sensual. Sim, Jill é belíssima e os jovens jogadores querem ver suas pernas de vez em quando na tela, como veriam de alguém da escola ou em qualquer rua do Brasil (imagino que também em alguns outros países).
Por que achar que tudo é negativo? Eu adoro ver jovens protagonistas masculinos mostrando um pouco de sua beleza também. Qual jovem não se encantou um pouco com Ezio Auditore e aquele seu sotaque charmoso? Também temos o enigmático witcher Geralt de Rívia. E o muito habilidoso Kyo Kusanagi (se eu começar a listar personagens japoneses, o negócio vai desandar!). E nem todos são só proeza de músculos, eles também têm emoções e personalidade. Desenvolvedor que se preze não se prende mais a tanto clichê (ainda que aleguem encontrar alguns obstáculos).
E mais uma vez, Clementine. Uma menina frágil e inocente que, ao pé da letra, cresceu em nossas mãos. Uma jovem que enfrentou as mais terríveis situações e permaneceu firme contra a catástrofe que tomou conta de sua vida e de tudo que ela conhecia. E, voilà, um exemplo diferente. Mais uma marca histórica para o mundo dos games. Uma de poucas? Eu diria “Mais uma!”.
É sempre válido, sim, diversificar a cara dos games e criar personagens femininas inesquecíveis e que virem ícones de uma geração, como tantos protagonistas homens desse vasto reino chamado videogame; porém, às vezes, priorizar uma situação e guerrear contra isso até o fim não é o melhor caminho. Muitos de nós, gamers, sabemos que, quando a “fase” está difícil, o melhor é esperar um pouco. Para algo que era impossível, acabamos achando a resposta tão facilmente que nos perguntamos por que não a encontramos antes.
Eu acredito que para toda a opressão ainda existente, não só no videogame, mas em outros campos da vida, já há uma resposta e uma bem dada. Somos nós, muitos de nós que, com muita certeza, criaremos meninas e meninos para viajarem no mundo da imaginação em todas as mídias que eles quiserem e criando os personagens que eles preferirem. Sempre. Seja com lâminas ensanguentadas ou minissaias exuberantes.
Agora é sua vez de debater: utilize o espaço de comentários aí embaixo com sabedoria! 😉