Análise Arkade: revivendo o clássico Final Fantasy Tactics no mundo de Children of Zodiarcs
Se tem um game clássico que é sempre relembrado com muito carinho e nostalgia é Final Fantasy Tactics. Esse clássico amado incondicionalmente por seus fãs apresentou um estilo totalmente diferente para a série na época, combate tático por turnos em um enorme “tabuleiro”. Apesar de RPGs com combate tático existirem aos montes, é raro ter aquela mesma experiência de Final Fantasy Tactics, e essa foi a inspiração que deu vida a Children of Zodiarcs.
O primeiro game da produtora canadense Cardboard Utopia pega inspirações diretas do clássico e o mistura com outros elementos para criar uma aventura bem interessante que mistura JRPG tático com RPG de mesa e até Card Game. E agora é hora de rolar os dados e conferir nossa análise completa do game!
A Luta pela sobrevivência em meio a uma civilização dividida
Children of Zodiarcs conta uma história de sobrevivência dentro da grandiosa cidade de Torus, uma cidade enorme e centro de um grande império militar composta de dois extremos. Na parte alta da cidade vivem os nobres, ricos e egocêntricos que controlam tudo somente de acordo com seus próprios interesses. E no fundo da cidade, as favelas, um lugar onde as pessoas são deixadas para morrer, cujas existências sequer são reconhecidas pelos nobres, um lugar em que as pessoas só possuem duas escolhas: matar ou morrer.
Essa área abandonada é dominada por diferentes gangues, rivais entre si e que dia a dia lutam pela sobrevivência, seja para encontrar comida e abrigo, ou para não serem vítimas de outras gangues ou mesmo da Guarda Real de Torus. E entre essas gangues está a Família, um grupo liderado pelo gigante Zirchhoff, um cruel e carismático líder que abriga dezenas de crianças órfãs em seu grupo, desde que elas mantenham sua lealdade e lutem por seus ideais. E entre essas crianças está Nahmi, mais conhecida por seus inimigos pela alcunha de Ebony Flame.
E nós acompanhamos a jornada de Nahmi pela mais difícil de suas missões, roubar uma relíquia da sala do tesouro de um nobre e sobreviver a uma verdadeira guerra de todos contra todos, ao lado de seus companheiros Pester e Brice, em uma trama de lealdade, traição, sobrevivência e muitos sentimentos.
Os lendários Zodiarcs e as tramas do mundo
Toda a história do game se baseia nas Zodiarcs, manoplas com poderes mágicos criadas por uma antiga civilização que chegou ao planeta do game fugindo em desespero de seu próprio mundo, conhecido com Dark World. Essa civilização há muito desapareceu, mas suas relíquias permaneceram, e foram descobertas pelo povo que veio depois, e que fundou os alicerces do que se transformou em Torus.
Nahmi culpa os Zodiarcs por suas tragédias na vida, tendo sua família e sua nação devastadas por soldados que empunhavam essas manoplas, tudo a mando dos nobres, os quais ela profundamente odeia. Ainda assim, essas relíquias dão poderes a ela e muitos de seus companheiros e inimigos, incluindo Brice, uma jovem e misteriosa menina que se uniu a Nahmi em meio do conflito e se aproximou por completo dela, empunhando uma poderosa Zodiarc que lhe permite utilizar magias e atacar inimigos a distância, ao custo de ter suas ações influenciadas pelo artefato, que se alimenta da raiva e fúria da garota, instigando-a a agir e falar coisas sem pensar.
O game conta uma história muito envolvente e surpreendente a todo momento, com tramas carregadas de emoção e de forte conexão entre seus personagens, seja de proximidade ou de hostilidade. As relações entre os personagens é muito bem construída, discutindo as injustiças que a sociedade vive em Torus, o fato deles serem órfãos, e até mesmo discutem de uma forma bem interessante sobre o fato de que os protagonistas do game são apenas crianças que realmente precisam matar seus inimigos em batalha!
Um ponto negativo do game porém é que ele termina de forma um tanto abrupta. O enredo do game vai sendo construído de uma maneira bem legal e em um ritmo bem satisfatório, contando com algumas cenas e batalhas que são realmente inesperadas e com resultados muito intensos, mas tudo vai seguindo de uma forma que parece prestes a ir expandindo ainda mais toda a mitologia do game, mas acaba não seguindo por esse caminho, dando poucas respostas sobre a parte “mistica” da história do game. No final, todo o enredo é sim muito satisfatório, mas deixa forte a sensação de que parece que tem algo faltando.
Combate tático com Card Game e Dados
Children of Zodiarcs tem essencialmente o mesmo gameplay de Final Fantasy Tactics, porém mais linear. A progressão do game é dada em missões de história, que são liberadas uma após a outra. Conforme você avança pelas missões pode revisitar missões anteriores apenas quando o game permitir, refazendo apenas as batalhas, sem poder rever seus acontecimentos. E também existem missões paralelas, que são poucas, e acontecem paralelamente ao avanço de Nahmi, com um outro grupo de personagens para controlarmos.
Funciona assim, você entra em uma missão e assim como em Final Fantasy Tactics, uma “cutscene” com diálogos acontece na arena de batalha, e então os personagens se posicionam e a luta começa. E os combates, que num primeiro momento parecem muito complicados de se entender, logo ficam bem simples e intuitivos.
As batalhas acontecem em turnos de parties, isso significa que as ações são realizadas uma equipe após a outra, e não alternando personagens. As batalhas começam sempre pelo jogador, quando ele terminar de movimentar e utilizar todos os seus personagens, é a vez dos inimigos, que também só terminam seus turnos após usarem todos os seus personagens. Os personagens então devem fazer quatro ações em sequência: A primeira é movê-lo até um bloco disponível, depois, escolher uma carta de ação, que consistem em cartas de ataques físicos, ataques mágicos, cura, suporte (buffs para sua party) e maldições (status negativos para os inimigos). Escolhida a carta, o jogador rola dos dados para ver como será o efeito da carta e enfim finaliza sua jogada escolhendo uma direção para seu personagem olhar. Ou pode apenas se mover, entrar em defesa e encerrar a jogada.
O game mistura tática com sorte de uma maneira bem interessante, e as vezes frustrante. Você monta decks individuais para cada personagem e também seus conjuntos de dados, o máximo de 6 para cada personagem. A sorte está em você conseguir tirar as cartas certas em seu turno para poder criar estratégias, ou conseguir se virar com as que conseguir. O lado bom é que não existem ataques que erram, aquele famigerado miss que aparece após você atacar… e não causar nenhum dano. Todos os ataques causarão dano, e os dados definem apenas o quanto. Cada carta possui um valor de ataque mínimo e máximo, e alguns efeitos especiais condicionais.
Os dados possuem os seguintes símbolos: O diamante aumenta em +1 a força da carta (causa mais dano em ataques, recupera mais HP em curas, etc). O escudo aumenta sua defesa, pois todo ataque físico realizado em casas diretamente ao lado do inimigo geram contra ataque, e os escudos diminuem o dano recebido. Estrelas ativam as habilidades das cartas, de acordo com o número exigido. Coração recupera um pouco de HP, a Carta faz aquele personagem comprar uma nova carta de seu deck, e o raio dá uma ação extra, permitindo que o jogador use mais uma carta, ou deixe seu personagem em defesa.
As batalhas prosseguem até que o jogador cumpra a condição de vitória, ou a condição de derrota aconteça. São poucos os objetivos das missões, sendo ter que matar todos os inimigos, matar um personagem específico, chegar até a saída da arena de batalha, ou sobreviver alguns turnos. De todos esses objetivos, o mais frustrante e menos divertido é o de sobreviver. Nesse modo, você deve chegar ao final de um certo número de turnos com pelo menos um personagem vivo, porém, mais e mais inimigos aparecem na arena, ao ponto de que se sua estratégia não for muito bem feita, não há como sobreviver. Claro, não são missões impossíveis, mas são muitas vezes frustrantes.
Um ponto negativo das batalhas é que elas são demoradas, o que é natural na verdade, mas as vezes pode atrapalhar. Sua party é limitada a no máximo três personagens, que não podem ser trocados, sendo definidos pelo próprio game. Enquanto a party inimiga não tem restrição, podendo ter até mais de 10 inimigos. Sendo assim, seus turnos muitas vezes são rápidos (dependendo da sua velocidade em agir e bolar estratégias), enquanto você precisa esperar cada inimigos fazer seus movimentos para voltar a ter controle. E no caso das batalhas de sobrevivência, quanto mais turnos você sobrevive, mais difícil fica, e se você perder a batalha no final, terá que rejoga-la novamente do começo, passando novamente por toda a demora dos turnos inimigos.
Apesar disso, a jogabilidade de Children of Zodiarcs é bem simples e muito divertida. Conforme você entende o funcionamento do game e inclusive como tentar manipular a sorte a seu favor, tudo fica bem fluído e intuitivo, rendendo batalhas bastante estratégicas e divertidas!
Audiovisual
Children of Zodiarcs é belíssimo. A arte do game é realmente linda, com os desenhos dos personagens principais com muitos detalhes e um estilo artístico maravilhoso, quase como uma mistura de anime com pinturas em tela. Vez ou outra ainda temos cenas com artes de tela cheia, mostrando os cenários que os personagens estão visitando, com cenas belas e muito bem desenhadas.
O visual in-game é simples, com os cenários exatamente como os de Final Fantasy Tactics, com arenas com diferentes níveis de altura divididos em blocos. O visual dos personagens nas batalhas é bem simples, como se fossem miniaturas em um jogo de tabuleiro, embora alguns não tenham um visual muito bem detalhado, o que é contornado por passarmos mais tempo observando-os do alto para planejar táticas, apesar de podermos dar zoom a qualquer momento.
A trilha sonora do game é belíssima, totalmente orquestrada e com ricas melodias. As músicas do game possuem em sua maioria um tom mais agitado para acompanhar os combates, mas também tem temas para diferentes tipos de situação, como batalhas normais, batalhas em locais misteriosos e também para batalhas mais significativas dentro do enredo do game, mas em resumo, sua trilha sonora é excelente.
Conclusão
Children of Zodiarcs é um game realmente obrigatório para os fãs de Final Fantasy Tactics. Ele entrega uma experiência muito semelhante ao clássico, ainda que tenha uma duração um tanto curta demais para o esperado. Sua mistura de sistemas de batalhas parece estranha — e pra ser sincero é mesmo — mas ela é fácil de se aprender e bastante divertida, ainda que conte muito com a sorte, que pode (e vai) influenciar no resultado de uma batalha.
O game possui uma história muito envolvente com bastante profundidade e personagens muito carismáticos e até mesmo realistas com seus sentimentos, encarando as situações a sua frente de uma forma ao mesmo tempo sentimental e objetiva, e que são muito bem explorados no decorrer da aventura, apesar de poderem ter sido ainda mais explorados se o game tivesse uma duração maior.
O game foi desenvolvido pela produtora canadense Cardboard Utopia e faz parte do programa Square Enix Collective, que é uma forma de ajuda que o grande estúdio oferece a estúdios e desenvolvedores independentes para conseguirem lançar seus games, ajudando-os através de campanhas de crowdfunding no Kickstarter e publicando os games que recebem aprovação da comunidade. Outro jogo publicado neste selo “indie” da Square é o também bacana Black: The Fall, leia nossa análise aqui.
Children of Zodiarcs foi lançado no dia 18 de julho, com versões para Playstation 4 e PCs.