Análise Arkade: Terra-Média: Sombras de Mordor e a diversão brutal de caçar orcs
Hora de matar orcs e desbravar a sombria Mordor em busca de vingança: é a nossa resenha de Terra-Média: Sombras de Mordor que (enfim) chegou!
SINOPSE
Sombras de Mordor conta uma história que se passa entre O Hobbit e O Senhor dos Anéis. Referências são feitas e conhecer a mitologia da saga de Tolkien é recomendável, ainda que o jogo possa ser aproveitado mesmo por quem não é familiarizado com a história do Um Anel. Quem já conhece, porém, certamente irá curtir muito mais a experiência.
Para começar, nada de hobbits, o protagonista aqui é um humano, Talion, ranger e pai de família que teve seu destino selado pelas mãos dos capitães de Sauron. Já no início do game, Talion é obrigado a assistir o assassinato de sua mulher e seu filho, para então perder sua própria vida.
Porém, o sangue derramado faz parte de um ritual macabro, de modo que seu corpo é tomado pelo espectro de Celebrimbor, um elfo que foi morto em outra era e tem ligação com o famigerado Um Anel de Sauron. Mesmo no pós-morte, o elfo busca informações de seus próprios assassinos para se vingar.
Assim, “banido da morte” e com seu corpo reanimado pelo poderoso espectro élfico, Talion parte em sua jornada de vingança, que irá se mesclar à de Celebrimbor conforme ambos vão escavando o passado e descobrindo mais sobre si mesmos e seus inimigos que, afinal, não são tão diferentes assim.
A história consegue se manter interessante até certo ponto, mas não segura as pontas ao longo das mais de 15 horas de jogo. Você irá rever velhos conhecidos como Gollum e Sauron e conhecer novos personagens, mas na prática o que irá te compelir a continuar lutando é a matança de orcs!
Jogabilidade = Assassin’s Creed + Batman
Sombras de Mordor é um jogo de mundo aberto — ou seria Mordor aberto? — que te deixa livre desde o início para explorar em seu próprio ritmo. As missões ficam espalhadas pelo mapa, de modo que você pode cumpri-las quando e como quiser. Existem dezenas de sidequests e desafios para serem cumpridos, enquanto as missões principais da campanha vão aparecendo conforme você prossegue com a trama.
Como vivemos em um mundo onde “nada se cria, tudo se copia”, não espere por originalidade aqui. As mecânicas de exploração e combate “se inspiram” descaradamente em grandes franquias de sucesso como Assassin’s Creed e Batman, enquanto a análise de artefatos e relíquias remete ao mais recente Tomb Raider.
A exploração segue um estilo que mistura corrida e escalada ao melhor estilo Assassin’s Creed. Talion é capaz de escalar praticamente qualquer coisa, pois as limitações de seu corpo humano são compensadas pelos poderes sobrenaturais de Celebrimbor, de modo que ele é um corredor praticamente incansável e pode se jogar de alturas absurdas sem sofrer um arranhão.
Também de Assassin’s Creed vem a maneira como o mapa vai sendo descortinado: escale torres espectrais para ganhar visibilidade dos arredores, em uma mecânica que funciona exatamente como os pontos de sincronização de Assassin’s Creed. Já os artefatos encontrados podem ser girados e analisados, revelando mais informações sobre cada item, exatamente como vimos Lara fazer no reboot de Tomb Raider.
Na hora do combate, saem os Assassinos e entra o Batman (metaforicamente falando): o sistema de combate é essencialmente igual ao da série Arkham (embora Talion não seja tão ágil), misturando ataques, contra-ataques, atordoamentos e finalizações épicas que você pode aplicar conforme acerta o timing e seu combo vai aumentando. Até os comandos e combinações de botões são iguais aos dos jogos do Batman, de modo que o combate flui muito bem aos já familiarizados com o gênero.
Como nos jogos da Rocksteady, os combates raramente serão contra menos de meia dúzia de orcs/uruks/ghûls, e se eles acionarem algum alarme, espere para se ver cercado por dezenas de inimigos. O combate multidirecional flui bem, o que resulta em batalhas empolgantes e desafiadoras. Se o gameplay não é lá muito inovador ou criativo, pelo menos ele funciona que é uma beleza.
O diferencial aqui é a brutalidade: se o Homem-Morcego se limita a torcer braços e pernas, Talion é uma verdadeira máquina de matar, cortando cabeças e atravessando barrigas e pescoços enquanto maneja sua espada.
O sangue orc — espesso e negro — jorra pelo ar conforme a chacina se desenrola, o que rende ótimas screenshots graças ao recurso Photo Mode do game, que nos permite pausar a ação e mover a câmera, brincar com foco e profundidade e acrescentar filtros para tirar “aquela” screenshot épica.
Confira abaixo algumas das screenshots que tiramos com o recurso, que rende ótimos cliques tanto do calor da batalha quanto das sinistras paisagens de Mordor:
Como nem só de pancadaria e combate direto se faz um bom jogo, Sombras de Mordor também tem muitos momentos de stealth. Nessas horas, Talion usa a espada quebrada de seu filho como adaga, matando os inimigos furtivamente. Embora o foco do jogo não seja o stealth, em vários momentos esta abordagem será essencial.
Temos ainda as habilidades do espectro Celebrimbor, que além de ter uma “visão de raio x” espectral digna do Eagle Eye dos Assassinos, manda muito bem no arco e flecha, e é capaz de sugar a energia vital dos inimigos (e explodir suas cabeças!), bem como utilizar golpes que desafiam a velocidade da luz.
Por fim, fique avisado que não existe troca de armas: você segue o jogo todo com os mesmos equipamentos, mas pode melhorá-los gravando runas mágicas que concedem perks à todas as suas armas. Do mesmo modo, Talion vai se tornando cada vez mais letal destravando novas habilidades por uma árvore de evolução relativamente linear, mas cheia de possibilidades
E você vai precisar de todo seu poder para encarar a parte mais interessante deste jogo: o sistema Nemesis, que detalhamos abaixo:
A Hierarquia do Mal
Se Sombras de Mordor “copiou” elementos de outros jogos, aqui é onde ele provavelmente será copiado por outras franquias em breve. O Sistema Nemesis deixa o jogo muito mais orgânico e torna o jogador realmente responsável por suas ações, além de aumentar consideravelmente a vida útil do game.
Funciona assim: já de início existe toda uma leva de capitães para você caçar. Porém, no calor de um combate você pode acabar morrendo pela lâmina de um orc/uruk comum (acredite, isso acontece bastante). Por ter te matado este orc comum será “promovido”, tornando-se mais poderoso e ganhando o status de capitão. E isso vale para qualquer orc ou uruk do game, ou seja, você é o principal culpado pelas mudanças na hierarquia inimiga.
Nem só te matando eles podem ascender em suas “carreiras”, porém: capitães de postos inferiores podem desafiar seus superiores, e o vencedor deste duelo pode melhorar seu status, enquanto seu antigo posto pode ser ocupado por outro orc inferior. E se o mesmo orc te matar mais vezes, ele vai continuar evoluindo, então tome cuidado para não criar um inimigo poderoso demais!
Para coordernar toda essa cadeia hierárquica, o jogo utiliza um interessantíssimo sistema que atribui personalidade aos inimigos que são promovidos. Deste modo, o que era um inimigo genérico ganha nome, título e armadura (que melhora conforme o nível), bem como lhe são atribuídas virtudes e fraquezas… que você pode descobrir interrogando outros orcs para tirar vantagem na hora do combate!
Determinados inimigos (demarcados com um ícone verde) possuem informações, que podem ser coletadas pelas habilidades espectrais de Celebrimbor. Por exemplo: se você descobre que determinado capitão tem medo de fogo, pode ser uma boa ideia causar uma explosão perto dele. Ou se ele tem medo de Caragors, que tal entrar na batalha montado em uma destas feras para acabar de vez com a confiança do inimigo?
Só fique ligado pois os capitães também têm virtudes, de modo que ele pode se enfurecer em determinadas situações, empunhar uma arma que causa envenenamento, ou até mesmo mobilizar diversos orcs das redondezas em seu favor. Embora os encontros “casuais” com os capitães sejam inevitáveis, extrair informações sobre eles é o melhor caminho para não ser surpreendido na hora da batalha.
Para completar, o Sistema Nemesis acrescenta ainda um plus online: você pode vingar a morte de seus amigos caçando e derrotando orcs que os mataram e foram promovidos, e seus amigos também podem vingar a sua morte. É apenas um detalhe, mas é bem bacana!
Um aviso importante:
Este sistema hierárquico Nemesis só está presente nas versões para PC, Playstation 4 e Xbox One do jogo. Esta semana o jogo chegou ao PS3 e X360, mas estas versões não contam com o Sistema Nemesis, o que é uma perda e tanto para quem planeja curtir o jogo geração passada.
Não pudemos testar a versão PS3 ou X360 do jogo, mas se você for jogar, fique avisado que ela infelizmente não possui o Nemesis, que é sem dúvida um dos aspectos mais interessantes do game.
AUDIOVISUAL
Com dublagens, menus e legendas em português brasileiro, Sombras de Mordor é mais um AAA que chega com tratamento pra lá de caprichado ao nosso país. Embora seja meio estranho ver orcs falando como “manos paulistas”, é fato que as dublagens são muito competentes.
Personagens como Gollum mantém a mesma voz dos cinemas, o que deixa o universo de O Senhor dos Anéis como um todo muito coerente. A trilha sonora segue o estilão cinematográfico, cheia de corais e orquestrações para pontuae momentos intensos com maestria.
O visual como um todo está muito bom. Embora Talion tenha um visual de “herói de capa e espada” um tanto genérico (me lembrou um pouco o Prince of Persia da série Sands of Time), ele é bem modelado e suas animações são muito boas (embora lembrem bastante o que vimos em Assassin’s Creed). As cutscenes são muito boas e os orcs e uruks também estão muito bonitos (?!), e a grande variedade deles — com armas, cabelos, brincos, pinturas faciais e armaduras diferentes — realmente impressiona.
Minha única ressalva aqui é a paleta de cores que fica muito carregada em tons de marrom. Ok, entendo que Mordor é um lugar sombrio e não teria cabimento se o jogo fosse muito colorido, mas o excesso de momentos de tempo nublado ou chuvoso deixa o clima realmente lúgubre, embora a chuva empreste um brilho muito realista à capa do personagem e aos trajes dos inimigos.
Conclusão
Confesso que eu não estava nem um pouco empolgado com este jogo. A cada trailer que saía, eu só conseguia ver um “Assassin’s Creed na Terra-Média”, e essa semelhança me incomodava um pouco.
Agora porém, dou o braço a torcer: Sombras de Mordor é um jogo extremamente divertido e gostoso de jogar, e o lance da hierarquia torna-o muito viciante, pois você sempre vai querer matar “só mais um capitão” ou vingar só mais um amigo, e quando vê já está há duas horas decapitando orcs e descobrindo as fraquezas de outros capitães para continuar sua caçada.
Por copiar tanta coisa de outros jogos, Sombras de Mordor definitivamente não merece um prêmio de originalidade. Porém, essa mistureba funciona muito bem, e o capricho na produção e na localização fazem deste jogo uma das boas surpresas deste final de ano.
Recomendável tanto para fãs d’O Senhor dos Anéis quanto para quem quer esquecer os problemas e relaxar matando uns orcs depois de um longo dia de trabalho.
Produzido pela Monolith e distribuído pela Warner Games, Terra-Média: Sombras de Mordor foi lançado oficialmente no Brasil em 16 de outubro para PC, Playstation 4 e Xbox One. No dia 18 de novembro, chegaram as versões para Playstation 3 e Xbox 360.