Voice-Chat Arkade: Overkill Software, Payday 2 e a perda de uma comunidade por promessas quebradas
Neste momento, os desenvolvedores da série Payday estão tendo um relacionamento difícil com a sua comunidade. E tudo por causa de uma antiga promessa que foi quebrada pela Overkill Software.
Faz dois anos que Payday 2 foi lançado para PC e consoles, mas o jogo continua recebendo atualizações e diversos eventos para manter a comunidade de ladrões ativa como sempre. O mais conhecido se chama Crimefest, um evento que dura dez dias seguidos e traz uma série de itens, armas, customizáveis e todos equipamentos possíveis, com diversas metas baseadas na quantidade de usuários que precisam ser atingidas durante o evento. Crimefest sempre foi um evento elogiado pela quantidade insana de itens e funcionalidades novas que a Overkill implementava, com atualizações que valiam mais do que o dinheiro gasto para adquirir Payday 2.
Mas teve uma novidade, e mais uma série de pequenos detalhes, que deixou a comunidade alerta para um terror que muitos fãs possuem em seus jogos favoritos: As microtransações.
A Overkill introduziu um novo sistema de furadeiras exclusivas para dois tipos de cofres, o Crimefest II e Sputnik, que somente poderão ser abertos se os jogadores gastarem US$ 2,50 para comprarem um desses dois dispositivos para quebrarem um dos respectivos cofres.
Além disso, Payday 2 recebeu uma série de skins raras para armas, sendo possível comprar, vender e trocar os itens na comunidade do Steam. Outro problema é que diferente de outros jogos que vendem skins que afetam somente o visual, as skins de Payday 2 passaram a melhorar a arma com modificadores, trazendo aquela sensação odiável de um pay-to-win.
Tudo isso foi adicionado no quarto dia do Crimefest. A comunidade não gostou nem um pouco da nova mudança, e no sexto dia Payday 2 recebeu uma atualização incluindo as furadeiras exclusivas na mesa de recompensas, abrindo a possibilidade do jogador receber o item após terminar uma missão bem-sucedida sem ter que pagar nada, mas obviamente a pequena mudança não agradou os fãs. Em resposta a Overkill explicou que iria discutir todos os problemas assim que o evento terminasse.
Alguns dos maiores problemas citados é que não se sabe a porcentagem de chance receber a furadeira especial, sendo que a chance dela cair pode ser pequena a ponto de uma pequena fração de jogadores recebam o item especial. E claro, também temos o problema das armas, sendo que as skins que modificam sua eficiência e poder continuam disponíveis no jogo.
Porém, o que deixou tudo ainda mais dramático foi uma entrevista publicada no Gamespot realizada em 2013 com o designer chefe da Overkill, David Goldfarb, onde ele respondeu a seguinte frase quando foi perguntado sobre a chance de vermos microtransações em Payday 2:
“Não. Não. Deus, eu espero que não. Nunca. Não”.
Isto foi o bastante para deixar a situação com um gosto ainda pior na boca, com fãs se sentindo traídos pela implementação de microtransações em um jogo que já vem com um preço fixo no Steam.
Porém, existe uma ressalva que faz de Payday 2 um jogo mais complexo no tema de microtransações. O primeiro ponto que pode ser argumento é a natureza PvE do jogo, você trabalha em equipe para fazer uma missão e se defender das forças policiais que aparecem em levas, ou seja, não existe uma competição real entre os jogadores, somente o conceito de quem foi o melhor na missão.
Claro que isso ainda não justifica o uso de microtransações, especialmente hoje em dia, quando vemos mais jogos implementando o sistema para conseguir um dinheiro a mais do jogador, mesmo com o próprio já ter gasto seu dinheiro comprando o jogo.
Para esclarecer todos os problemas, o produtor de Payday 2, Almir Listo, administrou um Ask Me Anything no Reddit, estando disponível para qualquer tipo de pergunta feita pelos usuários. O site Kotaku, que está cobrindo a polêmica desde o começo, apontou algumas das respostas mais relevantes.
Listo explicou um pouco do estado atual da Overkill Software, um estúdio que possuía 25 desenvolvedores no lançamento de Payday 2 e agora contém o triplo, com 75 pessoas mantendo o suporte contínuo do jogo após dois anos de seu lançamento. E para pagar todas essas pessoas, Listo e sua equipe decidiram tomar certas medidas. A primeira foi baixar o preço fixo do jogo no Steam, plano que não deu o resultado esperado e que se tornou o primeiro passo para mover o jogo no sistema de microtransações.
O próximo problema fica em torno do contrato assinado entre a Overkill Software e sua publicadora, a 505 Games, fazendo o estúdio manter o suporte de Payday 2 até 2017. Sendo a causa deste crescimento exponencial de desenvolvedores no estúdio, e o plano de implementar microtransações para pagar os funcionários que foram contratados no decorrer dos meses desde o lançamento de Payday 2 em agosto de 2013.
Sobre as melhorias nas armas, Listo defende o uso e diz que o jogo é balanceado de acordo a versão base de Payday 2 (sem nenhum dos DLCs já lançados), sendo que a vantagem adquirida pelo item pago só beneficiaria o jogador e sua equipe diante os obstáculos que são enfrentados durante a missão. Ou seja, o trabalho da Overkill será de manter essas melhorias do jeito mais equilibrado possível para não afetar a experiência do usuário.
Mas diante de todo o ódio e decepção, Listo confirma que o modelo de microtransações já está funcionando da forma que deveria e por isso não vai a lugar algum, sendo que agora a intenção é de trazer os jogadores e a comunidade de volta para mostrar que dá para se divertir mesmo com o modelo flutuando em volta da cabeça dos usuários.
E a luta é real, a comunidade continua furiosa com a situação e a confirmação de Listo só pioraram a situação, tendo que viver e se acostumar com o modelo ou parar de jogar até que tudo seja resolvido. Como resposta, certos usuários criaram The Road to Greedfest (parodiando o evento que iniciou tudo). O site coloca as várias citações de desenvolvedores falando sobre como eram contra o famigerado modelo de negócio, e pede para que os jogadores façam ações que prejudiquem Payday 2, como diminuir o número de jogadores ativos para abaixo de 10.000, reduzir a nota de usuário do Metacritic para 3 e a nota de usuário do Steam para 69%, deixando o jogo como “neutro” na avaliação.
Modelos de jogos como DLCs e microtransações são bastante polêmicos por causa das empresas que fizeram mal uso da prática no decorrer destes últimos anos, simbolizando o ato como algo demoníaco, vil e bastante egoísta, afinal, você quer ainda mais do nosso dinheiro? Nós temos jogos que são vendidos a R$ 200,00 e as empresas ainda pedem uma grana a mais com season passes, itens cosméticos ou até movimentos e danças especiais que são desbloqueados com cifrões e não com a experiência.
Claro que existem diversas vertentes no assunto e ótimos exemplos do modelo dando certo, trazendo conteúdo de qualidade ao seu jogo favorito e por um preço camarada. Confira o seguinte episódio do ArkadeCast 2.0 para se aprofundar mais sobre o assunto de DLCs e microtransações:
O importante é que o caminho da Overkill já está definido, com os desenvolvedores tendo uma missão clara de convencer a comunidade e faze-los aceitar o temido modelo de negócio. E quem sabe desta forma os fãs voltem a jogar Payday 2, mas devo apontar que infelizmente a confiança e o relacionamento entre os desenvolvedores e os usuários nunca retornará ao seu estado original, sendo um preço bastante caro que a Overkill está pagando com a sua iniciativa.