Análise Arkade: Voltando à Pandora com Tales from the Borderlands – Zer0 Sum (Season 1, Ep. 1)
Hora de voltar à Pandora de Borderlands… mas em um adventure, não em um FPS! A saga Tales from the Borderlands finalmente começou, e você confere nossa resenha do primeiro episódio na sequência!
Duas imensas franquias que podemos considerar os carros-chefes da Telltale Games chegaram ao seu fim este ano. Estamos falando de The Walking Dead e The Wolf Among Us terminaram suas respectivas 2ª e 1ª temporadas, e agora é hora da produtora se aventurar por novos horizontes, adaptar novas obras para seu estilo e tentar criar uma nova história bacana.
Daí surgiram 2 novos projetos: Game of Thrones A Telltale Game Series (cuja resenha já está no forno!) e Tales from the Borderlands, este último adaptando a aclamada franquia desenvolvida pela Gearbox Software e publicada pela 2K Games.
Então, eis que depois de adaptar histórias em quadrinhos/seriados e filmes, agora a situação é outra, a Telltale agora lida com um jogo… baseado em um jogo! E o mais louco é que Tales from the Borderlands ocorre após os eventos do segundo jogo, e a Gearbox Software deu “carta branca” para a Telltale Games continuar a história da franquia da forma que ela quiser.
Tales from the Borderlands é importante para ambas as empresas: pois expande o universo da franquia ao mesmo tempo que tira a franquia de sua zona de conforto, que é o FPS (com pitadas de RPG) típico. A história aqui é contada pela visão de dois personagens diferentes, Rhys e Fiona.
E será que essa mistura dá certo? Bom, após tê-lo jogado o primeiro episódio intitulado Zer0 Sum, afirmo que a Telltale Games não conseguiu somente capturar design artístico de Borderlands, mas também aprimorou a franquia de uma forma que somente um estúdio como este conseguiria.
BEM-VINDO DE VOLTA A PANDORA (MAIS UMA VEZ)
Tales from the Borderlands começa contando exatamente o que aconteceu após o fim de Borderlands 2. Nós controlamos Rhys, um homem que trabalha na Hyperion, empresa que toma boa parte da história do mundo de Borderlands como a grande corporação repleta de pessoas gananciosas que querem tirar o pouco da vida que existe em Pandora.
Rhys consegue formar um plano com seu amigo, Vaughn, para passar a perna em seu traiçoeiro chefe e fazer o acordo de uma Chave do Vault no lugar dele. A primeira parte do jogo é inteiramente em volta de Rhys e da maneira com que ele não consegue se encaixar no mundo tão cheio de violência e morte como Pandora.
Logo a história se desenrola e assim conhecemos a segunda personagem, uma trapaceira chamada Fiona que acaba se envolvendo no plano e o time é formado. Para tornar a narrativa ainda mais imprevisível, a Telltale Games utiliza o recurso do narrador não confiável. Para quem não conhece, o narrador não confiável narra a história de seu próprio ponto de vista, assim a pessoa que conta história tem total poder em cima dos espectadores, podendo mudar a história a seu favor e contando os fatos da maneira que mais lhe agrada..
HILÁRIO DO COMEÇO AO FIM
Além do narrador mencionado acima, a personalidade arrogante de Rhys e a ganância de Fiona se complementam ao mesmo tempo que mostram versões totalmente diferentes da mesma história, deixando o jogador cada vez mais cético sobre quem realmente está sendo sincero e quem está simplesmente tentando levar vantagem.
Com estes recursos narrativos ambíguos, Tales from the Borderlands é um dos jogos mais hilários já lançados pela Telltale Games. Tudo bem que The Walking Dead e The Wolf Among Us tiveram alguns momentos engraçados com o intuito de quebrar o clima tenso e depressivo que estava em volta da trama principal, mas aqui alcançamos um novo patamar.
O mundo de Borderlands sempre tentou ao máximo se aproximar da comédia, seja pelos personagens insanos que conhecemos durante o jogo ou pelas situações cômicas em que cada protagonista se envolve. Com isso em mente, a Telltale Games decidiu seguir o arquétipo de comédia, mas acrescentou o seu próprio toque, resultando em humor mais cínico, sutil e irônico, sempre fazendo piada com as situações incomuns em que os personagens se encontram, especialmente Rhys que se torna o turista de Pandora.
Além de um enredo bem trabalhado, a Telltale conseguiu trazer todos os personagens à vida graças a um elenco estelar, com dubladores veteranos na indústria dos jogos e até um ator mais conhecido formando a equipe por trás de cada personagem.
Mas de todos os dublares, três conseguiram marcar pela sua performance: os protagonistas, interpretados por Troy Baker (conhecido pelos seus inúmeros trabalhos incluindo Bioshock: Infinite, Infamous Second Son e The Last of Us), Laura Bailey (famosa pela atuação de Fetch, em Infamous: Second Son), e por último o ator Patrick Warburton interpretando o ganancioso e traiçoeiro chefe da Hyperion, Vasquez. Warburton já dubou Joe Swanson em Família da Pesada, além de participar de diversos filmes e séries de TV, como Ted, Homens de Preto 2 e Seinfeld.
A MESMA JOGABILIDADE COM PEQUENAS ALTERAÇÕES
Mecanicamente Tales from the Borderlands não se distancia dos outros jogos já lançados pela Telltale Games, o gênero point and click mais uma vez foi bem representado e conseguiu ser tão cheio de ação e adrenalina quanto as raízes de FPS do original.
A grande diferença provém da habilidade chamada Echo-Eye de Rhys, onde seu implante de olho dá a opção de escanear o lugar e adquirir informação direta da Hyperion sobre aquele objeto em especial, e no poderio bélico a que ele tem acesso graças ao seu imenso robô chamado Loader Bot, que os fãs da série já devem conhecer (e repudiar) dos jogos anteriores.
Por outro lado, Fiona tem o poder de adquirir dinheiro podendo de gastá-lo em diversas ocasiões e de várias formas diferentes, e ela ainda possui uma pistola de mão com uma única bala, que só deve ser utilizada no momento certo… e o momento certo quem decide é você, jogador!
Além de manter a mesma pegada estética do universo de Borderlands, temos ainda diversos monstros e inimigos daquele mundo, além das sutis dicas homenageando a franquia com algum tipo de piada ou algo que nos faça lembrar dos jogos desenvolvidos pela Gearbox Software.
Os poucos problemas que encontrei são correspondentes aos empecilhos técnicos que a Telltale Games não consegue resolver, como as pequenas travadas que rolam em momentos de muita ação ou em algumas cenas durante seu carregamento. Nada que chegue a incomodar ou que possa tirar a diversão que o jogo traz.
O que realmente me incomodou foi a escolha repentina de um dos personagens mais perto do final, fazendo algo que não faz sentido nenhum dentro do que nos foi mostrado durante todo o episódio. Mesmo acompanhando a trama duas vezes (uma vez jogando e outra vendo alguém jogar) ainda não consigo entender o motivo desta tal mudança de atitude, e a pior parte é que talvez não exista uma explicação lógica, já que as duas escolhas para o fim da situação são completamente opostas.
CONCLUSÃO
Considero Tales from the Borderlands o próximo passo da Telltale após o sucesso estrondoso de The Walking Dead, jogo que é considerado por muitos o ponto da Telltale Games. Agora o caminho é diferente e mais íngreme, com o estúdio tendo que se superar toda vez que um episódio é lançado. E devo dizer que ela precisará trabalhar intensamente para conseguir atingir o mesmo nível de qualidade que Zer0 Sum atingiu.
Em um dos episódios mais longos (para os padrões da Telltale), temos um jogo que consegue complementar o universo de Borderlands e trazer novidades com “a cara” da Telltale, sendo um caso de sucesso para ambas produtoras e um ótimo presente para os fãs de Borderlands.
Tales from the Borderlands foi lançado no dia 25 de novembro e está disponível para Xbox One, PS4, Xbox 360, PS3, PC e nos dispositivos móveis iOS e Android.