Voice-Chat Arkade: Overkill Software, Payday 2 e a perda de uma comunidade por promessas quebradas

29 de outubro de 2015

Voice-Chat Arkade: Overkill Software, Payday 2 e a perda de uma comunidade por promessas quebradas

Neste momento, os desenvolvedores da série Payday estão tendo um relacionamento difícil com a sua comunidade. E tudo por causa de uma antiga promessa que foi quebrada pela Overkill Software.

Faz dois anos que Payday 2 foi lançado para PC e consoles, mas o jogo continua recebendo atualizações e diversos eventos para manter a comunidade de ladrões ativa como sempre. O mais conhecido se chama Crimefest, um evento que dura dez dias seguidos e traz uma série de itens, armas, customizáveis e todos equipamentos possíveis, com diversas metas baseadas na quantidade de usuários que precisam ser atingidas durante o evento. Crimefest sempre foi um evento elogiado pela quantidade insana de itens e funcionalidades novas que a Overkill implementava, com atualizações que valiam mais do que o dinheiro gasto para adquirir Payday 2.

Mas teve uma novidade, e mais uma série de pequenos detalhes, que deixou a comunidade alerta para um terror que muitos fãs possuem em seus jogos favoritos: As microtransações.

A Overkill introduziu um novo sistema de furadeiras exclusivas para dois tipos de cofres, o Crimefest II e Sputnik, que somente poderão ser abertos se os jogadores gastarem US$ 2,50 para comprarem um desses dois dispositivos para quebrarem um dos respectivos cofres.

Além disso, Payday 2 recebeu uma série de skins raras para armas, sendo possível comprar, vender e trocar os itens na comunidade do Steam. Outro problema é que diferente de outros jogos que vendem skins que afetam somente o visual, as skins de Payday 2 passaram a melhorar a arma com modificadores, trazendo aquela sensação odiável de um pay-to-win.

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Tudo isso foi adicionado no quarto dia do Crimefest. A comunidade não gostou nem um pouco da nova mudança, e no sexto dia Payday 2 recebeu uma atualização incluindo as furadeiras exclusivas na mesa de recompensas, abrindo a possibilidade do jogador receber o item após terminar uma missão bem-sucedida sem ter que pagar nada, mas obviamente a pequena mudança não agradou os fãs. Em resposta a Overkill explicou que iria discutir todos os problemas assim que o evento terminasse.

Alguns dos maiores problemas citados é que não se sabe a porcentagem de chance receber a furadeira especial, sendo que a chance dela cair pode ser pequena a ponto de uma pequena fração de jogadores recebam o item especial. E claro, também temos o problema das armas, sendo que as skins que modificam sua eficiência e poder continuam disponíveis no jogo.

Porém, o que deixou tudo ainda mais dramático foi uma entrevista publicada no Gamespot realizada em 2013 com o designer chefe da Overkill, David Goldfarb, onde ele respondeu a seguinte frase quando foi perguntado sobre a chance de vermos microtransações em Payday 2:

“Não. Não. Deus, eu espero que não. Nunca. Não”.

Isto foi o bastante para deixar a situação com um gosto ainda pior na boca, com fãs se sentindo traídos pela implementação de microtransações em um jogo que já vem com um preço fixo no Steam.

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Porém, existe uma ressalva que faz de Payday 2 um jogo mais complexo no tema de microtransações. O primeiro ponto que pode ser argumento é a natureza PvE do jogo, você trabalha em equipe para fazer uma missão e se defender das forças policiais que aparecem em levas, ou seja, não existe uma competição real entre os jogadores, somente o conceito de quem foi o melhor na missão.

Claro que isso ainda não justifica o uso de microtransações, especialmente hoje em dia, quando vemos mais jogos implementando o sistema para conseguir um dinheiro a mais do jogador, mesmo com o próprio já ter gasto seu dinheiro comprando o jogo.

Para esclarecer todos os problemas, o produtor de Payday 2, Almir Listo, administrou um Ask Me Anything no Reddit, estando disponível para qualquer tipo de pergunta feita pelos usuários. O site Kotaku, que está cobrindo a polêmica desde o começo, apontou algumas das respostas mais relevantes.

Listo explicou um pouco do estado atual da Overkill Software, um estúdio que possuía 25 desenvolvedores no lançamento de Payday 2 e agora contém o triplo, com 75 pessoas mantendo o suporte contínuo do jogo após dois anos de seu lançamento. E para pagar todas essas pessoas, Listo e sua equipe decidiram tomar certas medidas. A primeira foi baixar o preço fixo do jogo no Steam, plano que não deu o resultado esperado e que se tornou o primeiro passo para mover o jogo no sistema de microtransações.

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O próximo problema fica em torno do contrato assinado entre a Overkill Software e sua publicadora, a 505 Games, fazendo o estúdio manter o suporte de Payday 2 até 2017. Sendo a causa deste crescimento exponencial de desenvolvedores no estúdio, e o plano de implementar microtransações para pagar os funcionários que foram contratados no decorrer dos meses desde o lançamento de Payday 2 em agosto de 2013.

Sobre as melhorias nas armas, Listo defende o uso e diz que o jogo é balanceado de acordo a versão base de Payday 2 (sem nenhum dos DLCs já lançados), sendo que a vantagem adquirida pelo item pago só beneficiaria o jogador e sua equipe diante os obstáculos que são enfrentados durante a missão. Ou seja, o trabalho da Overkill será de manter essas melhorias do jeito mais equilibrado possível para não afetar a experiência do usuário.

Mas diante de todo o ódio e decepção, Listo confirma que o modelo de microtransações já está funcionando da forma que deveria e por isso não vai a lugar algum, sendo que agora a intenção é de trazer os jogadores e a comunidade de volta para mostrar que dá para se divertir mesmo com o modelo flutuando em volta da cabeça dos usuários.

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E a luta é real, a comunidade continua furiosa com a situação e a confirmação de Listo só pioraram a situação, tendo que viver e se acostumar com o modelo ou parar de jogar até que tudo seja resolvido. Como resposta, certos usuários criaram The Road to Greedfest (parodiando o evento que iniciou tudo). O site coloca as várias citações de desenvolvedores falando sobre como eram contra o famigerado modelo de negócio, e pede para que os jogadores façam ações que prejudiquem Payday 2, como diminuir o número de jogadores ativos para abaixo de 10.000, reduzir a nota de usuário do Metacritic para 3 e a nota de usuário do Steam para 69%, deixando o jogo como “neutro” na avaliação.

Modelos de jogos como DLCs e microtransações são bastante polêmicos por causa das empresas que fizeram mal uso da prática no decorrer destes últimos anos, simbolizando o ato como algo demoníaco, vil e bastante egoísta, afinal, você quer ainda mais do nosso dinheiro? Nós temos jogos que são vendidos a R$ 200,00 e as empresas ainda pedem uma grana a mais com season passes, itens cosméticos ou até movimentos e danças especiais que são desbloqueados com cifrões e não com a experiência.

Claro que existem diversas vertentes no assunto e ótimos exemplos do modelo dando certo, trazendo conteúdo de qualidade ao seu jogo favorito e por um preço camarada. Confira o seguinte episódio do ArkadeCast 2.0 para se aprofundar mais sobre o assunto de DLCs e microtransações:

O importante é que o caminho da Overkill já está definido, com os desenvolvedores tendo uma missão clara de convencer a comunidade e faze-los aceitar o temido modelo de negócio. E quem sabe desta forma os fãs voltem a jogar Payday 2, mas devo apontar que infelizmente a confiança e o relacionamento entre os desenvolvedores e os usuários nunca retornará ao seu estado original, sendo um preço bastante caro que a Overkill está pagando com a sua iniciativa.

(Arte da capa por Wolf3y)

Henrique Gonçalves

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