Análise Arkade: sobrevivendo e lidando com suas próprias decisões em The Banner Saga

16 de janeiro de 2016

Análise Arkade: sobrevivendo e lidando com suas próprias decisões em The Banner Saga

The Banner Saga, um dos games mais elogiados de 2014 chegou à nova geração de consoles, e é hora de encararmos as consequências de nossas próprias escolhas!

Consequência. Se existe uma palavra que descreva The Banner Saga perfeitamente é essa palavra. E só essa palavra praticamente define todo o jogo numa ideia que o difere de muitos outros RPGs que conhecemos hoje em dia.

Posso dizer até que The Banner Saga é um game com certa característica que o torna extremamente realista. Não é uma comparação justa, mas imagine o seguinte: na maioria dos RPGs de hoje em dia, jogamos em mundos que precisam ser salvos por nós, jogadores. Nós entramos naquele mundo e nós o “moldamos”. Enfrentamos inimigos aos montes, e muitas vezes nós nos jogamos nos inimigos. Em outras palavras, o mundo é nosso pra ser explorado e “moldado”, e é aí que entra essa crucial diferença:

UM RICO MUNDO DE DECISÕES E SOBREVIVÊNCIA

Análise Arkade: sobrevivendo e lidando com suas próprias decisões em The Banner Saga

Em The Banner Saga tudo é diferente. Nós acompanhamos um mundo a beira de um acontecimento que ninguém compreende, pelos olhos das duas raças predominantes desse mundo: Os humanos, pequenos e com suas vidas breves, e os Varls, gigantes com enormes chifres em suas testas e que podem viver por vários séculos. No game nós acompanhamos dois grupos de personagens vivendo perspectivas diferentes da situação emergencial em que o mundo se encontra. Iniciamos a aventura acompanhando Varl Ubin, que logo se une a um outro grupo de sua espécie para acompanhar o príncipe dos humanos, Ludin, em uma visita à capital dos Varl.

E do outro lado acompanhamos o humano Rook, sua filha Allete, que, juntos do poderoso Varl Iver estão em uma desesperada fuga da terceira raça predominante do game que ressurgiu depois de séculos sem ser vista, os Dredges. As duas primeiras raças vivam pacificamente, graças a uma antiga aliança feita no passado. Porém, de repente o sol parou de girar no céu, e o mundo ficou preso num dia que nunca acaba. Ninguém sabe o que isso significa, mas esse evento fez com que os Dredges — que era uma antiga raça que foi quase exterminada e empurrada para o extremo norte do mundo — ressurgissem, destruindo tudo por onde passam, surgindo de todos os lugares.

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Com isso, entram as decisões. A progressão do game é feita automaticamente, enquanto assistimos a caravanas de ambas as campanhas em suas jornadas pelo extenso mundo do game. O objetivo do jogador é cuidar para que a caravana sobreviva aos problemas que encontram no caminho: ataques de Dredges, emboscadas de ladrões, e até mesmo brigas internas. Como o próprio game deixa bem claro, a responsabilidade foi jogada em suas costas, e você precisa dar o seu melhor.

E aqui entra aquela diferença dos outros RPGs que eu mencionei antes: nós não moldamos o mundo, o mundo é que nos molda. E o realismo está em ser como se fosse a vida real; nós não temos controle sobre a vida, nós somos obrigados a encarar o que a vida coloca em nossa frente da melhor maneira possível.

MANTENDO SUA CARAVANA VIVA

Análise Arkade: sobrevivendo e lidando com suas próprias decisões em The Banner Saga

Ao guiar as caravanas você tem várias preocupações a serem levadas em conta. A primeira delas são seus suprimentos, você precisa ter total controle sobre eles, comprando mais suprimentos quando possível. Os suprimentos são contados por dia, indicando quantos dias de provisões você possui, se as provisões chegarem a zero, sua caravana começará a morrer de fome.

Sua segunda preocupação é a moral de sua caravana. A moral mostra como anda o “clima” do pessoal. Uma moral alta indica que as pessoas estão animadas e amigáveis, o que evita situações tensas entre um e outro. Uma moral baixa reflete na progressão da caravana, com pessoas insatisfeitas que farão coisas ruins e poderão até mesmo abandonar o time, as vezes levando consigo vários suprimentos que dificultarão as coisas para os restantes.

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A terceira coisa são as situações que você encontra no caminho, que são muitas. Em determinado momento alguém de sua própria caravana fez algo ruim, porém sem intenção: você irá puni-lo severamente, remediar a situação, ser diplomático ou ignorar? Ou: você entra em uma vila sofrendo por falta de alimentos e que não quer sua caravana se intrometendo. Você tenta conseguir alguma provisão deles, oferece um pouco de suas próprias provisões, os convida a se juntar à sua caravana ou tenta roubá-los? Mais um exemplo: um grupo de Dredges grande aparece em sua frente. Você os enfrenta agora, apesar do enorme perigo na esperança de isso os afastar, batalha na defensiva para evitar perdas maiores, ou desvia deles, correndo o risco de outro ataque maior no futuro? Você precisa pensar muito em o que realmente é o melhor a se fazer a curto e longo prazo.

Por vários momentos pré-determinados e também quando assim o jogador desejar, as caravanas podem parar e montar acampamento. Em algumas cidades e vilas é possível comprar suprimentos para a caravana, gerenciar seu heróis (que são os personagens controláveis em batalha), e descansar. Fazer isso recupera as forças de heróis feridos em batalha e aumenta a moral da caravana, porém descansar consome um dia inteiro de tempo e um dia de suprimentos, por isso descansar é algo que deve ser feito somente quando necessário.

JOGABILIDADE E BATALHAS

Análise Arkade: sobrevivendo e lidando com suas próprias decisões em The Banner Saga

Por fim, temos as batalhas. The Banner Saga é um RPG tático, bem aos estilo de games mais antigos do estilo. As batalhas acontecem por turnos alternadamente. Os personagens podem fazer até duas ações por turno, se mover nos espaços disponíveis no cenário e atacar se houver algum inimigo ao alcance.

Cada personagem possui uma habilidade única: os Varls normalmente possuem ataques que empurram os inimigos longe ou atacam em área. Já os humanos possuem habilidades variadas, arqueiros podem acertar vários inimigos em linha reta, acertar áreas no chão, e etc. O game possui cerca de 20 personagens controláveis em batalha, e cada um faz parte de uma classe diferente, ou seja, cada herói possui habilidades únicas. Combinar personagens diferentes e treinar estratégias quando sua caravana está acampando é sempre uma boa ideia para melhorar suas táticas.

Nas batalhas os personagens possuem vários status importantes: Força define o poder de ataque e a vitalidade de um personagem ao mesmo tempo. Por exemplo, se um personagem possui 15 de Força significa que ele tem 15 pontos de ataque e 15 pontos de vida. Quando esse valor chega a zero o personagem é derrotado. A Armadura protege os pontos de Força, a conta é simples: Força do atacante menos poder de Armadura da vítima é igual ao dano sofrido na Força da vítima. Por fim temos a Vontade, que são pontos extras que podem ser adicionados nas ações de combate, permitindo que um personagem ande mais longe ou ataque com mais força.

Se um personagem seu é derrotado em combate, ele ganha o status de ferido com o número de dias necessários para que ele volte a estar 100%. Esse personagem pode ser usado normalmente em combate, mas o número de dias para se curar será diminuído dos pontos de Força daquele personagem. Ah, e se não ficou claro, a progressão do game se dá em dias, que vão sendo percorridos com a progressão da caravana ou descansando em acampamentos e cidades.

Apesar de envolver muita coisa, as batalhas são o menos importante do game: o foco está no gerenciamento das caravanas e na tomada de decisões que influenciam e muito a história, definindo no final quem permanecerá vivo e quem morrerá pelo caminho.

GRÁFICOS E SONS

Análise Arkade: sobrevivendo e lidando com suas próprias decisões em The Banner Saga

The Banner Saga possui um visual incrivelmente belo. Suas animações são feitas em estilo desenho animado, com uma enorme riqueza de movimentação e detalhes. Em combate, todos os personagens se movem de maneira bem realista mesmo para “desenhos animados”Varls são grandes e pesados, por isso se movem mais lentamente atacam com bastante força. Humanos se movem mais rápido e possuem toda uma “coreografia” na hora de atacar, principalmente com arcos e flechas.

Os cenários são incrivelmente belos, com várias paisagens diferentes e dotadas de incrível beleza. Os cenários são montados com “camadas” para montar a sensação de distância, com camadas próximas a tela e desfocadas e camadas mais distantes montando todo o cenário. Por vezes você ficará somente admirando os cenários pelos quais as caravanas viajam, desejando que nada aconteça para atrapalhar a bela vista.

O game possui legendas em Português Brasileiro, mas com algumas traduções estranhas. Em alguns diálogos encontrei erros de tradução e algumas outras frases que pareciam tentar emular o inglês antigo normalmente falado em RPGs de temas medievais, porém a tradução acabava deixando algumas falas difíceis de entender. Acabei mudando o idioma para inglês para pegar o sentido. As legendas no geral são boas, apesar dessas escorregadas aqui e ali.

CONCLUSÃO

Análise Arkade: sobrevivendo e lidando com suas próprias decisões em The Banner Saga

The Banner Saga é um RPG onde a sobrevivência de seu povo e a tomada de decisões é o mais importante de tudo, com as batalhas sendo um recurso secundário de situações extremas. Em outras palavras, as batalhas podem acontecer de duas formas: caso você queira batalhar e provoque novas batalhas, ou quando as coisas estão além do seu controle.

O game possui uma história muito boa, porém ela é ainda o começo, muitos dos acontecimentos visto em The Banner Saga são deixados em aberto, mas não de uma forma ruim. O mundo inteiro do game foi pego numa situação em que ninguém entende nada, então isso não atrapalha, mas nos deixa na expectativa pra entender realmente o que está acontecendo.

Felizmente, (acreditamos) que tudo será melhor explicado no já anunciado The Banner Saga 2, que continuará a história do exato ponto onde o primeiro game termina, e irá carregar todas as consequências que você enfrentou e as decisões que tomou, ou seja, seu jogo continuará com aqueles que permaneceram vivos, deixando a saudade dos personagens que infelizmente se foram durante sua jogatina.

The Banner Saga foi produzido pela Stoic Studios e chegou aos consoles pela Versus Evil. O game  já foi lançado para PC, iOS e Android em 2014, e no dia 12 de janeiro deste ano chegou ao PS4, PS Vita Xbox One.

Renan do Prado

Amante de Metal Gear, platinador de Soulsborne e exímio jogador online (quando o lag não atrapalha).

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